Uma lição acerca de uma doutrinação
política – aquela cuja nomenclatura nos define como governo, hoje, pois que o
povo é o mesmo – talvez um pouco mais industriado – que o que viveu sob outros
regimes, a começar pela monarquia absoluta e a acabar no regime do Estado Novo.
Um povo amordaçado mas que trabalhava na sua courela, pobre que fosse mas sua. O
regime implantado distribuiu os dinheiros, mas retirou a consciência do dever,
que já definia os populares que Fernão
Lopes descreveu como altivos e bravos defensores da sua terra. O certo é que
nos formámos como nação, contra os poderes de uma Espanha unificadora, e mais
tarde até singrámos por vias marítimas, prova de que algo fizemos de grandioso
no mundo, que nos deve orgulhar, sim. Quanto ao governo socialista / comunista,
julgo que está para ficar, amordaçando o povo com as suas côdeas e
retirando-lhe a consciência da dignidade, no parasitismo que naturalmente
emperram a máquina da evolução, por conta do auxílio alheio em que se foi
mergulhando, pelos vistos, sem retorno. Ainda hoje ouvi os descritivos de José Hermano Saraiva sobre a
CUF, um autêntico império de riqueza e trabalho que uma revolução destruiu,
nacionalizando-o, primeiro. Extraordinárias lições as deste José Hermano Saraiva, que não
teve medo de apontar o erro de um país de inveja, avidez e trafulhice, que o
foram destruindo. E continuam. Uma lição, este texto de ANDRÉ
ABRANTES AMARAL, complementado por tantos seus comentadores.
Um texto de apoio, retirado da
Internet, como homenagem a esse fundador do império CUF, comprovativo de
capacidade e determinação portugueses, no trabalho:
«Alfredo da Silva GCMAI (Lisboa,
30 de junho
de 1871
— Sintra,
22 de agosto
de 1942)
foi um industrial português, um dos maiores empreendedores numa época em que
contrastava com o ritmo de Portugal. Foi o fundador de um império abrangendo
empresas emblemáticas, como a Companhia União Fabril (CUF), a Tabaqueira,
o Estaleiro da Rocha do Conde de Óbidos (depois Lisnave),
o Banco Totta e Companhia de
Seguros Império.»
A sobrevivência do socialismo /premium
OBSERVADOR, 21/8/2019
O socialismo é a protecção de um sector
contra os que ficam de fora. O desejo de ordem e a desresponsabilização é
natural entre os que querem segurança a todo o custo.
O socialismo
está vivo apesar de já de ter morrido inúmeras vezes. Terá sete vidas como
os gatos, ou então nem isso, a sua continuação advém simplesmente
da vontade inata no ser humano de mandar na vida dos outros. O pôr e dispor da vida de terceiros é normalmente
acompanhada de excelentes intenções (ninguém diz que quer controlar o próximo,
há sempre algures um auto-proclamado bom samaritano convencido das suas
intrínsecas qualidades que apenas, como boa pessoa que é, pretende transmitir
aos outros que, normalmente e por defeito, não compreendem as suas boas
intenções). É assim que o socialismo está vivo apesar de ter sido
experimentado, ter falhado e declarado morto vezes sem conta.
Foi desta forma que depois de
conduzir o Estado português à bancarrota em 2011, o PS conseguiu regressar ao
governo em 2015 e se prepara para vencer em 2019, deixando a direita, que
receia afirmar-se como não socialista, de rastos. É preciso esclarecer que, ao
contrário do que muitos socialistas que eventualmente estejam a ler esta
crónica já estão a pensar, o pôr e dispor da vida dos outros nada tem que ver
com o Estado social. Aliás, o
Estado social, as políticas sociais de apoio aos mais desfavorecidos, tem muito
pouco a ver com o socialismo, menos ainda com o socialcomunismo que nos
governa. Não me vou deter na degradação do SNS (incomparável com os
tempos da austeridade), nem dos transportes públicos, do mau estado das
estradas, do atraso no pagamento das pensões, do mal-estar generalizado entre
os devidamente adormecidos, dormentes, comportamento próprio de quem espera o
pior, mas com a esperança de escapar ileso. Não vale
a pena deter-me nestes e noutros exemplos para concluir o que se sabe: que o
Estado social nada tem que ver com o socialismo. Nem histórica nem
factualmente. Nada.
