sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Inútil zanga



O certo é que não saímos deste conceito de banalidade com que nos definiu Pessoa – “brilho sem luz e sem arder”, onde “tudo é incerto e derradeiro”. Por isso a pergunta de Helena Matos nem sequer se deve pôr, Portugal, pequeno rectângulo amado, possuidor de um qualquer estigma de matreirice nas suas criaturas, que nos tolhe e desencanta e torna possível a manipulação por essa outra por ela descrita, bem real, que para mais vestia bem, como os Gouvarinhos da fábula, de um tal que também nos definiu a matar. E de nada valeu.

Sócrates. Como foi possível Portugal ter estado nas mãos de tal criatura? /premium
Não vejo maior mistério na política mundial que o manto de silêncio que caiu sobre as declarações de José Sócrates. Com sorte ninguém se lembra deles, dos socráticos. Nem o próprio.
HELENA MATOS
OBSERVADOR, 05 jan 2020
4 de Janeiro. Sim, já sei que os EUA matarem Bin Laden durante a presidência Obama era fazer justiça. E que os mesmos EUA matarem Soleimani durante a presidência Trump é uma catástrofe. Também não me esqueço que Portugal venezueliza: os hospitais não funcionam; os funcionários dos serviços públicos são sovados regularmente pelos protegidos do Estado Social enquanto o Presidente brinca, umas vezes aos banhistas outras às candidaturas. Mas neste momento, e após ter ouvido a reconstituição das respostas dadas por José Sócrates ao juiz Ivo Rosa, não vejo maior mistério na política mundial (e note-se que estou a incluir nessa lista a recente e espectacular fuga do ex-líder da Renault-Nissan do Japão para o Líbano!) que o manto de silêncio que caiu sobre as declarações do antigo primeiro-ministro português.
Não vou discutir se o dinheiro era ou é de Sócrates ou do seu amigo. Para isso estão aí os tribunais. O que me choca é Portugal ter estado nas mãos de tal criatura! Não há ali um vestígio de sentido de responsabilidade! Não há um mínimo de adesão à realidade! Não há uma réstia de bom senso!
Perante a leviandade alarve de tudo aquilo onde estão as declarações dos antigos amigos? Dos fiéis? Dos seguidores? Dos defensores? Dos seus antigos ministros? Do PS?… O caso Sócrates não é apenas um caso de justiça. É em primeiro lugar um caso de impunidade política que só foi possível porque o escrutínio aos políticos é em geral baixo e aos de esquerda baixíssimo: em 2011, apesar da acumulação de casos e mais casos pelo antigo primeiro-ministro, 1 568 168 eleitores deram-lhe o seu voto! E gente tida como séria e sensata apoiou-o. Não acham que devem uma explicação ao país? Uma palavrinha, pelo menos? Uma explicação para o fenómeno? Nada disso aconteceu: lestos e frescos por aí andam.
Nos antigos livros de histórias os protagonistas casavam e eram felizes para sempre. A vida ensinou-nos que não era bem assim. Mantivemos contudo uma apreciável candura face à política: acreditámos que uma vez vivendo em democracia os povos se tornariam mais exigentes.  Embustes, corrupções, autoritarismos, demagogias… seriam paulatinamente eliminados como corpos estranhos. Triste e perigosa ilusão! A disponibilidade do eleitorado para calar e consentir não só se mantém como está em crescendo. Em Portugal, essa disponibilidade por parte do eleitorado socialista transformou-se num dos mais graves factores de degradação do país.
Após uma breve interrupção de quatro anos a gente de Sócrates, desembaraçada do mesmo, voltou ao poder donde verdadeiramente nunca saíra.
E o próprio, não nos esqueçamos disto, só não está em Belém porque tropeçou em si mesmo.
Esta história ainda não acabou.
