O certo é que não saímos deste conceito de banalidade com que nos
definiu Pessoa – “brilho sem luz e sem
arder”, onde “tudo é incerto e
derradeiro”. Por isso a pergunta de
Helena Matos nem sequer se deve pôr,
Portugal, pequeno rectângulo amado, possuidor de um qualquer estigma de matreirice
nas suas criaturas, que nos tolhe e desencanta e torna possível a manipulação
por essa outra por ela descrita, bem real, que para mais vestia bem, como os
Gouvarinhos da fábula, de um tal que também nos definiu a matar. E de nada
valeu.
Sócrates. Como foi possível Portugal ter
estado nas mãos de tal criatura? /premium
Não vejo maior mistério na política mundial que
o manto de silêncio que caiu sobre as declarações de José Sócrates. Com sorte
ninguém se lembra deles, dos socráticos. Nem o próprio.
HELENA MATOS
OBSERVADOR, 05 jan
2020
4 de Janeiro. Sim, já sei que os EUA matarem Bin Laden durante
a presidência Obama era fazer justiça. E que os mesmos EUA matarem Soleimani durante a
presidência Trump é uma catástrofe. Também não me esqueço que
Portugal venezueliza: os hospitais não funcionam; os funcionários dos serviços
públicos são sovados regularmente pelos protegidos do Estado Social enquanto o
Presidente brinca, umas vezes aos banhistas outras às candidaturas. Mas neste
momento, e após ter ouvido a reconstituição das respostas dadas por José Sócrates
ao juiz Ivo Rosa, não vejo maior mistério na política mundial (e
note-se que estou a incluir nessa lista a recente e espectacular fuga do
ex-líder da Renault-Nissan do Japão para o Líbano!) que o manto de silêncio que
caiu sobre as declarações do antigo primeiro-ministro português.
Não
vou discutir se o dinheiro era ou é de Sócrates ou do seu amigo. Para isso
estão aí os tribunais. O que me choca é Portugal ter estado nas mãos de tal
criatura! Não há ali um vestígio de sentido de responsabilidade! Não há um
mínimo de adesão à realidade! Não há uma réstia de bom senso!
Perante
a leviandade alarve de tudo aquilo onde estão as declarações dos antigos
amigos? Dos fiéis? Dos seguidores? Dos defensores? Dos seus antigos ministros?
Do PS?… O caso Sócrates não é apenas um caso de justiça. É em primeiro lugar um
caso de impunidade política que só foi possível porque o escrutínio aos
políticos é em geral baixo e aos de esquerda baixíssimo: em 2011, apesar da
acumulação de casos e mais casos pelo antigo primeiro-ministro, 1 568 168
eleitores deram-lhe o seu voto! E gente tida como séria e sensata apoiou-o. Não
acham que devem uma explicação ao país? Uma palavrinha, pelo menos? Uma
explicação para o fenómeno? Nada disso aconteceu: lestos e frescos por aí andam.
Nos
antigos livros de histórias os protagonistas casavam e eram felizes para
sempre. A vida ensinou-nos que não era bem assim. Mantivemos
contudo uma apreciável candura face à política: acreditámos que uma vez vivendo
em democracia os povos se tornariam mais exigentes. Embustes, corrupções,
autoritarismos, demagogias… seriam paulatinamente eliminados como corpos
estranhos. Triste e perigosa ilusão! A disponibilidade do eleitorado para calar
e consentir não só se mantém como está em crescendo. Em Portugal, essa
disponibilidade por parte do eleitorado socialista transformou-se num dos mais
graves factores de degradação do país.
Após
uma breve interrupção de quatro anos a gente de Sócrates, desembaraçada do
mesmo, voltou ao poder donde verdadeiramente nunca saíra.
E
o próprio, não nos esqueçamos disto, só não está em Belém porque tropeçou em si
mesmo.
Esta
história ainda não acabou.
