De EUGÉNIA DE VASCONCELLOS, Poeta, ensaísta, escritora,
sobre
as decisões de um governo pouco escrupuloso, como tantos têm apontado
inutilmente, vivendo nós à sombra de empréstimos externos que nos facilitam,
como nunca, a vida, e por tal vivemos acomodados.
Salazar, diz-se, governou
com pulso de ferro, mas pagou as dívidas criadas pela 1ª República. Os endividamentos
da 3ª, que uma União Europeia facilitou, apesar do interregno cumpridor de
pagamentos no tempo de Passos Coelho, não têm parança, e a criação de meios
para os extinguir, não há quem a faça, lambuzados que somos por uma finança
como nunca tivemos, assim entregue anualmente, sem contas prestadas convenientemente,
há muito que se fala disso. Deus se amerceie de quem nos vai suceder na vida da
nação sem escrúpulo, que facilita a vida de um governo que é primeiro nessa míngua.
A legalização da corrupção
Costa, excelente anunciador, anunciou
o fim dos Vistos Gold quando informou que esse “já cumpriu a função que tinha
de cumprir». Costa, péssimo concretizador, mantém os Vistos Gold com a maioria
PS.
EUGÉNIA DE VASCONCELLOS, Poeta, ensaísta,
escritora
OBSERVADOR, 02 dez 2022, 00:1511
A partir de quando é que acreditámos ser o «povo de brandos
costumes» em que de facto nos tornámos? E porquê? Se olharmos para a nossa
história, verificamos que somos tudo menos brandos. Não
é preciso ir muito longe, um passeio pela Primeira República oferece um retrato
fiel do nosso capital de violência que nenhuma transição política justifica. Ou
mais recuadamente. Em Omã, cinco séculos depois da nossa passagem pela sua
costa e cidades portuárias, ainda assustam as crianças com «se te portas mal,
chamo o português…». Não me parece que isto fale da nossa brandura. E
custa-me a crer que os anos longos de salazarismo sejam os responsáveis pela
nossa incapacidade de reivindicação de hoje, quase cinquenta anos depois do 25
de Abril.
Convém
que revejamos a nossa mansidão e interpelemos aqueles que tão deficientemente
nos governam, afinal, foram eleitos. Dependem dos nossos votos para a
manutenção do poder. E cabe-nos a responsabilidade de escrutinar as
decisões que tomam em nosso nome enquanto nos representam.
Vem
isto a propósito de duas decisões independentes, todavia relacionadas. Mas em meu nome, nenhuma das duas.
A
primeira. António
Costa, excelente anunciador, anunciou o fim dos Vistos Gold quando informou que
«o programa Vistos Gold já cumpriu a função que tinha de cumprir». António
Costa, péssimo concretizador, mantém os Vistos Gold com a maioria PS. A
quem servem estes vistos? Para quê? Não é, de certeza, para a renovação do
património imobiliário em benefício dos portugueses.
A
segunda. A
decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia [TJUE], de 22 de Novembro
último, de invalidar o acesso público ao registo de informação sobre os
beneficiários finais das empresas ou fundos: o registo UBO [ultimate beneficial
owner]. Portanto, não se saberá a quem pertence uma empresa ou fundo.
O
acesso público a estes registos, por qualquer pessoa ou organização que
demonstrasse um legítimo interesse na informação, neles contida, foi crucial no
combate ao uso perverso do sistema financeiro, fosse na lavagem de dinheiro ou no
financiamento do terrorismo. Doravante
isso não será possível já que «constitui uma séria interferência nos direitos
fundamentais, principalmente aqueles ao abrigo dos Artigos 7º e 8º da Carta dos
Direitos Fundamentais da União Europeia, respectivamente, o direito à
privacidade e à vida familiar, e à protecção de dados».
Este registo, de facto, permitia
saber o nome, a nacionalidade, a data de nascimento, o país de residência
oficial, a natureza e dimensão da propriedade do beneficiário. E os casos
levados ao TJUE demostraram o potencial de abuso dos dados pessoais. Porém, o
objectivo do acesso público a estes registos era a transparência financeira,
não o striptease financeiro. A
facilitação da investigação dos crimes financeiros. As offshores, os Vistos
Gold, as empresas de fachada e toda a parafernália de mão dos suspeitos do
costume, oligarcas e cleptocratas, um fio difícil mas não impossível de seguir
até à origem criminosa, estavam, pelo menos em parte, nestes registos. O
trabalho minucioso era desemaranhar o fio sem o quebrar, ligando todos os
pontos de passagem do fluxo de dinheiro.
Portugal, porta de entrada na Europa para pseudo-sefarditas com
fundos de milhões, para pseudo-investidores em lavagens de dinheiro e para
fundos imobiliários sem limites nas aquisições. Portugal, país que ano após ano
se degrada enquanto empurra o futuro para fora das suas fronteiras. Este não pode ser o país que queremos. Não é o país
que merecemos. Nem é com este país que nos fazemos ouvir em Bruxelas. Os
brandos costumes são silenciosos venenos.
PS: Maria
Pevchikh, jornalista, activista, chefe de unidade da Fundação Anti-Corrupção,
de Aleixei Navalny,exemplifica, informal e
claramente, o funcionamento do registo UBO – no caso, também com propriedades
de luxo em Portugal em nome do enteado da vice-primeira ministra russa, Tatyana
Golikova, conforme foi anteriormente noticiado nos media portugueses.
PS 2:
Recomendo a leitura do excelente A Vingança da Geografia,
de Robert D. Kaplan, publicado
pelo Clube do Autor, geopolítica de facto.
A autora
escreve segundo a antiga ortografia
CORRUPÇÃO JUSTIÇA VISTOS GOLD ECONOMIA
COMENTÁRIOS (de 11):
Fernando Cascais: Os
fundos europeus são o baú cheio de oiro onde termina o arco-íris. O problema é
encontrar o local. As ilusões de
óptica são imensas e quando pensas que o tesouro está quentinho mesmo à mão,
descobres que afinal está gelado em local incerto. Para aceder aos fundos
europeus é preciso ter o mapa do tesouro. E quem é que tem o mapa? É quem os
gere e anda muito perto deles, como é óbvio. Os governantes ou administrativos
em posições privilegiadas conhecem o mapa, mas, não podem ir eles à caça do
tesouro, por isso, fazem negócio com alguém conhecido para irem em vez deles.
Os fundos europeus estão blindados à corte elegível. Isto é clarinho como a água. Se algum atrevidote tenta
roubar o tesouro leva com uma carga burocrática em cima que acaba num hospital
psiquiátrico. Nota: já
alguém alguma vez viu propaganda na comunicação social para aceder aos fundos
europeus: como aceder, e que áreas aceder, requisitos para aceder, tempo de
demora de um processo, reclamações de quem injustamente não conseguiu aceder
aos fundos europeus, etc.
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