De batatinhas, couvinhas, do pãozinho…
não o que o diabo amassou, mas que amassaram os comunicadores destes nossos lados
atlânticos, em diminutivos moldados num espaço soalheiro e
amolecedor, propício à reverência e à inércia justificativas de todas essas
histórias que por nós passam, e que Alberto Gonçalves descreve, condenando, ao
seu modo mordaz… E escusamos de acusar o tal de povo. Todos fazemos parte da
engrenagem, apesar das padeiras ou dos conquistadores dos primórdios…
O respeitinho é muito feio
Uma burla com a dimensão da TAP não
cabe numa democracia: ou há democracia ou há burla.
ALBERTO GONÇALVES ,
Colunista do OBSERVADOR
OBSERVADOR, 31 dez. 2022, 00:2169
Na
terça-feira, em Murça, dois homens abeiraram-se do prof. Marcelo e, em vez de
pedirem “selfies”, retribuíram-lhe um milésimo do desprezo que Sua Excelência
nos dedica. Para uns, entre os quais me incluo, a cena serviu de consolo, ainda
que singular e escasso, pelos vastos enxovalhos presidenciais. Para outros,
aquilo foi uma brutal insolência, que não devia ter acontecido e, li algures,
no limite não devia ter sido transmitida. Esta escola de pensamento
defende, sem assumir que defende, que os poderosos – logo que não sejam de
“direita” – merecem a total reverência da ralé. Em tempos, houve uma polícia especialmente empenhada
em zelar por isso. Tais cautelas garantem a polidez das massas e, ao filtrar as
críticas, permitem aos senhores que mandam continuar a mandar com a desejável
impunidade. E incompetência. E arrogância. Em suma, é preciso que os
responsáveis pela ruína do país não sejam responsabilizados. Em nome da paz
social, é preciso que sejam louvados.
Vem isto a propósito do bonito
coro de encómios que, um par de dias decorridos, acompanhou a demissão do
ministro Pedro Nuno Santos. Assim
sim, é que os grandes estadistas devem ser tratados: o “Pedro Nuno” tem
dinamismo, o “Pedro Nuno” tem visão, o “Pedro Nuno” tem iniciativa, o “Pedro
Nuno” tem coragem, o “Pedro Nuno” tem o futuro à sua frente. O
que fez o “Pedro Nuno” para suscitar tamanha enxurrada de salamaleques? Fora
uns desvarios com sucata ferroviária, usou 3.200 milhões do nosso bolso para
brincar com a TAP e, quando se aborreceu, devolvê-la ao ponto de partida. Não
parece uma proeza formidável. Na verdade,
parece configurar uma coisa digna de julgamento, em praça pública ou cave
privada. Mas, conforme recomenda o protocolo, o “Pedro Nuno”, que do alto das
suas aptidões espera reentrar primeiro-ministro, saiu sob aplausos.
E o patrão do “Pedro Nuno”,
que patrocinou com dinheiro alheio a brincadeira da TAP, ficou. Em nações com menor civismo, ou maior quantidade
de cidadãos de Murça, o dr. Costa e o governo (desculpem) não ficariam. A
TAP poderia ser apenas um pretexto no meio de inúmeros abusos de igual ou
superior dimensão, como os 500 mil euros daquela dona Alexandra foram um
pretexto no meio do criminoso processo da “companhia de bandeira”, idealmente a
meia haste. O certo é que, em qualquer sociedade onde a maioria das pessoas
tivesse a vergonha na cara que falta aos políticos, o dr. Costa estaria a esta
hora num voo “low cost”, disfarçado e rumo a destino desconhecido. Ou agachado
num esgoto, estilo Kadhafi.
Por sorte, os portugueses são parcos
em vergonha e ricos em obséquio, natureza que possibilita ao dr. Costa anunciar
com doce cinismo que continuará a afundar-nos gloriosamente até 2026, quiçá,
confessou ao dr. Balsemão (!), 2030.
Francamente, não será necessário tanto. Os avanços em matéria de
nepotismo, compadrio, autoritarismo e corrupção, e os recuos na economia, na
saúde, no ensino e na justiça já se encontram razoavelmente adiantados. Mais um ano disto e não sobrarão muitos
empregos e verbas para distribuir, nem muitas vidas para arrasar. Se o dr.
Costa permanecer por aí, movido pelo sentido de Estado que não possui e
amparado por um chefe de Estado que não saberia chefiar uma claque de dominó, o
único motivo imaginável é o vício do poder, por parte dele, e o vício da
submissão, por parte dos súbditos.
