Que não discuto, no prazer de ler os prós e os contras,
e admirando de preferência os discursos da razão.
Maria e o feminismo
Numa sociedade secularizada, pode
parecer irrelevante a Imaculada Conceição de Maria, mas não assim o seu
significado em relação à dignidade e liberdade da mulher.
P. GONÇALO
PORTOCARRERO DE ALMADA: COLUNISTA
OBSERVADOR, 10 dez. 2022, 24:1725
A solenidade de Nossa Senhora da
Conceição, festejada no dia 8 de Dezembro, é uma das principais festas marianas
do calendário nacional, por ser Maria nossa Rainha e Padroeira. Esta devoção
está tão enraizada no nosso país que é difícil encontrar uma terra onde não
haja uma igreja, capela ou ermida, dedicada a Nossa Senhora.
A celebração litúrgica do dia 8 de
Dezembro evoca o dogma da Imaculada Conceição da Mãe de Jesus. José Rodrigues
dos Santos, por ocasião da publicação de um seu romance, disse que, como os
Evangelhos afirmam que Jesus Cristo teve vários irmãos, a sua mãe teve … várias
imaculadas conceições!!!
O jornalista, cujos conhecimentos
teológicos são, pelos vistos, muito limitados, ignora que o termo irmão era, na
altura, também extensivo aos primos direitos ou, como também se diz, coirmãos.
Que Maria não teve, para além de Jesus, outros filhos, prova-se pelo facto de
este, na hora da sua morte, a ter entregue ao discípulo João, que não era seu
parente, precisamente porque não tinha irmãos a quem pudesse confiar a Mãe.
O romancista também desconhece que a Imaculada
Conceição não se refere ao facto de Nossa Senhora ter sido mãe, nem à sua
perpétua virgindade, mas ao momento em que ela própria foi concebida por seus
pais, Santa Ana e São Joaquim. Embora a concepção de Maria tenha sido natural,
foi preservada da mancha do pecado original, atendendo à sua futura condição de
Mãe de Deus e, por isso, é imaculada. Como esta
prerrogativa mariana parecia colidir com outras verdades de fé, nomeadamente a
universalidade da redenção de Cristo e a necessidade do Baptismo para alcançar
a salvação, a sua formulação teológica foi tardia: só aconteceu em 1854,
para grande júbilo de toda a cristandade. Quatro anos depois, este dogma
mariano foi confirmado em Lourdes, onde Maria, ao dizer que é a Imaculada Conceição,
confirmou não só a sua concepção sem pecado original, mas também que nunca
pecou na sua vida terrena.
Portugal
foi precursor nesta devoção mariana: o instituto religioso do Imaculado
Conceição de Maria, ou Concepcionistas, foi fundado pela nossa Santa Beatriz da
Silva. Também na Universidade de Coimbra se prestava culto à Imaculada
Conceição: as autoridades docentes obrigavam, como condição prévia à obtenção
de um grau académico, o compromisso de defender que Maria foi preservada do
pecado original, muito antes de que tal fosse exigido, pela suprema autoridade
eclesial, a todos os cristãos.
Numa sociedade secularizada como a
nossa, talvez pareça irrelevante a Imaculada Conceição de Maria, mas não assim
o seu significado em relação à dignidade e liberdade da mulher cristã. Nestes
tempos de decadência civilizacional, o feminismo radical diz querer libertar a
mulher de tudo, até da sua condição feminina e da sua mais bela expressão, que
é a maternidade, outorgando-lhe o ‘direito’ de mudar de sexo e de ser, pelo aborto,
assassina do seu próprio filho. Nos regimes totalitários opostos, a mulher é
reduzida a uma condição inferior, como em alguns países islâmicos, onde não se
lhe reconhece sequer a liberdade de estudar, ou de trajar como melhor entender.