Então
por que motivo é que o socialismo resiste ainda e sempre à morte ocorrida vezes
em conta? Porque, da mesma forma que é inato ao ser humano meter-se na vida dos
outros, é também normal que deseje
protecção. E não nos podemos esquecer que entre os que mais
gostam de ser protegidos os Portugueses surgem nos primeiros lugares. A
protecção é para muitos o melhor que podem desejar nem que tal implique o
tédio, a rotina de fazerem sempre e sempre a mesma coisa até que o caixão os
leve. Viver seguro nem que isso implique uma morte espiritual. É claro que,
da mesma forma que o Estado social não tem a ver com socialismo, sentir-se
seguro aqui nada tem que ver com segurança física. Não é da segurança nas ruas
e da inexistência de atentados a que me refiro, para não esquecer a insegurança
que sentimos com os incêndios. A segurança física vale ouro e, já agora, também
nada tem que ver com socialismo. Aquilo a que me refiro é a garantia
do emprego para a vida. E isso o socialismo já assegura nem que a troco da
insegurança dos que ficam de fora. Dos
que não trabalham no Estado, ou nas grandes empresas (ditas estratégicas). É
esta segurança no emprego que está por trás da ideia de que o desemprego jovem
se combate com o fim dos contratos a prazo e que a liberdade de mudar de
emprego seja encarada como precariedade.
O
socialismo é protecção de um sector da sociedade contra os que ficam de fora e
mais ainda. É ordem e o desejo de que o socialismo sobreviva a todo o custo.
Quanto à ordem não percebo a surpresa manifestada com a reacção à greve dos
motoristas de matérias perigosas da parte de um governo socialista que tem o
apoio de forças comunistas. O desejo de ordem é naturalíssimo entre os que
querem segurança. Foi assim com Salazar, como assim está a ser com o
socialcomunismo. A
segurança que advém do emprego certo e da ordem pública implica que o exercício
do direitos à greves e às manifestações e às críticas e às exigências e a
qualquer outro tipo de descontentamento só possam ser exercidos pelos sectores
autorizados. Pelos sectores controlados por quem troca direitos inalienáveis,
próprios de um Estado de Direito, por umas ajudas de custo, uns minutos para
almoço, um subsídio que compense um risco aparente, por algo que os que estão
de fora possam pagar e que faça com que os que estão por dentro se calem. É
a chamada ordem por decreto.
Claro que nada disto funciona ad
aeternum. Um dia o socialismo morre outra vez como morreu já tantas outras
vezes. É neste momento que o seu espírito de sobrevivência desperta. Para que
volte a renascer, qual fénix, o socialismo não pode ser responsabilizado pelos
seus falhanços. Tal como sucede com a culpa, a responsabilidade do seu fracasso
terá de ser de outro que não dele.
Ora vejamos: durante os últimos quatro anos, algumas pessoas chamaram a
atenção para o facto de o governo viver unicamente dos frutos da governação
anterior e do bem-estar da economia mundial. O governo foi alertado que os
benefícios da governação anterior não se manteriam se as reformas não
continuassem e que depois da expansão económica viria uma recessão. Houve mesmo
quem chamasse a atenção que o crescimento económico nos EUA e na Europa era
pernicioso, pois a dívida continuava e, em alguns casos (como em Portugal), se
agravava. O governo de António Costa preferiu ignorar estes
avisos. Preferiu o caminho mais fácil que é o de deixar as coisas correrem. Foi
andando, empurrou com a barriga, gozou com a história do Diabo, como quiserem.
O certo é que nada fez.
Na
semana passada surgiram novos avisos para uma possível recessão nos EUA e na
Alemanha. A guerra comercial entre os EUA e a China, o
endividamento das economias (a chinesa, incluída) são alguns dos motivos de
preocupação. Tal como em 2011 o nosso país não está minimamente preparado. O
défice pode ser baixo relativamente ao PIB, mas a dívida é hoje muito maior.
Não há margem para medidas semelhantes às de 2008 e 2009. O mercado de trabalho
continua estagnado. Tirando a abertura de uns restaurantes, hotéis e
alojamentos locais, pouco mais aconteceu neste jardim à beira-mar plantado. E é
assim que por cá o socialismo vai falhar e morrer novamente, mas a culpa ficará
com outro qualquer. Enquanto isso e depois, a rotina continua e António Costa
poderá dormir descansado até ao fim dos seus dias. Assim seja.
André Abrantes Amaral é advogado
COMENTÁRIOS
Joaquim
Zacarias: O socialismo é
uma fábrica de pobres.
manel buiça: Parabéns pelas facetas descritas sobre esta dimensão e expressão do
Pensamento Linear, a mãe da coisa. O Socialismo é a expressão perfeita da
natureza mais básica, egoísta e autoritária da Consciência Humana aplicada à
organização social e económica. Estrutura-se a partir dos medos e pulsões de
sobrevivência mais arcaicos e organiza-se moral e filosoficamente no simplismo
infantil do maniqueísmo dualista e na consequente divisão entre dois pólos e
dois processos. É a cultura e religião da vitimização e, logo, da necessidade
de tomar o poder aos opressores para salvar e manter o conforto, segurança e
controlo do rebanho dos oprimidos. Através de novos opressores, é claro,
mascarados de justiceiros e bons pastores. Rebanho e pastores aceitam o jogo.
