Não somos menos eficientes no compadrio do
que lá pelas ilhas do mar Egeu. Até temos um espaço aquoso mais amplo, à nossa
volta. É certo que com muito menos ilhas do que na Hélade, onde estas figuram por
vezes como instrumentos de apoio democrático a quem as procura, vítima da
violência em redor. Nós é mais do mesmo, com os do compadrio do costume, cá
dentro. E seus sucessores. E o vasto mar é propício aos secretismos, a
deslindar mais tarde, podemos estar descansados. “O caminho
faz-se caminhando”, houve quem dissesse, mas os trilhos do nosso estão
gastos do muito calcorrear, por tantos. O certo é que o nosso “bodo”, de país
da coesão, que nos orgulhamos de ser, já muitas vezes foi posto à prova, mas
recebeu nota negativa.
Talvez se saia melhor hoje. Mas, de
facto, só se houver a tal supervisão frugal, não haja dúvidas, incorrigíveis que somos…
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 21.07.20
… e
a tripa magra já se imagina forra.
As
pessoas finas, onde incluo as da Diplomacia, chamam frugais aos países do norte da UE e «da coesão» aos do sul. Nas histórias infantis, fala-se da formiga
e da cigarra. Eu, que não sou diplomata, aos do norte chamo doadores e aos do sul perdulários.
E
o Conselho Europeu não chega a acordo
nem quanto ao montante global do Cabaz de Natal nem quanto aos critérios de distribuição.
Muito menos acordo em relação ao controle do modo como os perdulários vão
gastar as dádivas.
E
por muito que os sulistas bramem «Ó filha dá cá o meu!», não é imaginável que o
esbanjamento continue. Para que haja alguma transparência na aplicação de
fundos doados ou emprestados, é necessário que os instrumentos de controle
sejam minuciosamente geridos directamente pelos doadores sob pena de vingar
algum tipo de compadrio lá pelas ilhas do Mar Egeu…
Julho de 2020
Henrique Salles da
Fonseca
COMENTÁRIOS:
Anónimo 21.07.2020: Afinal o Conselho
de Europa sempre chegou a acordo, não sei se em todos os aspectos, nomeadamente
quanto aos controlos de que falas, mas pelo menos nos montantes. Pelo que acabo
de ler, juntando os vários tipos de contribuições, Portugal beneficia num total
de €45,1 mil milhões a fundo perdido (15,3+29,8), para além de €10,8 mil
milhões a título de empréstimos. O Primeiro Ministro, certamente adicionando
algumas outras verbas, refere um total de €57,9 mil milhões para os próximos 10
anos, o que dá uma média anual de cerca de 6 mil milhões de euros, o que
compara com os habituais dois a três mil milhões de euros anuais, nos últimos
anos. A tudo isto, o PCP acaba de declarar que acha pouco.
Três
ou quatro desejos: que saibamos merecer estes fundos; que tenhamos presente que
para Portugal ser beneficiário líquido comunitário é porque há países que são
contribuintes líquidos; que o Poder Político não se deixe aprisionar por
interesses empresariais, autárquicos ou políticos não legítimos na afectação de
verbas; que os decisores da selecção dos projectos a eleger para o efeito
tenham presente que Portugal é uma economia aberta, com grande dependência do
exterior e que na análise dos projectos se tenha também em consideração o seu
impacto na balança externa e no emprego; que as empresas produtoras de bens
transaccionáveis tenham prioridade em relação às demais; que a concentração de
actividade económica seja diminuída, para que um sector de actividade (v.g.
turismo) não tenha um peso excessivo no PIB (risco para o qual diversas vozes alertaram,
infrutiferamente, em anos anteriores); que… Enfim, Henrique, podes acrescentar
pelo menos um número análogo de desejos e de alertas…De uma coisa estou
convencido: as formas como utilizarmos estes fundos e como pusermos em prática
as reformas inerentes aos projectos a financiar condicionarão, por muitos anos,
a vida em Portugal. Que Deus nos ajude! Abraço amigo. Carlos
Traguelho
Francisco G. de Amorim 21.07.2020: É uma farta... de vilanagem!
Anónimo 22.07.2020: Em
suma, que a lucidez e o bom senso se dêem as mãos para utilizarmos com o melhor
critério estes recursos. E, sobretudo, que parte substancial deles não vá parar
às mãos dos mesmos oportunistas e corruptos que através de negócios bancários
sujos têm tramado o país.
Anónimo, 22.07.2020: : Depois de
Costa ter posto os frugais em sentido, levando-os a dobrar a cerviz, que os habituais se cubram, também, de glória na arrematação dos troféus! Simplificação,
já!, dos contratos públicos! Férias aos mecanismos de transparência! Abaixo os
bloqueios do Tribunal de Contas.
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