3 de Janeiro. Mais um caso dessa estranha epidemia de loucura que varre a Europa e em particular a França: a 3 de Janeiro, um homem armado com uma faca ataca várias das pessoas com quem se cruza. Rapidamente as autoridades francesas declaram estar-se perante alguém que sofre de perturbações psiquiátricas e que iriam ser investigadas as motivações das agressões. Como sempre o caso foi apresentado como uma inexplicável agressão com faca. Quando chegou a informação sobre os gritos Allah Akbar que o homem proferira durante os ataques já este atentado, agora dito terrorista, estava desaparecido do radar das notícias. No próximo atentado esta rotina noticiosa será novamente cumprida sem que alguém se detenha uns minutos a pensar neste rol de absurdos.
29 de Dezembro. Estou abismada com a polémica em torno da alegada vandalização da escultura de Cabrita Reis, em Leça da Palmeira. Então os graffitis não são contracultura? Uma expressão de arte alternativa? Uma forma de criticar a sociedade? Uma forma dizer “eu estive aqui” por parte daqueles que a sociedade não reconhece? O desrespeito pelo graffiti e pela sua mensagem não são um sinal de uma mente fechada, como dizem ser o caso da minha sempre que manifesto a minha falta de apreço por essa forma de expressão?…
Ou será que esta valorização dos graffiti só foi válida até o objecto das pinchagens ser uma obra assinada precisamente por alguém que faz parte do meio do progressismo cultural, sendo que escrever “progressismo cultural” é um óbvio pleonasmo pois em Portugal não se concebe que alguém seja culto sem ser progressista ou progressista sem ser culto.
Mas voltemos à vandalização propriamente dita. Parece-me óbvio que à luz daquilo que em Portugal regularmente se diz e escreve sobre a importância dos graffitis, não houve vandalismo algum em Leça da Palmeira, mas sim uma manifestação de street art, manifestação que como tal até é custeada pelo contribuinte em festivais e intervenções variadas por esse país fora.
Dir-me-ão que aqueles gatafunhos a revelarem o valor pago a Cabrita Reis por aqueles ferros não são propriamente um mural de Bansky. Claro que não são! Mas as vigas de Cabrita Reis também não são propriamente uma escultura do Soares dos Reis, pois não?
Em resumo, o único erro do autor daquela garatujada foi não ter pedido um subsídio à autarquia para se exprimir. Assim em vez de vândalo era artista.
COMENTÁRIOS
Luis Barrosa: Cada vez dou mais razão a um académico que definiu a cultura portuguesa como adaptativa. Assim se percebe como bateu palmas ao regime de Salazar, logo depois à Revolução dos Cravos como de seguida aos socialistas de Sócrates. Que mais se pode esperar, a seguir?
Carlitos Sousa: Um país com um Partido Socialista cheio de corruptos e ávidos por sair de bolsos cheios, nada surpreende que esse PS tenha parido um Sócrates que levou o país à bancarrota. O maior problema não foi Sócrates, mas os interesses instalados no PS que usaram as aptidões de um aldrabão. Para o PS, tudo foi normal, e o seu peão Sócrates logo logo  será dado como inocente. Quiçá terá uma estátua de mãozinha fechada.
José Montargil: Pouca gente está convencida do interesse dos políticos pela causa pública. Todos nós conhecemos, ou contaram-nos as "coisas" que A, B ou C fizeram quando foram deputados, ministros ou administradores de empresas públicas fizeram ou deixaram fazer. O tal Sócrates não é excepção é apenas um caso extremo, que está despido de qualquer vestígio de uma conduta de acordo com os lugares que ocupou. Isto é se o que se publica nos jornais e televisões é verdadeiro. Mas para o próprio partido o tratar como uma sombra fugidia deve haver ali "coisa".
Paulo Guerra:  “Não vejo maior mistério na política mundial que o manto de silêncio que caiu sobre as declarações de José Sócrates.” Sem dúvida uma mulher atenta à política mundial do seu tempo e na sua rua.
Sergio Coelho: Excelente.
