Subentendidas, em relato historiográfico, a ter em conta um dia, em tempos
posteriores, quando se confrontarem as realizações próprias de cada regime, e
se analisarem os condicionalismos – e os sentimentos – que impulsionaram os respectivos
mandantes. O Dr. Salles da Fonseca, democraticamente, deixou-nos, por ora, a
liberdade de opção, omisso na sua própria, ficando-se pelos juízos de valor,
orientadores importantes de opinião, com certo sabor picaresco, uma lição mais, que agradecemos. No nosso
caso, é de crer que a tal democracia conduza a um desregramento de conceitos e
de pluralidade de opiniões, centradas numa liberdade que admite a parolice de
escolhas, sem ter em conta o equilíbrio e a sensatez, movidos os governantes
mais por ambições pessoais do que por reais intentos progressistas para o seu
país.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 18.12.22
São dois os tipos de
liderança: o autocrático e o democrático. Em
ambas as hipóteses, a História classifica-as em benignas ou malignas.
Os historiadores fazem passar a ideia de que não há o «assim-assim». Eu não sou
historiador encartado e acho que os líderes também podem navegar nas
meias-águas entre o bem e o mal: nem todos foram sempre bons, nem foram sempre
maus. E isto, tanto nos democratas (p. ex. Nixon) como nos autocratas
(Salazar, Tito…). Todos os líderes alcançam o poder pelo golpe ou
pelo carisma mas golpista sem carisma ou sem polícia que o apoie é rapidamente
«engolido» pelo seu próprio movimento revolucionário. A força dos autocratas é garantida por Polícias
políticas; a perenidade dos democratas assenta sobretudo no
carisma e quase marginalmente na qualidade das suas políticas. Já quanto
aos regimes, anotemos
que a democracia é como a gravidez: está-se ou não grávida e não se está «um bocadinho grávida»; o regime
é democrático ou é autocrático, não é «um bocadinho democrático». Democracia e ditadura são situações
mutuamente incompatíveis: na
democracia, a génese do poder está na base eleitoral (sentido ascendente) e as decisões são colegiais, geradas por
negociação e aprovadas por consenso; nas autocracias é tudo às avessas. Nas democracias, «o ar que respiramos é
igual para todos; nas autocracias, «só os iluminados» devem governar.
Contudo, a intensidade
da autocracia varia desde a que
se caracteriza pela governação unipessoal sobre um quadro jurídico de
conhecimento e aplicação a todos os cidadãos sem excepções (v.g. «Estado Novo» salazarista) até ao fascismo
correspondente à governação ao sabor do
capricho do ditador (Mussolini, Hitler, Stalin, Mao, Fidel,…).
Pese embora o que a História nos
conta, ambos os tipos de regime continuam a ter adeptos.
A
liberdade de informação é característica essencial das democracias; o condicionamento da informação é comum nas
autocracias. Daqui resulta que os podres são do conhecimento
público nas democracias enquanto que nas autocracias só venha a público o que não
incomode o ditador ou que lhe seja favorável. O jornalismo
de investigação incomoda não só os investigados como também todos
aqueles que preferem viver os idílios do desconhecimento da vileza humana.
Estes, os que erradamente extrapolam para os vícios da democracia e para as
virtudes da ditadura acusando a democracia de confundir liberdade com
libertinagem.
O acesso dos malandros ao poder
é claramente mais fácil nos regimes em que a informação é condicionada pois nas democracias os líderes em potência são
amplamente escrutinados enquanto nas autocracias «o segredo é a alma do poder». E, mesmo assim, tropeçamos em malandros
a toda a hora, nomeadamente aquele que nutrem sentimentos vorazes por montões
de dinheiro, quer público, quer privado.
CONCLUSÕES
A autocracia tende a «tapar as
vergonhas» enquanto em democracia impera a «verdade do azeite»;
Em princípio, a liderança democrática
oferece mais garantias de qualidade do que a autocrática;
O jornalismo de investigação é peça
essencial da democracia, mas o sensacionalismo é criticável;
A decisão democrática, sendo assumida
por consenso negociado, transmite a falsa ideia de que «já não hã líderes como
antigamente»;
Também estas regras têm excepções.
Dezembro
de 2022
Henrique Salles da Fonseca
Tags:
política
nacional
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