terça-feira, 21 de julho de 2020

Ouçamos Carlos Ramos



Afinal, somos mesmo uns tristes, que nos portamos mal, embora haja as excepções do nosso regozijo. Helena Ramos carrega fundo no acelerador da nossa incompetência, e mais casos, naturalmente lhe escaparam das nossas misérias várias. Os comentadores dirão dos seus afectos. Eu ouço Carlos Ramos, para espairecer. Mas também releio a Canção X do Camões, para sentir que é coisa antiga a tristeza e o Quem me dera que eu fosse o pó da estrada, do Alberto Caeiro, tão derrotados se encontram os poetas, entre os outros muitos. Ouçamos Carlos Ramos, para espairecer, e a sua voz sensual, tão bonita. Servirá de homenagem a Helena Ramos, pela sua prosa tão expressiva:
Canto o Fado
Há para o sofrimento
Um bom remédio afinal
É cantar e num momento
Ninguém se lembra do mal
Não custa mesmo nada
Tentem fazer como eu
Uma guitarra afinada
Um voz bem timbrada
E tudo esqueceu

Quando a tristeza me invade
Canto o fado
Se me atormenta a saudade
Canto o fado
Haja ciúme á vontade
Canto o fado
Por uma esperança perdida
Não passe na vida
Por um mau bocado
Se acaso a sorte o esqueceu
É fazer como eu
Deixe andar cante o fado

Canto o fado
Canto o fado

Do milagre à pedincha numa semana /premium
Rui Rio criticou a contratação de Cristina Ferreira pela TVI. Já Centeno no Banco de Portugal não lhe motiva reparos. Costa distribui máscaras em Bruxelas. Em França, as catedrais ardem.
OBSERVADOR, 19 jul 2020
Rui Rio sabe que é líder da oposição ao Governo e não a Cristina Ferreira? Rui Rio criticou veementemente a contratação de Cristina Ferreira pela TVI. Aproveitando o embalo será que ainda vai a tempo de questionar a nomeação de Mário Centeno para governador do Banco de Portugal? Ou o fim dos debates parlamentares quinzenais no parlamento com o primeiro-ministro?… Seja como for há que agradecer à liderança de Rui Rio ter acabado com aquela maldição dos tiros nos pés que a crer no jornalismo luso afectava os líderes do PSD: Cavaco somava maiorias absolutas mas mediaticamente falando só dava tiros nos pés. Passos Coelho, coitado, deve ter ficado sem pés pois não havia noticiário em que não se escalpelizassem os últimos tiros nos pés que dera. Santana nem pés tinha… Rui Rio pelo contrário nunca dá tiros nos pés! Com o PSD a caminho da irrelevância, os pés de Rui Rio estão bem e recomendam-se. E, claro, na falta de melhor assunto tem sempre a possibilidade de criticar os vencimentos auferidos por Cristina Ferreira.
Que cataclismo, além do mau governo, explica este estado de social-pedincha? Em Bruxelas, António Costa distribui máscaras. (Sócrates vendia computadores na Venezuela!) Já não temos milagres. Estamos em luta contra os frugais. Ciclicamente inventamos uns vilões que nos impedem de receber as verbas, os fundos, os apoios, as bazukas… Agora são os frugais. Em 2011, eram os austeritários. Depois o dinheiro vem. Invariavelmente, anos depois lá estamos outra vez de mão estendida e mais uma vez começa a demagogia patriótica em torno daqueles obstinados que, dizem-nos, por maldade e falta de inteligência levantam entraves a que o cheque venha. Os jornais falam de finca-pé, intransigências, inflexibilidade. Ninguém pergunta nada. Ora o que nos devia indignar não são as questões colocadas pelos políticos holandeses aos montantes das transferências a fundo perdido do Fundo de Recuperação europeu mas sim que em Portugal ninguém discuta como essas verbas vão ser afectadas. Pior, que se aceite com resignação que elas servirão para aumentar o peso do Estado e os apoios à rede clientelar dos empresários do sistema. E sobretudo que não se pergunte: como é possível que Portugal esteja em risco de se integrar o grupo dos cinco países mais pobres da UE? A República Checa, a Estónia, a Lituânia e a Eslováquia já são mais ricos do que nós. A continuarmos neste socialismo dos milagres só nos restará a Bulgária como concorrente ao lugar de país mais pobre da UE.
Um sopro de destruição corre pelos símbolos da Europa. Mas é apenas coincidência, não é? Ardeu a catedral de Nantes. Suspeita-se de fogo de origem criminosa. Também já se suspeitou da mesma origem no incêndio da igreja de Saint-Sulpice, em Março de 2019. E em Fevereiro desse mesmo ano foram vandalizadas as igrejas de Maisons-Lafitte, Houille, Dijon, Lavaur, Nîmes. Em Abril, foi a vez da basílica de Saint-DenisA Europa que as catedrais simbolizavam está a viver os dias do fim.
É isto? 18 de Julho era o dia em que o Covid ia acabar. A economia também era certo que ia recuperar em V após o final do desconfinamento. Agora o Covid não acabou e a economia afunda. As novas verdades oficiais são precisamente o contrário daquilo que era a verdade há três meses: António Costa veio agora avisar que o país não aguenta novo confinamento. Recapitulemos, portanto, dizer que um país não aguenta o confinamento deixou de ser uma barbaridade proferida por gente do calibre do Bolsonaro ou criaturas bizarras como os suecos e tornou-se a atitude politicamente correcta.
Alguém perguntou a Pedro Nuno Santos que estudos internacionais e que transportes públicos são esses? O Ministro das Infraestruturas e da Habitação diz que estudos internacionais não relacionam aumento de casos com o uso de transportes públicos, logo pondera acabar com restrições nos transportes públicos da Área Metropolitana de Lisboa. Que estudos internacionais e que transportes públicos são esses?
Quem apoia Cavaco Silva? O silêncio em torno dos títulos que associavam a campanha de Cavaco Silva ao BES revela a solidão do antigo presidente da República. Nem uma voz veio a terreiro perguntar como podiam os responsáveis pela campanha de Cavaco saber o que aconteceria depois desses donativos serem efectuados, nomeadamente que o Grupo Espírito Santo ressarcia os dadores. Também se pode estranhar a omissão nesses títulos doutras entidades políticas que receberam apoios do BES – por exemplo, a Fundação Mário Soares piedosamente esquecida nesses títulos. Mas o que na realidade conta é a lição que se tira deste caso: sem projecto nem discurso o centro direita está a caminho de se tornar um think thank. A memória do tempo em teve um discurso próprio só lhe causa angústia.
Ainda se podem contar anedotas sobre alentejanos? O editor da Vogue britânica, Edward Enninful, considerou-se vítima de racismo porque um segurança da empresa que edita a revista não só não o reconheceu como lhe indicou o acesso de serviço. Sendo negro, Enninful viu nessa atitude uma estigmatização. Enninful correu para o Instagram e o segurança foi rapidamente despedido Durante anos correu em Portugal a história do alentejano que vindo a Lisboa se dirigiu ao seu hotel. O porteiro não só não o reconheceu como lhe indicou a porta de serviço. Ninguém foi despedido. Sorte a do porteiro serem outros tempos e ser um alentejano o alvo da sua confusão. A propósito, ainda se podem contar anedotas sobre alentejanos?
Isto do socialismo enquanto pensamento único e obrigatório é apenas uma questão de hábito? Todos os dias temos de apoiar António Costa. Primeiro tínhamos de apoiar António Costa porque ele era um génio que virara a página da austeridade. Depois tínhamos de apoiar António Costa porque ele era um animal político que metia todos no bolso. Depois tínhamos de apoiar António Costa porque o país enfrentava uma pandemia. Agora temos de apoiar António Costa porque o país está à beira de uma tragédia. Segundo a TVI também lhe devemos dar os parabéns. para a semana há mais razões a justificar o apoio obrigatório a António Costa. Só se estranha nos primeiros dias. Depois acredita-se que sempre foi assim.