Equivalem-se e sustentam-se. Imagem dual de uns e de outros. Pai Estado e
filhos crianças cidadãos em perfeito equilíbrio de mútua dependência e ilusão
de Liberdade. Em suma, Portugal. O resto, basta olhar para este
país há décadas e observar a estagnação, dependência, indigência, manipulação,
corrupção e mentira do regime Socialista.
George Moriarty: Caro André Abrantes Amaral, A sua
observação sobre o socialismo português é digna de mérito. Devo, desde já,
felicitá-lo. Devo acrescentar que a sobrevivência do socialismo em Portugal tem
acontecido historicamente de duas formas: através da maçonaria e através de
nepotismo. A maçonaria tem sido a cortina que tapa os "favores" entre
os socialistas e o nepotismo serve para manter a existência tanto do socialismo
como da própria maçonaria. Sobre o
comunismo basta dizer que, por si só, é inconsistente. A Revolução Social
Comunista não passa de uma utopia. Aliás, quero ver qual é o comuna português
que não se importa em distribuir igualmente todos os seus bens económicos pela
sociedade sem esperar que o partido lhe dê uma remuneração. Ou seja, o
Comunismo é, em si, uma utopia em que nem os seus apoiantes acreditam.
Stra. Anabela Faísca: O socialismo estabelece uma hierarquia, em que o poder fica para a esfera
política, com aparente fortalecimento do Parlamento, cuja função é, no entanto,
apoiar o governo, mantendo a aparência de uma democracia constitucional, a
economia é "apadrinhada" pelo governo, sendo submetida, não só
através da legislação como de estruturas informais, a educação perde o seu
pendor científico e ganha peso ideológico e as famílias, de principal núcleo
social, passam a estruturas adjuntas às agencias do estado especializadas na
educação das novas gerações, podendo ser substituídas diretamente pelo estado,
se não cumprirem com os valores e práticas centralmente definidos. O socialismo
é um pântano onde a falta de oxigénio vai matando, progressivamente, a liberdade
e a vida.
Ahfan Neca: O socialiismo como bem disseram outros posteiros anteriores é apenas uma
máquina de poder. Nada mais é relevante. O amor aos pobrezinhos é apenas um pretexto para chegar ao poder. Os pobrezinhos quando dão por
ela passam a miseráveis.
António Silva: Mas o PS alguma vez foi socialista? Fundado por burgueses bem instalados na
vida, maçons a maior parte deles, filhos e netos de antigos republicanos como é
que um partido destes podia ser socialista? É só uma questão de nome deram-lhe
esse nome e mais nada e vivem do nome. O Sócrates tuga , não o grego ,
tem o nome mas não é filósofo. Enfim -é um partido de arranjistas isso sim
Jay Pi > António Silva: Soares deu os seus primeiros passos na política sendo
filiado no partido comunista.
Jay Pi > António Silva: Do fundador ao actual líder o PS não evoluiu. É uma
agremiada de marxistas doutrinados no comunismo....
Antonio Fonseca > Jay Pi: O Socialismo é a sociedade sem classes e a posse colectiva
dos meios de produção. A variante tem a ver tão só com o caminho para lá chegar
e determinar os felizardos que vão deter o poder (não dá para todos) O COMUNISMO, por
exemplo, procura alcançar o socialismo através da DITADURA DO PROLETARIADO.
Jay Pi: O PS é um partido marxista que procura implantar o socialismo pleno,
vulgarmente conhecido por comunismo... O
maior embuste da história portuguesa: o PS ter conseguido convencer eleitorado
e até muitos militantes de que é um partido social democrata.
Carlitos Sousa: Parabéns pelo artigo que põe a nu as verdades do socialismo. Raramente se lê algo tão assertivo
e verdadeiro. E o problema real, é que uma grande maioria do eleitorado nacional, deseja
essa protecção paternalista que tão bem descreve. Resultado – teremos socialismo
ainda por muitos anos, enquanto o Estado, com os impostos de todos nós,
conseguir dar essa protecção às “massas trabalhadoras”.
victor guerra: Assim que o BCE acabar0 com o controle administrativo dos juros e da
taxa de câmbio (que tanto criticaram à China) Portugal está com dívidas que
farão desequilibrar a economia. Qualquer criança percebe isto, mas aqui gostam
da mentira sistemática
Adelino Lopes: Não poderia estar mais de acordo. Acrescentaria que, nas actuais
democracias, o renascimento do socialismo, e/ou outros populismos é directamente
proporcional ao nível cultural dos votantes: pão e circo como dantes.
Maria
Nunes: Excelente
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