José Martins: ESTA É A GRANDE ENCENAÇÃO TEATRAL do “PAÍS do FAZ de CONTA” que tem um GOVERNO, QUE TEM DEMOCRACIA, QUE TEM LIBERDADE. OS ACTORES TÊM CADA VEZ MAIS EXPERIÊNCIA. OS PAPÉIS ESTÃO CADA VEZ MAIS BEM APREENDIDOS. OS NARRADORES ESTÃO CADA VEZ MELHOR NA ARTE DA CRIAÇÂO DE UMA REALIDADE ALTERNATIVA.
O grande problema de Portugal foi e continua a ser o Estado herdado do Salazar e "retocado" no PREC pelo Cunhal, de que a oligarquia “dona disto tudo” se serve, depois de ter capturado a Comunicação Social e a generalidade dos partidos portugueses, desde o PCP e BE até ao CDS e agora ao CHEGA.
E foi muito fácil a captura desses partidos porquanto, também eles, foram criados e organizados à imagem de Salazar/Cunhal, sem democracia interna, onde impera o centralismo, seja ele mais fascistóide ou mais estalinóide.
Os deputados que hoje estão no PARLAMENTO não representam os eleitores, mas sim a oligarquia partidária que foi quem os “escolheu e escalonou” para as “listas de candidatos” em que votamos. Isto mina e destrói a LIBERDADE e a DEMOCRACIA.
DO QUE PRECISAMOS NO IMEDIATO SÃO DE QUATRO REFORMAS BÁSICAS:
- A REFORMA/MODERNIZAÇÃO da legislação de enquadramento dos Partidos Políticos obrigando-os à prática de democracia interna e a uma verdadeira abertura à sociedade civil impedindo que continuem a ser BANDOS ORGANIZADOS de assalto ao poder e ao controlo do ESTADO;
- A REFORMA do SISTEMA ELEITORAL permitindo que os cidadãos possam escolher os seus representantes no Parlamento (lista de candidatos a deputados abertas), em vez de serem “obrigados” a votar nos escolhidos pelo chefe das “tribos partidárias” (listas de candidatos a deputados fechadas);
- A REFORMA do ESTADO envolvendo a REGIONALIZAÇÂO com redefinição e redistribuição das funções e competências de Estado aos níveis CENTRAL, REGIONAL e LOCAL e um sistema de impostos em consonância com aqueles níveis de poder e respectivas funções e competências exercidas.
- A REFORMA da LEGISLAÇÃO de ENQUADRAMENTO da COMUNICAÇÃO SOCIAL, assegurando uma verdadeira liberdade, independência e responsabilidade aos profissionais e aos órgãos de CS, com verdadeira REGULAÇÃO do exercício da sua actividade e do cumprimento de obrigações éticas e de Serviço Público.
São estes os ingredientes necessários para que os cidadãos sintam que a ORGANIZAÇÃO de NOVOS PARTIDOS, a participação democrática e o controlo das instituições valem a pena.
E quanto maior a participação e controlo democrático das instituições pelos cidadãos e por uma CS verdadeiramente livre, menores as hipóteses de incompetência e corrupção na gestão da coisa pública. 
joão reis > José Martins: Caro José oportuno comentário com questões centrais cuja solução revela-se difícil uma vez que todas as alterações na lei para as reformas por si referidas terão de passar exatamente por aqueles que estão na base do seu comentário.
Lourenço de Almeida: Sim. Aquilo que o Sócrates diz para se defender das acusações, deveria ser suficiente para nunca mais conseguir candidatar-se sequer a uma junta de freguesia em nome de um partido decente. Não é aquilo de que o acusam. Isso ele diz que é mentira. Trata-se daquilo que ele diz como defesa e como forma de negar aquilo de que o acusam que é de envergonhar o político mais paroquiano!
