sábado, 24 de dezembro de 2022

Prazeres juvenis


Evocados para abafar estes tempos - não de nobres cavalos mas de cavalgaduras humanas – sem ofensa para aqueles – e ressalvando sempre as nobres figuras humanas dos nossos tempos – nestas vésperas de Natal, a pedir alegria e amor.

No Facebook de LUIS SOARES DE OLIVEIRA, com bela foto de um cavalo montado.

2 d  · 

FRANÇA, APRÈS LA GUERRE

No meu tempo de ISCEF, no curso de diplomática eram obrigatórios 4 anos de Francês e 4 de Inglês. No Francês, eu comecei com 12 e acabei com 18 e, por ter sido o aluno que mais progrediu, fui premiado com uma bolsa do Instituto Francês para continuar os estudos da língua em França. Passava-se isto no ano de 1949.

Podia escolher a Universidade, mas como a bolsa era exígua decidi-me por Dijon, cidade de província certamente mais barata do que Paris e mais metida na Europa para me dar uma ideia da continentalidade europeia que a nós portugueses nos escapava naquele tempo.

Em França aprendi várias coisas, tais como: lidar com comunistas, argot dos camionistas (cheminot) que me davam boleia na estrada o que me permitiu viajar de borla desde Bordeaux até Dijon. Fiquei a saber que um bain chaud se prend à n'ímporte quelle heure (mas não na cidade universitária onde não havia um única banheira); aprendi a colher uvas nas vindimas, mas nunca li Guillaume Apollinaire de que os professores tanto falavam.

Aprendi mais com este cavalo na Hípica paulista do que com os professores de Dijon.

COMENTÁRIOS

João de Santarém... para me dar uma ideia da continentalidade europeia que a nós portugueses nos escapa(va)...

Luis Soares de Oliveira: Tem razão.

António Pereira de Carvalho : "O que um príncipe aprende melhor é a equitação, porque o seu cavalo não o lisonjeia." PLUTARCO (Grécia Antiga, 45-120)… 

Lise Fernandes: What a beautiful horse, hm and The man too A verry Merry Christmas to you and Jette

Fernando Fur+t+\ado Coelho: Ninguém nos ensina nada, somos nós que aprendemos. Ou não.

António Pereira de Carvalho: “A melhor lição que recebi no Colégio Militar (1939-45) foi-me dada por um cavalo. Não quero faltar ao respeito à memória dos insignes e esforçados docentes daquele tempo, mas tenho que ser justo: o melhor foi mesmo o cavalo. Aliás, um quase potro recém chegado da Remonta. Se bem me lembro, foi-lhe atribuído na Formação do CM o número 68. No CM, a onomástica era algébrica. Não era do uso colocar ao serviço do CM cavalos de levas ainda não desbastadas, mas o então instrutor, Capitão Oliveira Reis, reputado concursista, pediu insistentemente que o livrassem das pilecas que por ali apodreciam e fizeram-lhe a vontade. Já o ano escolar ia avançado - estávamos na Páscoa - quando chegou a primeira remessa da Remonta. O adjunto da Equitação - o ainda alferes José Morais - dirigiu-se aos alunos privados de férias da Páscoa, por castigo, e pediu voluntários. Aí entrei eu. Voluntariado era comigo. O 68 era um alazão de forte compleição e boa pelagem, muito vivo e pouco disposto a dar cavalaria. Para o arrear, foram precisos dois cavalariços e o próprio alferes que o "desenrolou" com uma curta passagem à guia. Terminado o exercício, chamou-me para montar. Com alguma ginástica, lá consegui instalar-me no dorso do irrequieto animal e este pareceu acalmar. E assim auspiciosamente começou a volta a passo junto à teia do então decrépito picadeiro destelhado e semi-arruinado pelo ciclone de 1941. O pior porém estava para vir. Ao aproximar-se da saída, o cavalo deu provas do seu temperamento. Com duas valentes cangochas e uns quantos coices, projectou-me de costados de encontro à teia da porta e ali ficou a olhar para mim prostrado na areia com o ar de quem diz: bem te preveni. Mas eu ainda segurava a rédea. Em pé rapidamente, saltei-lhe para o lombo e consegui pô-lo em marcha. Completada uma nova volta, a cena repetiu-se e assim aconteceu por cinco vezes. Eu já não tinha nem costas nem forças mas continuei a luta. À sexta volta consegui finalmente passar a porta sem cair, após o que lancei o cavalo ao trote e ao galope sem mais peripécias.

O instrutor nada disse. O castigo por "emigranço" (escapadas nocturnas do Colégio ) não me foi levantado, mas no boletim das notas do fim do ano escolar puseram lá um 19 a Equitação, a nota mais alta do todo o meu currículo académico. O mais importante porém foi a lição que me deu o cavalo. Em meia hora no picadeiro arruinado, ele ensinou-me que, na vida, ou lutas ou serás espezinhado. Essa coisa da harmonia, das boas maneiras, dos costumes brandos é bonito mas é descrição. Mais importante ainda, o cavalo 68 ensinou-me ali e então que são os que nos enfrentam, e não os que se submetem, aqueles que nos revelam a nossa verdadeira medida.”

Fernando Furtado Coelho . O bom professor facilita a aprendizagem.

José Correia Guedes: Wow! Mas que fantástico cavaleiro! E aquela barreira não é coisa pequena, não senhor. Chapeau!

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