É como nos sentimos com textos destes, que passam na
indiferença acomodada da nossa cobardia.
A Roménia e o preço do populismo
Não é a Roménia, somos nós. Temos de assumir que temos
um problema, que o país está sem estratégia e a que teve até agora está agora a
mostrar os seus custos.
HELENA GARRIDO
OBSERVADOR, 06 dez. 2022, 24:2149
O primeiro passo para se resolver um
problema é reconhecer que ele existe. E é esse primeiro passo que não se
viu, nalgum debate sobre o PIB per capita da Roménia estar a ultrapassar o de
Portugal. Há um ditado popular (que ouvi pela primeira vez ao já falecido
ex-ministro das Finanças Sousa Franco) que diz: quando se aponta para a lua, o tolo olha para o dedo. E o dedo,
entre outras coisas, foi desvalorizar a Roménia e o indicador do PIB per capita.
Só que o problema não é a Roménia, é
o indesmentível facto de estarmos a ter um crescimento medíocre em todo este
século XXI, com este Governo a contentar-se com crescimentos trimestrais acima
da média europeia, sabendo perfeitamente que a média está influenciada pelos
grandes países, mais ricos, e que não é trimestralmente que vemos o que nos
está a acontecer. Mais assustador ainda é não descortinarmos uma estratégia de
crescimento, uma visão que seja, para o país. E termos assistido nos últimos
anos a políticas populistas que agora começam a mostrar quanto custam.
Claro
que a Roménia tem piores indicadores de desenvolvimento do que Portugal, claro
que o PIB per capita é um indicador limitado e o trabalho de Joana Nunes Mateus,
no Expresso, que desencadeou esse debate, refere isso, como nos diz
a razão da importância desse valor: é usado pela Comissão Europeia para
repartir os fundos europeus. Mas a Roménia reflecte uma tendência do
que nos está a acontecer. E há indicadores que nos colocam numa posição ainda
pior, como nos diz Fernando
Alexandre em “PIB e felicidade: ainda
sobre Portugal na cauda da Europa”. Usando dados do World Hapiness Report,
mostra-nos que Portugal está, na UE, na 25ª posição, pior ainda
do que usando apenas o PIB per capita. Será tudo isto suficiente para todos
concluirmos que temos um problema? E começarmos a debater as razões e as
soluções?
As razões estão mais do que
identificadas, internas e externas. O próprio Fernando Alexandre tem obras
publicadas, sozinho e em conjunto com Luís Aguiar-Conraria e Pedro Bação,
havendo outras, como o livro de Luciano Amaral “Economia Portuguesa, As últimas décadas”, na sua versão actualizada, só para
citar algumas. Na obra de Luciano Amaral há três cenários de futuro: o “milagre
à irlandesa” – com investimento externo em actividades exportadoras – ou o
“milagre tunisino” – baseado no turismo de massas e mais parecido com o que nos
tem acontecido até agora, o país aceitar ser uma região pobre da Europa, e
finalmente a saída do euro para recuperar competitividade, o que se revelou
muitíssimo difícil como vimos na crise das dívidas soberanas com a Grécia.
É possível crescer com o euro e é um erro responsabilizar a
participação na moeda única. Um exercício de avaliação do crescimento dos países
pós-entrada na moeda única, (publicado na revista Sábado por ocasião dos 20
anos da entrada em circulação do euro) mostra que Portugal é o
terceiro país que menos cresceu. O pior é a
Grécia, seguindo-se a Itália. Mas a Irlanda – que aderiu no mesmo ano que nós –
Malta e Estónia são os melhores.
(…..Fonte: Ameco Nota: Taxa de crescimento média calculada desde a adesão
de cada país ao euro até 2019, retirando o efeito pandemia.)
Por
isso, em vez de nos preocuparmos em encontrar razões que não correspondem à
realidade, ou que nos colocam num beco sem saída, vale a pena perguntar o
que é que podemos fazer para voltarmos a convergir seriamente para a média da
União Europeia, deixando de existir estas notícias de ultrapassagens.
Como temos aqui referido várias vezes, o que fizemos até agora resolveu
parcialmente o nosso problema de contas públicas, mas da pior maneira. Demos
aos cidadãos a ilusão que tudo ficaria resolvido com as reversões, corrigimos
os rendimentos mais visíveis à custa dos serviços públicos, numa política
populista como é difícil encontrar antes em Portugal. Paralelamente, e para
manter o poder, o Governo do PS ia adoptando medidas ditas de esquerda, para
garantir os votos do PCP e do BE. Veja-se, por exemplo, como degradou o
hospital Beatriz Ângelo, em Loures, por recusar renegociar a PPP. Foi um tempo
em que o objetivo era manter o poder a qualquer custo. Qualquer alerta que se
fizesse sobre o que estava a acontecer, nomeadamente em matéria de degradação
dos serviços públicos, era desvalorizado e violentamente criticado.
Hoje
começamos a ver o preço do que se fez. Por exemplo, quando o ministro da Saúde, em entrevista ao Jornal de
Notícias e à TSF, diz
que encontrou um cenário mais difícil do que esperava.
E nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Sul, afirma que “as dificuldades
são muito grandes, quer por falta de recursos humanos, quer por termos deixado
que o SNS ficasse um pouco para trás no processo de modernização tecnológica e
no processo de requalificação de instalações”. Este é o retrato do que
aconteceu. Basta aliás ouvir o ex-ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes,
quando nos diz que o seu orçamento foi praticamente igual ao de Paulo Macedo,
ministro da era da “troika”.
