sábado, 10 de dezembro de 2022

Mas Soares foi o primeiro


Obreiro da destruição pátria. O primeiro a “ir para fora” a cavalo numa tartaruga gigante, ou noutro brinquedo qualquer, da nova construção ideológica, de desmandos e apelos à caridade alheia. E o país o aceita, comprometendo o futuro dos sucessores, mau grado as advertências de alguns, preocupados com o “cá dentro” resignado e incapaz de uma transformação exigente, apoiada em trabalho e competência num capitalismo de real solidariedade. Por enquanto, todos somos ineptos para reverter o status, que nos convém, ao que se tem visto, passivos que somos, e contentes com o óbolo que nos é distribuído.

Para já, e para reverter o pessimismo de Eugénia Vasconcellos, releiamos, a Toada de Portalegre da inspiração de José Régio, sobre a tal acaciazinha que nasceu da sementinha. Poderá ser que um vento suão piedoso faça crescer a acácia de uma nossa nova ambição de crescimento, baseada em mérito próprio, sejamos optimistas:

«…E era então que sucedia

Que em Portalegre, cidade

Do Alto Alentejo, cercada

De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros

Aos pés lá da casa velha

Cheia dos maus e bons cheiros

Das casas que têm história,

Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória

De antigas gentes e traças,

Cheia de sol nas vidraças

E de escuro nos recantos,

Cheia de medo e sossego,

De silêncios e de espantos,

- A minha acácia crescia.


Vento suão! obrigado...

Pela doce companhia

Que em teu hálito empestado

Sem eu sonhar, me chegara!


E a cada raminho novo

Que a tenra acácia deitava,

Será loucura!..., mas era

Uma alegria

Na longa e negra apatia

Daquela miséria extrema

Em que vivia,

E vivera,

Como se fizera um poema,

Ou se um filho me nascera.

 

Vá para fora cá dentro

O PS de Costa está a destruir o PS de Soares. Isto, depois de ter dizimado a esquerda que lhe facilitou o poder e enquanto inventa uma extrema-direita indistinta entre PSD, Iniciativa Liberal e Chega.

EUGÉNIA DE VASCONCELLOS Poeta, ensaísta, escritora

OBSERVADOR, 09 dez. 2022, 24:1511

Podemos ter ideias de Estado diferentes. Um Estado maior ou menor. Mais ou menos dirigista. Interventivo. Mais ou menos conservador. Ou soberanista. O que não pode ser diferente é a ideia de termos um Estado Democrático onde se promova o bem comum e a alternância no espectro dos partidos/coligações democráticas.

O nosso Estado não está a promover o bem comum. Não porque seja diferente da ideia de Estado que defendo, e é diferente, mas porque a própria ideia de Estado defendida tem sido sucessiva e ruinosamente gerida: é o novo Xanadu, «o mais caro monumento que alguém construiu para si mesmo». E este si-mesmo é, não Charles Foster Kane, mas o Partido Socialista.

O PS de António Costa está a destruir o PS de Mário Soares. Isto, depois de ter dizimado a esquerda que lhe facilitou o poder e enquanto inventa uma extrema direita composta pela indistinção entre o PSD, a Iniciativa Liberal e o Chega. É, para António Costa, irrelevante a lição francesa, a erosão das forças democráticas, a subida do populismo que patrocina e através do qual os movimentos extremistas se fortalecem – se, para António Costa, a dificuldade em entender isto for a língua francesa, mudamos para o português: sem a degradação política do PT de Lula, Bolsonaro, essa vergonha para a democracia, não se teria elegido, nem Lula reeleito, nem o Brasil fracturado. Este PS do poder pelo poder não é o PS ao lado do qual o PSD e os democratas resgataram o Portugal de 25 Abril a 25 de Novembro de 1975. Este PS não é confiável. É, se isto se pode dizer, aparelhista: o que interessa Portugal, e os portugueses, diante da devoração da coisa pública para satisfação própria?

Portugal está a chegar ao limite. Dependentes da economia internacional, dos fundos externos, dos apoios sociais, sem os quais a quase metade da população viveria abaixo do limiar da pobreza, com a inflação e as taxas de juro somos empurrados da pobreza para a miséria. Ao mesmo tempo, faz-se o sacrifício final da classe média, que em Portugal, note-se, é pobre.

Junte-se a isto a percepção aumentada da desigualdade social nas suas mais variadas formas: da crise da habitação e do emprego com salário digno à imigração dos jovens; do favorecimento dos jotas ao trânsito entre assessorias, secretarias, ministérios; das relações familiares, filiais, conjugais, fraternais, de amizade, aos contratos por proxy e por ajuste directo. Após um número escandaloso de casos e casinhos públicos, com governantes, nomeações – até para entidades reguladoras, aquelas que fazem parte do sistema de escrutínio do poder para a manutenção da democracia -, este PS dá o dito por não dito, uma e outra vezes, e mesmo no alargamento familiar do conselho de ministros.

