terça-feira, 20 de agosto de 2019

Curiosidades



Para mim, pelo menos, que do mundo vou captando aquilo que outros investigam. Este texto de José Diogo Quintela sobre Alexandre Soares dos Santos (que me parece uma grande figura de português bem sucedido como empresário, pelo que aqui se conta), mostra simultaneamente um belo sentido de humor do cronista, ao referir o oportunismo da morte do empresário num timing certeiro, furtando-se ao coro dos doestos dos habituais anti-capitalistas da esperteza saloia, que JDQ bem descreve aqui, mais os episódios socráticos que trouxe à baila. Gostei a valer, e bem assim dos comentários sobre um mundo bem mesquinho, que é este nosso. Um artigo corajoso e mansamente expressivo.

Soares dos Santos vs Sócrates, 2011 /premium
JOSÉ DIOGO QUINTELA
OBSERVADOR, 20/8/2019
À conta de Alexandre Soares dos Santos temos: i) Sócrates megalómano; ii) Sócrates mentiroso e iii) Sócrates perseguidor de jornalistas. Um clássico pague 1-leve 3.

Muitos dos bons negócios de Alexandre Soares dos Santos deveram-se ao seu sentido de oportunidade. A opção de investir na Polónia, a ida para a Colômbia, o lançamento da Fundação Francisco Manuel do Santos, tiveram sucesso devido ao momento decisivo em que se avançou. A prova que Soares do Santos era um empresário acima do comum é que esse sentido de oportunidade, que tão bem demonstrou em vida, também esteve presente na hora da morte.
Ter-se finado no auge da greve dos motoristas foi uma decisão genial. Soares dos Santos sabia que a sua morte ia espoletar a habitual sanha anti-empresário e, ao optar por falecer quando faleceu, obrigou a esquerda radical a sair à rua com a ladainha do patrão malvado e dos salários baixos, ao mesmo tempo que, para não escangalhar o arranjinho que tem no Governo, está ao lado dos patrões malvados e dos salários baixos, contra os grevistas. É o mesmo que surpreender um vegan a lambuzar-se com uma entremeada num churrasco e pedir-lhe para, sem limpar os dedos, explicar a sua dieta à base de bagas. Soares dos Santos mostrou que, mesmo defunto, tem mais faro do que muitos empreendedores vivos. Até a falecer provou ter bom timing.
Percebe-se a antipatia que a extrema-esquerda sente por Alexandre Soares dos Santos. Ter montado uma cadeia de supermercados que funcionam bem sublinhou ainda mais, por oposição, que os comunistas andam há décadas a impingir o mesmo produto fora de prazo. E um produto que não se limita a causar um desarranjo intestinal, como iogurtes passados. É um produto que mata mesmo.
É natural que bloquistas e comunistas não apreciem Soares dos Santos. Estão no extremo oposto. A diferença entre Soares dos Santos e um radical de esquerda é que, se lhes mostrassem um supermercado de prateleiras vazias, Soares dos Santos ia querer descobrir o que estaria a correr mal, enquanto que o camarada ia querer saber o que estaria a correr tão bem.
Na última semana, falou-se muito de Alexandre Soares dos Santos e recordaram-se vários episódios da sua vida pública. O meu predilecto é de 2011. Em Fevereiro desse ano, o Governo de José Sócrates garantia que Portugal não estava em recessão. Soares dos Santos acusou então Sócrates de fazer truques e o Governo de mentir aos portugueses sobre a situação económica do país. Em resposta, o Primeiro-Ministro, referindo-se ao empresário, disse “não basta ser rico para ser bem-educado”.
Na altura teve alguma piada. Olhando a partir de 2019, é hilariante. Para já, o país estava, de facto, em recessão – tanto que, dois meses depois, Sócrates perguntava ao Luís se a sua imagem estava boa na TV, para anunciar ao país que acabara de pedir a intervenção da troika.
Depois, ver Sócrates a chamar mal-educado a alguém é como ver Trump a chamar vaidoso a quem quer que seja. (Desde que não seja Sócrates, claro). Em 2011 já se sabia que Sócrates era um bocado ordinarote, mesmo sem ter ouvido a forma como tratava o amigo que lhe estava a montar um apartamento de luxo em Paris. Em terceiro lugar, o dito “não basta ser rico para ser bem-educado” adquiriu toda uma carga auto-referencial a partir do momento em que se soube que Sócrates também é rico.
Finalmente, esta história é estupenda porque, na altura, Sócrates só se lembrou da resposta à noitinha, o que levou a que um dos seus assessores ligasse para a Lusa a dizer que Sócrates a tinha dito publicamente, não tinha é sido captada por nenhum jornalista. O objectivo é que a Lusa noticiasse a tirada, para que entrasse o quanto antes no ciclo noticioso. Sucede que, nessa noite, a editora de plantão da Lusa era uma profissional que não se vergava às ordens dos ajudantes do PM, de maneira que pediu para ouvir a gravação com a tal frase de Sócrates (que, está visto, a sua equipa considerava ser genial). Ora, como essa gravação não existia, ela não publicou. E acabou demitida. (Mais uma trabalhadora que perdeu o emprego por causa do empresário malvado, terá pensado a extrema-esquerda). Entretanto, um dia depois, a frase lá foi dita por um Sócrates visivelmente satisfeito com a sua sagacidade.
