Helena
Matos o expõe com clareza e arreganho. Os 203 comentadores
da esquerda e da direita estão como peixe na água, os de direita mais
preocupados, os de esquerda mais na gozação. O melhor mesmo, é ler HM, apreciar a sua coragem verbal – e moral,
- de transmissora dos tantos casos nacionais, num país a deixar- se manipular, deixando
correr o marfim, nesse tal de amor e
manha, a descambar no ridículo … e no desastre, é claro.
A ministra que
monitoriza e o Governo que não governa /premium
O Governo quer monitorizar o discurso de ódio. Que a
censura tem muitos nomes já se sabe. Mas este é também o folclore para que não
se pergunte: como pode o Governo ter falhado tanto?
HELENA MATOS,
Colunista do Observador
OBSERVADOR, 05 jul
2020
Monitorize,
senhora ministra, monitorize. Vai ser um nunca mais acabar de monitorizações.
Segundo a ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, «O Governo vai monitorizar o discurso de ódio nas
plataformas “online”, estando “em vias” de dar início à contratação pública de
um projeto que deverá traduzir-se num barómetro mensal de acompanhamento e
identificação de ‘sites’.»
Monitorize
o discurso de ódio, depois o discurso que pode ser de ódio. Depois o discurso
que é só discurso. Rapidamente ficaremos sem palavras, nas mãos dos monitores. Até o silêncio irão monitorizar. Porque quando se
começa a monitorizar nunca mais se pára e porque enquanto a senhora ministra
monitoriza e saem as listas dos monitorizados do discurso dito de ódio e de
todos os outros discursos que hão-se ser inventados, não há espaço para
perguntar: o que andou o Governo a fazer? Como pode falhar
repetidamente no essencial? Como é possível tanta descoordenação: Covid-19: Apanhar transportes públicos em Lisboa pode significar “ficar
ao colo uns dos outros” para “continuar a vida normal” Portal das
Matrículas continua a dar problemas. Hospitais desmentem números da DGS...
Desde
já aviso a senhora ministra e os demais monitores que escusam de gastar o
dinheiro dos contribuintes a tentar detectar o discurso de ódio nos meus textos
pois a mim o que me interessa é o amor. Veja-se, por exemplo, a própria
história profissional da senhora ministra Mariana Vieira da Silva pois ela
espelha um grande amor: o amor do seu pai por ela foi tão grande, mas tão
grande, que Mariana Vieira da Silva integrou o mesmo governo em
que o seu pai era ministro. Se isto não é amor não sei o que será o
amor. Aliás o PS é um partido verdadeiramente amoroso: pais, filhos, maridos,
mulheres… convidam-se e nomeiam-se num espírito que só posso definir como sendo
de verdadeiro amor. Afinal, que um pai divida com os filhos o que tem não tem
nada de extraordinário. Logo só por maldade – e ódio, obviamente – se critica
que o PS reparta cargos. Não é o PS o dono do Estado? Então dá o que tem. Só
uma pessoa imbuída de ódio pode contestar esta prática tão humana, este
verdadeiro gesto de amor.
Até
no detalhe de o Governo nos ter escolhido, aos contribuintes portugueses, para
pagarmos a factura de Isabel dos Santos (outra filha amantíssima) na EFACEC eu
vejo um gesto de amor, pois como se sabe os pobres amam mais (é o que dizem
os filmes e as telenovelas). Logo, quando estivermos empobrecidos com tanta
empresa estratégica para manter e com a economia real devidamente falida,
viveremos com maior intensidade aquela imagem do amor e uma cabana.
