Do vestuário ou do calçado que exploram
crianças. Não chegámos a ser informados delas. Mas o texto já é antigo – de
Janeiro deste ano -, entretanto o seu autor – Raul Manarte – teve tempo de o verificar para completar o seu
texto de título aguçador de curiosidade, mas somítico na resposta: “Queres saber quais as marcas de roupa que
exploram crianças?”, enviando-nos para uma, ao que parece, esclarecedora app. Não vou debruçar-me sobre o assunto da
exploração infantil, naturalmente condenável, e que é uma marca preferencial da
nossa constância na piedade carinhosa, que também a Catarina Furtado andou a distribuir pelo mundo, juntamente com a sua
beleza, e Augusto Gil salientara na
sua “Balada da Neve”, voltando
a sua crítica, porém, ao nosso jeito humilde, sobre Deus que tudo pode, ao
contrário dos tempos actuais mais centrados na crítica ao homem – poderoso –
defensores que somos das igualdades sociais. Faço referência antes, a um
programa, creio que da National
Geographic que vi ontem, no torpor preguiçoso do meu confinamento, programa
sobre a Groenlândia e o
percurso de uns quatro exploradores arrojados, na busca explicada de espaços
por entre gelos a liquefazerem-se e fiords de panorâmica para mim aterradora.
Mas lembro apenas o breve episódio de um dos exploradores mexendo numa carcaça
de animal que, com os seus atributos naturais já definidos por Lavoisier, estabelecera à
sua volta pequeno jardim de flores vistosas a que o explorador atribuiu nomes – que não
fixei – contrastando com o rasteiro da tundra herbácea em redor, por falta dos
atributos criativos que o corpo morto concedera ao seu espaço ajardinado.
Admirei, no programa, não só a resistência de homens e mulheres atravessando
gelos e águas, mas as explicações que iam dando, com precisão de dados e
referências, botânicas ou históricas.
Por isso este texto do nosso choradinho,
vago e impreciso, me não comoveu, na sua subjectividade de sentimentalismo
fácil e inerme, ao nosso jeito.
Queres saber quais as marcas de roupa que exploram
crianças?
Se visses as crianças a fabricar os
teus sapatos na Birmânia, os trabalhadores debaixo da fábrica colapsada no
Bangladesh ou os derrames dos químicos das fábricas têxteis nos rios, tu não
compravas.
PÚBLICO, 19 de Janeiro de 2020
As roupas que tu compras: umas são
feitas por crianças exploradas, outras não. Umas têm boas medidas de protecção
do ambiente e dos animais, outras não. Mas será que essa informação vai mudar a
nossa forma de comprar roupa?
Nós
estamos habituados a olhar para montras e cabides com duas perguntas na cabeça:
Quanto custa? Fica-me bem? Não nos assalta que a indústria da moda é das mais poluentes do mundo,
a repressão violenta aos protestos
dos trabalhadores das fábricas de roupa no Bangladesh, as condições
(às vezes mortíferas) dessas mesmas fábricas de roupa,
a onda de suicídios dos agricultores indianos por motivos ligados às patentes das sementes de
algodão geneticamente modificado ou mesmo o sofrimento de milhões de animais ligado à indústria da
moda.
Mas
há alguma evidência que sugere que nós preferimos marcas que têm um bom
impacto na sociedade e ambiente, além de que costumamos seguir o nosso grupo quando escolhemos o que comprar. Tendo
isto em conta, uma possível solução parece surgir para uma indústria de moda
mais ética e sustentável: informar os consumidores, dizendo-lhes que marcas
são mais éticas. E torná-lo moda.
Há
uma aplicação que nos diz precisamente quais as marcas que protegem os
trabalhadores, o ambiente e os animais. Chama-se Good
on you e é de borla.
Não ganho absolutamente ao escrever sobre ela, mas no fim de contas ganhamos
todos.
Esta app avalia as marcas em três
domínios: pessoas, ambiente e animais. Diz
se há trabalho infantil, trabalho forçado, segurança dos trabalhadores,
liberdade para se sindicalizarem e pagamento de salários decentes. Se são
utilizadas peles de animais e outros “produtos” semelhantes e se são contra os
direitos dos animais. Se têm sistemas para minimizar desperdício de energia, de
água, de emissões de carbono, etc. Avalia tudo isto utilizando sistemas de
certificação e sistemas independentes de avaliação.
E
o que é que tu tens a ver com isto? O mundo está todo ligado. O que
tu compras no centro comercial fez uma viagem até chegar a ti, desde a recolha
da matéria-prima, à confecção, exportação e ao transporte. Nem sempre é
fácil de o compreender. Porque é difícil imaginar o que nunca vimos (eu nunca
vi as crianças na Turquia a apanhar avelãs 12 horas por dia que depois vão
parar ao meu crepe com Nutella) e porque as gerações anteriores provavelmente
compravam produtos que “viajavam” muito menos — o vendedor conhecia o
agricultor ou a costureira, o peixeiro conhecia o pescador.
