segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Será assim?



Investir em creches, para melhor sociabilizar, ao invés de criar condições de funcionalidade escolar, pelo cumprimento de regras que não sejam uma mascarada de preparação para a vida, como é hoje em dia na maioria dos espaços escolares… Creches, mais um processo de separar as crianças da família, que vai perdendo cada vez mais relevância, num mundo massificado que o Estado manipulará se for de uma ideologia de esquerda… Eu vejo mais nisso a criação de um espaço para a arregimentação mais precoce dos rebanhos sociais. Mas sempre no miserabilismo de uma preparação sem grandes normas educativas, por cá.
OPINIÃO
Um artigo reaccionário a favor de uma proposta que não é reaccionária do PCP
Os jovens estão na moda, mas vale mais investir e muito nas crianças e nos adultos, e aí concentrar os recursos escassos.
JOSÉ PACHECO PEREIRA
PÚBLICO, 25 de Janeiro de 2020,
1. Este é um artigo reaccionário, simplista, mas que do ponto de vista do autor é verdadeiro, ou seja, o que se descreve existe como realidade e como problema, senão não o escrevia. Simplista, porque seria preciso muito mais texto do que permite o jornal para passar da impressão à crítica, mas se o faço mesmo assim é porque penso que pode ser útil.
2. Por várias razões, os adolescentes, os jovens, estão na moda, e as crianças e os adultos, já para não falar nos velhos, não estão. A primeira coisa que convém lembrar para se perceber o “estão na moda” é que nem sempre foi assim. No passado, esse “país estrangeiro”, a importância simbólica das diferentes idades e das experiências a elas associadas, assim como o seu valor social percebido, foi muitas vezes bastante distinto. É por isso que digo, sem dúvida simplificando, que a moda traduz a forma como no espelho da sociedade se mede a importância de cada idade, e por razões culturais, económicas e sociais esta importância muda com os tempos. E hoje é grande.
3. Uma das razões por que os jovens estão na moda tem que ver com a valorização simbólica da força, da beleza, da vida com todo o tempo à frente, e os efeitos dessa moda são particularmente visíveis na comunicação, nas indústrias da moda, do sexo e do entretenimento, no desporto e nos jogos, e em todos os casos há muito dinheiro em cima, como se vê na publicidade e no mercado. Daqui seguem-se uma série de estereótipos que, se forem analisados, não dão os resultados que todos pensam dar e se revelam ideias feitas. Por exemplo, todos os hackers nos filmes são nerds, jovens disfuncionais socialmente a “trabalhar” numa cave escondida algures, e nenhum alfarrabista nos filmes é jovem, mas um velho de barbas brancas metido no meio de estantes de livros antigos que acumula os livros com as artes da espionagem. Do mesmo modo, a caterva de personagens angustiadas nas séries televisivas são todas de meia-idade. Estes estereótipos são repetidos por páginas culturais e jornais de referência sempre a descobrir jovens talentos que não duram um ano, escritos por jornalistas de meia-idade que pensam que têm 18 anos.
4. Há várias coisas que os jovens não fazem, a não ser as excepções, e uma é ler livros e por isso o estereótipo da “geração mais bem preparada” é um daqueles mitos que gostamos de alimentar, mas que soçobra ao mais pequeno concurso televisivo de perguntas “culturais”, ou inquérito de rua sobre se conhecem Cesário Verde, ou sobre o que estão a ler. Vão-me dizer que não precisam de saber essas coisas, mas que têm outras “competências”. Uma treta que não passa de saber usar um telemóvel, ou colocar posts e imagens no Facebook (uma actividade onde “habitam” muitos adultos) e no Instagram, e manejar meia dúzia de devices pouco elaborados que só espantam os mais velhos, porque eles não o sabem fazer. O Fortnite, onde passam as noites, isso sabem. Já sei que também me vão dizer que milhares de jovens pelo país fora participam em grupos de teatro, são “artistas” plásticos, são músicos de talento, e há toda uma indústria subsidiada pelo Estado e pelas autarquias, que sem gente “nova” não existiria. Sim, é parcialmente verdade, mas experimentem usar um qualquer critério de qualidade (mesmo neste período de intangibilidade da cultura, eles existem…) para lhes medir o mérito. Como não se trata de terapias ocupacionais, mas de actividades que se reivindicam de criativas, é preciso medir o valor e os resultados.
5. Por isso, muitas das iniciativas educacionais e culturais e os recursos que mobilizam são muito mais eficazes se dirigidos às crianças e aos adultos, tratando-se o “meio” de outra forma, sob pena de se fazerem enormes esforços sem qualquer resultado útil, ou, dito de outra forma mais crua, vale mais investir e muito nas crianças e nos adultos, e aí concentrar os recursos escassos, para obter resultados sociais que depois atingirão os “meios”. Se, por exemplo, se trata de aumentar a escolaridade obrigatória, como dizia Marçal Grilo, mais vale fazê-lo para trás do que para a frente. E aqui é que entra a proposta do PCP para o Orçamento deste ano, de garantir “a gratuitidade de frequência de creche a todas as crianças cujo agregado familiar pertença ao primeiro escalão de rendimentos da comparticipação familiar até à entrada no ensino pré-escolar”.
6. Esta é uma proposta que vai no sentido certo em conjunção com um muito maior esforço no pré-escolar, porque ataca numa idade muito favorável a divisão entre pobres e ricos, nos seus efeitos perversos que se reproduzem em toda a vida escolar, favorece uma socialização equilibrada das crianças, permite que desde cedo muitas competências e “vontades” possam ser moldadas para a leitura, para as línguas, para a nossa muito maltratada língua, para chegar ao saber pela curiosidade. Não é milagrosa, mas muda muito. Quando as crianças de hoje forem os novos jovens daqui a uns anos, serão diferentes.
Colunista
COMENTÁRIOS
Azerbineia Lda: Muito obrigado Muito Obrigado Muito Obrigado
JLR, 26.01.2020: Pacheco Pereira tem toda a razão. Esta proposta do PC é uma boa proposta e o artigo está muito bem escrito. Gostei em particular da conclusão (o ponto 6.).
António GS, 25.01.2020: Muito bem, Pacheco Pereira.
Albano,  25.01.2020: Se o comunismo é tão bom assim, porque tão poucos países o adoptam? E não me venham de novo falar da China, porque esta só começou a andar para a frente depois que adoptou a economia capitalista!
joane hou, 25.01.2020: Ó Albano, brinque, olhe que os comunistas até parecem bons a fazer "trocos"; o PCP é o partido mais rico de Portugal e com as continhas em ordem, facto, goste ou não...
phil.clh, 26.01.2020:  ó albano...vá dormir que o seu mal é sono. Ou leia um bom livro e aprenda alguma coisa e deixe estes assuntos para quem tem alguma cultura.
Vitor Amaral, 25.01.2020: "... para chegar ao saber pela curiosidade." Este saber deveria ser uma das principais permissas em todos os níveis da escola e na vida quotidiana de cada um. Deixar de lado a memorização.
Umaizum, 25.01.2020: Esta medida proposta pelo PCP é fundamental, e o facto da nossa sociedade ainda não ter a creche e o pré-escolar para todos, mostra bem o atraso que ainda temos que recuperar. Isto sim, é uma medida que favorece a natalidade.
JonasAlmeida, 25.01.2020: Sim, sem dúvida, os muito jovens sem acesso ao pré-escolar crescerão nas ruas do digital mais degradado. Marca a sua infância indelevelmente. A gratuitidade do pré-escolar é assim obviamente uma excelente medida. Faz impressão que não seja já o caso dado o número cada vez menor (mais precioso) de crianças. Esta medida vir do PCP abona o PCP, mas o interesse é geral, apartidário.
Sandra, 26.01.2020: Jonas, o interesse do PCP é sempre apartidário, ainda bem que o a reconhecer o óbvio. As propostas do PCP visam acima de tudo o interesse dos trabalhadores e do povo, sim, isso mesmo, trabalhadores e povo, acima do próprio Partido. O Partido serve para defender os interesses da população, não para se servir a si próprio. Nunca foi, nem será.
amora.bruegas, 25.01.2020:  O autor contiua amarrado ao maoismo..., muita demagogia bem coberta de açúcar.
Manuel Brito, 25.01.2020 : A D. Amora por sua vez ficou enredada no salazarismo, que lhe tolheu o raciocínio. Que parte do que Pacheco Pereira escreveu tem a ver com o maoísmo é um segredo que só ela conhece.
publico1234567, 25.01.2020 : Argumentos = 0... próprio de Sal.azaristas.
Umaizum,  25.01.2020: bruegas diz népias.
Colete Amarelo, 25.01.2020 11:  O que é preciso é dar asas à imaginação e à inteligência das crianças, e dos jovens.
rafael.guerra,  25.01.2020: Os jovens estão na moda? Como dizia Jean Cocteau, a moda é o que sai de moda.
publico1234567,  25.01.2020: "A moda sai de moda, o estilo jamais." - Coco Chanel
rafael.guerra, 25.01.2020: O estilo é essencial, mas é como o colesterol, existe o bom e o mau...
Daniel Joaquim Alves Seabra, 25.01.2020: Muito bem Dr. Pacheco Pereira!!!
bento guerra, 25.01.2020: Investir nos futuros votantes a prazo. A Igreja também o faz em nome da "vida eterna".
123 456.882731,25.01.2020: Acertaste na mouche!
Colete Amarelo, 25.01.2020: Espelho da sociedade vista através do que cada faixa etária é e representa no todo social, e de como poderão ser educadas a reencontrar um caminho benéfico para esse todo. Os jovens andam alienados dos valores que assumimos como edificantes. Construíram-se a si mesmos com aprendizagens que os "velhos" abominam e não dominam. Qualquer jovem esclarecido e com acesso à net está um passo à frente dos "velhos". Se os jovens, em geral, como diz JPP, apenas se evidenciam pelo domínio de aplicações sem qualquer valor, é porque os "velhos" não os ensinaram a usar as tecnologias de uma forma mais benéfica. É isso que é necessário: encaminhar as crianças a dominarem as novas tecnologias e não a serem dominadas por elas. Estratégias de aprendizagem que passem pelo que toca os jovens.
César Valença, 25.01.2020: O Artigo de Pacheco Pereira é magistral. A proposta do PCP é perfeita. Não sou nem nunca fui comunista, mas tenho senso suficiente para aprovar e elogiar as propostas correctas independentemente da fonte.
amora.bruegas, 25.01.2020 : A proposta do PCP é típica demagogia marxista. A "preocupação" deles ficou bem patente na forma como manipularam (e continuam!) a manipular a juventude na URSS, na China, Coreia do Norte, Cuba e Angola. Gente fanatizada, vazia, mas violenta contra quem pensa diferente.
Manuel Brito, 25.01.2020: Que bem que a D. Amora.bruegas se descreve a si própria.
publico1234567, 25.01.2020 : "Gente fanatizada, vazia, mas violenta contra quem pensa diferente." - Está a falar da "caça às bruxas" nos EUA?


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