É significativo que, há dois mil anos,
uma jovem rapariga de Nazaré tenha sido contactada pelo Anjo Gabriel, que lhe
propôs ser mãe do Messias. É muito surpreendente que uma criatura possa dar à
luz o seu próprio Criador, gerando no seu seio a natureza humana que, em Jesus
de Nazaré, se uniu à natureza divina: por esta sua dupla condição Cristo é,
simultaneamente, verdadeiro Deus e homem verdadeiro. Mas não é
menos relevante que, para este efeito, Deus tenha considerado que aquela jovem
de Nazaré era suficiente para decidir a questão de que dependia a salvação da
humanidade. De facto, sendo ainda muito nova, seria razoável que
o consentimento não fosse pedido a ela, mas ao seu pai, pois as filhas menores,
ou ainda na dependência paterna, não podiam, segundo os usos e costumes da
época, tomar por si próprias decisões de grande responsabilidade.
Mesmo que Deus entendesse que não tinha
por que pedir licença ao pai de Maria, teria sido exigível, de acordo com as
leis e praxes de então, que tivesse solicitado o consentimento de José, seu marido, com quem já estava oficialmente
casada, embora ainda não vivessem juntos. Segundo a tradição de então, a
mulher passava da dependência paterna para a do marido, estando
sempre sob a autoridade e poder de algum varão.
Ora Deus, ao considerar que aquela jovem
donzela de Nazaré, não obstante a sua juventude e condição de casada, era a sua
bastante interlocutora em relação a uma decisão tão transcendente, deu um
exemplo absolutamente revolucionário do que é a dignidade feminina. Ao
contrário do que então era costume e o foi durante séculos, sendo-o ainda agora
em alguns países e religiões, Deus acredita verdadeiramente, segundo a fé
cristã, na igual natureza e dignidade das duas variantes do ser humano – homem
e mulher – e, por isso, não aceita que a mulher seja inferior ao homem, seja
ele pai ou marido. A mulher cristã é, pois, a única dona e senhora do seu
destino e, como tal, é a ela que compete decidir a sua vida, sem interferências
masculinas.
À
mulher deve ser reconhecida esta liberdade, que não é um fim, mas um meio para
a realização pessoal. Com efeito,
não fomos feitos para sermos livres, mas fomos feitos livres para sermos
felizes, através de um livre compromisso de amor. Por isso,
a independente e autónoma Maria, que a ninguém consulta, nem pede licença, para
aceitar uma tão transcendente proposta divina, é a mesma mulher que aceita a
autoridade de José, quando este, advertido da perseguição de Herodes ao
recém-nascido Rei dos Judeus, decide partir para o exílio no Egipto.
Esta sua obediência não é, ao
contrário do que uma visão superficial poderia levar a crer, um acto submisso a
uma autoritária decisão machista, mas um exercício da liberdade do amor,
porque, quando se obedece a quem se ama, é-se verdadeiramente livre. Desta
liberdade, que é independência e autonomia, mas também obediência e entrega, é
exemplo o próprio Cristo: “Se o Pai me ama, é porque dou a minha vida para outra
vez a assumir. Ninguém ma tira, mas eu por mim mesmo a dou, porque tenho poder
de a dar e tenho poder de a reassumir” (Jo 10, 17-18).
Nenhuma criatura humana se compara a
Maria, a Imaculada Conceição, e só às mulheres foi dada a incrível
possibilidade da maternidade, tanto física, gerando filhos para o mundo, como
espiritual, pela consagração a Deus no serviço aos irmãos, que é também uma
autêntica maternidade. Não é em vão que Santa Teresa de Calcutá era Madre, ou
seja, mãe, assumindo, em relação aos mais pobres dos pobres, uma condição
análoga à que Maria adquiriu, para toda a humanidade, aos pés da Cruz de Jesus.
Como Deus é
justo, depois de ter exaltado tanto a sua Mãe e, nela, todas as mulheres,
aparentemente entendeu compensar a manifesta inferioridade masculina,
reservando para os homens o sacerdócio ministerial, não por discriminação
machista, mas tão-só como prémio de consolação.
COMENTÁRIOS (de 25):
LÚCIO MONTEIRO: “Como Deus é justo, depois de
ter exaltado tanto a sua Mãe e, nela, todas as mulheres, aparentemente entendeu
compensar a manifesta inferioridade masculina, reservando para os homens o
sacerdócio ministerial, não por discriminação machista, mas tão-só como prémio
de consolação” (padre Gonçalo Portocarrero de Almada).
1.
Esse padre Gonçalo é um génio chapado e um colosso intelectual! A partir de
agora, a inacessibilidade da mulher católica ao sacerdócio já tem uma
“justificação", que nem o altíssimo QI de Einstein seria capaz de
lobrigar. Assim, as mulheres católicas, a partir de 11 de dezembro de 2022,
já podem dormir descansadas e sentirem-se “redimidas”, porque já ficaram
a conhecer a “razão” pela qual lhes está interdito, pela Igreja Católica, o
exercício do magistério sacerdotal: é pelo facto de, na interpretação do
“sobredotado” padre Gonçalo Portocarrero, Deus considerar o homem
"inferior” à mulher. E, para que aquele não se sinta abalado por qualquer “complexo
de inferioridade” em relação à mulher, concedeu-lhe a prerrogativa do exercício
sacerdotal. Magistral raciocínio, sim senhor!
2.
A Imaculada Conceição da Virgem
Maria foi solenemente definida como dogma pelo Papa Pio IX em sua bula
Ineffabilis Deus, em 8 de dezembro de 1854. Assim, durante cerca de dezanove séculos da história da
Igreja Católica, nenhum crente era obrigado a crer na conceção imaculada de
Maria, pela simples razão de não haver um dogma que a isso os obrigasse. Mas, a
partir de 8 de dezembro de 1854, a situação alterou-se radicalmente, ou seja,
quem ousasse afirmar o contrário, tinha a Igreja “à perna”.
3.
Como ficou registado num outro texto de minha autoria, para que um Deus – a
Segunda Pessoa da Santíssima Trindade – encarnasse e se tornasse homem, seria
mister que não só nascesse ele próprio sem pecado, como fosse de uma mulher –
Maria –, também ela, sem pecado. Assim, ficou tudo “imaculado”, sem sombra de
pecado. Tudo muito limpinho, sem o mínimo contacto sexual. Tudo assepsiado.
4.
Sexo! É precisamente aqui que reside o busílis da questão. Desde os
seus primórdios, a Igreja nunca soube lidar com a questão sexual. À guisa de parêntesis, existe uma
interpretação, entre muitas outras, acerca do significado do pecado original,
que o conota com a prática sexual. Assim, segundo essa interpretação, o pecado
original resultou de um ato sexual, sem a devida "licença" de Deus,
praticado entre Adão e Eva, a “tentadora”.
Nesse
sentido, o sexo sempre foi considerado pecaminoso pela Igreja Católica. É
apenas tolerado porque é necessário para a procriação. Nada mais. Deve estar
dissociado de todo o prazer. Para a Igreja, prazer sexual significa prazer
pecaminoso. Já por isso, os seus ministros estão obrigados a cumprir a lei do
celibato. Não vá o diabo tecê-las. Mesmo assim, o diabo, vai fazendo das
“suas”, o que conduz a que alguns dos "ministros" só consigam ser
celibatários em "part-time".
A
este propósito, e segundo o meu entendimento, 99% dos 8 mil milhões de seres
humanos do planeta Terra, o prazer sexual é tido como a “mãe” de todos os
prazeres. Já para os bichinhos, essa percentagem chega aos 100%. E isso
acontece, porque os bichinhos não são preconceituosos e não ligam peva à moral
judaico-cristã.
