terça-feira, 20 de agosto de 2019

Mundo rico de aventura



É bom que sejamos informados do que vai pelo mundo, estranho ao nosso meio de greves com ou sem coletes, conquanto desestabilizadoras qb, para irmos curtindo e garantindo que também nós mexemos, uma palha que seja. E. Macron esforça-se, trabalha, talvez em proveito próprio, isto é, da França, mas afinal é quem mais parece girar, em tentativas várias, primeiro com A. Merkel, agora com Putin, também com D. Trump, mas julgo que sem resultado, Trump mais interessado na compra da Gronelândia, para mais depressa derreter o gelo, forma de encurtar a tal Europa, alagando-a…
Não deixa de ser estranha esta aliança a leste, ainda bem que temos uma Teresa de Sousa a alertar, com comentadores a reforçar. Mas o sofrimento alastra, em tantas outras partes do mundo… e a ambição de poder também… O Courrier internacional de Agosto 2019 é largamente explícito, transcrevo alguns temas da capa:
“Quem vai mandar na Internet?” ; “Um mundo com duas redes – É o fim da utopia de um ciberespaço sem fronteiras. As duas maiores potências mundiais pretendem impor, cada uma, o seu modelo político para a Internet… com a Rússia à espreita de uma oportunidade para restabelecer a sua “soberania digital”.  EUA: A recessão sexual dos jovensNIGÉRIA: A potência africana que seduz o mundo” ROMA: O declínio da Cidade Eternaentre tantas outras mais notícias arrasadoras, no interior …
ANÁLISE
Cimeira de risco médio em Brégançon
Macron recebe Putin em véspera da cimeira do G-7.
TERESA DE SOUSA
PÚBLICO, 19 de Agosto de 2019
1. A troca de palavras inicial apenas confirmou a possibilidade de um encontro sem grandes resultados. Mesmo assim, o Presidente francês, que não tem medo de arriscar, convidou esta segunda-feira o seu homólogo russo, Vladimir Putin, para uma “reunião de trabalho” no Forte de Brégançon, a residência de Verão dos habitantes do Eliseu, no Sul de França, cinco dias antes da cimeira do G-7 a que presidirá em Biarritz. Emmanuel Macron também nunca escondeu os seus objectivos: devolver à França o seu papel de liderança da Europa, ao lado da Alemanha, e o seu estatuto de potência internacional com uma dose razoável de autonomia estratégica.
Praticamente todos os pontos da agenda dos líderes das sete democracias mais desenvolvidas do mundo, no próximo fim-de-semana, envolvem a Rússia, directa ou indirectamente. O Presidente francês gostaria de levar consigo alguns sinais de boa vontade de Putin para a resolução das questões mais quentes da agenda internacional: o Irão, para uma derradeira tentativa de salvar o acordo nuclear, mas também a Ucrânia ou a Síria, que constituem as duas mais incómodas “pedras” no sapato das relações entre a Rússia e a Europa. O risco está em que não tem havido quaisquer sinais de boa-vontade da parte do Kremlin em relação a esses dossiers.
A eleição de um novo Presidente ucraniano, Volodimir Zelenski​, em Abril passado, seria uma “janela de oportunidade”, como referem na imprensa francesa fontes do Eliseu, para insuflar alguma vida aos acordos de Minsk de 2015, negociados por Paris e Berlim com Kiev e Moscovo, numa tentativa até agora falhada de resolver a guerra intermitente provocada pela ingerência militar russa na região do Donbass, Leste da Ucrânia, alegadamente em apoio das populações que falam russo e que defendem o separatismo. Será possível? A própria diplomacia francesa diz que é difícil, mesmo que insista em que é do interesse da Europa encontrar um terreno comum de cooperação com o seu grande vizinho do Leste, e o Presidente francês acrescente que é necessário manter um “diálogo directo e franco” com Moscovo. A ideia do Eliseu é relançar as negociações no chamado “formato Normandia” – entre a França, Alemanha, Rússia e Ucrânia. Moscovo não diz que não, mas vai acrescentando que só se houver alguma coisa de concreta para aprovar.
Esta segunda-feira, à chegada a Brégançon, Vladimir Putin reforçou essa ideia, dizendo que não vê alternativa ao “formato Normandia”, sem se comprometer, no entanto, com a convocação de uma nova cimeira. Macron tinha dito que uma reunião entre os quatro líderes talvez fosse possível num prazo “de semanas”.
