Salles
da Fonseca preocupa-se, como qualquer cidadão de bom senso, com
o estado das economias nacionais, que atribui a baixa de preços na restauração
e à redução do IVA, esta como medida de eficácia eleitoralista, pois que
A. Costa não perde pitada no processo de se alcandorar novamente no poder, e
nem se importa de gastar milhões para sua promoção, no que, de resto, é
seguido, com maior ou menor moderação, pelos demais partidos. Eu gabo a coragem
dos componentes partidários nestes percursos eleitoralistas, que o que tem as
rédeas do poder efectua com maior firmeza de convicções, nos calores de Agosto
que se vai extinguindo, mas Setembro e Outubro não deixarão de continuar a ofertar-nos
os espectáculos destas caravanas de sucesso a que a democracia nos
habituou. Julgo que os programas turísticos que a RTP, sobretudo, tem efectuado,
por esse país fora, mostrando as características das terras, merecem também referência,
não só quanto ao bom desempenho dos vários protagonistas da cena, animadores da
RTP, como aos seus convidados, que vêm mostrar facetas das terras do nosso país,
apelativos, julgo, de desenvolvimento turístico gerador de receitas também, além de conhecimentos topográficos que transmitem e de outros sabores também..
Salles da Fonseca, ao debruçar-se sobre
o estado das finanças no nosso país, tenta, apesar de tudo, transmitir-nos um
certo optimismo e esperança. Oxalá tenha razão.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 28.08.19
(estado
de quem não tem febre)
De acordo com a informação
oficial, em Julho de 2019, o índice de preços no consumidor em Portugal desceu
0,3% em relação ao período homólogo (Julho de 2018). Diz o INE que o fenómeno se
ficou a dever à baixa nos preços praticados na restauração e na hotelaria bem
como à redução do IVA no gás e na electricidade.
A
ser assim, dá para ficarmos mais tranquilos do que ficaríamos se a baixa dos
preços resultasse de causas mais profundas, nomeadamente de políticas públicas
activas.
Efectivamente,
a euforia que reinava na hotelaria e na restauração tinha que abrandar sob
pena de levar os turistas para outras paragens e, de repente, ficarmos todos a
chuchar no dedo por termos partido a «corda» de tanto dela abusarmos. Se
os empresários do sector se decidiram pôr alguma moderação, só demonstraram
sensatez. O caminho por que vinham trilhando era favorável ao Norte de África
como destino turístico, apesar de alguns perigos que sempre se perfilam por aqueles
azimutes.
Relativamente
à redução do IVA, trata-se de uma medida administrativa de cariz pré-eleitoral
sem qualquer relevância na análise económica ou da conjuntura financeira
global. Não quer isto, contudo, dizer
que a medida não tenha consequências na problemática orçamental, no
equilíbrio das contas públicas e na redução do stock da dívida. Mas isto é
futuro e o que por agora interessa é o passado.
O
perigo seria que a deflação resultasse das restrições orçamentais em curso
pela via das cativações mas, pelos vistos, quem está na posse dos números
(INE), não assesta armas nesse sentido como acima refiro e eu fico muito
tranquilo. Mais: respiro mesmo de alívio ao constatar que a presente
deflação resulta da correcção de exageros e não de sangria de fundos que
fizessem efectiva falta à economia, que a política em curso de anulação do
défice público não encontrou aqui qualquer obstáculo e que a eleitoralista
redução do IVA deixa adivinhar que existe alguma almofada por aí escondida onde
possamos descarregar o peso de alguns actos de manipulação polítiqueira.
Perigoso seria que os preços
tivessem baixado como reacção a uma quebra involuntária da procura e isso, sim,
seria escandaloso quando o modelo socialista de desenvolvimento tem no consumo
um motor que considera importante. Mas não, o consumo interno continua pujante, a balança de bens
até já voltou aos défices, o endividamento sobre o exterior está impante, o
crédito às famílias a retomar tempos anteriores à troika, a bolha da habitação
a dizer que há muita gente que não aprendeu nada.
Sim, ensandecidos mas em apirexia.
Agosto
de 2019
Henrique
Salles da Fonseca
2 COMENTÁRIOS
Anónimo,
29.08.2019: Apirexia
não tem tratamento. Só a selecção manipulada por homens... o que seria ainda
pior!