Portanto, à conta de Alexandre Soares dos Santos temos: i) Sócrates megalómano; ii) Sócrates mentiroso e iii) Sócrates perseguidor de jornalistas. Um clássico pague 1-leve 3. E porque é que, na morte de Soares dos Santos, trago Sócrates à liça? Porque, numa altura em que António Costa escolhe, para Vice-Presidente do Parlamento Europeu, um dos amiguinhos que usufruiu do dinheiro de Carlos Santos Silva, percebe-se que, no PS, Sócrates ainda é o sítio do costume.
COMENTÁRIOS:
Daniel Rodrigues:  Fantástico. Ainda me pergunto como não há um trabalho de fundo sobre a promiscuidade e manipulação mediática que é óbvia, e a utilização da Lusa para artigos cirúrgicos como no caso que aqui refere.... Como sempre: toda a gente sabe, mas ninguém viu ou ouviu. Ainda bem que tem a coragem de mostrar esses casos. Bem haja!
Manuel Ferreira : Muitos socialistas não gostavam deste empresário por causa do Sócrates. É quase a mesma coisa por que muitos depositantes gostavam do BES por causa do Salgado!  Tudo uma questão de masoquismo! 
Pedro J.: Que belíssimo texto!
odiariodeumet .wordpress.com: Foi tudo planeado, a entrevista que deu aqui ao observador a mentir quando disse que estava doente com cancro e a fazer quimio e vacinas, isso é tudo mentira, e agora encena a sua morte e desaparece como muitos milionários fazem mas continua a escravizar as populações e o mundo! Ler: Os milionários negoceiam a própria morte! Ele está a mentir no vídeo! Ele não teve cancro nenhum e não morreu porque as elites não morrem, trocam de identidade e de corpo!
odiariodeumet .wordpress.comodiariodeumet .wordpress.com: O Observador é parte da seita que está a encobrir a encenação da morte de um dos maiores criminosos e traidores de Portugal, Alexandre Soares dos Santos e a sua família!!! O Observador vai ser julgado e condenado por encobrir criminalidade altamente organizada!
Cipião Numantino: Fabuloso! Já nem tenho palavras para descrever o que leio de JDQ, ora por ora um dos melhores articulistas que se vão vendo nesta parvónia que Eça epitetou de choldra. Calculo o que o 44 sentirá ao ler esta crónica e certamente que correrá sem mais delongas até a uma das luxuosas casas de banho financiadas pelo seu particular amigo, ali bem posicionada no novel Parque das Nações, para se debruçar sobre a sanita e expelir uma boa camada de bílis em conjunto com o seu previsível lauto repasto. Caro Zé Diogo, convém não exagerar, já que cada vez que o leio começo a sentir e a interiorizar uma certa pena do 44. Tenha dó, please, e não bata mais no ceguinho. Que um perfeito campónio, mesmo que armado em cavalheiro de domingo (ou será engenheiro de domingo?), também terá a sua particular dignidade, mesmo que pense que só ele é que é esperto e nós, "todos nosotros", deveríamos ter como exclusiva finalidade dizer amen. Quanto à comunada entender A. Soares dos Santos? "No way!". Essa malta acha que ele foi um merceeiro e "prontes". São de tal forma básicos que, na sua simplicidade ostensivamente hiperbólica, acham que estes homens ou são ladrões encartados ou, com fortes probabilidades, de serem provavelmente alienígenas. O triunfo deste tipo de gente é uma acusação à sua interiorizada estultícia. Como diria a outra, um perfeito "inconseguimento", donde nem sequer vale a pena incomodar as suas estafadas sinapses neuronais com casos ou eventos que, obviamente, os colocam perfeitamente em parafuso. Aqui há largos anos assisti a uma cena engraçada. Um empresário invectivava um seu colaborador que era assumidamente comunista. A perguntas concretas o homenzito empertigava-se e tratava de responder com insolência a questões meramente processuais que tinham a ver com um concreto problema de trabalho. Desesperado, o empresário, resolveu responder em tom agreste e vociferou para o dito colaborador "o senhor não responde a nada do que lhe pergunto, o senhor é um autêntico cretino"! Tendo o pobre homem provavelmente deduzido que se tratava de um elogio, respondeu visivelmente ufano "pois sou, pois sou"! A comunada é assim. Eles não entendem ou percebem aquilo que é óbvio, mas sim aquilo que pretendem entender. Daí muita gente começar já a concluir que, ser-se comuna, é avocar uma espécie de psicopatologia esquizofrénica degenerativa que os coloca num limiar bem próximo da irrealidade!...

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