Navegando para outras áreas. Será?
Desfocar da China, em nome do equilíbrio
Com a guerra na Ucrânia e a
instabilidade na China, o reequilíbrio da economia mundial não será conseguido
mantendo as antigas relações comerciais e políticas tal como estavam
estabelecidas até aqui.
FREDERICO GOARMON
CEO Grupo Pinto Basto
OBSERVADOR, 29 dez. 2022, 00:08
Fomos,
nos últimos tempos, forçados a observar a China e a dependência comercial do
Ocidente com outros olhos.
Desde o início da pandemia, a paralisação da cadeia logística chinesa
desencadeou ondas de choque que afectaram muito particularmente a Europa. Por outro
lado, com a guerra na Ucrânia, as nossas prioridades comerciais e económicas
passaram a estar mais condicionadas pelos valores morais que defendemos
enquanto sociedades democráticas. Neste
contexto, a instabilidade social e política na China pela insistência na
política “Covid zero” pode ter sido o empurrão que faltava para as economias
europeias começarem a soltar as amarras que as prendiam a Pequim.
É natural que a dependência de uma economia que criou, em 2021,
quase 30% dos produtos em circulação no mundo não se inverte em meses ou mesmo
anos. Este é um player central na economia mundial. Mas os riscos
geopolíticos e económicos desta relação com um regime cada vez mais instável e
pouco confiável como aquele liderado por Xi Jinping são uma ameaça maior do que
a perda de um mercado desta dimensão.
A aparente inversão da política “Covid zero”,
provocada essencialmente por pressões sociais internas, é, para já, uma boa
notícia para a economia mundial. Mas não pode anestesiar as
intenções de reduzir a dependência comercial da China – ainda neste aspecto, a actual administração
norte-americana, tal como a anterior, tem sido muito clara no que diz respeito
à sua estratégia em relação a Pequim e a oportunidade actual não será desperdiçada
por Washington. Cabe aos países europeus acompanhar os EUA ou
ficarem cada vez mais isolados.
A
pandemia trouxe-nos, em termos de logística, uma situação nunca vista, levando
a um aumento de custos sem precedentes. A
relocalização da produção para ocidente reequilibrará não só esta tendência
inflacionária, como criará um mundo mais equilibrado a nível político e
económico. Mesmo no que respeita à mão de obra
– até aqui uma vantagem comparativa da China – o equilíbrio com o resto do
mundo verificar-se-á à medida que a classe trabalhadora chinesa intensificar a
pressão para a melhoria das suas condições de trabalho.
Tudo
isto, a que se junta a complexa situação de incerteza provocada pela
invasão russa da Ucrânia, tornam as
decisões de investimento e comerciais a longo prazo muito difíceis. O
importante será, neste momento, manter o foco e a concentração no que sabemos
fazer bem, estudar as necessidades das empresas, clientes e economias nacionais
e contribuir para o reequilíbrio económico.
Felizmente,
a atividade do Grupo Pinto Basto, apesar de ser uma das empresas de logística e
navegação de referência em Portugal e na Europa, nunca esteve dependente da
força comercial da China. Isto é e será, no futuro próximo, uma vantagem e pode
ser visto como um exemplo a seguir, pois estaremos mais preparados para um
novo paradigma que se está a construir. Conseguimos ao longo das últimas
décadas cobrir todo o globo através dos nossos escritórios em Portugal, Espanha
e Angola e através da nossa vasta rede de agentes.
Uma
coisa é certa: o reequilíbrio da economia mundial não poderá ser conseguido
usando as mesmas receitas do passado, ou seja, mantendo as antigas relações
comerciais e políticas tal como estavam estabelecidas até aqui. Em
cerca de três anos, chocámos de frente com uma pandemia e uma guerra em larga
escala em solo europeu que abalaram todos os alicerces em que nos apoiámos nas
últimas décadas. Esta estrutura terá de ser reconstruída, usando, para isso,
ferramentas novas.
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