Portugal é hoje um país dominado pelo
amor: o Tribunal
Constitucional passou a
amar de tal modo o silêncio no relacionamento com o Governo que entrou para um
retiro e o presidente da República de tanto amar já nem sabe donde vem nem para onde vai
e muito menos com quem. E como
explicar, senão pelo extraordinário amor aos cargos que ocupam, que Graça
Freitas e Marta Temido aceitem
prolongar aquele número entre o grotesco e o cómico que têm em cena já lá vão
mais de quatro meses? O amor de
facto move o mundo e dentro dele, num movimento particular e único, move
Portugal. Quando n’ “A Ceia dos Cardeais” o cardeal Gonzaga disse estar a
pensar “Em como é diferente o amor em Portugal!/ O amor simplicidade, o amor
delicadeza… Ai, como sabe amar a gente portuguesa!”, não imaginava que muitos
anos depois essa sua frase conheceria uma nova versão: a gente
portuguesa socialista ama como mais ninguém.
Por
exemplo, nos transportes públicos apinhados em Lisboa no pós confinamento não
devemos ver nem irresponsabilidade nem incompetência mas sim amor pelo vírus
(todos merecemos ser amados, ou não?) Aliás em matéria de transportes vivemos
tempos de amor selectivo: o governo não consegue reforçar os
transportes na área de Lisboa – só para elaborar um estudo sobre o reforço dos horários dos comboios na Linha
de Sintra, explicou o ministro Pedro Nuno Santos, são necessário três meses!
– mas não hesitou em aumentar a participação do Estado na TAP, esse amor de
perdição de gerações de contribuintes portugueses. Não duvido que
acabaremos a trautear “anda comigo ver os aviões” enquanto compramos bilhetes
duma qualquer low cost porque com o que vamos pagar de impostos para a TAP
não nos sobrará dinheiro para mais. Mas não há amor sem sacrifícios, pois
não?
A
outra possibilidade, amorosa também ela, é o Governo reacender a
sua paixão pelo BE e, tal como
em 2015 entregou aos radicais a educação e a habitação social, passar a
seguir-lhes os ditames em matéria de transportes aéreos, o que no caso da TAP
passa pela sua desactivação. (Clicando aqui encontra-se
toda esta estratégia devidamente explicada pelo especialista em alterações
climáticas-genro do senhor conselheiro de Estado Francisco Louçã. A quem
achar que isto é um exagero meu, quiçá um delírio que nunca passará à prática,
recordo que andamos há anos a normalizar o que considerámos delírios e que de
delírio em delírio, acabámos, neste momento em que a pandemia nos veio
confrontar com a desprotecção sanitária e legal dos velhos institucionalizados
e hospitalizados, com a deputada Isabel Moreira a coordenar um texto para uma
lei da despenalização da eutanásia! Ainda acham delirante a reconversão
das tripulações da TAP em trabalhadores da ferrovia aplaudida pelo BE?)
A
perspectiva do amor não só muda a nossa visão sobre o mundo como esclarece o
que antes não se entendia, como é o caso da estratégia do dr. Rui Rio.
Tornou-se-me claro que o dr. Rui Rio é o exemplo perfeito do amor na oposição e
de uma oposição que é um amor. O dr. Rui Rio veio agora propor o fim dos
debates quinzenais porque “O primeiro-ministro não pode
passar a vida em debates quinzenais. Tem é de trabalhar”. E tão contente está Rui Rio com o trabalho
do primeiro-ministro que não só prescinde de debater com ele como manda a sua
bancada parlamentar votar e “desvotar” consoante as necessidades do PS: o PSD
era a favor da redução das prestações pagas pelas famílias nas creches? Pois
era, mas deixou de ser. Coisa mais amorosa nunca se viu!
Até
na decisão do governo inglês de não nos incluir no seu corredor de viagens eu
vejo um sinal de amor. Um amor desfasado no tempo mas amor. Recordo que
começámos o ano preocupadíssimos com a degradação que os turistas estavam a
provocar nos nossos santos usos e costumes. Com a gentrificação
provocada pelos alojamentos locais que, garantia-se de fonte
certa, tinham desalojados os habitantes tradicionais. Era urgente legislar sobre o
numero de turistas que nos poderiam visitar. Ora pensariam os
ingleses que agora estaríamos felicíssimos porque. livres de turistas, os
velhos centros urbanos poderiam ser reocupados pelos seus antigos habitantes e
o Algarve regressaria àqueles tempos em que na costa só existiam pescadores e
veraneava meia dúzia de famílias com apelidos aristocráticos.
