E iniciar o próximo, sem o espectro do “Mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades”, que isso também provém de educação…
Mas, sim, mudança sempre para pior, connosco, está visto… Faltou falar nos “paraísos
fiscais” como causa dessa “cauda”, de que trata excelentemente João César das Neves... Paraísos de dinheiros ganhos ilicitamente,
diz-se, por conta do empréstimo estrangeiro, absorvido a haustos de
deslumbramentos próprios de pessoas pouco habituadas a elas, como já o afirmava
o “Vaqueiro” do Monólogo introdutor da arte vicentina nos palcos portugueses:
«Rehuélgome en ver estas cosas
Tan hermosas
Que está hombre bobo en vellas
Véolas yo; pero ellas
De lustrosas
Á nhosotros
son dañosas ….
O regresso da “cauda da Europa”
Em 1994 o Banco Mundial colocou-nos no
grupo “high income country”. Desde então somos oficialmente um país rico. Não
admira que vendamos as pratas da casa e vivamos de rendas, como fazem tantos
ricos.
JOÃO CÉSAR DAS NEVES Professor
da Católica Lisbon School of Business & Economics
OBSERVADOR, 30 dez. 2022, 00:1632
Há poucas semanas houve grande
alvoroço devido ao facto de, segundo as estimativas europeias, em 2024 Portugal
vir a ser ultrapassado pela Roménia. Isso, naturalmente, gerou muita tensão,
pesar e questionamento, regressando o velho mote da “cauda da Europa”. Quanto
entrámos na CEE em 1986 o nosso país era o mais pobre de todos os
estados-membros (produto interno bruto por pessoa em paridade de poder de
compra a preços correntes, código HVGDP da série oficial europeia AMECO). Assim
se manteve até 1995 quando, entrando dez países de Leste, nove dos quais mais
pobres (a exceção era Chipre), passámos para meio da tabela (15º) dos atuais
27. Acabou-se a cauda da Europa.
Foi
já neste século que começou o processo das ultrapassagens. Algumas mostraram-se efémeras, mas as
duradouras foram da Eslovénia (2003), República Checa (2007), Malta (2009),
Lituânia (2018) e Estónia (2020). Como subimos acima da Grécia (2011), a
posição em 2022 era 19º nos 27. Agora somos ameaçados por três parceiros,
Hungria, Polónia e Roménia. Assim, podemos contar cair em breve para 22º lugar,
apenas superando Croácia, Letónia, Eslováquia, Grécia e Bulgária. Pior, a taxa de crescimento do produto por pessoa
até à pandemia, de 2000 a 2019, foi a sétima mais baixa dos 27, acima só da
Grécia, Itália, Suécia, Holanda, França e Finlândia. Assim não se converge para
os países da frente.
Por
que razão tal aconteceu? A generalidade das respostas refere a má
qualidade dos governos. Mas isto,
em si, chega para explicar o atraso: um país que, quando trata de crescimento
económico, pensa logo em política, não admira que não cresça. É verdade que temos vários problemas no aparelho do
Estado e orientação estratégica, com destaque para a captura corporativa dos
ministérios, ofuscando o interesse nacional. Mas a
lição mais básica que um povo tem de aprender acerca do desenvolvimento é que
este constitui um fenómeno económico, determinado no sistema produtivo. O resto
ajuda ou complica, e em Portugal complica bastante, mas não pode fazer.
Entre os poucos que referem razões
económicas, existe uma preferida: a entrada no euro. O argumento é simples: foi
desde que aderimos à moeda única que o nosso crescimento empatou. Mas esses
nunca explicam como é que uma moeda estável pode prejudicar o crescimento
produtivo; para mais quando ela não parece inquietar as outras economias que
connosco aí convivem.
Existe
uma outra razão, muito mais plausível e omissa nos debates: a
descapitalização da economia. Portugal
não tem capital. Isso deve-se, não a esforços da esquerda radical,
sempre inimiga do “grande capital”, mas a erros crassos desse mesmo capital. O
nosso país, muito antes da entrada no euro, apresentava uma taxa de poupança
decrescente, ultimamente em níveis miseráveis. A dívida nacional é gigantesca,
não apenas no Estado mas em todo o país. Entretanto vendemos activos
imobiliários e empresariais ao exterior para sustentar o consumo. O sistema bancário, como foi aparatosamente
evidente, esbanjou fundos milionários em tolices não produtivas, acabando
combalido e alienado a forasteiros. Pior, “crescimento”, “produtividade”,
“competitividade” deixaram de ser temas centrais do debate nacional, como foram
até meados dos anos 1990. Aquilo que realmente domina o palco mediático são as
contas do Estado, as preocupações de pensionistas e professores, regalias,
subsídios, direitos, sem que ninguém questione como tudo isso se paga.