E
assim vamos colidir com alguns conceitos importantes: distância e empatia. Se
visses as crianças a fabricar os teus sapatos na Birmânia, os trabalhadores
debaixo da fábrica colapsada no Bangladesh ou os derrames dos químicos das
fábricas têxteis nos rios, tu não compravas. Se fosse em Coimbra, Setúbal ou
Bragança, em vez de ser na Eritreia, Sudão ou Congo, tu não compravas. Mas nós
não vemos tão longe, e há tanta informação — e tanta desinformação.
Por
isso, temos de activamente procurar ferramentas para ver. Descarregar uma app para
escolher uma nova loja. Se tu começares, pode virar moda.
TÓPICOS
COMENTÁRIOS
Moreira Moreira.884109 INICIANTE: Depende... As crianças precisam da miséria que ganham
para não morrerem à fome, por exemplo? Não concordo de todo com a escravatura
desta indústria, é abominável, mas as soluções têm de vir de cima (o estado dar
suporte, apoios, institucionalizar crianças necessitadas e ajudar famílias
carenciadas). A solução não é nem pode ser boicotar, se o fizermos a marca a b
ou c até pode ir à falência, mas outras fábricas continuarão a fazer o
mesmo....e as crianças viverão do quê??? O autor fala em Coimbra, se fosse em
Coimbra não comprava mos, certo, mas em Coimbra uma família não precisa que a
criança trabalhe para viver, a criança não precisa de trabalhar para poder
comer, as crianças em Coimbra não vivem em barracas em condições sub humanas em
que os cêntimos são a forma de sobreviver.... 23.01.2020
Cidália Vintém.883974 INICIANTE: Ainda bem q são sustentáveis!! Nossa carteira é q não
consegue sustentá-los. Os preços são escandalosamente caros e duvido q paguem
bons ordenados. Vivemos num mundo de hipócritas e gananciosos!! 22.01.2020
Renato Portela INICIANTE: Não sei qual os motivos, mas a afirmação "onda de
suicídios dos agricultores indianos por motivos ligados às patentes das
sementes de algodão geneticamente modificado " está errada. No artigo da
IFPRI diz "our analysis clearly shows that Bt cotton is neither a
necessary nor a sufficient condition for the occurrence of farmer
suicides". Isto demonstra a falta de rigor e distorção da informação
presente neste artigo. 21.01.2020
Valter Lucena INICIANTE: Infelizmente este é o nosso mundo e cada vez mais vamos
assistindo a casos desta natureza. Porém, o que seria dessas crianças se não
tivessem pelo menos essa fonte de rendimento que lhes proporcione ter algo para
comer? O que fariam essas crianças se não tivessem este trabalho, sempre
condenável e que não se ajusta ao nosso modo de vida? Provavelmente seriam
escravizadas de outra forma, sexualmente por exemplo, ou vendidas a pessoas do
ocidente para serem educadas como filhos, já para não falar do tráfico de seres
humanos e no limite para tirarem órgãos para venda! Dentro do mal que é esta
exploração de crianças e em países francamente pobres, ainda há coisas muito
piores. 20.01.2020
Paulo Valente INICIANTE: Não, não seria. O seu argumento justifica a
escravatura: "se eu não lhe desse uma malga de sopa e um colchão para
dormir, ele morreria de fome". E quem é o ele? É o trabalhador que não
recebe outro salário que não seja um local para dormir e um pão para comer. O
trabalho de crianças também era endémico em Portugal, principalmente no norte
do país. Como é que foi resolvido? Perseguindo as empresas que prevaricavam.
Quando a mão de obra infantil desapareceu, tiveram de contratar adultos com
melhores salários. O mesmo acontecerá nesses países, a não ser que as empresas
queriam sair do mercado e os governos verem-se a braços com o desemprego dos
pais. 29.04.2020
lgxd78
INICIANTE: Não disse uma única marca que explora
crianças e manda-nos para uma app, com um título que engana o leitor, muito má
contribuição jornalística 9.01.2020
fayad fayad - um Imbecil segundo os Petistas!
INICIANTE: No 1º mundo é fácil a decisão e a análise
do artigo. Eu pergunto, o que é que o mundo dos ricos e multimilionários ,
países e pessoas, tem feito para erradicar a pobreza e o subdesenvolvimento nas
mais diversas áreas do globo? Talvez se eu não comprar uma roupa e não se fizer
mais nada vai haver uma família com mais dificuldade ainda. 19.01.2020
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