5. O caso de Jesus Cristo apresenta-se deveras
complexo, já que levanta a seguinte questão: ao ser concebido, foi ou não foi
fertilizado? Se foi, de quem recebeu os 23 cromossomas paternos? Se não foi,
então ocorreu através da Partenogénese? (do grego παρθενος, "virgem",
+ γενεσις, "nascimento"; uma alusão à deusa grega Atena, cujo templo
era denominado Partenon) refere-se ao crescimento e desenvolvimento de um
embrião sem fertilização. São fêmeas que procriam sem precisar de machos que as
fecundem).
Mas
se a conceção de Jesus ocorreu na sequência da partenogénese, então, isso
acontece com os zangões, - entre outros insetos e alguns
vertebrados) que se originam de óvulos não fecundados. E como nascem de óvulos
não fecundados, herdam todos os genes que possuem da “mãe”(Rainha), uma vez que
não têm “pai”.
Será
que Jesus Cristo nasceu apenas com os genes de Maria, graças ao processo da
partenogénese?
Mapril Oliveira > LÚCIO MONTEIRO: Não tinha lido essa do "Como Deus é justo", francamente
já não tenho paciência para ler as barbaridades que o homem escreve. Às vezes o
nonsense até tem alguma piada, mas é inútil vir aqui ensaiar qualquer espécie
de raciocínio lógico, o leitor típico destas colunas foi formatado desde o
berço para acreditar na religião e já não consegue pensar pela sua cabeça. Mas
já agora, lanço aqui mais um pensamento: Diz o padre que Maria foi concebida
sem pecado, para poder gerar o filho de Deus, e a seguir diz que Deus perguntou
à moça se concordava. Agora pergunto: se a rapariga tivesse dito que não, isto
é, se se negasse à violação do seu corpo, o que lhe aconteceria? Eu conheço o
suficiente do Velho Testamento para saber que Deus era um ser cruel e vingativo
para aqueles que não o seguiam ou que se lhe opunham - é claro que a moça, se
se negasse aos avanços divinos, estaria condenada! Estudiosos da Bíblia, digam,
estou certo ou estou errado?
Coronavirus corona >Mapril Oliveira: Mapril, quando eu tinha 15, 16 anos o mecânico que arranjava os
carros ao meu pai era um homem cheio de si. Não tinha escolaridade (o que não é
mal nenhum) mas tinha muitas certezas. Tinha certezas em tudo e dizia amiúde
que ele pensava pela cabeça dele. Lembro-me dele dizer muitas vezes que as leis
não eram claras (ou seja, passíveis de interpretação pelos tribunais) porque os
"governantes" (referia-se ao legislador) faziam as leis confusas
propositadamente para dar trabalho a juízes, advogados e por aí fora. Se
quisessem faziam as leis claras como água para não haver confusão. Mas todos
tínhamos de ganhar dinheiro e a sociedade estava assim feita. Aquilo fazia-me confusão. Por um lado fazia sentido: se quem faz a
lei dissesse logo como é e como não é, era mais fácil. Mas por outro lado era
angustiante a ideia de vivermos todos numa enorme mentira, numa burla gigante.
Fazia-me confusão como é que pessoas passavam todas as suas vidas numa
actividade que era inútil, sabendo dessa inutilidade. Às vezes dizia-lhe que se
calhar alguma razão haveria mas ele, naquele estilo de homem cheio de
maturidade, responda-me, debaixo de um sorriso condescendente, que eu ainda era
muito novo. Eu pensava: se é assim nas leis, é assim em tudo. Que coisa triste
se assim for. Só que não é. É apenas a mostra que a ignorância é atrevida.