Digamos que os ingleses têm
dificuldades em interpretar as aparentes contradições do discurso amoroso e não
perceberam que os nossos “nãos” eram “sins” e que agora os amamos, suspiramos
por eles, desejamo-los… Enfim é melhor ficarmos por aqui enquanto fazemos contas ao desemprego
e às falências. Ou então
adaptamos à versão inglês bêbedo, bronco mas “o nosso turista” o “Mon homme” cantado pela Mistinguett (a versão da Sara Montiel, em espanhol é
igualmente sugestiva) enquanto os monitores do discurso machista permitirem tal
desvio ao pensamento correcto. Porque discursos para monitorizar não faltam,
não é senhora ministra? O esquema é velho e resulta sempre: pega-se num
bom propósito – defender a paz, combater a fome ou o ódio – e a partir daí os
auto-denominados defensores desses objectivos sentem-se autorizados a definir
quem e o quê está do lado certo. Como é óbvio a coisa não fica por aqui. A
seguir vêm as monitorizações, as ameaças, as sanções… E mais discursos disto e
daquilo para monitorizar.
Em conclusão, monitorize, senhora ministra, monitorize. Eu vou
continuar dedicada ao discurso do amor pois Portugal só será um país decente
quando os eleitores monitorizarem as consequências do que aqueles que nos
governam têm feito em nome do amor que nos têm. A nós e ao país. Não sei quanto
tempo mais conseguiremos suportar e sustentar tanto amor.
COMENTÁRIOS
A. Carnide: Parabéns pela pontaria, Helena! Na mouche mesmo Jorge Carvalho:
Bravo Helena excelente artigo Miguel
Oliveira: Uma vez mais. BRILHANTE! As suas reflexões
semanais são uma das razões por que vale a pena assinar o Observador. Admiro-lhe
a lucidez, o realismo e o poder de síntese. Obrigado. Anabela Cha: Sempre brilhante 👏👏👏👏 Isabel
Amorim: Helena Matos, não estando na moda (não prescrevo
movimento LGBT) AMO-A! O
Pereira > Isabel Amorim: Desculpe,
mas eu estava primeiro. :) A sério,
Maria Narciso: Em todo o Mundo o Ódio Avança. Está a ser usado contra minorias ,
migrantes, refugiados, mulheres e também chamados os ' outros ' , ele
compromete a coesão social , desgasta valores compartilhados e pode criar a
base para a violência, retardando a causa da Paz ,da Estabilidade, do
Desenvolvimento sustentável e da Dignidade Humana.
O Pereira > Maria Narciso: Tem toda a razão. E o discurso identitário da extrema
esquerda racista anti branco é um excelente exemplo desse tal ódio! FFFF NNNN > Maria Narciso: Temos de agradecer às esquerdas o avanço desse dito 'ódio' Anarquista Inconformado: Helena Matos, o tubo de escape
da turba direitinha. D. Marcelo, não perca a oportunidade de medalhar tão prestimoso musa.
Maria Augusta > Anarquista Inconformado. O Có-Có e o Ranheta....só falta
aqui o Facada para compor o ramalhete dos canhotos trauliteiros. Von
Galen > Anarquista Inconformado: A maior antinomia política é
o anarquismo dizer-se de esquerda. É ver um rapaz dizer que é anarquista e a
defender ideologias socialista e comunista. Ideologias que apregoam e defendem
a interferência do Estado em tudo o que mexe.
Lúcio Cornélio > Anarquista Inconformado: Seria talvez mais proveitoso se
você enumerasse as "inverdades" neste texto de Helena Matos. Mas, é
claro, a sua concepção de "proveitoso" será certamente bem diferente
da minha.