Reparem
que não falo exclusivamente dos fiéis do PS, ou do PS e das agremiações
leninistas, que hoje na AR chegam a três. Vi gente que nunca
votaria em nenhum dos partidos acima apresentar o episódio de Murça enquanto um
exemplo de inadmissível má-criação. E
não, não se referiam à atitude do prof. Marcelo, tipicamente medrosa durante o
confronto e insultuosa depois. Com ou sem a ajuda dos “media”, quase todos
convertidos à difusão da propaganda oficial, há uma espantosa percentagem da
população que continua a defender – e, por pressão, a impor – a cortesia na
abordagem a criaturas que inequívoca e drasticamente lhes são prejudiciais.
Ninguém pode acusar os portugueses de morder a mão que lhes dá de comer: aqui
beija-se a mão que nos rouba a comida.
Além
de não se esgotar em personagens menores nem em análises às fascinantes
guerrilhas no Rato, uma burla com a dimensão da TAP não cabe numa
democracia: ou há democracia ou há burla. À
semelhança do que aconteceu com o BES, a EDP e centenas de casos e casinhos, o
povo cala-se e calando-se opta por ser burlado.
O povo não se pode queixar. Ou melhor: o povo poderia e deveria queixar-se,
queixar-se imenso e com proporcional estrondo, queixar-se de modo a criar dez,
cem, mil Murças, queixar-se a ponto de fazer tremer as pernas em fuga dos
espécimes que o desgraçam.
Mas, por razões diversas ou pura irracionalidade, o povo não se
queixa. E os espécimes continuam à solta. E não só à solta: alguns mantêm-se
em cargos de decisão. E não só em cargos de decisão: estão prontos para, com
pausa para férias e tirocínio no Brasil do sr. Lula, acabar de espremer
uma nação apática. O sr. Feliz pede “confiança”. O sr. Contente recomenda
“estabilidade”. Eu
traduzo: ambos exigem respeitinho. O respeitinho é muito feio. Se não o
perdermos com urgência, vai deixar-nos num lugar medonho.
GOVERNO POLÍTICA TAP
EMPRESAS ECONOMIA PRESIDENTE MARCELO
COMENTÁRIOS: De 71
F. Mendes: Mais um excelente artigo do AG, que ficará para memória futura, caso mais
tarde, ou tarde de mais, alguém se venha a importar em perceber como chegámos
ao fundo do buraco. Em instituições públicas a sério, hierarquias e decisores, políticos ou
outros, podem ser responsabilizados pecuniariamente por consequências das suas
acções, mesmo legais, desde que se considerem lesivas do interesse público. Ou
seja, para além de despedimento certo, há uma penalização financeira e/ou
patrimonial dos infractores. Num país como o nosso, isto é quase inacreditável.
Mas é assim. No caso do Pedro Nuno, o personagem sai em ombros, pois claro. É um herói à
portuguesa, com certeza. Tudo isto vai agravar a luta interna no PS, que
correrá em paralelo com o desgoverno actual e futuro, com a crise abjecta
do país, com o colapso mental e comportamental do prof. Marcelo e o desânimo
moral generalizado. Quanto à subserviência do povo, e à sua capacidade para aguentar tiranias e
desprezo, é o que temos. Mudar de povo, não podemos, nem queremos. Que este
jornal possa contribuir para abrir algumas consciências, ajudaria um pouco. Já
seria um contributo para amortecer a queda, cada vez menos evitável. Mas sinto
medo do que nos trará 2023. Maria Silva: "O
povo cala-se e calando-se, opta por ser burlado". Andam drogados? Não se percebe. Nunca vi tanta apatia na minha
vida. *Abençoados* sejam os senhores de Murça! O resto é um chinfrim
desgraçado sabe-se lá para encobrir o quê! Quantos casos e casinhos nunca vieram ou virão a
público? Hedonismo e impunidade de um polvo maçónico totalmente
corrupto. Vai ser difícil cortar-lhe os tentáculos. Mas, como nada na vida é
eterno.... resta-nos a esperança. *BOAS ENTRADAS* e que 2023 seja melhor, mais
transparente e sobretudo Harmonioso! Obrigada por não desistir. Fernando Correia: Completamente de acordo com Alberto
Gonçalves. Nesse aspecto do beija-mão e de prestar vassalagem aos “donos”… o
povo não mudou muito, do “antigamente” para a “modernidade” pós 25 de abril.
