Já a tenho ouvido mais vezes, nunca a
procuro, mas ela vem-me por vezes à mão, por conta do comando impaciente que
vou premindo, em busca de notícia ou de programa de recreio. Foi no canal 5, desta vez,
o recreio, a entrevistadora chama-se Sara, de quem
não captei o apelido, as entrevistadas foram Filipa
Roseta, do PSD e Mariana
Mortágua, do Bloco de
Esquerda. O tema da discussão centrou-se sobre a questão dos “alunos
transgénero” - embora não se tivesse
usado por ora esse termo escabroso - que o Bloco
de Esquerda, pela voz doce e suavemente insinuante de MM, foi aparentemente defendendo. Eu diria, contudo, que
foi antes, soturnamente, emporcalhando, na vileza do assunto em questão que, ao
contrário do que afirma sobre a injustiça da crueldade que sobre esses alunos
se exerce - ao defender para esses uma privacidade na escolha das casas de banho
das escolas, tal chamará mais a atenção sobre esses, de cujo problema os
colegas talvez nem se apercebam, pois não creio que sejam assim tantos os que preferirão
exibir o seu “desvio” de “género”.
Mariana Mortágua usou,
naturalmente, os designativos “respeito
pelos direitos humanos” que com tanto fervor defende, na qualidade de um charlatanismo
progressista do partido - e dela própria em crescendo virtuoso - que vai
sucessivamente arrancando os temas da sua preferência devota, contra o bom
senso da – ainda – maioria. Nessa maioria se destacou com brilho Filipa Roseta, que referiu a protecção da liberdade
de cada um, a não promoção das divisões sociais, instigando ao ódio como o
fazem os do Bloco, e, sobretudo, a necessidade do respeito por todos os alunos,
criando casas de banho em condições higiénicas, que a maioria das escolas não
tem, (nem, de resto, se considera uma regra de cidadania educar para o respeito
– do espaço e do “outro” - as casas de banho públicas – tal como nas escolas –
mostrando bem quanto esses princípios não fazem parte dos nossos preceitos
educativos. Mas, enfim, o recreio que a entrevista me proporcionou, ao
contemplar as sucessivas tentativas estudadamente apagadas da Mariana, para vender o seu peixe, o que
a Filipa Roseta, nobremente
exaltada, mal permitiu, fez-me acudir à provecta mente uma canção provecta,
sobre uma Mariana daqueles outros tempos de outras desditas sociais mais
comezinhas, mas igualmente focadas nos machismos virtuosos dos nossos cantores
de então. Ei-la:
Mariana
Uma pequena
de cor morena
Linda serrana
Veio um dia p’ra Lisboa
Um marinheiro loiro estrangeiro
Disse-lhe OK
Ela sorriu, ele abraçou
E ao beijá-la quase a chorar
Jurou levá-la pr’ó outro lado do mar
Linda serrana
Veio um dia p’ra Lisboa
Um marinheiro loiro estrangeiro
Disse-lhe OK
Ela sorriu, ele abraçou
E ao beijá-la quase a chorar
Jurou levá-la pr’ó outro lado do mar
Mariana lá da serra
Não saias da tua terra
Para seres americana
Ó tirana que és tão bela
Deixa o marujo ir à vela
Tem cautela
Mariana.
Um certo dia
sem alegria
Quando o Sol dorme
Sem querer dar luz nem calor
Perto do Tejo um longo beijo
Partiu a amarra que prendia
Aquele amor
Tempo depois, feliz talvez,
Ficaram dois
Na esperança de serem três
Quando o Sol dorme
Sem querer dar luz nem calor
Perto do Tejo um longo beijo
Partiu a amarra que prendia
Aquele amor
Tempo depois, feliz talvez,
Ficaram dois
Na esperança de serem três
Compositor: Fernando De Carvalho
/ Francisco Ribeiro
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