sábado, 17 de dezembro de 2022

Assim fosse


Que a continuação deste tipo de exposições críticas do Professor Jaime Nogueira Pinto, servisse também de estímulo a uma mudança na programação do ensino do Francês e sua Literatura, neste nosso país de desleixo na panorâmica do ensino.

Quanto ao tema explorado hoje, li apenas o primeiro volume da “Recherche…”, que comprei na “Galileu” de Cascais, em que a falta de dinheiro e a do total dos volumes da obra, nesses idos de 80, impediram que comprasse mais. Apenas pude ler excertos vários em manuais de literatura que os continham, e é esse Proust enfermiço e menino da mamã e de si próprio que recordo, com a sua extrema capacidade de análise, do seu “entourage” e das suas evocações. Fico grata ao Professor Jaime Nogueira Pinto, que nos traz de volta tanto do que vivemos, e que com tanta sabedoria o faz. Sartre e Simone de Beauvoir, mais tantos outros da plêiade francesa desses anos do século XX, entre os quais alguns autores de peças de teatro, como Anouilh, Giraudoux, que retomaram também os mitos gregos, além dos desconcertantes do teatro do absurdo e do nouveau roman, com a sua originalidade pesada e tosca… Tantos desses autores que me passaram pelos olhos, começando, na juventude, pelo Topaze, pelos “Thibault” - estes, que comprei para o meu pai, em tradução, de tanto que a  obra me encantara, identificada que me sentia com as rebeldias do irmão de Antoine, Jacques, e dos seus amores com Jenny, livro que, ainda há dias, a arrumar as estantes, descobri, nos seus 4 volumes bem velhinhos, enfiados nos livros e outros trastes dos meus pais, de que não penso desfazer-me, o que é tolice, sei-o bem, a caminho de impor também os meus próprios trastes aos meus descendentes... Maravilhosa ideia esta do Professor JNP de trazer à baila aqueles autores franceses que o marcaram, como a nós, e que poderia servir, essa ideia, para reiniciar neste país a disciplina do francês que incluísse a sua literatura, de tanta riqueza ideológica responsável por tanta da movimentação política do século anterior, e não só. Triste juventude a nossa, agarrada ao telemóvel tempos infinitos, embora a internet possa fornecer-lhes muitos saberes importantes para as suas vidas. Mas era tempo de se repensar a disciplina do francês.

Quanto ao paralelo com Sartre, apesar de tudo considero este de uma dimensão superior, tanto na reflexão filosófica sobre a consciência do sentido da vida, ante o seu ilusório, que tantas suas obras exploraram, a começar por “La Nausée”, em que, todavia, aquele descreve com humor crítico tantas facetas humanas, como o faz nas suas peças de teatro, de movimentação criativa e reflexão, a par da argúcia crítica, da análise psicológica, do sentido de humor, e, é claro, toda essa reflexão filosófica que mal conheço, que passou o “cogito” cartesiano primordial na definição do homem racional, para segundo lugar, na definição do sentido da existência, o “sum” sendo primordial para a criação do próprio movimento existencialista.

 

Marcel Proust: a política e a escrita

Sartre definiu Proust como um pederasta envergonhado, agente da “propaganda burguesa” e perpetuador do “mito da natureza humana”. Mas será a continuidade da natureza humana um mito?

JAIME NOGUEIRA PINTO,  Colunista do Observador

OBSERVADOR, 17 dez. 2022, 24:1717

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A 18 de Novembro completaram-se cem anos sobre a morte de Marcel Proust, efeméride entre nós  saudada por um silêncio quase total. Nada de mais natural e compreensível: em Portugal, escrever sobre Proust seria sempre um sinal inequívoco de falta de inteligência social, uma concentração em assuntos inúteis, fora da ordem do dia e sem qualquer interesse objectivo; uma prática excêntrica e dependente de hábitos penosos, morosos e caídos em desuso, como a leitura.

E no entanto é difícil imaginar um escritor que tenha marcado tanto o nosso século como este filho da boa burguesia francesa, íntimo da sociedade do seu tempo; este narrador único de mundos interiores, fascinantes, inconfessáveis, que, a partir de “uma vida sem interesse, sem aventuras nem viagens”, conseguiu levar-nos – aos que tivemos a sorte de o encontrar – numa interminável e extraordinária peregrinação de milhares de páginas através da natureza humana.

O génio de Proust está aí, na viagem que empreende e conta à procura do tempo perdido; uma viagem feita a partir do seu quarto – começada no 1ºandar do nº 102 do Boulevard Haussmann, no 8ème, e terminada no 4º andar do nº 44 da Rue Hamelin, no 6ème –, escrevendo deitado, isolado, em silêncio absoluto.

A cavalo entre dois séculos, Proust é o último grande escritor do século XIX e o primeiro do século XX. À la recherche du temps perdu foi publicada entre 1913 e 1927 – com a edição, em 1913, de Du coté de chez Swann (edição da Grasset, paga pelo autor depois da rejeição da Gallimard) e a publicação póstuma, em 1927, de Le temps retrouvé.

Proust escreveu a palavra “Fim” na Primavera de 1922. Entre a primeira palavra, em 1906, e a última, em 1922, com a Grande Guerra e as revoluções comunista e fascista, desapareceria a sociedade e o tempo que a obra também retratava, mas não os enredos humanos e a intemporalidade da procura e do reencontro com os nossos tempos interiores.

Marcel Proust insistia muito na diferença entre o homem e o autor, dizendo-nos em Contre Sainte-Beuve (uma colectânea de ensaios sobre Balzac, Flaubert, Nerval, Baudelaire e outros publicada postumamente em 1954): “Um livro é o produto de um outro eu, que não é o que revelamos nos nossos hábitos, em sociedade, nos nossos vícios”. Charles Augustin Sainte-Beuve, que, na crítica, ligava obcessivamente a obra à personalidade do autor, não era, por isso, para ele, “um crítico profundo”. Para Proust, o escritor de À la recherche, na pele do narrador, pouco teria a ver com Marcel Proust, filho do Dr. Adrian Proust, médico reputado de uma família cristã de província, e de Jeanne Clémence Weil, da família Weil, judia rica e civilizada, bem à l’aise na Paris de Luis Bonaparte e de Haussmann, a capital da insurreição da Comuna, depois da derrota na guerra franco-prussiana. Marcel nascera aí, em Auteuil, a 10 de Julho de 1871.

A suspensão da inteligência

Determinante na cartilha proustiana era também a relação entre a inteligência e a escrita:Cada dia atribuo menos valor à inteligência. Cada dia percebo melhor que é só fora dela que o escritor pode […] alcançar algo de si mesmo e a matéria única da arte. O que a inteligência nos traz sobre o passado, não é o passado”. Como tal, a Recherche não era “uma obra de raciocínio”, mas uma obra “ditada pela sensibilidade”, cujos “elementos mínimos” Proust percebera primeiramente no fundo de si mesmo, “sem os compreender e passando por dificuldades ao convertê-los em algo de inteligível […], como se fossem tão estranhos ao mundo da inteligência […] como um motivo musical”.

E se o autor, numa primeira fase, devia suspender a inteligência para alcançar “a matéria única da arte”, que só se alcançava fora dela, também em sociedade o excesso de inteligência e erudição eram mal vistos. E Proust, que valorizava a “compreensão ou o entendimento das coisas da vida e do mundo”, característica de uma geração francesa que ia de Bergson a Valéry e Charles Maurras, não deixava de nos transmitir a necessidade de suspender a inteligência ou de a nivelar por baixo em nome da “inteligência social” que a plena pertença à “sociedade” exigia. Assim, na Recherche, são muitos os passos em que ironiza sobre essa necessária contenção da inteligência: Oriane de Guermantes, por exemplo, lamenta que o sobrinho, Saint-Loup, não tenha a inteligência de se manter nos níveis intelectuais da boa sociedade e leia Nietzsche e Proudhon; Madame de Villeparisis, tia de Oriane e tia-avó de Saint-Loup, também destoa do seu mundo pela inteligência e pela cultura, chegando até a parecer “de outra condição”; e enquanto Jupien, o locatário dos Guermantes, transformado em gestor de um prostíbulo masculino do seu amante e protector, visconde de Charlus, tem a inteligência “d’un homme de lettres”, a princesa de Parma, a grande senhora de Paris, ao ver que o narrador usa borrachas americanas para proteger as solas dos sapatos nas intempéries, elogia-o com um “voilá un homme inteligent!”.

Além de uma certa subversão criativa, obrigatória na linguagem dos escritores que, de Joyce a Céline, marcam novos tempos, Proust mantém na narrativa uma ironia e uma ambiguidade que diferenciam a sua viagem por um mundo e uma classe social prestes a morrer com a Grande Guerra – a oligarquia francesa, mistura dos sobreviventes da aristocracia dizimada pelo Terror e das elites bonapartista e orleanista. Estes sobreviventes da Revolução, juntamente com as burguesias contadas por Balzac e Zola, acabariam por esmagar as revoluções do povo – em 1848 e na Comuna, no ano em que Proust nascera.

Mas fora as inevitáveis referências em À la recherche às políticas e às histórias da História, do caso Dreyfus à Grande Guerra, como foi e qual foi a relação de Proust, do Proust-pessoa, com a política, as ideias, as ideologias?

A política daquele a quem Sartre chamou pederasta e burguês

Num texto que já foi muito citado, mas que deixou de o ser, Sartre definiu Proust como o pináculo do “espírito analítico”, um agente da “propaganda burguesa” perpetuador dos privilégios de classe, e a sua obra como disseminadora do “mito da natureza humana” e da existência de “paixões universais”. Pederasta e burguês, Proust ter-se-ia valido da sua experiência homossexual para pintar o amor de um homem rico e ocioso por uma mulher, protótipo do objecto de desejo amoroso:Proust s’est choisi bourgeois, il s’est fait le complice de la propagande bourgeoise, puisque son œuvre contribue à répandre le mythe de la nature humaine”.

Sartre ataca Proust, como ataca Flaubert e Baudelaire, por serem escritores burgueses. A Proust acusa-o ainda de ser pederasta, mas não o pederasta assumido, progressista, libertador; antes o pederasta hipócrita que encarna “o drama do pederasta burguês”, na contradição do ser profundo e do estar, mascarando com uma qualquer “Albertine” a sua paixão irregular por um qualquer “Albert”. E compara-o, em desfavor, com um outro escritor, Jean Genet, esse sim um progressista, um “homossexual assumido e exemplar”.

Na bipolarização da França quando do famoso Affaire Dreyfus, Proust foi, como o irmão Robert, um dreyfusard, tomando o partido que mais se identificava com a Esquerda e encabeçando um “manifesto dos intelectuais” a favor de Dreyfus. De qualquer forma, e ainda que a divisão pró-Dreyfus / anti-Dreyfus não definisse em absoluto Esquerda e Direita, Proust assumiria depois posições críticas da Esquerda, do Republicanismo, da Revolução e do Terror (hoje, devido à publicação da correspondência de Proust em 21 volumes, conhece-se muita coisa sobre estas suas posições políticas).

Em conversa recordada por Maurice Duplay, Proust faria as delícias de Sartre ao condenar a Revolução “por ter perseguido sistematicamente tudo o que era gracioso e amável”, com “uma legião de mulheres mandadas para o carrasco”, a começar pela rainha Maria Antonieta. Para o autor de À la recherche, o Terror tinha sido “um acesso de demência colectiva” e “os convencionais, ao julgarem-se romanos, eram como doidos que se julgavam generais, arcebispos, imperadores!

De qualquer modo, nos seus últimos anos, só podendo ler um jornal, Proust lia todos os dias L’Action Française, o diário do movimento monárquico e conservador de Charles Maurras; porque ali podia ler o próprio Maurras, “uma cura de elevação mental”, “a coluna luminosa” sobre política internacional de Jacques Bainville e, claro, Léon Daudet. Era um jornal fortemente anti-dreyfus, e Proust, ao louvá-lo, justificava o seu dreyfusismo de juventude como ditado pela “fidelidade à Mãe” e por uma “convicção pessoal sobre a inocência do capitão e um sentimento humanitário para com um inocente”.

Isto passava-se em 1920. Proust estava grato a Léon Daudet, que se batera para que À l’ombre des jeunes filles en fleurs ganhasse o Goncourt. E escrevia, empolgado, no prefácio a Tendres stocks,de Paul Morand: “À mes maîtres, MM. Léon Daudet et Charles Maurras, et à leur délicieux émule M. Jacques Bainville”. Em 1896, Maurras assinara uma recensão a Les plaisirs et les jours, um texto profético sobre as qualidades estilísticas do estreante; e, em Setembro de 1913, sabemos também pela correspondência que Proust se consideraria honrado caso viesse a escrever para o L’Action Française.

Nos últimos anos de vida do escritor, e já depois da atribuição do Goncourt, o diário monárquico continuava a acompanhar as publicações de Proust atentamente, elogiando a sua “análise psicológica levada até aos limites do possível.” E Daudet, o terrível polemista Léon Daudet, filho de Alphonse Daudet, cujo salão Proust frequentara, o Léon Daudet reaccionário e anti-semita, escreveria um editorial intitulado: “Um novo e poderoso romancista: Marcel Proust.”

Para Daudet, Proust aparecia como pioneiro de uma “nova escola de romancistas”; e, em tempo de guerra, contrapunha a psicologia proustiana, “psicologia francesa, herdeira da filosofia greco-latina, que sempre procura a luz e a claridade na análise das operações do espírito” à “psicologia germânica” que “confunde a obscuridade com a profundidade”.

Contudo, havia limites: quando saiu Sodoma e Gomorra, o quarto volume dos sete de À la recherche du temps perdu, em que o narrador descobre e descreve os mundos da inversão sexual, o L’Action Française não referia o livro, com Daudet a escrever a Proust, explicando-lhe que, tendo em conta os leitores do jornal, seria embaraçoso falar de uma obra com tal título e tal conteúdo. Proust viria depois a queixar-se em carta a um amigo, ridicularizando o embaraço púdico do L’Action Française: “un journal dont la pudibonderie est comique”.

Uma polémica inútil

Como não vale a pena usar e explorar a simpatia e o activismo pró-Dreyfus do jovem Proust para o alinhar à esquerda, também não será de explorar e levar à letra estas suas relações com a Action Française para o alinhar como um entusiasta da direita nacionalista e reaccionária. A influência intelectual de Maurras e da Action Française exerceu-se praticamente sobre toda a intelectualidade francesa nas quatro primeiras décadas do século XX. Como escreveu Robert Kopp na Revue des deux mondes, em Dezembro de 2016, “de Proust a Mauriac, de Gide a Malraux, a maior parte dos escritores franceses, sofreram, num momento ou noutro, a atracção de Maurras, […] e muitos deles foram, duramente marcados pelo seu pensamento; de que outros tantos também se afastaram.”

No fundo, as opções políticas do Proust-homem, o seu enquadramento social, a sua sexualidade, as suas contradições, o seu tempo, o seu lugar e o seu modo, acabam por ser relativamente irrelevantes – ou por só se tornarem relevantes porque se eternizam e chegam até nós transfigurados na “matéria única da arte”, consubstanciando o tal “mito da natureza humana” que Sartre nele denunciava. É, por isso, da escrita de Proust e não tanto do que o autor diz e faz fora do texto, que poderá partir uma leitura política da obra, em termos de valores, ideias e conceitos.

Talvez seja um bom pretexto para o reler, mesmo incorrendo na incorrecção social de ali encontrar, expandida, a natureza humana. Sempre nova e sempre a mesma.

A SEXTA COLUNA   CRÓNICA   OBSERVADOR   LITERATURA   CULTURA

COMENTÁRIOS: Todos 17

José Leandro: Numa só palavra: grato.                   Américo Silva: Como autor o ente transcende o indivíduo, por isso a arte fica por vezes mais perto de situações complexas do que a ciência, e o valor da pessoa e do artista são aquém e além incompatíveis. Recomendo o ballet, Proust ou les intermittences du coeur, pode ver-se no youtube e vale bem a pena                  Duarte Correia: Ironia: Sartre, completamente datado, que já ninguém lê, crítico feroz de Proust que se lê por prazer. Até Merleau-Ponty acabaria, pesaroso, por se incompatibilizar com o seu antigo companheiro de L ´École.                  P Ferreiro: Há uns anos a Professora Maria Alzira Seixo deu um curso de literatura francesa no CCB com várias sessões cobrindo os mais importantes autores. Sobre Proust disse foi o maior de todos             António Antunes: Excelente texto sobre este grande escritor. Sempre considerei não ter lido "À la recherche..." a minha grande lacuna literária. O facto é que nunca reuni a coragem e o ensejo de o encetar. Hei de fazê-lo.                bento guerra: Embora o tema não seja a minha "praia" , julgo que Damásio nos veio explicar que não há separação estanque entre a razão e a emoção. Daí que o contabilista Fernando Pessoa nos possa ter deixado pensamentos tão emocionalmente ricos. Artistas que não produzam para a emoção dos outros, não servem(só subsidiados)                José Vaz > bento guerra: Permita me que lhe diga que Damásio prova precisamente o contrário se ler o livro dele "O Erro de Descartes" e mesmo no livro " Sentimento de Si" ele foca que o conceito de alma ou o "eu" está intimamente ligado ao biológico e ao corpo daí o erro de Descartes que dizia que a alma e o corpo se separavam e da um exemplo concreto e real no livro que é de um senhor que estava a fazer fogo com dinamite numa pedreira e um ferro com alguns centímetros de comprimento e uns milímetros de diâmetro atravessou lhe o cérebro deixando um buraco que via de um lado ao outro o homem não perdeu os sentidos e continua mesmo a falar normal. O que aconteceu foi que esse ferro lhe atingiu uma parte cerebral que estava encarregue de sentir emoções (lá está ele conseguia raciocinar logo tinha a razão) e isso fez com que ele deixasse de sentir amor pelos filhos pela mulher e que não tivesse alguma emoção ao ver um filme ao ver um quadro etc. Espero que tenha conseguido resumidamente explicar  Cumprimentos                         Seknevasse: Ler os franceses? Vou antes ver o Avatar! Merci.          José Vaz: Adoro Sartre e Proust tendo lido as obras completas dos 2 na minha juventude. Quando vivi há 8 anos uns anos em Paris pensei vai ser interessante discutir os autores com pessoas parisiennes até que pra grande espanto meu em relação a Sartre nem podem ouvir falar nele por causa das posições na guerra da Algérie e de Proust a esquerda bem pensante detesta-o por ser um burguês. O povo francês é estranho.               António Antunes > José Vaz: Nos anos 1960 o meu pai, em turismo no sul de França, estava desejoso de conversar com franceses sobre o grande Blaise Pascal. Havia uma praça com uma estátua dele no centro de Clermont-Ferrand, sua terra natal. Qual não foi o espanto dele quando constatou que, de entre as pessoas com quem metia conversa no café, na tabacaria ou onde calhasse, quase ninguém fazia ideia do que tinha feito Pascal e, em alguns casos, de quem era.                    José Vaz > António Antunes: Eu o que me surpreendeu mais foi o ódio a Sartre e o mal-estar mesmo que o nome dele criava pra mim era surreal pois sempre o achei fenomenal depois um amigo meu é que me explicou as suas posições na guerra da Argélia que é um trauma que os franceses nunca resolveram e depois pesquisei um pouco e compreendi o afastamento dos franceses apesar de não concordar com eles, Sartre nasceu mesmo na Argélia e na altura da guerra ele tomou parte pelos independentistas.                 José Vaz > António Antunes: Em relação a Pascal, no fundo entendo em todo o lado acontece não conhecerem grandes personagens da história. Em Portugal acontece o mesmo com muitos escritores cientistas etc, se perguntar a muito português quem é António Damásio vão lhe perguntar se joga no Vitória de Setúbal ehwheh. Hoje os ídolos infelizmente são vazios e nada têm para oferecer a não ser o vazio quando vê influencers que dizem e fazem barbaridades a ter milhões de seguidores. Veja onde chegámos. A foto com mais likes da Internet a nível mundial é um Ovo e a segunda o Cu de uma mulher que nada tem na cabeça. Admirável mundo novo meu caro               A B:  Bravo! Obrigada por trazer Proust e a sua obra monumental feita de todas as minúcias da universal natureza humana. (Sartre era, além do mais, um grosseiro) Li há anos os 4 primeiros volumes. Graças a si, Jaime Nogueira Pinto, vou agora ler os 3 que faltam.             António Antunes > A B: A mim ainda me faltam os sete. Mas hei de lê-los.                José Vaz > A B: Olá AB, não vou estar a discutir gostos pois os mesmos não se discutem e ainda bem se toda a gente só gostasse de maçãs íamos morrer de fome. Mas deixo lhe só uma dica se me permite, quando quiser pode ler A Náusea de Sartre e verá que ele não é assim tão grosseiro.             José Vaz > António Antunes: Se não quiser gastar dinheiro e sei que não se deve fazer mas pode descarregar os 7 volumes na Internet em pdf                  Rui Lima: Recordar grandes escritores como faz JNP é um trabalho cívico  até porque Proust não é lido em Portugal , conheci o escritor devido a seu famoso duelo o jovem  Marcel Proust  não suporta um artigo crítico  ao seu 1.º remanche  e quer lavar a honra num duelo com o crítico literário ( também seria a honra  de uma das personagens femininas) . O duelo é realizado  num bosque  diante  de suas respectivas testemunhas, os dois homens separados por vinte e cinco passos trocam dois tiros com uma pistola   para nossa sorte e deles  sairão ilesos.

 

 

 

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