É bom que sejamos informados do que vai
pelo mundo, estranho ao nosso meio de greves com ou sem coletes, conquanto
desestabilizadoras qb, para irmos curtindo e garantindo que também nós mexemos,
uma palha que seja. E. Macron esforça-se,
trabalha, talvez em proveito próprio, isto é, da França, mas afinal é quem mais
parece girar, em tentativas várias, primeiro com A. Merkel, agora com Putin, também com
D. Trump, mas julgo
que sem resultado, Trump mais
interessado na compra da Gronelândia, para mais depressa derreter o gelo, forma
de encurtar a tal Europa, alagando-a…
Não deixa de ser estranha esta aliança a
leste, ainda bem que temos uma Teresa de
Sousa a alertar, com comentadores a reforçar. Mas o
sofrimento alastra, em tantas outras partes do mundo… e a ambição de poder
também… O Courrier
internacional de Agosto
2019 é largamente explícito, transcrevo alguns temas da capa:
“Quem vai mandar na Internet?” ; “Um
mundo com duas redes – É o fim da
utopia de um ciberespaço sem fronteiras. As duas maiores potências mundiais
pretendem impor, cada uma, o seu modelo político para a Internet… com a Rússia
à espreita de uma oportunidade para restabelecer a sua “soberania digital”. “EUA: A
recessão sexual dos jovens” “NIGÉRIA: A potência africana que seduz o mundo”
ROMA: O declínio da Cidade Eterna” … entre tantas
outras mais notícias arrasadoras, no interior …
ANÁLISE
Cimeira de risco médio em Brégançon
Macron recebe Putin em véspera da cimeira
do G-7.
TERESA DE SOUSA
PÚBLICO, 19 de Agosto de 2019
1. A
troca de palavras inicial apenas confirmou a possibilidade de um encontro sem
grandes resultados. Mesmo assim, o Presidente francês, que não tem medo de arriscar, convidou esta
segunda-feira o seu homólogo russo, Vladimir Putin, para uma “reunião de trabalho” no Forte de Brégançon, a residência de
Verão dos habitantes do Eliseu, no Sul de França, cinco dias antes da cimeira
do G-7 a que presidirá em Biarritz. Emmanuel
Macron também nunca escondeu os seus objectivos: devolver à
França o seu papel de liderança da Europa, ao lado da Alemanha, e o seu
estatuto de potência internacional com uma dose razoável de autonomia
estratégica.
Praticamente
todos os pontos da agenda dos líderes das sete democracias mais
desenvolvidas do mundo, no próximo fim-de-semana, envolvem a Rússia, directa ou
indirectamente. O Presidente francês gostaria de levar consigo alguns
sinais de boa vontade de Putin para a resolução das questões mais quentes da
agenda internacional: o Irão, para uma derradeira tentativa de salvar
o acordo nuclear, mas também a Ucrânia ou a Síria, que constituem
as duas mais incómodas “pedras” no sapato das relações entre a Rússia e a
Europa. O risco está em que não
tem havido quaisquer sinais de boa-vontade da parte do Kremlin em relação a
esses dossiers.
A
eleição de um novo Presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em Abril passado,
seria uma “janela de oportunidade”, como referem na imprensa francesa
fontes do Eliseu, para insuflar alguma vida aos acordos de Minsk de 2015,
negociados por Paris e Berlim com Kiev e Moscovo, numa tentativa até agora
falhada de resolver a guerra intermitente provocada pela ingerência militar
russa na região do Donbass, Leste da Ucrânia, alegadamente em apoio das
populações que falam russo e que defendem o separatismo. Será possível? A
própria diplomacia francesa diz que é difícil, mesmo que insista em que é do
interesse da Europa encontrar um terreno comum de cooperação com o seu grande
vizinho do Leste, e o Presidente francês acrescente que é necessário manter um
“diálogo directo e franco” com Moscovo. A ideia
do Eliseu é relançar as negociações no chamado “formato Normandia” – entre a
França, Alemanha, Rússia e Ucrânia. Moscovo
não diz que não, mas vai acrescentando que só se houver alguma coisa de
concreta para aprovar.
Esta
segunda-feira, à chegada a Brégançon, Vladimir Putin reforçou essa ideia,
dizendo que não vê alternativa ao “formato Normandia”, sem se comprometer,
no entanto, com a convocação de uma nova cimeira. Macron tinha dito que uma
reunião entre os quatro líderes talvez fosse possível num prazo “de semanas”.
