É o que se pretende, não temos dúvidas
disso, que já várias vezes o temos demonstrado, de há anos a esta parte. E mesmo
dantes, muito nos valeram os que com quem tínhamos aliança e nos deixaram o
vinho do Porto como distintivo da nossa universalidade.
O melhor, o pior e o que está para vir
O governo português tem alinhado pela
posição francesa, pautando-se pela hesitação em relação à Rússia e apoio morno
à Ucrânia. Na área militar, a nossa ajuda à defesa ucraniana tem sido
paupérrima.
MADALENA MEYER RESENDE Departamento de Estudos Políticos. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – NOVA FCSH
OBSERVADOR, 15 dez. 2022, 24:1719
Este
ano foi pródigo em mudanças importantes, quase todas relacionadas com a invasão
da Rússia à Ucrânia, a 24 de Fevereiro de 2022. Em Portugal a melhor
surpresa desencadeada pela guerra foi a reacção da opinião pública portuguesa
ao conflito. Segundo o estudo do German Marshall Fund, o Transatlantic
Trends, a opinião pública portuguesa é das que mais se opõe à invasão russa
e unanimemente apoia a política externa de Biden. Revela-se
também que é das que vê mais positivamente a influência global dos Estados
Unidos e, a par com a Suécia, é particularmente a favor da cooperação com as
democracias. Paralelamente,
a grande maioria dos inquiridos em Portugal vê negativamente a influência
global da Rússia (84%). Estes resultados mostram uma opinião
pública unida na condenação da agressão russa, assim como um consenso alargado
sobre as consequências para Portugal e para o Ocidente da necessidade de
reforçar a aliança com os Estados Unidos e do pilar europeu da NATO.
A par com a opinião pública, os media
portugueses, das televisões às rádios, aos jornais e às revistas,
mobilizaram-se na cobertura da guerra, na explicação das suas diferentes
dimensões e fases. Na sua maioria, o comentário à guerra foi, salvo algumas
exceções, largamente a favor da luta do povo ucraniano e da estratégia
americana e ocidental de vencer e punir a Rússia pela invasão. Esta clareza de propósito nos media e
opinião pública portugueses, passados nove meses de guerra, e num dos países
que sofreu economicamente com a inflação e a guerra, é tudo menos óbvio. Na Europa Ocidental, as posições populares são
tendencialmente muito mais divididas, e essa divisão tende a agravar-se com o
curso da guerra. A opinião pública portuguesa tem-se revelado, por isso,
extraordinária.
Contudo, a clareza gerada pela guerra na sociedade portuguesa não se
reflectiu na política externa do governo, e podemos mesmo afirmar que esta está
em diametral oposição na sua ambiguidade e falta de ambição. O governo português tem alinhado pela posição
francesa de Macron, pautando-se pela hesitação em relação à Rússia,
independência em relação à política externa de Biden e apoio morno à Ucrânia. Ao
longo dos meses do conflito, o Primeiro Ministro António Costa declarou
repetidamente que a Ucrânia não está em condições de entrar na União Europeia,
um dos pilares da estratégia europeia de apoio a Zelensky. Na área militar, a nossa ajuda à defesa
ucraniana tem sido paupérrima. Mais preocupante ainda, o governo português tem
limitado o investimento na área da defesa, e Portugal tem ficado de fora de
muitas das iniciativas da defesa europeia que se multiplicaram desde Fevereiro.
Isto significa que a trajectória da política portuguesa resultará na nossa
marginalização a médio e longo prazo.
No cenário mais que provável de uma guerra prolongada,
esta discrepância entre a unidade da sociedade no apoio à guerra
do Ocidente à invasão da Rússia, e a passividade e obstrução do governo
português trai não só o seu eleitorado, como a trajetória da nossa política
externa, que se tinha pautado desde o Tratado de Maastricht pelo compromisso de
acompanhar as iniciativas integracionistas europeias, desde a Moeda Única ao
alargamento a Leste, passando pelo aprofundamento do Mercado Único. O que está
para vir não é, por isso, promissor.
RELAÇÕES
INTERNACIONAIS POLÍTICA GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO DIPLOMACIA
COMENTÁRIOS (de 19):
Antonio Sennfelt: O que seria
para admirar era que o nosso PM e o seu actual pêiesse não fossem dúbios no seu
apoio a uma Nação agredida pelo país que o Dr. Álvaro Cunhal apelidava de
"sol na terra"! Ele há afectos e compadrios de longa data que deixam
a sua marca! Álvaro
Venâncio: Muito bem, subscrevo na íntegra. Glória à
Ucrânia e a todos os países que a estão a apoiar! 🇺🇦🇪🇺🇺🇸🇬🇧 Pobre Portugal: E Marcelo? Já o viram a apoiar a Ucrânia? Até
nisto é como o Costa. João
Alves > Liberales Semper Erexitque: A URSS enquanto projecto ideológico de inspiração
marxista desapareceu, efectivamente, em 1992, mas a URSS enquanto aparelho de
poder totalitário permanece intacto para se pôr ao serviço de uma nova
ideologia anti-democrática.
Nenhum comentário:
Postar um comentário