Acabei por me dedicar às ciências jurídicas e por perceber o porquê das leis
não serem, muitas vezes, claras. O legislador não consegue abarcar toda a
complexidade de uma sociedade, todos os aspectos da interação humana. A lei é
necessariamente passível de ser interpretada. Não, não se trata de uma
gigantesca conspiração. Tratava-se apenas de falta de humildade, de
desconhecimento e, conjugados estes dois ingredientes, de teorias
conspirativas. O
tema da religião sofre do mesmo mal. Poucas pessoas dedicam verdadeiro tempo a
estudar a história da igreja, a doutrina da igreja. Como isso dá trabalho e
frases-feitas dão uma ilusão de certeza, há pessoas que tendem logo a decifrar
o mistério da vida, da morte e da Criação. Condensam a teologia milenar,
construída por milhares de homens que lhe dedicaram as suas vidas e todo o seu
saber, numa explicação muito arrumadinha: oh, isso são gajos para defender uma
ideia. Devem ter medo de morrer e vai daí dedicam as suas vidas a estudar um
assunto que se sabe ser falso. Claro que meia dose de humildade bastava
para que a pessoa pelo menos colocasse a hipótese do assunto ser sério,
racional, importante mas apenas estar fora da esfera do seu conhecimento. Mas
por vezes o restaurante tem o prato esgotado e nem meia dose existe. Mapril Oliveira: A respeito de Deus não aceitar que a mulher seja inferior ao
homem, lembrei-me do episódio bíblico, Génesis capítulo 19: Deus decidiu
destruir Sodoma e todos os seus habitantes por serem grandes pecadores (os
homens tinham o péssimo hábito de fazerem sexo uns com os outros). Na cidade
vivia Lot, e ele era o único homem justo entre todos os habitantes. Deus
resolveu salvá-lo e para isso enviou dois anjos a avisá-lo que saísse da
cidade. Os anjos tinham a forma de homens, e deviam ser uns belos mancebos,
porque deixaram os sodomitas em brasa, e em grande número vieram cercar a casa
de Lot, exigindo-lhe que lhes entregassem os homens. Então Lot saiu à porta, e
disse-lhes (Sic, parágrafos 7 e 8): 7 E disse: Meus irmãos, rogo-vos que não façais mal. 8 Eis aqui, duas filhas tenho, que ainda não conheceram homem;
deixai-me, rogo-vos, trazê-las para fora, e fareis delas como for bom aos
vossos olhos; somente nada façais a estes homens, porque por isso vieram à
sombra do meu telhado. Ou
seja, Lot, o único homem bom aos olhos de Deus, queria entregar as suas filhas
à multidão para uma violação colectiva. Mas temos que ser compreensivos: aos
olhos de Lot não se tratava de violação porque as mulheres valiam pouco mais
que gado - gado não é violável, não é? Do mesmo modo pensaria Deus,
porque no fim Lot e as filhas foram salvos – já todos os outros habitantes,
incluindo homens, mulheres e crianças e até a mulher de Lot foram mortos pelo
fogo enviado por Deus. Este é apenas um episódio entre tantos onde se demonstra
que Deus trata as mulheres como seres inferiores – O padre diz o contrário, o
que é, obviamente, uma falsidade.
Coronavirus corona > Mapril Oliveira
Questão: "Se a doutrina sagrada
deve usar de metáforas"
Resposta:
"(...) É conveniente à Sagrada Escritura transmitir as coisas divinas
e espirituais por comparações metafóricas com as corpóreas. Pois, provendo Deus
a todos, segundo a natureza de cada um, e sendo natural ao homem chegar, pelos
sensíveis, aos inteligíveis — pois todo o nosso conhecimento começa pelos
sentidos — convenientemente, a Sagrada Escritura nos transmite as
coisas espirituais por comparações metafóricas com as corpóreas. E é isto
o que diz Dionísio: É impossível alumiar-nos o raio divino sem ser circumvelado
pela variedade dos véus sagrados."
(São
Tomás de Aquino, Suma Teológica, Prima Pars, Questão 1, art. 9)
Questão: "Se na Sagrada Escritura uma mesma letra
tem vários sentidos: o histórico ou literal, o alegórico, o antropológico ou
moral e o anagógico"
Resposta:
(...) quando as coisas da lei antiga significam as da nova,
o sentido é alegórico; quando as realizadas em Cristo, ou nos que o que
significam, são sinais das que devemos fazer, o sentido é moral; e quando
significam as coisas da glória eterna, o sentido é anagógico.
Mas como o sentido literal é o que o autor tem em
vista, e o autor da Sagrada Escritura é Deus, cuja inteligência tudo compreende
simultaneamente, não há inconveniente, como diz Agostinho, se, mesmo no sentido
literal, uma expressão da Sagrada Escritura tem vários sentidos."
(São Tomás de Aquino, Suma Teológica, Prima Pars,
Questão 1, art. 10)
Não Mapril, nada disso. Eu sei que tem na cabeça que
antigamente a igreja interpretava a Bíblia de forma literal e só nos últimos
anos blablablá. Mas é mais uma das falsidades.
Quanto a Lot, entregou as filhas para que fizessem o
que fosse bom aos olhos. Violar nunca foi bom aos olhos. Não, nada disso. É
treta que as mulheres eram como gado. O primeiro código - Código de Hamurabi -
condenava severamente as violações. É verdade que as mulheres não tinham os
mesmos direitos. Mas o que pode apontar aos textos bíblicos é uma
grande inovação neste aspecto: "não há judeu nem grego, nem escravo nem
livre, nem homem nem mulher,
pois todos vós sois um em Cristo Jesus" (Epístola de São Paulo aos
Gálatas, 3:28). As mulheres são iguais aos homens e os livres iguais
aos escravos no que toca à dignidade. Somos todos o corpo místico de Cristo (os cachorros, talvez por descuido de
Nosso Senhor, ficaram de fora).
LÚCIO MONTEIRO: “Embora a concepção de Maria tenha sido
natural, foi preservada da mancha do pecado original, atendendo à sua futura
condição de Mãe de Deus e, por isso, é imaculada” (padre Gonçalo Portocarrero
de Almada).
Quando a fantasia
humana “perde o pé”, – ou melhor, quando a fantasia de alguns teólogos
“iluminados” fica sem “travões" – o resultado é quase sempre mirabolante e
absurdo.
É óbvio que os tais
teólogos “iluminados” montaram um verdadeiro “puzzle” para que Jesus “nascesse”
sem pecado. Sendo considerado Deus, identificado como a Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade – outra bizarria dos tais teólogos “iluminados” – nunca
poderia ter nascido de uma “pecadora”. Por isso, a mãe, Maria, assim como o
filho, Jesus, que haveria de conceber, tinham, “necessariamente”, de nascer sem
pecado, graças aos “joguinhos mentais” dos tais teólogos “iluminados”. Tudo
isso é fantasmagórico. Mas o que é mais inacreditável é que haja crentes
que “engulam” toda essa “produção” teológica.
Às vezes,
interrogo-me: “Por que razão há pessoas que acreditam nessas patranhas?” Depois
de muito reflectir, cheguei à conclusão que a explicação está no facto de haver
um grande número de crentes católicos *, que, por serem tão numerosos,
reforçam, entre si, a crença na mesma realidade subjectiva.
Uma
realidade subjectiva, como é sabido, - como por exemplo a crença na Imaculada
Conceição, a Santíssima Trindade, o pecado original, o mito do criacionismo,
entre milhentos de outros exemplos - não tem existência objectiva.
Contrariamente, uma realidade objectiva –
como por exemplo a Lei Gravitacional, entre milhentos de outros exemplos –
existe, prova-se que existe, independentemente de uma mente que nela acredite.
Se todos os seres
humanos desaparecessem da face da Terra, a Lei Gravitacional continuaria a
existir na mesma. Mas o que subsistiria da “Imaculada Conceição”, da
"Santíssima Trindade", do pecado original, de Adão e Eva,
do mito do criacionismo, etc., sem que houvesse mentes subjectivas que
acreditassem nessas realidades subjetivas?
* Conforme os dados
mais recentes do Anuário Pontifício, na sua edição 2022, e do Annuarium
Statisticum Ecclesiae, referente ao ano de 2020, o número de católicos no mundo
era de 1.36 mil milhões.
Mapril Oliveira > LÚCIO MONTEIRO: Os humanos são seres racionais mas, muitas
vezes, nós preferimos bloquear a racionalidade, porque esse é o caminho mais
fácil. A religião tem resposta para todas as dúvidas, medos anseios dos que
acreditam - como é bom desligar, acreditar e simplesmente seguir o
rebanho.
PS: eles até chamam os crentes de o seu
"rebanho". E são mesmo!
Coronavirus corona > Mapril Oliveira: Quando Aristóteles escreveu os livros
"Metafísica" e "Da Alma" era por medos e anseios? Quando
São Tomás de Aquino escreveu a sua Suma Teológica, citando fartamente
Aristóteles, Platão, inúmeros filosofia árabes, foi por medos e anseios? Ele,
coitadinho, na sua ignorância, escreveu para defender a igreja? Estude estes
homens, as suas obras, e depois veja o quão pequenina se sente. E a vergonha
que irá ter por ter achado que a religião se resume a uma resposta ao medo.
Isso é blablablá barato de quem nunca ocupou grande tempo da sua vida a estudar
filosofia, história ou o que quer que seja.
Não dói resposta sequer ao Lúcio, tendo em conta o
nível de fanatismo, arrogância e soberba em cima daqueles sapatinhos que tem
calçados, mas o catolicismo não se defende entre si e dentro de si. É
fundamentado nas Escrituras, na Tradição e no Magistério. As obras de Santo
Agostinho ou de São Tomás de Aquino São alicerçadas nas Sagradas Escrituras mas
também na filosofia grega e em todo o saber milenar acumulado. Incluindo (para
seu espanto) os livros apócrifos
Carminda Damiao: Muito claro e esclarecedor este artigo.
Zé das Esquinas o Lisboeta: Como o comentarista é padre e acredita no
que diz por fé e não por conhecimento e raciocínio, é inútil contrapor seja o
que for. A fé é cega, no verdadeiro sentido: não deixa raciocinar. Agora
continua a fazer-me 'cócegas' é ler palermices como Deus foi pedir aos pais
autorização... E como foi fazer esse pedido, foi a pé, bateu à porta? E se a
resposta fosse negativa, castigava-os? As histórias da carochinha também
começam com o "era uma vez..."
Mas mesmo os que não crêem tiveram direito ao feriado.
E isto num país em que o Estado que se diz leigo. Olha se não fosse! Agora duma
coisa tenho a certeza é que os portugueses, mesmos os não católicos, não estão
pelos ajustes se
Madalena Sa : Grande
artigo! Maria é o maior exemplo que Deus deu ao mundo! Nestes tempos medonhos
em que se vive seria muito importante que todos soubéssemos estudar e aprender
os ensinamentos de Deus!
Américo Silva: Surreal. O cristianismo é feminista e propagou-se pelas mulheres,
porque dava um marido à mulher com a responsabilidade de a sustentar por toda a
vida, e ainda a tornava sua herdeira, o homem tornava-se assim animal de
rendimento, ocorria entretanto um desvio do que o pai devia aos filhos, para um
dever para com a esposa, que ainda hoje se mantém: para a mulher o modo de
ficar rica é por herança, por divórcio, ou por viuvez.
Coronavirus
corona > Américo Silva: não há judeu nem grego, nem
escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus
(Epístola de São Paulo aos
Gálatas, 3:28)
Sabe o que significa?
1) Que todos os seres humanos têm dignidade.
2) Que essa dignidade é igual, independentemente de quem quer que
seja.
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