2. Segundo ponto de controvérsia inevitável nas primeiras declarações: as liberdades fundamentais. O Presidente francês desafiou Putin a respeitar os princípios básicos da democracia: “Apelámos para a liberdade de protestar, de falar, de ter opinião e para a realização de eleições livres, que devem ser integralmente respeitadas na Rússia como em qualquer outro país do Conselho da Europa”. A França ajudou recentemente a Rússia a regressar ao Conselho da Europa, do qual tinha sido suspensa. Conhecem-se os “incidentes” que têm marcado os últimos dias em Moscovo, com grandes manifestações contra o banimento dos candidatos da oposição às próximas eleições da cidade. Putin respondeu-lhe que a Rússia não queria ter os seus “gilets jaunes”, apenas “manifestações pacíficas”.
3. A ruptura das relações entre a Europa e a Rússia nasceu, precisamente, da crise ucraniana de 2014, quando tropas russas intervieram directamente na região do Donbass e quando anexaram a península da Crimeia, parte do território ucraniano onde se situa a mais importante base naval russa do Mar Negro, em Sebastopol. Os europeus – e, em primeiro lugar, a Alemanha – perceberam que a Rússia se tinha transformado numa ameaça directa à sua segurança. Foi possível articular uma resposta conjunta com Washington, ainda no tempo de Obama, e foram decretadas sanções económicas que têm sido sistematicamente renovadas e que doem a uma economia muito dependente do investimento europeu. Nos últimos quatro anos, a política de interferência de Moscovo na União Europeia aumentou de intensidade, agora sob a forma de financiamento e de apoio aos partidos de extrema-direita e populistasde Marine Le Pen, em França, a Viktor Orbán na Hungria, passando pela Liga de Salvini. Esta “conivência política” já conseguiu derrubar o governo da Áustria, de coligação entre os conservadores de Sebastian Kurz e a extrema-direita.
4. Em 2017, durante a campanha presidencial francesa, o Kremlin começou por apostar em François Fillon, antigo primeiro-ministro de Nicolas Sarkozy e candidato do centro-direita ao Eliseu, bastante mais condescendente com a Rússia do que o então Presidente François Hollande. Na segunda volta, não escondeu o seu apoio a Marine Le Pen. Desconfiava do jovem Macron, apesar de o próprio ter defendido que a França tinha interesse numa política mais “gaullista” (ou seja, mais autónoma em relação a Washington) em relação à Rússia. Menos de três meses depois de ser eleito, Macron surpreendeu toda a gente ao convidar o seu homólogo russo para um encontro em Versailles, a pretexto das celebrações dos 300 anos da visita de Pedro, o Grande, a convite de Louis XV, para dizer a Putin que a Rússia só foi grande quando se abriu à Europa.
A visita não teve resultados dignos de nota, mas a relação entre os dois líderes manteve-se “activacom uma deslocação de Macron a S. Petersburgo e a ida de Putin a Paris para as celebrações do fim da I Guerra.Os dois países não têm grandes ilusões” sobre o seu relacionamento, “nem são a prioridade um para o outro”, escreve o Libération, o que também ajuda à distensão
Ver-se-á o resultado deste encontro, mesmo que a Rússia tenha muito pouco a dizer sobre o assunto que vai dominar as conversações do G-7: o arrefecimento da economia global e a “guerra comercial” dos Estrados Unidos com a China e com quem vier a seguir. De qualquer modo, com a chanceler alemã a viver o seu ocaso politico e a Alemanha cada vez mais virada para si própria, com o Reino Unido mergulhado na sua maior crise existencial desde a II Guerra, o palco pertence quase todo ao Presidente francês para tentar fazer alguma diferença na frente externa europeia.
COMENTÁRIOS:
vinha: Uma boa iniciativa de Macron. É bastante fácil para Putin voltar a integrar o G8 e deixar de ser um pária entre-as nações, com grande empobrecimento da população russa. Basta para isso desocupar a Crimeia, cessar o conflito no leste da Ucrânia, deixar de ocupar partes da Geórgia e da Moldávia, deixar de apoiar os movimentos neo-fascistas europeus, permitir a liberdade de expressão e de reunião na Rússia, organizar eleições livres... tudo fácil para um país civilizado.
Jose Manuel: A Sra. Teresa de Sousa, esqueceu de mencionar o referendo na Crimeia em que mais de 97% da população votou a favor da Rússia. E também que maior parte dos Alemães sentem uma maior ameaça dos Americanos do que os Russos, eu estou a falar do povo, e não dos políticos que, muito bem diz a Sra. Teresa de Sousa, articularam uma resposta conjunta com Washington para poder decretar mais sanções económicas que têm sido sistematicamente renovadas e que doem a uma economia etc... isto só para a EU não se aproximar de Rússia porque os US não querem uma EU forte nem Rússia e por assim dizer, nenhum pais do mundo. o Maior perdedor disto e a EU...
vinha2100: Esse referendo não foi uma votação interna do Partido Comunista Português? Eh eh eh...
