Historiando. Um dia estas crónicas, como
a de Helena Garrido que segue, servirão
de testemunho do estranho fenómeno que vivemos, de um confinamento absurdo,
caso este não se transforme em tenebroso hábito a preservar, a lembrar aos
mortais a moderação nos jeitos e o respeito pela Terra, que, afinal, não lhes
pertence assim tanto, corpo estranho de muitas facetas - generoso, sim, mas
exigente de reciprocidade nos afectos, a teoria do animismo não se firmando
apenas no abstracto filosófico ou literário, mas funcionando concretamente,
numa realidade de sentimentos vingativos como este que impõe confinamento, bem
prejudicial, é claro, até na parte económica… e os que governam andam às
aranhas, no seu jogo de contradições, joguetes, eles próprios, do animismo
terráqueo, de superior qualidade.
Covid-19: as possíveis falhas do
pós-confinamento /premium
Ninguém duvida que enfrentamos uma
crise sanitária muito difícil de gerir. O Governo teve uma gestão inicial muito
eficaz, mas são incompreensíveis as falhas no pós-confinamento.
OBSERVADOR, 29 jun 2020
“Nos
transportes públicos, haverá regras de limitação a dois terços da sua lotação,
normas muito exigentes de higienização e limpeza, e será obrigatório o uso de
máscara comunitária para todos os utentes”. Assim falava o
primeiro-ministro António Costa dia 30 de Abril quando anunciou que o estado de emergência iria
terminar a 2 de Maio.
Acrescentou
ainda que “a partir de 1 de junho será possível reduzir progressivamente o
teletrabalho com recurso a horários desfasados, a semanas alternadas ou a
processos em espelho, de forma a proteger as pessoas e as empresas, pela
contaminação dos seus trabalhadores”.
Antes
disso, a 24 de Março, o primeiro-ministro admitiu que se poderiam usar hotéis vazios para alojar
pessoas em isolamento ou internadas por covid-19. Essa possibilidade,
percebeu-se na altura, dirigia-se especialmente a pessoas que não tinham
condições de isolamento nas suas casas sem infectar o restante agregado
familiar. E chegaram até exemplos, com reportagens de casos como esta no Expresso que relata um caso em Gaia.
Era
tudo isto que se esperava que estivesse a acontecer depois do desconfinamento: transportes
públicos só com dois terços da capacidade, horários alternados e espaços de
alojamento para pessoas infectadas sem condições de isolamento nas suas casas.
Tudo medidas anunciadas com grande antecedência, todas elas racionais. Vários
foram os relatos nacionais e internacionais que identificaram como mais
vulneráveis, não apenas os lares, mas também os bairros mais pobres e
sobrelotados.
Percebemos
pelo perfil do aumento do número de casos nas 19 freguesias de Lisboa que nada
disso aconteceu: pessoas que não tinham condições de isolamento acabaram por
contagiar toda a família, pessoas que testemunham transportes públicos
sobrelotados quando têm de ir trabalhar.
Mas
também percebemos que nada foi feito em matéria de transportes pelo anúncio agora realizado pelo Metro de Lisboa — que vai reforçar a oferta nos fins-de-semana e o
controlo de passageiros durante a semana — e pelo próprio primeiro-ministro e
agora pela Área Metropolitana de Lisboa que
promete aumentar a oferta de transportes em 90% a partir de 1 de Julho.
É
incompreensível que se tenha esperado até agora para tomar medidas que tinham sido anunciadas há
bastante mais tempo. E que algumas se tenham mantido esquecidas, como a
possibilidade de ter espaços para isolar pessoas sem possibilidades de o fazer
em sua casa.
Juntemos
a estes compromissos não cumpridos a outros mais técnicos e percebemos, pelo
menos algumas razões, para a subida de casos em Portugal, com especial
relevo para Lisboa. Neste artigo da Foreign Affairs, The secret to a safe reopening”, analisam-se as regras
seguidas pelos países que estão a desconfinar com mais sucesso.
Em
ternos gerais, esses países mais bem-sucedidos tinham tudo pronto para testar,
rastrear e isolar os casos identificados. Abriram por fases e transmitiram
mensagem claras, sem margens para equívocos. Desses três grandes pilares,
Portugal, verdadeiramente, só cumpriu um e um terço de outro: abrimos a
sociedade por fases e aumentamos o número de testes.