Anónimo 29.08.2019:_Henrique, estou-te grato pela diversidade de temas que
tratas e por me haveres ensinado a existência da palavra “apirexia”.
Gentilmente, dás logo o seu conceito a pensar em pessoas como eu, mas não me
fiquei pela tua caracterização e fui consultar (em má hora, diga-se) um
dicionário de termos médicos e encontrei a seguinte definição para a dita
palavra: “falta de febre ou período sem febre numa doença febril”. Perante este
conceito, interroguei-me em qual das duas hipóteses o meu Amigo teria posto o
momento que Portugal vive e, após alguma reflexão, concluí que só poderia ser
na segunda – período sem febre numa doença febril. Com efeito, continuamos
confrontados com uma elevada expressão da dívida externa, quer em valor
absoluto quer relativo ao PIB, assim como com o fraco crescimento económico
que, embora superior à média europeia (condição necessária), não é suficiente
por estar abaixo de outros países com os quais nos comparamos, pelo que
corremos sério risco de virmos a ser a lanterna vermelha europeia. Tudo isto conjuga
para que padeçamos ainda de doença febril. Verdade deve ser dita que o anterior
e o actual Governo esforçaram-se para debelar a doença, ouvindo-se
frequentemente que o Governo Costa/Centeno (O Governo será todo Centeno?) não
teria tido sucesso se não tivesse havido o saneamento macroeconómico feito pelo
anterior. A isso respondo que os Governos de Cavaco Silva (1985/95) também não
teriam feito o brilharete que fizeram se não fossem as dolorosas acções tomadas
pelo governo Mário Soares/Ernâni Lopes (1983/85). É a vida política!... Aspecto
que também me suscita, tal como a ti, atenção é o voltar ao défice da balança
de bens. Diziam-me um amigo e governante da área das Finanças, infelizmente já
falecido, que quando a política fiscal permitia algum aumento do rendimento
disponível das famílias, isso reflectia-se logo negativamente na balança
comercial, tal a elasticidade desta. É claro que esse défice pode ser virtuoso
se as importações de bens de equipamento forem as responsáveis. Mas então é
preciso que nos digam qual é a parte das importações respeitante a automóveis
da parte relativa a tractores e autocarros, para podermos ajuizar de quão virtuoso
é o défice daquela balança. Por razões deontológicas, não aprofundo a tua
última frase, mas nada me impede de fazer duas considerações, a saber: 1)
fiquei admirado de que o Banco de Portugal tivesse tido a necessidade de impor
aos bancos determinados parâmetros na concessão de crédito à habitação,
parâmetros esses que são de uma razoabilidade meridiana e que todos deveriam
ter seguido voluntariamente e 2) subscrever o teu sentimento que parece (tu és
mais categórico) que há muita gente que não aprendeu nada. Não gostaria de
terminar este comentário, apesar já da sua extensão (não consigo fazê-los mais
curtos), com uma afirmação tão angustiante, pelo que, com a tua permissão, cito
um episódio brasileiro humorístico real que o tema da inflação/deflação e a
frase que utilizaste “chuchar no dedo” me fizeram recordar. Passou-se no Brasil
(o País está na moda), nos anos 60, na ditadura militara. Ora, nesses tempos,
no cabaz de produtos que servia de base ao índice de preços do consumidor,
constava um legume, rico em propriedades, denominado “chuchu”, cujo peso, no
cabaz, era, obviamente, mínimo. Por razões que já não me recordo, talvez por
motivos climatéricos conjunturais, houve rarefacção na oferta do chuchu e o
preço subiu bastante, continuando, claro, o legume a ter uma importância
reduzidíssima no índice. Mas a ditadura queria encontrar um responsável para a
subida da inflação, e logo apontou o chuchu. Cobriram-se de ridículo e o cantor
Juca Chaves atirou-lhes uma balada certeira. Foi caso para dizer que o pobre do
brasileiro ficou a chuchar não no dedo mas sim no chuchu. Abraço.
Carlos
Traguelho
Adriano Lima, 29.08.2019: Li
com atenção e muito proveito tanto este artigo como a intervenção de Carlos
Traguelho. São dois importantes contributos para o debate sobre a situação
económica e financeira do país.
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