Para mim, pelo menos, que do mundo vou
captando aquilo que outros investigam. Este texto de José Diogo Quintela sobre Alexandre Soares dos Santos (que me parece
uma grande figura de português bem sucedido como empresário, pelo que aqui se
conta), mostra simultaneamente um belo sentido de humor do cronista, ao referir
o oportunismo da morte do empresário num timing certeiro, furtando-se ao coro
dos doestos dos habituais anti-capitalistas da esperteza saloia, que JDQ bem descreve aqui, mais os episódios
socráticos que trouxe à baila. Gostei a valer, e bem assim dos comentários
sobre um mundo bem mesquinho, que é este nosso. Um artigo corajoso e mansamente
expressivo.
Soares dos Santos vs Sócrates,
2011 /premium
JOSÉ DIOGO QUINTELA
OBSERVADOR, 20/8/2019
À conta de Alexandre Soares dos Santos
temos: i) Sócrates megalómano; ii) Sócrates mentiroso e iii) Sócrates
perseguidor de jornalistas. Um clássico pague 1-leve 3.
Muitos
dos bons negócios de Alexandre Soares dos Santos deveram-se ao seu sentido de
oportunidade. A opção de investir na Polónia, a ida para a
Colômbia, o lançamento da Fundação Francisco Manuel do Santos, tiveram sucesso
devido ao momento decisivo em que se avançou. A prova que Soares do Santos era
um empresário acima do comum é que esse sentido de oportunidade, que tão bem
demonstrou em vida, também esteve presente na hora da morte.
Ter-se finado no auge da greve dos
motoristas foi uma decisão genial. Soares dos Santos sabia que a sua morte ia
espoletar a habitual sanha anti-empresário e, ao optar por falecer quando
faleceu, obrigou a esquerda radical a sair à rua com a ladainha do patrão
malvado e dos salários baixos, ao mesmo tempo que, para não escangalhar o arranjinho
que tem no Governo, está ao lado dos patrões malvados e dos salários baixos,
contra os grevistas. É o mesmo que
surpreender um vegan a lambuzar-se com uma entremeada num churrasco e pedir-lhe
para, sem limpar os dedos, explicar a sua dieta à base de bagas. Soares dos
Santos mostrou que, mesmo defunto, tem mais faro do que muitos empreendedores
vivos. Até a falecer provou ter bom timing.
Percebe-se
a antipatia que a extrema-esquerda sente por Alexandre Soares dos Santos. Ter
montado uma cadeia de supermercados que funcionam bem sublinhou ainda mais, por
oposição, que os comunistas andam há décadas a impingir o mesmo produto fora
de prazo. E um produto que não se limita a causar um desarranjo
intestinal, como iogurtes passados. É um produto que mata mesmo.
É natural que bloquistas e comunistas
não apreciem Soares dos Santos. Estão no extremo oposto. A diferença entre
Soares dos Santos e um radical de esquerda é que, se lhes mostrassem um
supermercado de prateleiras vazias, Soares dos Santos ia querer descobrir o que
estaria a correr mal, enquanto que o camarada ia querer saber o que estaria a
correr tão bem.
Na
última semana, falou-se muito de Alexandre Soares dos Santos e recordaram-se
vários episódios da sua vida pública. O meu predilecto é de 2011. Em Fevereiro desse ano, o Governo de José
Sócrates garantia que Portugal não estava em recessão. Soares dos Santos acusou
então Sócrates de fazer truques e o Governo de mentir aos portugueses sobre a
situação económica do país. Em resposta, o Primeiro-Ministro, referindo-se ao
empresário, disse “não basta ser rico para ser bem-educado”.
Na
altura teve alguma piada. Olhando a partir de 2019, é hilariante. Para já, o
país estava, de facto, em recessão – tanto que, dois meses depois, Sócrates
perguntava ao Luís se a sua imagem estava boa na TV, para anunciar ao país que
acabara de pedir a intervenção da troika.
Depois,
ver Sócrates a chamar mal-educado a alguém é como ver Trump a chamar vaidoso a
quem quer que seja. (Desde que não seja Sócrates, claro). Em 2011 já se sabia
que Sócrates era um bocado ordinarote, mesmo sem ter ouvido a forma como
tratava o amigo que lhe estava a montar um apartamento de luxo em Paris. Em
terceiro lugar, o dito “não basta ser rico para ser bem-educado” adquiriu toda
uma carga auto-referencial a partir do momento em que se soube que Sócrates
também é rico.
Finalmente,
esta história é estupenda porque, na altura, Sócrates só se lembrou da resposta
à noitinha, o que levou a que um dos seus assessores ligasse para a Lusa a
dizer que Sócrates a tinha dito publicamente, não tinha é sido captada por
nenhum jornalista. O objectivo é que a Lusa noticiasse a tirada, para que
entrasse o quanto antes no ciclo noticioso. Sucede que, nessa noite, a editora
de plantão da Lusa era uma profissional que não se vergava às ordens dos
ajudantes do PM, de maneira que pediu para ouvir a gravação com a tal frase de
Sócrates (que, está visto, a sua equipa considerava ser genial). Ora,
como essa gravação não existia, ela não publicou. E acabou demitida. (Mais uma
trabalhadora que perdeu o emprego por causa do empresário malvado, terá pensado
a extrema-esquerda). Entretanto, um dia depois, a frase lá foi dita por um
Sócrates visivelmente satisfeito com a sua sagacidade.