Antonio Dâmaso: Lembrar a
fotografias da REVOLUÇÃO CULTURAL na CHINA. O VOTO é uma ARMA sem ódio. Maria Narciso: Não significa Limitar ou Proibir a Liberdade de
Expressão , pois ela não é sinónimo de discurso de Ódio. O Dever é evitar que
esses discurso se transformem em algo mais Perigoso, em Particular, que incite
, Discriminação, Hostilidade e Violência , o que é Proibido pela Legislação
Internacional. Governos ,
Sociedade Civil , Sector Privado e Imprensa , temos o dever de lutar contra
ele. Líderes
Políticos e Religiosos têm uma Responsabilidade em especial, devendo Promover a
Coexistência Pacífica.
Romeu Francisco > Maria Narciso: Uau, mas que
pidesca. Com ou sem noção, vai dar ao mesmo. Inimiga da liberdade. Ana
Rebelo > Romeu Francisco: Credo! Tanta violência no
discurso.
Tem o dever de LUTAR porquê? Pertence a algum exército?
Faisal Al Meida > Maria Narciso: O grau de contorcionismo a que se está disposto a
chegar para calar as vozes incómodas ou meramente discordantes é espantoso! A
Maria Narciso (apelido condizente) acredita que sobre ela desceu o divino
Espírito Santo e a iluminou conferindo-lhe a superioridade moral de distinguir
o que é discurso de ódio do que é divergência de opinião e a partir daí exercer
a sua autoproclamada autoridade para calar quem com ela discorde.
Maltrataram-na
quando era pequena, cara Narcisa? É que pode dar-se o caso de a sua situação
encaixar no âmbito da patologia...
Caixa Mágica: A liberdade de expressão prevista na Constituição sempre foi uma cilada,
não é de agora. Desengane-se o português que pensa que esse direito realmente
existe. As mudanças que estão para vir só têm a vantagem de tornar os cidadãos
mais conscientes de que não se podem exprimir à vontade, não se podem irritar,
não podem detestar, não podem criticar com dureza, não podem ironizar, não
podem troçar, não podem usar calão, etc.
Maria Lobão > Caixa Mágica Era só o que faltava! A ironia e a contundência são
positivas e recomendam-se. Alexandre O'Neil, Ramalho Ortigão, Eça, Ricardo
Araújo Pereira.. sempre.
Caixa Mágica > Maria Lobão:
Tem a sua piada ter dado como
exemplo um autor que esteve preso e um outro que já foi alvo de vários
processos judiciais, ambos por terem feito uso da sua ironia e contundência:)
Teresa Guimarães: Obrigado Helena. Pois é! Estamos mesmo a chegar ao fim da linha. Com a subversão
e opressão implantadas às claras ! A extrema-esquerda revolucionária e
totalitária detém o poder efectivo, sócio-cultural e político, há vinte anos a
esta parte e, ao contrário de outros anjinhos, por si ou interposta pessoa, não
se coíbe ou pede licença para o exercer, no sentido de efectivar a revolução e
instalar a ditadura. Pessoalmente, nunca mais votarei em nenhuma força política
cujas únicas propostas inegociáveis não sejam formar um governo e uma
administração de portugueses para os portugueses. Dedicados à reforma e
efectivação da lei criminal, policial, prisional, do abuso da segurança social
e habitação pública e a não deixar pedra sobre pedra do que tem sido este
acelerado caminhar para o roubo de Portugal aos portugueses e a ditadura da
extrema-esquerda. Da imigração à nacionalidade, do assassinato de velhos e
bebés à destruição da família; da ideologia de género e homossexualista ao
animalismo terrorista e ao eco-fascismo e da libertação da economia e da
sociedade ao restabelecimento da soberania nacional, política e económica.
André Macias: Como sempre , bravo Helena!
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