2. Segundo
ponto de controvérsia inevitável nas
primeiras declarações: as liberdades fundamentais. O Presidente francês desafiou Putin a respeitar
os princípios básicos da democracia: “Apelámos para a liberdade de
protestar, de falar, de ter opinião e para a realização de eleições livres, que
devem ser integralmente respeitadas na Rússia como em qualquer outro país do
Conselho da Europa”. A França ajudou recentemente a Rússia a regressar ao
Conselho da Europa, do qual tinha sido suspensa. Conhecem-se os “incidentes”
que têm marcado os últimos dias em Moscovo, com grandes manifestações contra o
banimento dos candidatos da oposição às próximas eleições da cidade. Putin
respondeu-lhe que a Rússia não queria ter os seus “gilets jaunes”, apenas
“manifestações pacíficas”.
3. A
ruptura das relações entre a Europa e a Rússia nasceu, precisamente, da crise
ucraniana de 2014, quando tropas russas intervieram directamente na região do
Donbass e quando anexaram a península da Crimeia, parte do território ucraniano
onde se situa a mais importante base naval russa do Mar Negro, em Sebastopol. Os europeus – e, em primeiro lugar, a Alemanha –
perceberam que a Rússia se tinha transformado numa ameaça directa à sua
segurança. Foi possível articular uma resposta conjunta com Washington, ainda
no tempo de Obama, e foram decretadas sanções económicas que têm sido
sistematicamente renovadas e que doem a uma economia muito dependente do
investimento europeu. Nos
últimos quatro anos, a política de interferência de Moscovo na União Europeia
aumentou de intensidade, agora sob a forma de financiamento e de apoio aos partidos
de extrema-direita e populistas –
de Marine Le Pen, em França, a Viktor Orbán na Hungria, passando
pela Liga de Salvini. Esta “conivência política” já conseguiu derrubar o
governo da Áustria, de coligação entre os conservadores de Sebastian Kurz e a
extrema-direita.
4. Em
2017, durante a campanha presidencial francesa, o Kremlin começou por apostar
em François Fillon, antigo primeiro-ministro de Nicolas Sarkozy e candidato do
centro-direita ao Eliseu, bastante mais condescendente com a Rússia do que o
então Presidente François Hollande. Na segunda volta, não escondeu o seu
apoio a Marine Le Pen. Desconfiava do jovem Macron, apesar de o próprio ter
defendido que a França tinha interesse numa política mais “gaullista” (ou seja,
mais autónoma em relação a Washington) em relação à Rússia. Menos de três meses depois de ser eleito, Macron
surpreendeu toda a gente ao convidar o seu homólogo russo para um encontro em
Versailles, a pretexto das celebrações dos 300 anos da visita de Pedro, o
Grande, a convite de Louis XV, para dizer a Putin que a Rússia só foi grande
quando se abriu à Europa.
A
visita não teve resultados dignos de nota, mas a relação entre os dois
líderes manteve-se “activa” com uma deslocação de Macron a S.
Petersburgo e a ida de Putin a Paris para as celebrações do fim da I Guerra.
“Os dois países não têm grandes ilusões” sobre o seu relacionamento, “nem
são a prioridade um para o outro”, escreve o Libération, o que também ajuda à
distensão.
Ver-se-á
o resultado deste encontro, mesmo que a Rússia tenha muito pouco a dizer sobre
o assunto que vai dominar as conversações do G-7: o
arrefecimento da economia global e a “guerra comercial” dos Estrados Unidos com
a China e com quem vier a seguir. De
qualquer modo, com a chanceler alemã a viver o seu ocaso politico e a Alemanha
cada vez mais virada para si própria, com o Reino Unido mergulhado na sua maior
crise existencial desde a II Guerra, o palco pertence quase todo ao Presidente
francês para tentar fazer alguma diferença na frente externa europeia.
COMENTÁRIOS:
vinha: Uma
boa iniciativa de Macron. É bastante fácil para Putin voltar a integrar o G8 e
deixar de ser um pária entre-as nações, com grande empobrecimento da população
russa. Basta para isso desocupar a Crimeia, cessar o conflito no leste da
Ucrânia, deixar de ocupar partes da Geórgia e da Moldávia, deixar de apoiar os
movimentos neo-fascistas europeus, permitir a liberdade de expressão e de
reunião na Rússia, organizar eleições livres... tudo fácil para um país
civilizado.
Jose Manuel: A
Sra. Teresa de Sousa, esqueceu de mencionar o referendo na Crimeia em que
mais de 97% da população votou a favor da Rússia. E também que maior parte
dos Alemães sentem uma maior ameaça dos Americanos do que os Russos, eu estou a
falar do povo, e não dos políticos que, muito bem diz a Sra. Teresa de Sousa,
articularam uma resposta conjunta com Washington para poder decretar mais sanções
económicas que têm sido sistematicamente renovadas e que doem a uma economia
etc... isto só para a EU não se aproximar de Rússia porque os US não querem uma
EU forte nem Rússia e por assim dizer, nenhum pais do mundo. o Maior perdedor
disto e a EU...
vinha2100: Esse
referendo não foi uma votação interna do Partido Comunista Português? Eh eh
eh...
Ludwig Popov, 19.08.2019: Os europeus — e, em primeiro lugar, a Alemanha —
perceberam que a Rússia se tinha transformado numa ameaça directa à sua
segurança." Não se
percebe bem que ameaça mas pronto, ameaça de quê? Do Schroder e dos outros
alemães enfiados no quadro da Gazprom? Ou da ameaça dos compradores de mercedes
e bmws russos? Se calhar a ameaça vem mesmo dos bancos independentes russos ou
das empresas de aviação que querem comprar mais airbuses para as suas frotas? Tretas,
passe a expressão, a ameaça russa é imposição de Washington, a UE e a Europa só
têm a ganhar com os clientes e vendedores russos.
rafael.guerra.www 19.08.2019: O Sol de Agosto e o vodka dão nisto... A Rússia não tem
hesitado em tentar influenciar os resultados eleitorais na Europa, apoiando
conteúdos nos media anti-UE e abertamente todos os candidatos nacionalistas (Le
Pen, V. Orbán, M. Salvini e H-C. Strache).
Choninhas Chanfrado - prof. Catedrático em New Iorque
(exatamente 3 cátedras): Calado
eras um poeta. Porque não regressas a Moscovo e ficas por lá?
Ludwig Popov, 19.08.2019: boa vontade de Putin para a resolução das questões mais
quentes da agenda internacional: o Irão, para uma derradeira
tentativa de salvar o acordo nuclear, mas também a Ucrânia ou a Síria,
que constituem as duas mais incómodas “pedras” no sapato das relações entre
a Rússia..." Como se fosse a Rússia culpada pelos problema criados aos
países em questão, Ucrânia instigada à russofobia e por isso pagou caro pois os
russos sempre ali estiveram, lá se foi a Crimeia e o leste; Irão tem problemas
com os EUA e Israel mais RU que anda por ali meio perdido; a Síria, mas foi a
Rússia a enfiar terroristas ingleses, franceses, alemães, chechenos,
holandeses, belgas, portugueses, espanhóis? Não, não foi, pelo contrário,
salvou a tolerância do estado secular sírio.
vinha2100: Os
russos nunca se vão cansar das cassettes. Já o DVD e o Blu-ray começam a estar
desactualizados e continuam a bombardear-nos com a mesma música dos amanhãs que
cantam. Interessante
que a Rússia tenha uma população sensivelmente metade do que devia ter se
tivesse tido uma evolução demográfica normal. Seguramente que nada disto tem a
ver com os diversos genocídios dos governos comunistas e os desastres
ecológicos e económicos mais recentes... ah, e o alcoolismo, esqueci-me do
alcoolismo...
TM,19.08.2019: Hoje
li um artigo de opinião na Project Syndicate sobre o papel crescente da Franca
enquanto líder da UE. Muito certeiro que vai também de encontro ao que Teresa
refere. Com a economia a decrescer na Alemanha, com uma zona Euro estável, sem
poder militar e sem o RU, Alemanha perde estatuto para a Franca que se assume
como um candidato claro à lideranca da UE e ao papel que teve antes dos anos 90.
Esperemos que Macron continue por mais 1 mandato. As suas políticas têm dado
resultados positivos internamente!
Domnall Mór Ua Briain19.08.2019: Que palavras mágicas. O único exército europeu com
números, tecnología e material é o francês. Têm 450 mil efectivos. Mais 4,5
vezes o número de efectivos que Portugal e Espanha juntos.
Manuel Caetano, 19.08.2019: Teresa de Sousa não sabe que dois presidentes nunca se
encontram pessoalmente sem haver acordos previamente negociados que façam esse
encontro valer a pena realizar-se? Se Macron e Putin se encontraram é porque
assinaram acordos que agradam a ambos.
Manuel Caetano, 19.08.2019: Que acordos? Os menos relevantes serão divulgados. Os
mais relevantes serão segredos de estado.
TM, 19.08.2019: Não tem de haver necessariamente acordos. Mas é verdade
que 2 Presidentes desta importância não se encontram por acaso. Existe uma
grande agenda por traz que demora semanas a preparar!
Ludwig Popov,19.08.2019: Por norma bebem bem e "fecham" muitos
acordos; coisas que depois acabam por ser alteradas devido às imposições dos
EUA à França, tem sido assim. E com França e Alemanha (com as dezenas de bases
dos EUA e RU atrelado) totalmente dominados e ameaçados pelo State
Department a UE não pode crescer com a ajuda dos recursos e poder financeiro
que a Rússia pode trazer.
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