Mudaram foi as moscas, ou sejam, os novos donos. Fico muito triste pensar que
não merecemos mais que isto. Mas pode ser que estes dois senhores, de Murça,
despertem e acordem do “medo” colectivo outras consciências… livres e
inconformadas. Joaquim Almeida: Até vão ao Brasil vitoriar, em nosso nome e da democracia, um dos
maiores expoentes e produtos da vigarice totalitária em marcha. Nojentos
cínicos sem vergonha. Maria Melo: Bravo, Alberto
Gonçalves! Eu também me incluo no grupo que gostou que alguém enfrentasse o “Badameco”
e lhe dissesse algumas verdades. Ele só gosta é de ser bajulado. Julga que é
rei de Portugal e, infelizmente, há quem o trate como se fosse. Mas se olharmos
para o país vizinho, Espanha, veremos que Felipe VI tem dignidade, não
envergonha o país fazendo as figuras de MRS. O problema de não existir
contestação é que grande parte do povo está à espera do “pão com chouriço”
gratuito… E alguns até querem censurar as notícias… Que raio de
“democracia” esta! Espero que haja mais gente como os homens corajosos de
Murça. Djata Malinké: É de louvar aquilo que você faz
para alertar os portugueses da situação do país e da desgraça que ai vem mas, a
grande maioria dos portugueses (talvez uma herança da ditadura) não tem
espírito de revolta! Vão aguentar tudo até uma nova bancarrota… João Floriano: Excelente e demolidor artigo a
encerrar 2022 que não deixa qualquer saudade. Também 2023 não augura nada de
bom, com a situação nacional e internacional em acelerada degradação. Muito
triste quando em vez de respeito genuíno e confiança nos nossos governantes,
eles nos suscitam apenas respeitinho e mais triste ainda quando para além das
tímidas intervenções de Murça, não somos capazes de manifestar a nossa
indignação. A explicação talvez possa ser dada pelo número cada vez menor de
indignados substituídos pelos conformados. Em 2019, durante a campanha para as
legislativas, António Costa perdeu a cabeça e o pouco verniz que cobre a sua má
educação e impaciência e enfureceu-se com um idoso que o confrontou. Foi um
momento de indignação semelhante ao de Murça mas que acabou por ser
inconsequente. Hoje falamos dele como um momento de folclore político, tal e
qual como Murça em que Marcelo acabou por insultar os descontentes não só os de
Murça como os do resto do país chamando-lhes ressabiados com o resultado
eleitoral e por que não ingratos perante a excelência da governação PS e da
actuação do PR? Junto-me a AG na incompreensão das qualidades de Pedro Nuno dos
Santos. Meteu-nos a corda no pescoço com a questão da TAP, coadjuvado pelos
partidos da esquerda, não compreendo os sucessos na ferrovia para além do tal
passe ferroviário, a questão doTGV continua na mesma e sinceramente não consigo
encontrar resoluções sobre a questão habitacional. Deixa também por
resolver a questão da localização do NAL, mas aí as culpas podem ser facilmente
transferidas para o partido principal (???) da oposição ( não estou a falar do
CHEGA) que não se decide. No entanto o ex ministro PNS suscita os mais rasgados
elogios por parte da ala mais esquerda do PS, com Ana Gomes à cabeça, desejosa
de retribuir o apoio que lhe foi dado quando concorreu a PR (consolemo-nos com
a ideia de que em vez de um entertainer bocanudo poderíamos ter hoje uma
lunática vingativa em Belém). Quando retomar a sua vida política na AR,
esperamos ver PNS sentado junto ao Bloco trocando sorrisos cúmplices e
bilhetinhos com Catarina e Mortágua. Uma coisa já sabemos: PNS não tem poderes
para prever o futuro porque já saiu do governo e Ventura ainda continua no seu
lugar. Se estivermos cá todos daqui a um ano esperando 2024, prevejo que o
artigo de encerramento de 2023 não será muito diferente do de hoje. Por isso
aconselho AG a arquivar este texto porque a 31 de dezembro de 2023 bastará
fazer copy paste e mudar uns nomes e uns escândalos e está feito. Boas entradas
e não se engasguem com as passas porque engasgados já andamos todos nós com
toda esta gente a apertar-nos o gasganete. Maria
da Assunção Gaivão: Excelente artigo. Portugal afunda- se , por muito que me custe dizer, por
causa duma Assembleia da Rebública completamente “ fora de prazo”, basta ver o
que por lá é aprovado e ou chumbado…O polvo deste partido socialista, no dia em
que perdeu eleições para Passos Coelho aliou se de forma cobarde aos
stalinistas do PCP e restantes partidinhos dos grafitti - a geringonça veio
engordar as ambições de Costa e do PS e tomaram de assalto todas as
instituições do Estado perante a conivência do PR e a total ausência dum PSD q
não é oposição . Só a dissolução do Parlamento evitará um caos maior. O PR
“acha” q o resultado “pode” não ser esclarecedor? Uma coisa é certa : tem medo
da voz do povo ! A História não lhe vai perdoar. Amigo do Camolas: Por trás das cestas de presentes (240 euros) de fim de ano, dos políticos
sóbrios que enterraram mais de 4 mil milhões na TAP e agora agem como bêbados
dizendo que não fazem a minima ideia do que lá se passa, - e de toda a conversa
sobre como roubar empresas que obtiveram lucros excessivos -, há uma bolha de
gestores públicos gordos que nada mais são do que o crime organizado. E pelo
Rei de São Bento e pelo seu bobo da corte de Belém eles tinham o tempo todo do
mundo para continuar a roubar todo mundo cego. O crime organizado tornou-se o
respeitinho.
