quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Bonito para se ler

 

Difícil para se cumprir. Mas agradecemos a Helena Garrido, pela sua bela síntese de expectativas, ainda que utópicas, como meio de reflexão.

Sete desejos para o Natal de 2022

São como aqueles presentes que sabemos que, com elevada probabilidade, não vamos receber. Mas nunca se sabe. Afinal a imprevisibilidade tem sido a marca do mundo.

HELENA GARRIDO

OBSERVADOR, 20 dez. 2022, 04:3213

1O fim da guerra. É o principal e o mais importante desejo, capaz de concretizar boa parte dos outros. O regresso da guerra à Europa, em Fevereiro deste ano, não estava nas previsões de ninguém. Nas previsões de ninguém está também a perspectiva de que tenha um fim a curto prazo. Ainda na semana passada o secretário geral da NATO Jens Stoltenberg afirmava que a Rússia está preparada para uma guerra longa e que não a devemos subestimar. Se este não pode ser um desejo cumprido, pelo menos que a guerra se encaminhe para o seu fim, sem que Moscovo consiga atingir os seus objetivos. Invadir um outro país não pode ter sucesso.

2Um mundo que se mantenha aberto. A pandemia criou uma primeira tendência de reajustamento da globalização, com os países e as empresas a olharem com mais atenção para a segurança de abastecimento. A guerra na Ucrânia reforçou esse caminho, especialmente na Europa, por causa da energia, mas também pelo movimento a que se está a assistir nas placas geo-políticas. Pode considerar-se que as longas cadeias de valor, muito concentradas na minimização dos custos, foram longe de mais. Mas regressar a um mundo em que cada país ou bloco se fecha sobre si próprio seria um retrocesso político, económico e cultural.

3Começar a vencer a batalha do clima. O secretário-geral das Nações Unidas marcou para Setembro de 2023 uma Cimeira de Ambição Climática. O objetivo geral é que todos os países façam um esforço adicional para limitar a subida da temperatura média do planeta a 1,5 graus, quando comparada com a era pré-industrial. Na actual trajetória, o planeta vai aquecer em média mais de dois graus, com a temperaturas a subirem muito mais nos pólos. Os efeitos das alterações climáticas foram este ano bem visíveis com eventos extremos, mesmo em Portugal. Aqui fica o desejo, não impossível, de se acelerar a transição energética. E que a recente descoberta na fusão nuclear consiga ser massificada mais rapidamente do que se prevê, um contributo importante para abandonarmos os combustíveis fósseis.

4O controlo da inflação. Que cheguem os primeiros sinais de que a inflação está sob controlo sem que seja necessário subir de tal maneira as taxas de juro que se acabe com uma recessão, que tem o custo do desemprego. Esta inflação é, como já percebemos pelo facto de os preços da alimentação e da energia subirem bastante mais do que os outros, especialmente grave para os grupos com rendimentos mais baixos. Depois da pandemia, este perfil de subida de preços contém também em si factores de agravamento das desigualdades dentro dos países e entre eles.

5Crescimento económico com emprego bem remunerado. É um desejo especialmente importante para Portugal, onde parece impossível pagar salários mais elevados e alinhados com o que os portugueses que emigram conseguem fora do seu país. Passar pelos efeitos da guerra sem termos uma recessão exigirá a resistência do turismo o que, por sua vez, precisará de outros mercados que não apenas os europeus. Mas não será o turismo que nos colocará no caminho de um salário médio mais elevado. O crescimento da economia precisa de ser garantido por sectores com mais valor acrescentado.

6Estabilidade e calma para o Governo. A maioria absoluta gerou a expectativa de uma governação eficaz e estável. Não foi isso que aconteceu nestes primeiros meses em que António Costa governa sem precisar dos apoios à esquerda do passado. A entrevista do primeiro-ministro à Visão gerou “desconforto”, como dizem alguns críticos, mas gerou especialmente um sentimento de dúvida sobre a capacidade de governação. Mais estabilidade na equipa governativa, com os ministros a serem capazes de fazer o que é preciso concretizar é o desejo de Natal que aqui fica, condição necessária para o último pedido.

7Reformas estruturais. Chamem-lhe o que quiserem, mas é preciso fazê-las. Sem mudanças estruturais na Saúde, na Educação, na Justiça, na Segurança, na Habitação, nos Transportes Públicos, na relação do Estado com os cidadãos não conseguiremos dar um salto na taxa de crescimento. Dizer que se cresce acima da média europeia ao mesmo tempo que se vê outros países a ultrapassarem-nos não é um desempenho positivo. Podemos torturar as estatísticas para que elas digam o que queremos, mas não conseguimos mudar uma realidade que nos revela falta de progresso e degradação dos serviços públicos. Para Portugal este é talvez o mais importante desejo de Natal.

Feliz Natal.

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COMENTÁRIOS (de 13)

TIM DO Ó: Salazar, o absolutista que duplicou o poder de compra dos portugueses de 30% para 60% da média da OCDE. Costa, o absolutista que reduziu o poder de compra dos portugueses.

 

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