É necessária transparência. É preciso fazer um genograma governativo. Os vícios do aparelhismo são uma quebra de confiança no pacto democrático.

A excelente Adélia Prado tem, num belíssimo poema, um verso que diz «este excesso de realidade me confunde». O PS, pela razão oposta, também me deixa perplexa: há falta de realidade nos nossos governantes, vindos eles próprios do aparelho sem passagem nem obra no mundo onde os restantes de nós vivem e têm de se provar, de falhar, de resistir e perseverar. O PS, à semelhança de qualquer outro partido democrático, deveria ser o filtro dos seus aparelhistas, gente que pulula no exercício do «venha a nós», não a sua incubadora. Os interesses do PS, e os números demonstram-no à saciedade, nem vale a pena voltar a falar da Roménia, não são os interesses do nosso país, não são os nossos interesses.

É do meu interesse, do nosso interesse, e do interesse da democracia, que os partidos que a representam, ofereçam segurança na alternância democrática. Ainda que tenhamos valores díspares. Discutamos, discordemos. Tenhamos de negociar ponto a ponto. Mas isto, não. Isto é outra coisa.

O PS precisa de ser refundado. Enquanto isso não acontece, sugiro que os nossos governantes saiam de Xanadu e vão para fora cá dentro: procurem emprego fora das empresas e instituições oferecidas pelo genograma. Vivam um par de anos com o salário médio de 1326 euros, sem perspectivas de progressão por mérito: arrendem casa, paguem o carro, a gasolina, os livros dos miúdos, a conta da água e da luz. Ou passem só pelo supermercado e vejam que meia dúzia de ovos e um litro de leite custam dois euros e setenta e quatro cêntimos.

A autora escreve segundo a antiga ortografia

ANTÓNIO COSTA   POLÍTICA   PS

COMENTÁRIOS:

 Luis Miguel: Quem votou no PS? Andam desaparecidos... Onde anda a maioria? Estranho! Tudo caladinho. Seknevasse: Excelente!   Mas este PS não lê.              Fernando CE: Preferem começar por uma junta de freguesia como o filho do António Costa. Tal pai tal filho. Vai longe.               bento guerra: A política é vender votos e o PS conhece o seu mercado             Nuno Santos: Muito bom este artigo. É pena que não sirva de nada. A única forma de mudar este status quo será tirar o PS do poder o que deverá acontecer apenas no final da legislatura pois temos um presidente sem coragem para enfrentar o António Costa. Esperam-nos 4 anos de decadência, pobreza e mais impostos.              Sérgio: Excelente! O peéxxe não serve o estado, mas SERVE-SE DELE! O "ilustre" e letrado e sábio e inteligente e "civilizado" portuga lá sabe o que escolhe...            Américo Silva: O PS de Soares morreu com Soares, era um PS ao serviço de Soares.              João Floriano: O doente Portugal está cada vez mais fraco, o diagnóstico está feito: trata-se de uma infestação pelo virus PS e outras estirpes de esquerda. À volta do enfermo gira um curandeiro incompetente, soltando constantes ladainhas por vezes incompreensíveis, lançando nuvens de fumos de ervas aromáticas sobre o desgraçado. Agora resta saber se ainda há cura possível e qual a terapia de choque. Mas já não temos muito tempo.              Fernando Cascais: É preciso ter cuidado com o que se pede. Se por azar dos Távora alguém, político, encontrasse a desejada lamparina mágica com um génio das terras do Catar lá dentro e pudesse pedir três desejos, poderia pedir: 1. Muito dinheiro. O génio prendava-o com uns valentes maços de notas de quinhentos euros. O problema é que não os conseguia depositar nem os trocar, nem numa loja para comprar um Rolex os aceitavam 2. Viver até aos 150 anos  O génio dava-lhe uma doença para a preservação das células mas que lhe paralisava as pernas e os braços deixando-o acamado uma eternidade a ouvir especialistas e a Anabela Neves na CNN   3. A refundação do PS O génio colocava à frente dos destinos do PS o excelso PNS assessorado por Ascenso Simões             Américo Silva > Fernando Cascais:  Bom dia. Muito bom.                  M Fnds: Artigo de opinião muito bem exposto uma vez mais. A importância da identificação de todos os pontos referidos, demonstra sem dúvida, que não é assim, que se alcançam objectivos de desenvolvimento do país, nem o próprio desenvolvimento de cada indivíduo.

 

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