quinta-feira, 16 de julho de 2020

Retrato de bom recorte



Miguel Esteves Cardoso faz o retrato dos ingleses em tempo de uma pandemia absurdamente paralisante, que testa o espírito de obediência e compostura das gentes, impondo um seguidismo e uma submissão que nos tornam reféns, não dos nossos preceitos humanistas ligados a uma independência crítica, mas de um simples vírus mágico que nos reduz à escravatura de uma ridícula máscara. Como eu compreendo esses ingleses!
Mas o retrato é ainda completado com as motivações para a superioridade inglesa desdenhosa, sedimentada, em tempo anterior, em dinamismo produtivo e tantas vezes generosamente prestável, hoje ultrapassada, todavia, a Inglaterra, por outros povos menos pedantes e mais construtivos.
Seja como for, esta coisa das máscaras é, realmente, monstruosa.

CRÓNICA
A lentidão inglesa
Ao levar tanto tempo a exigir o uso de máscaras, a Inglaterra mostra que não se sente bem a fazer como fazem outros países que estiveram melhor no combate à covid-19.
PÚBLICO, 16 de Julho de 2020
Até compreendo os ingleses. Isso só me faz ter mais pena deles. Para mais porque Portugal sofre da mesma miopia.
Os países pequenos que tiveram impérios têm uma coisa grande: a dificuldade em ver-se como são. A Inglaterra é um país pequeno que compensa essa pequenez com a mania das grandezas.
Ao levar tanto tempo a exigir o uso de máscaras, a Inglaterra mostra que não se sente bem a fazer como fazem outros países que estiveram melhor no combate à covid-19.
A covid-19 tanto faz. É um inimigo à escala mundial, como já foi a Espanha, como já foi a Alemanha. A Inglaterra está habituada a ganhar. Não é fácil ver que os grandes adversários da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha e o Japão, estão mais uma vez à frente da Inglaterra.
O outro adversário – a Itália – e um dos países que os aliados salvaram – a França – continuam a produzir automóveis. A Coreia, um dos países que melhor combate a covid-19, também. A Inglaterra já não produz automóveis ingleses.
A Inglaterra vê-se aflita porque está habituada a ser copiada: a democracia parlamentar, a língua inglesa, as regras do futebol e do ténis, as universidades, a música pop, a moda, o design, a BBC.
Dói-me ler os ataques ao uso das máscaras. Chora-se o fim da liberdade ("tornámo-nos paus-mandados"), o fim da coragem ("tornámo-nos medricas"), o fim do individualismo ("tornámo-nos massificados") e o fim do pioneirismo ("tornámo-nos seguidores").
Não usar máscara é confundido – fatalmente, com vida após vida – com a defesa dessas causas, como se fossem inglesas.
TÓPICOS

COMENTÁRIOS:
Fugo EXPERIENTE: Ainda produzem os Morgan.

Colete Amarelo EXPERIENTE: Têm de compreender que não foram eles quem "inventou " a Covid.

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