Miguel Esteves Cardoso faz o
retrato dos ingleses em tempo de uma pandemia absurdamente paralisante, que
testa o espírito de obediência e compostura das gentes, impondo um seguidismo e
uma submissão que nos tornam reféns, não dos nossos preceitos humanistas
ligados a uma independência crítica, mas de um simples vírus mágico que nos
reduz à escravatura de uma ridícula máscara. Como eu compreendo esses ingleses!
Mas o retrato é ainda completado com as
motivações para a superioridade inglesa desdenhosa, sedimentada, em tempo
anterior, em dinamismo produtivo e tantas vezes generosamente prestável, hoje
ultrapassada, todavia, a Inglaterra, por outros povos menos pedantes e mais construtivos.
Seja como for, esta coisa das máscaras
é, realmente, monstruosa.
CRÓNICA
A lentidão inglesa
Ao levar tanto tempo a exigir o uso de
máscaras, a Inglaterra mostra que não se sente bem a fazer como fazem outros
países que estiveram melhor no combate à covid-19.
PÚBLICO, 16 de
Julho de 2020
Até
compreendo os ingleses. Isso só me faz ter mais pena deles. Para mais porque Portugal
sofre da mesma miopia.
Os
países pequenos que tiveram impérios têm uma coisa grande: a dificuldade em
ver-se como são. A Inglaterra é um país pequeno que compensa essa
pequenez com a mania das grandezas.
Ao
levar tanto tempo a exigir o uso de máscaras, a Inglaterra mostra que não se
sente bem a fazer como fazem outros países que estiveram melhor no combate à covid-19.
A covid-19 tanto faz. É um inimigo à
escala mundial, como já foi a Espanha, como já foi a Alemanha. A Inglaterra
está habituada a ganhar. Não é fácil ver que os grandes adversários da Segunda
Guerra Mundial, a Alemanha e o Japão, estão mais uma vez à frente da
Inglaterra.
O
outro adversário – a Itália –
e um dos países que os aliados salvaram – a França – continuam a produzir automóveis. A Coreia, um dos países que melhor combate a covid-19, também.
A Inglaterra já não
produz automóveis ingleses.
A Inglaterra vê-se aflita porque está habituada a ser copiada: a democracia parlamentar, a língua inglesa, as regras
do futebol e do ténis, as universidades, a música pop, a moda, o design, a BBC.
Dói-me ler os ataques ao uso das máscaras. Chora-se o fim da liberdade ("tornámo-nos
paus-mandados"), o fim da coragem
("tornámo-nos medricas"), o fim
do individualismo ("tornámo-nos massificados") e o fim do pioneirismo ("tornámo-nos
seguidores").
Não usar máscara é confundido – fatalmente, com vida após vida – com
a defesa dessas causas, como se fossem inglesas.
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COMENTÁRIOS:
Colete Amarelo EXPERIENTE: Têm de compreender que não foram eles quem
"inventou " a Covid.
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