Existe
um facto que, ao contrário do euro, está directamente relacionado com todas
estas dimensões: em 1994 o Banco Mundial colocou-nos no grupo de
“high income country” (país de alto rendimento), o topo da classificação
global. Desde então somos oficialmente um país rico. Não
admira que não poupemos, nos endividemos, vendamos as pratas da casa e vivamos
de rendas, como fazem tantos ricos. Uma
coisa é certa: há 30 anos que, como nação, perdemos aquele fervor dinâmico que
tínhamos em décadas anteriores; o entusiasmo que ainda se vê na Roménia, nos
vizinhos e até nos nossos parceiros mais abastados.
Assumimos que somos ricos. Vivemos
numa democracia sólida; temos um nível de vida razoável; gozamos de excelentes
condições sociais (face às que tínhamos e às que tem a esmagadora maioria da
humanidade); até conseguimos maioria absoluta, coisa com que os parceiros
sonham impotentes. Em resumo, o país anda contente. Aquilo que nos perturba são
epifenómenos pontuais, como pandemia, inflação, derrota no mundial e, claro, as
infindas reivindicações setoriais, nunca suficientemente satisfeitas, e que só
seriam sustentáveis se voltássemos ao desenvolvimento económico de outras eras.
Assim não admira que acabemos na
cauda da Europa. A qual, tudo somado, até nem é um mau sítio para estar. Quanto
ao brio de vencer desafios, ganhar posições, resolver problemas estruturais,
ajudar desfavorecidos, são preocupações típicas de países pobres, atrás da
cauda da Europa. Ou então de países dinâmicos na cabeça da Europa.
ECONOMIA EM
DIA COM A CATÓLICA-LISBON
OBSERVADOR CRESCIMENTO
ECONÓMICO ECONOMIA
Henrique Mota: João, escreva mais neste jornal. É cá preciso. Vitor Batista: Ou seja, como explicar o seu artigo a um bom xuxalista? não é possivel,
terão de chocar de frente com a realidade, porque como diz e bem, eles só se
preocupam com os direitos adquiridos, os funcionários públicos, as rendas do
estado aos comparsas, e claro está, o ódio que nutrem ao grande capital, e ainda
ontem estava a ouvir o contra-corrente, e lá veio mais um ouvinte a defender
politicas patrióticas de esquerda, eles não desistem! Censurado sem razão > Jorge Freitas: Não acha que isso ainda enterra
mais Portugal? Era isso que deveria dizer. Com menos tempo de UE já nos
ultrapassaram. Curiosamente tudo países que viveram o jugo socialista. Mas
continuamos a manter o caminho para o socialismo na nossa constituição. Como
pode ver, adoro o socialismo. Vejo em cada socialista um filho da dita de
primeira água. Vejam dos países desenvolvidos quantos professam o socialismo.
Nenhum! Rui Lima: JCN , era seu leitor no DN é
com prazer que o volto a ler no Observador , um desafio para si neste
espaço explicar como outros países deram a volta por cima . Como falou na nossa moeda ,
o Euro é “culpado” por ser bom demais, impede uma crise violenta
ou seja querer comprar trigo e não ter divisas e Portugal só muda
com uma crise a sério. A Nova Zelândia em 1984 tem uma crise cambial ou seja não tem dinheiro
foi obrigada a reformar tudo, tinha déficit gémeos, desemprego ….era o país em
pior situação da OCDE o governo de David Lange líder dos trabalhistas é
eleito e faz grandes reformas que ainda hoje fazem deste país o menos corrupto
e uma das economias mais competitivas do mundo . Apenas um exemplo dessas
reformas na Nova Zelândia carta de condução, em Portugal é a
confusão milhares com cartas caducadas porque há 3 situações para renovar
consoante a data do exame , que fez lá o ministro foi saber a quantos era
retiradas aos 35 depois aos 45 ….por incapacidade quase ninguém passa a
primeira renovação para 65 , até lá existe a responsabilidade individual
é caso de perda de capacidade ou seja não chateiam milhões por 4 ou 5 casos . Alguém sabe em Portugal quantas
cartas de condução são anuladas aos 35 anos aos 45 … devia ser publicado
as percentagens de anulações e veríamos que é burocracia sem necessidade. Censurado sem razão: Será que essa pergunta ainda se
faz? Se o PS dá e a UE subsidia? Você disse numa entrevista que já tinha
desistido porque o povo era isto que queria. Aí tem o resultado. A miséria moral,
ética e económica instalada. O aparelho de estado totalmente tomado pela esquerda,
mas o povo anda contente. Esperemos agora por novas entradas na UE para
deixarmos a cauda da Europa. É isso será considerado mais uma vitória do
socialismo.
klaus muller:
Excelente
análise. É uma pena este senhor não escrever mais vezes no OBS. Liberales Semper
Erexitque: Que estranha
coincidência é que a "pasmaceira" económica de Portugal coincida com
os guterrismos, versões 1, 2 e 3, a actual. E saem mais 3000 milhões para eles
brincarem aos aviões e prendas diversas. Paga Fritz! Quando for o Zé a pagar é
que vai ser bonito.
Sérgio Jorge Freitas: Vá lá ler o Avante
ou a Bola...
Mario Silva > Jorge Freitas: Independentemente desse lapso,
o que está escrito no artigo é, na sua totalidade, verdadeiro.
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