Fizemos
mais testes mas não fomos capazes de rastrear quando os números subiram, como nos revela o
Expresso. Nem
fomos capazes de apoiar as famílias que não tinham condições de isolar um dos
seus elementos infectado, ficando assim condenadas a serem também contagiadas. De quem é a responsabilidade? Do
rastreio é do Governo, da falta de apoio à famílias pode ser do Governo mas é
especialmente das autarquias, neste caso os presidentes de Câmara de Lisboa,
Sintra, Loures, Odivelas e Amadora assim como os responsáveis pelas
freguesias abrangidas.
Quanto
a mensagens claras parece óbvio que as falhas começaram quando se começou a
anunciar o fim do estado de emergência. Claro que o direito de
reunião e de manifestação está consagrado constitucionalmente, mas é muito
difícil explicar a algumas pessoas que pode haver a celebração
do 1º de Maio ainda
antes de terminar o estado de emergência, a manifestação anti-racista e, mais recentemente, a manifestação do partido Chega, mas não pode ser permitido que um grupo
de pessoas estejam juntas na praia ou à porta de um café. E ainda menos que
possam fazer uma festa.
Admitamos
que se assumia esse risco de comunicação, o que envolve as manifestações e
celebrações, pelo bem maior da liberdade de nos manifestarmos. Mas o problema é
que isso não chegou a ser devidamente explicado e, pior ainda, esse não foi
o único erro.
No início de
Junho, primeiro António Costa e no dia seguinte Marcelo Rebelo de Sousa foram ao Campo Pequeno,
transmitindo uma mensagem de confiança. E quer o Presidente como o
primeiro-ministro foram chamando a comunicação social para os verem na praia.
Nunca
saberemos se esses gestos do Presidente e do primeiro-ministro tiveram uma
grande influência, como nunca saberemos qual foi o efeito das manifestações.
Mas podemos estar certos que podem ter contribuído para comportamentos mais
arriscados.
Responsabilizar os mais jovens
pelo aumento de casos foi outro erro. Os mais jovens foram os mais cuidadosos
na primeira fase, mas a ausência de alternativas para os seus tempos livres –
com os festivais todos cancelados – é um problema que devia ser resolvido. E os mais jovens, alguns muito pouco politizados, são
exactamente aqueles que menos percebem porque podem existir manifestações ou
a festa do Campo Pequenos e não podem organizar os seus festivais.
Percebe-se
o objectivo, é preciso reduzir o medo, aquele que pode ser um dos
inimigos da recuperação económica, indo para além do que recomendam as normas
de segurança sanitária. Mas foi
enorme o risco de equívocos na mensagem, de “sujar” uma mensagem até aí
bastante clara. A subida do número de novos casos acaba por
provocar um dano ainda maior do que o excesso de medo que eventualmente se quis
combater com esses comportamentos que transmitiam mensagens equivocas.
Ainda
vamos a tempo de corrigir e evitar que a nossa crise acabe por ser ainda mais
grave por ter falhado o planeamento e organização da sociedade no
pós-confinamento e por se terem transmitido mensagens equívocas. Todos
sabemos que quem está a gerir esta crise enfrenta uma enorme pressão, mas por
vezes vale mais parar e planear. Ou simplesmente cumprir o que se disse que se
ia fazer e não fez. Morrer na praia é que não.
COMENTÁRIOS:
R R: As falhas não foram só no pós-confinamento, começaram logo no início da pandemia: 1 - Mensagem pouco clara; 2 - Propaganda na CS que enaltece o governo e trata os portugueses como atrasados mentais (aproveitamento das dificuldades dos outros países para mascarar os problemas em Pt); 3 - Tratamento diferenciado de cidadãos e instituições; 4 - Entrada em Pt de centenas de milhares de imigrantes que o país não tem capacidade de acolher, nem a maior parte destes tem formação escolar e conhecimento de português mínima que lhes permita entender a mensagem das autoridades de saúde.
R R: As falhas não foram só no pós-confinamento, começaram logo no início da pandemia: 1 - Mensagem pouco clara; 2 - Propaganda na CS que enaltece o governo e trata os portugueses como atrasados mentais (aproveitamento das dificuldades dos outros países para mascarar os problemas em Pt); 3 - Tratamento diferenciado de cidadãos e instituições; 4 - Entrada em Pt de centenas de milhares de imigrantes que o país não tem capacidade de acolher, nem a maior parte destes tem formação escolar e conhecimento de português mínima que lhes permita entender a mensagem das autoridades de saúde.
Ping PongYang: Um dia de cada
VEZ! ISTO não é uma corrida de 100 metros, mas sim uma prova de fundo.
Talvez a maior das nossas vidas. Estamos TODOS a aprender todos os dias incluindo os
maiores especialistas. Mais humildade
e menos dedinhos em riste. Isto não tem
precedentes modernos !
André Ondine: Não estou
seguro que o Governo tenha tido uma gestão eficaz no início. Os portugueses,
esses sim, tiveram uma gestão eficaz. As imagens que vinham de Itália e Espanha
meteram medo. E foi esse medo que deixou as pessoas em casa. Claro que o
Governo, nesta fase, esteve bem, pois acompanhou esta atitude dos portugueses com informação prática e
útil e não teve uma atitude altiva perante a gravidade da situação. Mas foi o
justificado medo dos portugueses que ajudou a um confinamento eficaz. O pior veio depois. Com um discurso confuso, até contraditório, que causou
não apenas confusão mas
também revolta e perplexidade. Mas por quê deixar as iniciativas partidárias e
sindicais de fora das concentrações proibidas? Para consolidar a ideia de que
os partidos vivem acima das pessoas e que gozam de privilégios especiais? Não
será essa abertura a causa dos problemas que agora vivemos? De onde vieram as
camionetas com os figurantes da concentração do 1º de Maio? E as manifestações
contra o racismo, do Mamadu ou que é, e a favor de um Portugal que se diz
não-racista, de André Ventura? Por que foram permitidas? Só porque não temos
Estado de Emergência e a Constituição assim o diz? Então mantenham esse estado,
já que só assim mantemos a segurança. Não é andar a festejar o advento da
Champions, da websummit, da festa do Avante, do Nogueira no Campo Pequeno que
lá vamos. É a ser sérios e concretos. Estou um pouco farto de ver os marialvas
do costume (Júdice, etc) dizerem que isto não é problema nenhum, que temos que
abrir tudo e que não haverá problemas. Há problemas. Eles estão aqui. E isto
não é uma questão de esquerda ou direita. O Governo não pode ceder ao Júdice,
nem aos PCP, nem a ninguém. Tem que ouvir os especialistas e agir em
conformidade. Sem propagandas. E Costa irrita-se com isto, de ter que ouvir os
outros. Chateia-lhe. E por isso destrata a ministra da saúde à frente de todos,
como ele tanto gosta. Esta é a falha dos pós-confinamento. O governo quer uma
coisa. A razão quer outra. E Costa está acima da razão.
Jose Faria: Causa
estranheza as autoridades sanitárias (epidemiologistas e infecciologistas)
fazerem um silêncio ensurdecedor sobre os benefícios da imunidade de grupo que
ocorre quando uma proporção significativa da população se torna imune por causa
da exposição à infecção – o que pode ajudar a acabar com o coronavírus.
Se
uma proporção significativa da população é resistente à causa de uma infecção,
como vírus ou bactérias, a infecção, ela não tem para onde ir.
Embora
nem todos os indivíduos possam ser imunes, ocorre que o grupo como um todo
adquire protecção porque há menos pessoas de alto risco em geral, as taxas de
infecção caem e a doença desaparece. A imunidade de grupo protege as populações
de risco, incluindo bebés e aqueles cujo sistema imunológico é fraco e não
consegue criar resistências por si próprio. Isto é da ciência médica. Porque é
que as autoridades não falam da imunidade de grupo?
Paulo Melo > Jose Faria: Porque ninguém sabe quanto tempo dura a imunidade pós-infecção, ninguém
sabe se os infectados assintomáticos são ou não imunes a reinfecção, e ninguém
sabe se a taxa de mutação do vírus vai ou não permitir que exista imunidade de
grupo mesmo que a imunidade pós-infecção seja razoavelmente longa para a mesma
estirpe. Ou seja, demasiadas variáveis para que uma aposta na "imunidade
de grupo" seja neste momento mais segura do que ir ao casino e apostar
tudo num número. Com mais dados, provavelmente poderá valer a pena explorar
esse caminho, neste momento, não.
José Pedro Faria > Jose Faria: A
imunidade de grupo pode ser uma ficção. Há suspeitas que têm um prazo de
efectividade muito curto. Daí também que se diga que a Suécia deu um salto no
escuro. Não comece outra vez com teorias da conspiração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário