quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Matar por interposta pessoa

 

Ainda no mesmo PÚBLICO de 4/12 donde extraí a Crónica de Teresa de Sousa, leio a de Pedro Rodrigues, deputado do PSD, segundo li na Internet, e que passo a incluir nos meus desígnios de leitura, vista a integridade dos seus considerandos, que vão ao encontro dos de Pedro Passos Coelho, em texto que deu que falar e que também transpus para o meu blog. Concordo com ambos nos dizeres, mas a respeito de referendo só me apraz dizer que não devia ser preciso referendo, devia ser preciso vergonha – que é isso que não temos, ao exigir uma tal lei. O tema é, de facto, vergonhoso, quanto a mim, repugnante, e sinto vergonha dos meus compatriotas por se desunharem em torno de uma lei que permite a matança dos cidadãos sem préstimo, num pretexto piedoso – astucioso, apenas, para mais depressa, provavelmente, lhe herdarem os bens ou libertarem o erário público da sua presença de sobrecarga social. Digo, todavia, que Pedro Rodrigues arriscou receber os doestos violentos de bastantes comentadores da esquerda socialista ou outra qualquer, que alguns li. E sinto nojo, para além da vergonha. Criar uma lei que responsabiliza os médicos de um crime contra a vida, médicos que prestaram um juramento sobre o respeito desta, é uma forma de cobardia pessoal que condeno. Envergonhada. Enojada.

NOVAMENTE A DESPENALIZAÇÃO DA EUTANÁSIA

PEDRO RODRIGUES

PÚBLICO, 3 de Dezembro de 2022, 16:34

Os portugueses enfrentam uma perda real do poder de compra que ameaça agravar a trajectória de empobrecimento que a sociedade portuguesa tem desenvolvido nos últimos 30 anos.

Uma economia que, como a nossa, assenta os seus alicerces em baixos salários e numa carga fiscal asfixiante, não tem condições de amortecer o efeito devastador que a inflação produzirá na vida das famílias. A subida acentuada dos preços dos bens essenciais do cabaz alimentar, da energia e das taxas de juro com repercussões imediatas nos custos do crédito à habitação e ao consumo, deixará as famílias portuguesas em condições extraordinariamente preocupantes.

Neste sentido, esperar-se-ia que os responsáveis políticos canalizassem as suas energias e criatividade para enfrentar e mitigar as condições em que as famílias portuguesas se encontram.

Mas, pelo contrário, o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista, mais preocupados em impor uma agenda cultural e ideológica do que em resolver os problemas e anseios dos portugueses, voltam a insistir na discussão parlamentar da despenalização da eutanásia.

Ora, a discussão da despenalização da eutanásia é não só extemporânea, (pelas razões acima invocadas), como profundamente desajustada.

O tratamento legislativo deste tema convoca a consciência individual de cada cidadão e impõem juízos e valorações eminentemente pessoais, refletindo o vínculo ético que cada pessoa estabelece com a sua consciência e com a comunidade.

Deste modo, os deputados, quando convocados a desenvolver discussões sobre matérias desta natureza, não deixam de realizar um juízo de valor pessoal que se reflete nas opções legislativas, o que conduz à questão de saber qual a razão que determina que a consciência e os padrões éticos dos deputados se sobreponham aos de cada um dos cidadãos.

Não se trata de invocar a falta de legitimidade da Assembleia da República para tomar opções legislativas sobre esta matéria. Trata-se, isso sim, de afirmar inequivocamente que a consciência individual dos deputados e os seus padrões éticos não podem sobrepor-se aos de cada um dos cidadãos portugueses.

Esta discussão não é, contudo, uma novidade.

Na última legislatura, a esquerda parlamentar já tinha tomado uma iniciativa similar, não tendo nenhum partido com assento parlamentar assumido a posição que se impunha devolvendo aos portugueses através da convocação de um referendo a decisão sobre a despenalização da eutanásia.

Não sendo este tema uma novidade, não há razões para que a história se repita.

O PSD, na linha da sua matriz e tradição humanista e personalista, não pode, assim como fez no passado a propósito do debate sobre a interrupção voluntária da gravidez, deixar de apresentar uma proposta de resolução para a convocação de um referendo nacional sobre esta matéria.

De resto, a posição manifestada pelo 38.º Congresso Nacional do PSD foi inequívoca no sentido de que o PSD deve desenvolver todos os esforços para que a despenalização da eutanásia seja decidida por referendo.

Por outro lado, não só o presidente do PSD, Luís Montenegro, em várias ocasiões se manifestou favorável à realização de um referendo sobre a despenalização da eutanásia, como a maioria do eleitorado do PSD é inequivocamente favorável a que este tema seja decidido por consulta popular.

Não só por razões de princípio e de respeito pelo nosso património histórico, mas também de coerência do seu líder e de representação no nosso eleitorado, outra posição não pode ser assumida pelo Grupo Parlamentar do PSD que não seja a defesa da convocação de um referendo.

Não podemos, em coerência, defender a reforma do sistema político, a introdução de mecanismos de transparência no exercício do mandato parlamentar e apelar à confiança de uma maioria se, quando se impõe, ignoramos a vontade do eleitorado que pretendemos representar e assumimos, ou somos pelo menos complacentes, com a ideia de que a consciência dos deputados se deve sobrepor à dos cidadãos.

O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

Deputado do PSD e fundador do Movimento Portugal Não Pode Esperar

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