COMENTÁRIOS:
Nuno Pê:
Oh Helena, não ligue. Escreva mas é o terceiro livro sobre a vida do democrata Salazar. Agora aborde a ascensão ao céu. 
Tiago Queirós: Próximo passo: implementar a eutanásia; legalizar a comercialização de cannabis; aumentar desmesuradamente os impostos àqueles que, ao longo da última década, procuraram não resvalar novamente para o precipício. Porquê ler os Gregos, quando os Lusitanos se afiguram exímios no capítulo da Tragicomédia?...
Cisca Impllit: Este País já cansa...
Aura Bravia: Tantas verdades abafadas pela maior parte dos media portugueses. Viver neste País já era difícil com a ditadura dos serviços do estado a começar nas finanças e a acabar nas burocráticas câmaras Agora que a ditadura é em todo o espectro já não se vive. Sobrevive-se e luta-se. Obrigado pela sua luta.
Cruzeiro O Verdadeiro: Os agentes dos frugais, parecem uns frugalitos a defenderem aqueles que destruíram a economia dos países europeus às ordens dos EUA. E depois acusam Sócrates dessa responsabilidade, como se tivessem algum conhecimento do que estão a analisar além de terem contribuído para desvirtuar os princípios da UE a mando dos corruptos.
Vasco Silveira<: u="">Cara Senhora
Li com o maior interesse o seu artigo, tendo no entanto que discordar de alguns aspectos, nomeadamente:
_ Rui Rio não tem pés - se os tivesse teria há muito tempo batido com os pés na porta e reclamado do desgoverno patusco do senhor dito habilidoso.
_ A pedinchice arrogante é (vista como) sinal de força e sentido patriótico; qualquer sindicalista sabe que assim se ganham uns votos adicionais.
_ O pavor de ofender os muçulmanos impede os governos europeus de lhes apontarem o dedo por qualquer razão; acabará talvez, na “Submissão” de Houellebecq.
_ Não existe (com algumas raras- a sua por exemplo) opinião livre  inteligente, nem imprensa: apenas assalariados do governo e do politicamente correcto
._ PN santos é uma figura que me deslumbra pela boçalidade do seu raciocínio (!): qualquer declaração sua ( linha Sintra, TAP, banqueiros alemães, etc, etc) baseia-se numa ausência de lógica tradicional- basta “dizer”, que está “feito”.
_ Admiro o seu optimismo quanto ao futuro do centro direita: para ser um “Think tank” teria primeiro que haver quem a pensasse, e depois um número suficiente para encher o tanque!
_ As anedotas sobre alentejanos foram um mero sucedâneo das anedotas sobre Samora Machel; quando este morreu deu o protagonismo aos alentejanos. Ou seja, as anedotas sobre alentejanos são ainda anedotas sobre pretos, e estão pois proibidas.
_ Só agora reparou, que no país orgulhosamente pobre do Dr Salazar, que era socialista, que esta doutrina sempre preencheu as suas ambições? Só que agora sem País, nem Deus, e família 
Cumprimentos
Fernando Almeida Estes textos săo um balsamo para enfrentar os
tempos tenebrosos que vivemos!
Fernando Prata Excelente artigo, que põe o dedos nas várias feridas deste país.
Diogo M. Souza Monteiro: Excelente... a apontar os podres do país. claro que era bom apontar tb algumas ideias para sairmos do marasmo, mas para isso devemos todos contribuir. Uma possível ideia é que os fundos externos que nos fossem atribuídos sejam totalmente geridos a partir de Bruxelas. Ou seja as empresas e as entidades públicas teriam de enviar a sua candidatura aos fundos a um organismo da comissão europeia sedeado fora do país. As candidaturas seriam e avaliadas por um painel de especialistas internacional, e classificadas de acordo com critérios de elegibilidade e mérito claros e transparentes tal como os que são praticados na avaliação e selecção de projectos de investigação. Assim tornava-se todo o processo transparente. Como exemplo de critérios de avaliação estaria uma avaliação custo benefício bem como, por exemplo, a contribuição para o atingir dos objectivos de desenvolvimento sustentável ou da redução da dívida. Tinha a grande vantagem de reduzir as legítimas preocupações dos Holandeses e outros de desperdícios por incompetência e compadrio em que temos sido costumeiros.
