Investir em creches, para melhor
sociabilizar, ao invés de criar condições de funcionalidade escolar, pelo
cumprimento de regras que não sejam uma mascarada de preparação para a vida,
como é hoje em dia na maioria dos espaços escolares… Creches, mais um processo
de separar as crianças da família, que vai perdendo cada vez mais relevância,
num mundo massificado que o Estado manipulará se for de uma ideologia de esquerda…
Eu vejo mais nisso a criação de um espaço para a arregimentação mais precoce dos
rebanhos sociais. Mas sempre no miserabilismo de uma preparação sem grandes normas
educativas, por cá.
OPINIÃO
Um artigo reaccionário a favor de uma
proposta que não é reaccionária do PCP
Os jovens estão na moda, mas vale mais
investir e muito nas crianças e nos adultos, e aí concentrar os recursos
escassos.
JOSÉ PACHECO PEREIRA
PÚBLICO, 25 de Janeiro de 2020,
1. Este
é um artigo reaccionário, simplista, mas que do ponto de vista do autor é
verdadeiro, ou seja, o que se descreve existe como realidade e como problema,
senão não o escrevia. Simplista, porque seria preciso muito mais texto do que
permite o jornal para passar da impressão à crítica, mas se o faço mesmo assim
é porque penso que pode ser útil.
2. Por
várias razões, os adolescentes, os jovens, estão na moda, e as crianças e os
adultos, já para não falar nos velhos, não estão. A primeira coisa que
convém lembrar para se perceber o “estão na moda” é que nem sempre foi assim. No
passado, esse “país estrangeiro”, a importância simbólica das diferentes idades
e das experiências a elas associadas, assim como o seu valor social percebido,
foi muitas vezes bastante distinto. É por isso que digo, sem dúvida
simplificando, que a moda traduz a forma como no espelho da sociedade se mede a
importância de cada idade, e por razões culturais, económicas e sociais esta
importância muda com os tempos. E hoje é grande.
3. Uma das
razões por que os jovens estão na moda tem que ver com a valorização simbólica
da força, da beleza, da vida com todo o tempo à frente, e os efeitos dessa moda
são particularmente visíveis na comunicação, nas indústrias da moda, do sexo e
do entretenimento, no desporto e nos jogos, e em todos os casos há muito
dinheiro em cima, como se vê na publicidade e no mercado. Daqui seguem-se uma série de estereótipos que, se
forem analisados, não dão os resultados que todos pensam dar e se revelam
ideias feitas. Por exemplo, todos os hackers nos filmes são nerds,
jovens disfuncionais socialmente a “trabalhar” numa cave escondida algures, e
nenhum alfarrabista nos filmes é jovem, mas um velho de barbas brancas metido
no meio de estantes de livros antigos que acumula os livros com as artes da
espionagem. Do mesmo modo, a caterva de personagens angustiadas nas
séries televisivas são todas de meia-idade. Estes estereótipos são repetidos
por páginas culturais e jornais de referência sempre a descobrir jovens
talentos que não duram um ano, escritos por jornalistas de meia-idade que
pensam que têm 18 anos.
4. Há
várias coisas que os jovens não fazem, a não ser as excepções, e uma é ler
livros e por isso o estereótipo da “geração mais bem preparada” é
um daqueles mitos que gostamos de alimentar, mas que soçobra ao mais pequeno
concurso televisivo de perguntas “culturais”, ou inquérito de rua sobre se
conhecem Cesário Verde, ou sobre o que estão a ler. Vão-me dizer que não
precisam de saber essas coisas, mas que têm outras “competências”. Uma treta
que não passa de saber usar um telemóvel, ou colocar posts e imagens
no Facebook (uma actividade onde “habitam” muitos adultos) e no Instagram, e
manejar meia dúzia de devices pouco elaborados que só espantam os
mais velhos, porque eles não o sabem fazer. O Fortnite, onde passam as noites,
isso sabem. Já sei que também me vão dizer que milhares de jovens pelo país
fora participam em grupos de teatro, são “artistas” plásticos, são músicos de
talento, e há toda uma indústria subsidiada pelo Estado e pelas autarquias, que
sem gente “nova” não existiria. Sim, é parcialmente verdade, mas experimentem
usar um qualquer critério de qualidade (mesmo neste período de intangibilidade
da cultura, eles existem…) para lhes medir o mérito. Como não se trata de
terapias ocupacionais, mas de actividades que se reivindicam de criativas, é
preciso medir o valor e os resultados.
5. Por
isso, muitas das iniciativas educacionais e culturais e os recursos que
mobilizam são muito mais eficazes se dirigidos às crianças e aos adultos,
tratando-se o “meio” de outra forma, sob pena de se fazerem enormes esforços
sem qualquer resultado útil, ou, dito de outra forma mais crua, vale mais
investir e muito nas crianças e nos adultos, e aí concentrar os recursos
escassos, para obter resultados sociais que depois atingirão os “meios”. Se,
por exemplo, se trata de aumentar a escolaridade obrigatória, como dizia Marçal
Grilo, mais vale fazê-lo para trás do que para a frente. E aqui é que
entra a proposta do PCP para o Orçamento deste ano,
de garantir “a gratuitidade de frequência de creche a todas as crianças cujo
agregado familiar pertença ao primeiro escalão de rendimentos da
comparticipação familiar até à entrada no ensino pré-escolar”.