Outro
problema é a captura do Estado pelo PS. Esse é
mais difícil de resolver e pode condenar-nos durante décadas. A tendência do
país para uma economia extractiva, em vez de produtiva, agrava-se nesta
situação, como obviamente, e até mais importante, se degrada a qualidade da
democracia e da liberdade. Como
podemos ler em Porque falham as Nações de Daron Acemouglu e Jame Robinson,
“as instituições políticas extractivas concentram o poder nas mãos de
uma elite reduzida e impõem poucas limitações ao exercício do poder. As
instituições económicas são estruturadas, depois, por essa elite, a fim de
extrair recursos do resto da sociedade”.
Estaremos
nós já nessa fase, de instituições políticas e económicas extractivas? Não sabemos
e podemos até estar a ser pessimistas, mas aquilo que o PS e o Governo
designam como “casos e casinhos” são, em termos gerais, exemplos de apropriação
económica por parte da elite que detém o poder. Nuns casos justificam a sua acção pela cobertura legal,
e a própria posição do primeiro-ministro – “à justiça o que é da justiça, à
política o que é da política” – deixa de fora todo um amplo leque de
comportamentos pouco éticos.
Mas
admitamos que ainda vamos a tempo – porque se existir essa captura, já não
vamos. Se ainda formos a
tempo, então é altura, primeiro, de reconhecer que temos um problema de
crescimento e até de desenvolvimento que precisamos de resolver. E temos de começar a actuar. Uma das actuações fundamentais é a simplificação
da relação do Estado com os cidadãos e as empresas. Depois da falta de dinheiro, a pandemia degradou ainda
mais os serviços públicos e é comum hoje ouvir as queixas de todos os que
precisam de interagir com o Estado. Além disso, é preciso actuar na Justiça,
uma das vias de garantir que as leis se cumprem a horas. E no conjunto vasto da
justiça, temos os tribunais administrativos e fiscais que, basta falar com quem
trabalha no ou com o sector, precisam urgentemente de recursos e de ser
modernizados.
O que não podemos nem devemos
é continuar a fingir que não temos um problema, olhando para a Roménia em vez
de olharmos para nós. O Governo
tem maioria absoluta, não precisa de ser populista para ter mais votos dos
portugueses e do BE e do PCP no Parlamento. O Governo tem dinheiro, como nunca
o país teve em tão pouco tempo. O Governo tem de mostrar que tem uma ideia de
desenvolvimento para o país, que o PS não tem apenas um projeto de poder pelo
poder.
CRESCIMENTO
ECONÓMICO ECONOMIA ROMÉNIA EUROPA MUNDO GOVERNO POLÍTICA
COMENTÁRIOS (10 de 49):
Margarida Rosa: É um facto, há falta de
estratégia. Nem um aeroporto se decide Margarida Rosa: Mas a Roménia não está no euro Rui Lima: Os portugueses deram nos
últimos 27 anos em 80% desse tempo o poder aos Socialistas. Não se podem
queixar, o povo português é anti-capitalista. Já os países da ex-cortina
fechada de ferro são pelo capitalismo. Basta
ler para saber que o socialismo é o maior embuste da história da humanidade
mas continua a ter boa imprensa e é adorado na escolas e universidades
ocidentais. Solução: começar na escola por explicar/ informar
que não importa a forma. as economias socialistas sempre foram um fiasco . Fernando Silva Correia: O MAIOR RESPONSÁVEL PELO ESTADO
DO PAÍS É O PRESIDENTE DA REPÚBLICA DAS BANANAS (ele próprio um bananas)!… Digo
o maior, porque sempre acompanha o governo neste tipo de discurso de que
estamos no bom caminho. Claro que o A. Costa (e o PS) é o maestro desta viagem
do Titanic… mas o Ti-Celito, o maior populista dos políticos portugueses, devia
poder ser demitido e julgado por trair “propositadamente” os portugueses. Fernando Prata: Gostei do seu artigo e acho que
faz uma análise correcta. Quanto ao futuro, que é negro, penso que haverá pouco
a fazer. A física diz-nos que quando a vertical do centro de gravidade de um
objecto sai da sua base de sustentação, esse objecto invariavelmente irá cair e
partir-se, se for caso disso. Este é o caso de Portugal. já vai a cair e em
breve "partir-se-á". Depois, há que viver com os cacos! Vede o
exemplo da Venezuela, que já foi a Suíça da América do Sul, e hoje é o que é. A
esquerda não cria riqueza e tudo destrói. A maior parte do povo é ignorante e
não percebe nada do que se passa, quando vai votar. Miguel Ramos: Crónica certeira mas inútil, as
vozes que se insurgem contra o descalabro são o mote para o jocoso desprezo dos
porcos gordos que nos trouxeram até aqui. Mudar
Portugal implica primeiro cumprir o destino a que o PS nos condenou: a miséria
total. Madalena
Sa: Muito bom este artigo! O grande
problema é a captura de todo o País pela incompetência total do PS com todo o
beneplácito de Marcelo, o maior traidor de Portugal! Francisco Almeida: O final do artigo é tudo. Como
se este governo pudesse produzir uma ideia que não seja em proveito próprio. A
autora diagnostica bem mas parece que ainda acredita no Pai Natal. Ou em S.
Bento e Belém. carlos
Heitor: Muito bom! De facto, é fácil
ver que o PS só está no governo para se servir a si e aos amigos, do grupo
liderado por costa. O País pouco lhes interessa, infelizmente os portugueses
continuam a escolher parasitas e vampiros para nos governar … Rui
Pedro Matos: a culpa é do Passos Coelho e do
Chega dirão os sabichões
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