Portanto,
à conta de Alexandre Soares dos Santos temos: i) Sócrates megalómano; ii) Sócrates mentiroso e iii) Sócrates perseguidor de jornalistas. Um clássico pague 1-leve 3. E porque é que, na morte de Soares dos Santos,
trago Sócrates à liça? Porque, numa altura em que António Costa escolhe, para Vice-Presidente
do Parlamento Europeu, um dos amiguinhos que usufruiu do dinheiro de Carlos
Santos Silva, percebe-se que, no PS, Sócrates ainda é o sítio do costume.
COMENTÁRIOS:
Daniel Rodrigues: Fantástico. Ainda me pergunto
como não há um trabalho de fundo sobre a promiscuidade e manipulação mediática
que é óbvia, e a utilização da Lusa para artigos cirúrgicos como no caso que
aqui refere.... Como sempre: toda a gente sabe, mas ninguém viu ou ouviu. Ainda
bem que tem a coragem de mostrar esses casos. Bem haja!
Manuel Ferreira
: Muitos
socialistas não gostavam deste empresário por causa do Sócrates. É quase a
mesma coisa por que muitos depositantes gostavam do BES por causa do
Salgado! Tudo uma questão de masoquismo!
Pedro J.: Que belíssimo texto!
odiariodeumet .wordpress.com: Foi tudo planeado, a entrevista que deu aqui ao observador a mentir quando
disse que estava doente com cancro e a fazer quimio e vacinas, isso é tudo
mentira, e agora encena a sua morte e desaparece como muitos milionários fazem
mas continua a escravizar as populações e o mundo! Ler: Os milionários
negoceiam a própria morte! Ele está a mentir no vídeo! Ele não teve cancro
nenhum e não morreu porque as elites não morrem, trocam de identidade e de
corpo!
odiariodeumet .wordpress.comodiariodeumet .wordpress.com: O Observador é
parte da seita que está a encobrir a encenação da morte de um dos maiores
criminosos e traidores de Portugal, Alexandre Soares dos Santos e a sua
família!!! O Observador vai ser julgado e condenado por encobrir criminalidade
altamente organizada!
Cipião Numantino: Fabuloso! Já nem tenho palavras para descrever o que
leio de JDQ, ora por ora um dos melhores articulistas que se vão vendo nesta
parvónia que Eça epitetou de choldra. Calculo o que o 44 sentirá ao ler esta
crónica e certamente que correrá sem mais delongas até a uma das luxuosas casas
de banho financiadas pelo seu particular amigo, ali bem posicionada no novel
Parque das Nações, para se debruçar sobre a sanita e expelir uma boa camada de
bílis em conjunto com o seu previsível lauto repasto. Caro Zé Diogo, convém não
exagerar, já que cada vez que o leio começo a sentir e a interiorizar uma certa
pena do 44. Tenha dó, please, e não bata mais no ceguinho. Que um perfeito
campónio, mesmo que armado em cavalheiro de domingo (ou será engenheiro de
domingo?), também terá a sua particular dignidade, mesmo que pense que só ele é
que é esperto e nós, "todos nosotros", deveríamos ter como exclusiva
finalidade dizer amen. Quanto à comunada entender A. Soares dos Santos?
"No way!". Essa malta acha que ele foi um merceeiro e
"prontes". São de tal forma básicos que, na sua simplicidade
ostensivamente hiperbólica, acham que estes homens ou são ladrões encartados
ou, com fortes probabilidades, de serem provavelmente alienígenas. O triunfo
deste tipo de gente é uma acusação à sua interiorizada estultícia. Como diria a
outra, um perfeito "inconseguimento", donde nem sequer vale a pena
incomodar as suas estafadas sinapses neuronais com casos ou eventos que,
obviamente, os colocam perfeitamente em parafuso. Aqui há largos anos assisti a
uma cena engraçada. Um empresário invectivava um seu colaborador que era
assumidamente comunista. A perguntas concretas o homenzito empertigava-se e
tratava de responder com insolência a questões meramente processuais que tinham
a ver com um concreto problema de trabalho. Desesperado, o empresário, resolveu
responder em tom agreste e vociferou para o dito colaborador "o senhor não
responde a nada do que lhe pergunto, o senhor é um autêntico cretino"!
Tendo o pobre homem provavelmente deduzido que se tratava de um elogio,
respondeu visivelmente ufano "pois sou, pois sou"! A comunada é
assim. Eles não entendem ou percebem aquilo que é óbvio, mas sim aquilo que
pretendem entender. Daí muita gente começar já a concluir que, ser-se comuna, é
avocar uma espécie de psicopatologia esquizofrénica degenerativa que os coloca
num limiar bem próximo da irrealidade!...
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