Alfaiate Tuga: A única preocupação deste governo é que não se acabe o dinheiro para pagar
salários e pensões, está farto de saber que no panorama actual uma banca rota
seria a única forma de ser corrido do poder, entre pensionistas e funcionários
públicos são mais de três milhões e meio, o governo sabe que enquanto mantiver
estes contentes pode empregar a família toda no governo e empresas públicas e
indemnizá-los a todos sempre que mudem de tacho que não passa nada. As contas certas são o alfa e o omega do governo, a inflação que empobrece
a maioria dos portugueses trouxe receita extraordinária que permitiu ao governo
distribuir algum guito pela população para animar o circo e fingir que está
preocupado com a miséria a que tem conduzido Portugal. A carga fiscal que
alimenta os dependentes do estado e desmandos do governo também asfixia a
economia e espanta o investimento, já repararam há quantos anos não vêem um
grande investimento privado em Portugal, por toda a Europa estão a ser
construídas novas fábricas de automóveis e baterias, por cá nem uma, desconfio
até que alguns vão é descontruir….a última vez que ouvi falar na unidade de
produção de hidrogénio em Sines, foi para ouvir da boca dos potenciais
investidores que nas condições atuais não era viável…Como saímos disto sem ser
com um banca rota? Pois não é fácil mas não é impossível, primeiro o PSD tem
que se construir como uma verdadeira alternativa ao governo, não consigo
perceber como é que não tem ainda um governo sombra constituído por gente
credível que ocupe o espaço mediático explicando o que faria diferente no
sentido de melhorar a vida da maioria dos portugueses, não é a espalhar
cartazes a fazer queixinhas do actual governo que lá vai, apresente
alternativas sérias e credíveis, pois caso contrário verá mais votos a fugir
para o chega contribuindo mais ainda para aumentar o circo em que já se
transformou Portugal. Censurado
sem razão: Alberto Gonçalves, obrigado! Aqui beija-se a mão que
nos rouba a comida. A melhor descrição do povo português alguma vez escrita. É
esta a razão da nossa miséria moral e económica. Tenham um bom ano, mesmo sob o
jugo deste socialismo autoritário. São sinónimos não é? Jorge
Tavares: Para o drama de um país em uma
maioria relativa do eleitorado votante insiste em eleger e reeleger um bando de
parasitas, os artigos de Alberto Gonçalves servem pelo menos um consolo. Estão
a acumular um conjunto de denúncias e acusações a dirigir a esse contingente do
eleitorado. Para já, é só ele a acumular o portfólio. Quando a altura chegar,
será a vez da parte restante do eleitorado de recorrer ao repositório e
lançá-lo à primeira parte, parte essa que muito fez pela decadência de Portugal. José Ramos: Tremendo e justo artigo, Alberto Gonçalves. Um bom ano de 2023 para si e
para as pessoas que ainda pensam em Portugal. Tomás Nunes: Uma análise
brilhante! Parabéns AG!
Rui PJoao R: A Lufthansa já devolveu toda a
ajuda que recebeu com juros ao estado alemão. No nosso Burgo nem 1 euro vamos
receber!!!!! ……………………
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