6. Esta
é uma proposta que vai no sentido certo em conjunção com um muito maior esforço no pré-escolar,
porque ataca numa idade muito favorável a divisão entre pobres e ricos, nos
seus efeitos perversos que se reproduzem em toda a vida escolar, favorece uma
socialização equilibrada das crianças, permite que desde cedo muitas
competências e “vontades” possam ser moldadas para a leitura, para as línguas,
para a nossa muito maltratada língua, para chegar ao saber pela curiosidade.
Não é milagrosa, mas muda muito. Quando as crianças de hoje forem os novos
jovens daqui a uns anos, serão diferentes.
Colunista
COMENTÁRIOS
JLR, 26.01.2020: Pacheco Pereira tem toda a
razão. Esta proposta do PC é uma boa proposta e o artigo está muito bem
escrito. Gostei em particular da conclusão (o ponto 6.).
António GS, 25.01.2020: Muito bem, Pacheco
Pereira.
Albano, 25.01.2020: Se o comunismo é tão bom assim, porque
tão poucos países o adoptam? E não me venham de novo falar da China, porque
esta só começou a andar para a frente depois que adoptou a economia
capitalista!
joane
hou, 25.01.2020: Ó Albano, brinque, olhe que os comunistas
até parecem bons a fazer "trocos"; o PCP é o partido mais rico de
Portugal e com as continhas em ordem, facto, goste ou não...
phil.clh,
26.01.2020: ó albano...vá dormir que o seu mal é sono. Ou leia um bom livro
e aprenda alguma coisa e deixe estes assuntos para quem tem alguma cultura.
Vitor Amaral, 25.01.2020: "... para chegar ao saber pela curiosidade."
Este saber deveria ser uma das principais permissas em todos os níveis da
escola e na vida quotidiana de cada um. Deixar de lado a memorização.
Umaizum, 25.01.2020: Esta medida proposta pelo PCP é
fundamental, e o facto da nossa sociedade ainda não ter a creche e o
pré-escolar para todos, mostra bem o atraso que ainda temos que recuperar. Isto
sim, é uma medida que favorece a natalidade.
JonasAlmeida, 25.01.2020: Sim, sem dúvida, os muito jovens sem
acesso ao pré-escolar crescerão nas ruas do digital mais degradado. Marca a sua
infância indelevelmente. A gratuitidade do pré-escolar é assim obviamente uma
excelente medida. Faz impressão que não seja já o caso dado o número cada vez
menor (mais precioso) de crianças. Esta medida vir do PCP abona o PCP, mas o
interesse é geral, apartidário.
Sandra, 26.01.2020: Jonas, o interesse do PCP é sempre
apartidário, ainda bem que o a reconhecer o óbvio. As propostas do PCP visam
acima de tudo o interesse dos trabalhadores e do povo, sim, isso mesmo,
trabalhadores e povo, acima do próprio Partido. O Partido serve para defender
os interesses da população, não para se servir a si próprio. Nunca foi, nem
será.
amora.bruegas,
25.01.2020: O autor contiua
amarrado ao maoismo..., muita demagogia bem coberta de açúcar.
Manuel Brito, 25.01.2020 : A D. Amora por sua vez ficou enredada no
salazarismo, que lhe tolheu o raciocínio. Que parte do que Pacheco Pereira
escreveu tem a ver com o maoísmo é um segredo que só ela conhece.
Umaizum, 25.01.2020: bruegas diz népias.
Colete Amarelo, 25.01.2020 11: O
que é preciso é dar asas à imaginação e à inteligência das crianças, e dos
jovens.
rafael.guerra, 25.01.2020: Os jovens estão na moda? Como dizia Jean
Cocteau, a moda é o que sai de moda.
bento guerra, 25.01.2020: Investir nos futuros votantes a prazo. A
Igreja também o faz em nome da "vida eterna".
Colete Amarelo, 25.01.2020: Espelho da sociedade vista através do que
cada faixa etária é e representa no todo social, e de como poderão ser educadas
a reencontrar um caminho benéfico para esse todo. Os jovens andam alienados dos
valores que assumimos como edificantes. Construíram-se a si mesmos com
aprendizagens que os "velhos" abominam e não dominam. Qualquer jovem
esclarecido e com acesso à net está um passo à frente dos "velhos".
Se os jovens, em geral, como diz JPP, apenas se evidenciam pelo domínio de
aplicações sem qualquer valor, é porque os "velhos" não os ensinaram
a usar as tecnologias de uma forma mais benéfica. É isso que é necessário:
encaminhar as crianças a dominarem as novas tecnologias e não a serem dominadas
por elas. Estratégias de aprendizagem que passem pelo que toca os jovens.
César Valença, 25.01.2020: O Artigo de Pacheco Pereira é magistral.
A proposta do PCP é perfeita. Não sou nem nunca fui comunista, mas tenho senso
suficiente para aprovar e elogiar as propostas correctas independentemente da
fonte.
amora.bruegas, 25.01.2020 : A proposta do PCP é típica demagogia
marxista. A "preocupação" deles ficou bem patente na forma como
manipularam (e continuam!) a manipular a juventude na URSS, na China, Coreia do
Norte, Cuba e Angola. Gente fanatizada, vazia, mas violenta contra quem pensa
diferente.
Manuel Brito, 25.01.2020: Que bem que a D.
Amora.bruegas se descreve a si própria.
publico1234567, 25.01.2020 : "Gente fanatizada, vazia, mas
violenta contra quem pensa diferente." - Está a falar da "caça às
bruxas" nos EUA?
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