Marco Silva: Foi possível pelas mesmas razões que agora tem outra criatura similar no poder...recentemente eleito e com quase maioria absoluta. As razões são a ignorância e burrice do povo português, que continuará burro e ignorante pois a esquerda garante que assim ficarão. Começam logo em encher as escolas com a ideologia de esquerda: quanto mais burro e menos informado/a, mais facilmente é controlado/a. Portugal tem a terceira maior divida da Europa e a décima maior divida do mundo. Tem também dos salários mais baixos e dos impostos mais altos (considerando os salários). Tem serviços públicos absurdamente maus e é um dos países mais corruptos do mundo. Fruto de 30 anos com socialistas no poder e com 45 anos de socialismo sem parar, seria de esperar outra coisa ? Um país que tem uma constituição com centenas de artigos que servem para proteger o regime  e interesses instalados e até ostenta a palavra "socialismo" nela, teria um destino diferente? Não nestas condições. Os Sócrates e os Costas continuarão a existir, pois o problema é cultural. A generalidade dos portugueses é tão corrupta e falcatrueira como os políticos...pois os políticos são também eles/as portugueses/as.
O que fazem os portugueses ? Votam exactamente nos mesmos que garantem que tudo isto, fica na mesma. Depois de votarem nos mesmos, queixam-se constantemente sobre os políticos e o estado do país...para quando chegar a altura de votar novamente...voltam a colocar a cruz exactamente nos mesmos...
Existe outra expressão para descrever o povo português dados estes factos ? Não...são mesmo dos mais burros e ignorantes do planeta.
Maria Emília Ranhada Santos: Porque tudo em Portugal é uma vergonha! Mas para que o não seja, proíbe-se que se use esse termo! A media em Portugal está muito mais preocupada com o impeachment de Trump nos EUA, e os 63 milhões de eleitores que o elegeram, porque a esquerdas estão assustadas não com a pessoa do Presidente, mas com medo de perder  as libertinagens conseguidas com Obama. Trump não é perfeito, todos sabemos disso, mas esse não é o problema! O problema é ele ser contra o aborto, proteger e defender a vida humana e a família, e a integridade territorial. Ah! E há ainda outro importante pormenor, que ele corajosa e declaradamente defende nos seus discursos, que é Deus. As esquerdas até fervilham, quando o ouvem pronunciar tal nome! Quem está a mandar no mundo e em Portugal, evidentemente também, são as esquerdas “empoderadas”  e ultimamente estão a usar a palavra “racismo” porque “a dispensa delas” já esgotou todas as hipóteses de argumentos para ataque. Ganha as eleições quem a media quer e os portugueses só ouvem o que a imprensa está autorizada a contar! Isto está se a preparar!!!...
Maria L Gingeira: De tais criaturas! Sim porque Sócrates não governou sozinho durante os 6 anos em que montou toda essa estratégia de angariação de fundos milionários cujo destino permanece por esclarecer. Porque ninguém acredita que a cumplicidade dos seus pares durante esses anos em operações que envolveram o Millennium BCP e a CGD não tenha tido um objectivo maior do que a conta com a qual ele pretendia viver à grande e à francesa, administrada por um testa de ferro. Sócrates dá-se hoje ao luxo de só dizer disparates porque sabe que alguém o salvará. É essa a questão.
Adelino Lopes: Como foi possível? Inveja, só inveja. É este o sentimento desta malta perante os acontecimentos. Malta que não aceita lucros (apelidam exploração dos trabalhadores). A justiça não interessa. O que lhes importa são uns cobres nos bolsos e igualdade de direitos. Portanto, estes votantes sentem que ele é que as soube fazer. Não é equivalente ao que se passa com o Lula?
Marie de Montparnasse: Foi possível sim e continuará a ser possível desde que a informação seja cirurgicamente dirigida. O pensamento massificado é uma estratégia política que não dá lugar ao pensamento individualizado. É do comportamento das outras espécies que a política retira os ensinamentos, ou seja, a sobrevivência através da quantidade e não da qualidade. Obrigada Helena Matos.  
Ana Brito: O poder corrupto corrompe o povo. Mais de 1 milhão de portugueses foram corrompidos pela "generosidade" socialista num processo quid pro quo, voto em troca de subsídio, querer o bem de todos e o progresso do país tornou-se coisa de santinhos. Vergonha!


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