Ludwig Popov, 19.08.2019: Os europeus — e, em primeiro lugar, a Alemanha — perceberam que a Rússia se tinha transformado numa ameaça directa à sua segurança." Não se percebe bem que ameaça mas pronto, ameaça de quê? Do Schroder e dos outros alemães enfiados no quadro da Gazprom? Ou da ameaça dos compradores de mercedes e bmws russos? Se calhar a ameaça vem mesmo dos bancos independentes russos ou das empresas de aviação que querem comprar mais airbuses para as suas frotas? Tretas, passe a expressão, a ameaça russa é imposição de Washington, a UE e a Europa só têm a ganhar com os clientes e vendedores russos.
rafael.guerra.www 19.08.2019: O Sol de Agosto e o vodka dão nisto... A Rússia não tem hesitado em tentar influenciar os resultados eleitorais na Europa, apoiando conteúdos nos media anti-UE e abertamente todos os candidatos nacionalistas (Le Pen, V. Orbán, M. Salvini e H-C. Strache).
Choninhas Chanfrado - prof. Catedrático em New Iorque (exatamente 3 cátedras): Calado eras um poeta. Porque não regressas a Moscovo e ficas por lá?
Ludwig Popov, 19.08.2019: boa vontade de Putin para a resolução das questões mais quentes da agenda internacional: o Irão, para uma derradeira tentativa de salvar o acordo nuclear, mas também a Ucrânia ou a Síria, que constituem as duas mais incómodas “pedras” no sapato das relações entre a Rússia..." Como se fosse a Rússia culpada pelos problema criados aos países em questão, Ucrânia instigada à russofobia e por isso pagou caro pois os russos sempre ali estiveram, lá se foi a Crimeia e o leste; Irão tem problemas com os EUA e Israel mais RU que anda por ali meio perdido; a Síria, mas foi a Rússia a enfiar terroristas ingleses, franceses, alemães, chechenos, holandeses, belgas, portugueses, espanhóis? Não, não foi, pelo contrário, salvou a tolerância do estado secular sírio.
vinha2100: Os russos nunca se vão cansar das cassettes. Já o DVD e o Blu-ray começam a estar desactualizados e continuam a bombardear-nos com a mesma música dos amanhãs que cantam. Interessante que a Rússia tenha uma população sensivelmente metade do que devia ter se tivesse tido uma evolução demográfica normal. Seguramente que nada disto tem a ver com os diversos genocídios dos governos comunistas e os desastres ecológicos e económicos mais recentes... ah, e o alcoolismo, esqueci-me do alcoolismo...
TM,19.08.2019: Hoje li um artigo de opinião na Project Syndicate sobre o papel crescente da Franca enquanto líder da UE. Muito certeiro que vai também de encontro ao que Teresa refere. Com a economia a decrescer na Alemanha, com uma zona Euro estável, sem poder militar e sem o RU, Alemanha perde estatuto para a Franca que se assume como um candidato claro à lideranca da UE e ao papel que teve antes dos anos 90. Esperemos que Macron continue por mais 1 mandato. As suas políticas têm dado resultados positivos internamente!
Domnall Mór Ua Briain19.08.2019: Que palavras mágicas. O único exército europeu com números, tecnología e material é o francês. Têm 450 mil efectivos. Mais 4,5 vezes o número de efectivos que Portugal e Espanha juntos.
Manuel Caetano, 19.08.2019: Teresa de Sousa não sabe que dois presidentes nunca se encontram pessoalmente sem haver acordos previamente negociados que façam esse encontro valer a pena realizar-se? Se Macron e Putin se encontraram é porque assinaram acordos que agradam a ambos.
Manuel Caetano, 19.08.2019: Que acordos? Os menos relevantes serão divulgados. Os mais relevantes serão segredos de estado.
TM, 19.08.2019: Não tem de haver necessariamente acordos. Mas é verdade que 2 Presidentes desta importância não se encontram por acaso. Existe uma grande agenda por traz que demora semanas a preparar!
Ludwig Popov,19.08.2019: Por norma bebem bem e "fecham" muitos acordos; coisas que depois acabam por ser alteradas devido às imposições dos EUA à França, tem sido assim. E com França e Alemanha (com as dezenas de bases dos EUA e RU atrelado) totalmente dominados e ameaçados pelo State Department a UE não pode crescer com a ajuda dos recursos e poder financeiro que a Rússia pode trazer.

Nenhum comentário: