sexta-feira, 23 de agosto de 2019

O canto agora é outro



Já a tenho ouvido mais vezes, nunca a procuro, mas ela vem-me por vezes à mão, por conta do comando impaciente que vou premindo, em busca de notícia ou de programa de recreio. Foi no canal 5, desta vez, o recreio, a entrevistadora chama-se Sara, de quem não captei o apelido, as entrevistadas foram Filipa Roseta, do PSD e Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda. O tema da discussão centrou-se sobre a questão dos “alunos transgénero” - embora não se tivesse usado por ora esse termo escabroso - que o Bloco de Esquerda, pela voz doce e suavemente insinuante de MM, foi aparentemente defendendo. Eu diria, contudo, que foi antes, soturnamente, emporcalhando, na vileza do assunto em questão que, ao contrário do que afirma sobre a injustiça da crueldade que sobre esses alunos se exerce - ao defender para esses uma privacidade na escolha das casas de banho das escolas, tal chamará mais a atenção sobre esses, de cujo problema os colegas talvez nem se apercebam, pois não creio que sejam assim tantos os que preferirão exibir o seu “desvio” de “género”.
Mariana Mortágua usou, naturalmente, os designativos “respeito pelos direitos humanos” que com tanto fervor defende, na qualidade de um charlatanismo progressista do partido - e dela própria em crescendo virtuoso - que vai sucessivamente arrancando os temas da sua preferência devota, contra o bom senso da – ainda – maioria. Nessa maioria se destacou com brilho Filipa Roseta, que referiu a protecção da liberdade de cada um, a não promoção das divisões sociais, instigando ao ódio como o fazem os do Bloco, e, sobretudo, a necessidade do respeito por todos os alunos, criando casas de banho em condições higiénicas, que a maioria das escolas não tem, (nem, de resto, se considera uma regra de cidadania educar para o respeito – do espaço e do “outro” - as casas de banho públicas – tal como nas escolas – mostrando bem quanto esses princípios não fazem parte dos nossos preceitos educativos. Mas, enfim, o recreio que a entrevista me proporcionou, ao contemplar as sucessivas tentativas estudadamente apagadas da Mariana, para vender o seu peixe, o que a Filipa Roseta, nobremente exaltada, mal permitiu, fez-me acudir à provecta mente uma canção provecta, sobre uma Mariana daqueles outros tempos de outras desditas sociais mais comezinhas, mas igualmente focadas nos machismos virtuosos dos nossos cantores de então. Ei-la:
Mariana
Uma pequena de cor morena
Linda serrana
Veio um dia p’ra Lisboa
Um marinheiro loiro estrangeiro
Disse-lhe OK
Ela sorriu, ele abraçou
E ao beijá-la quase a chorar
Jurou levá-la pr’ó outro lado do mar

Mariana lá da serra
Não saias da tua terra
Para seres americana
Ó tirana que és tão bela
Deixa o marujo ir à vela
Tem cautela Mariana.

Um certo dia sem alegria
Quando o Sol dorme
Sem querer dar luz nem calor
Perto do Tejo um longo beijo
Partiu a amarra que prendia
Aquele amor
Tempo depois, feliz talvez,
Ficaram dois
Na esperança de serem três
Compositor: Fernando De Carvalho / Francisco Ribeiro

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