pedro dragone : Rui Rio foi um dos que  criticou as ajudas à comunicação social quando foram concedidas. Agora julgo que aproveitou este caso da transferência da Cristina para a TVI para ilustrar uma das muitas razões pelas quais tais ajudas nunca deviam ter sido concedidas.
Pedro Reis > pedro dragone: Esquecem-se facilmente. A vontade de bater no Rio é tanta. Nem oito nem oitenta.
António Patrício Ferreira: O Rui Rio é um atrasado que só se mete em assuntos que não lhe dizem respeito. Um líder de oposição fraquíssimo e mal preparado, está a secar completamente o PSD.... O socialismo só sabe viver com o dinheiro dos outros, é um modelo incapaz de criar riqueza e prosperidade. A Iniciativa Liberal é o único partido em Portugal capaz de fazer oposição séria e construtiva aos socialistas pedintes !
Luis Martins > António Patrício Ferreira: Rui Rio é um socialista travestido de PSD.
Portugal, que Futuro: Com um decréscimo de 10% no PIB e a maior crise dos últimos 100 anos pela frente, esperar que o PS , cujos políticos só sabem governar com dinheiro, não desapareça de vez do panorama político português é ser muito optimista.
João Vicente > Portugal, que Futuro: Deus o ouça. Mas não estou muito optimista. Primeiro porque não se vão deixar matar sem dar muita luta e têm demasiados tentáculos espalhados por todos os cantos da sociedade (para já não dizer que têm a Justiça e os media no bolso...), depois porque, como dizem no Brasil, "vaso ruim não quebra".
José Paulo C CastroPortugal, que Futuro: Há pouco menos de 100 anos, com uma crise semelhante, os avôs deles não foram corridos. Teve que haver uma ditadura e, mesmo após décadas a impedi-los de arruinar a economia, voltaram os netos. E continuam os filhos a inscrever-se nos clubes certos para serem a rede secreta que mandará nisto. O problema é estarem associados a "progressismo" quando a realidade é sempre uma regressão para pior economia e piores valores na sociedade. Eles têm um aperto de mão secreto que indica como se protegerem eles disso tudo.
Luis Martins > Portugal, que Futuro: Infelizmente a diminuição do PIB não será de 10% mas no mínimo de 15% e se continuarem a incompetência de controle da pandemia pode ir aos 25%. A incompetência em Portugal não tem limites, porque é que não obrigam os passageiros dos aviões a fazerem um teste ao covid-19 até 72h horas antes de embarcar ? Fazer teste na chegadas é simplesmente uma imbecilidade que não tem quase nenhum efeito para o controle da pandemia, pois 1 pessoa infectada pode infectar todos os passageiros do avião e carradas de passageiros de outros aviões que estão no aeroporto nas salas de esperas para embarque .
pedro dragone: Rui Rio criticou a transferência da peixeira da Malveira (vulgo Cristina) para a TVI e criticou muito bem. Porque é com a maior fatia dos 15 milhões do nosso dinheiro, que o Tony Kéfrô (vulgo Costa) entregou a essa coisa a que chamam "comunicação social", que a SIC e a TVI compram as munições e as bazucas que usam nas guerras de audiências. Sobre a velha promiscuidade e pouca vergonha entre o poder político e essa coisa a que chamam "comunicação social", eu sinto vontade de escrever aqui um coisa indecorosa. Porém menos indecorosa que a dita promiscuidade. Só não o faço para não ser censurado. Mas considerem algo sempre abaixo das coisas mais porcas e javardas que possam imaginar!
Pedro Silveira:Parabéns HM, mais uma crónica fantástica. Que nunca lhe falte a coragem!
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