3 de Janeiro. Mais um caso dessa estranha epidemia de
loucura que varre a Europa e em particular a França: a 3 de Janeiro, um homem
armado com uma faca ataca várias das pessoas com quem se cruza. Rapidamente as autoridades
francesas declaram estar-se perante alguém que sofre de perturbações
psiquiátricas e que iriam ser investigadas as motivações das
agressões. Como sempre o caso foi apresentado como uma inexplicável agressão
com faca. Quando chegou a informação sobre os gritos Allah Akbar que
o homem proferira durante os ataques já este atentado, agora dito terrorista,
estava desaparecido do radar das notícias. No próximo atentado esta rotina
noticiosa será novamente cumprida sem que alguém se detenha uns minutos a
pensar neste rol de absurdos.
29 de Dezembro. Estou abismada com a polémica em torno
da alegada vandalização da
escultura de Cabrita Reis, em Leça da Palmeira. Então os graffitis não
são contracultura? Uma expressão de arte alternativa? Uma forma de criticar a
sociedade? Uma forma dizer “eu estive aqui” por parte daqueles que a sociedade
não reconhece? O desrespeito pelo graffiti e pela sua mensagem não são um sinal
de uma mente fechada, como dizem ser o caso da minha sempre que manifesto a
minha falta de apreço por essa forma de expressão?…
Ou
será que esta valorização dos graffiti só foi válida até o objecto
das pinchagens ser uma obra assinada precisamente por alguém que faz parte do
meio do progressismo cultural, sendo que escrever “progressismo cultural” é um
óbvio pleonasmo pois em Portugal não se concebe que alguém seja culto sem ser
progressista ou progressista sem ser culto.
Mas
voltemos à vandalização propriamente dita. Parece-me óbvio que à luz daquilo
que em Portugal regularmente se diz e escreve sobre a importância dos graffitis,
não houve vandalismo algum em Leça da Palmeira, mas sim uma manifestação
de street art, manifestação que como tal até é custeada pelo contribuinte
em festivais e intervenções variadas por esse país fora.
Dir-me-ão
que aqueles gatafunhos a revelarem o valor pago a Cabrita Reis por aqueles
ferros não são propriamente um mural de Bansky. Claro que não são! Mas as vigas
de Cabrita Reis também não são propriamente uma escultura do Soares dos Reis,
pois não?
Em
resumo, o único erro do autor daquela garatujada foi não ter pedido um subsídio
à autarquia para se exprimir. Assim em vez de vândalo era artista.
COMENTÁRIOS
Luis Barrosa: Cada vez dou mais razão a um académico que definiu a cultura portuguesa
como adaptativa. Assim se percebe como bateu palmas ao regime de Salazar, logo
depois à Revolução dos Cravos como de seguida aos socialistas de Sócrates. Que
mais se pode esperar, a seguir?
Carlitos Sousa: Um país com um Partido Socialista cheio de corruptos e
ávidos por sair de bolsos cheios, nada surpreende que esse PS tenha parido um
Sócrates que levou o país à bancarrota. O maior problema não foi Sócrates, mas
os interesses instalados no PS que usaram as aptidões de um aldrabão. Para o
PS, tudo foi normal, e o seu peão Sócrates logo logo será dado como inocente.
Quiçá terá uma estátua de mãozinha fechada.
José Montargil: Pouca gente está convencida do interesse dos
políticos pela causa pública. Todos nós
conhecemos, ou contaram-nos as "coisas" que A, B ou C fizeram quando
foram deputados, ministros ou administradores de empresas públicas fizeram ou
deixaram fazer. O tal Sócrates não é excepção
é apenas um caso extremo, que está despido de qualquer vestígio de uma conduta
de acordo com os lugares que ocupou. Isto é se o que se publica nos jornais e
televisões é verdadeiro. Mas para o próprio partido o tratar como uma sombra
fugidia deve haver ali "coisa".
Paulo Guerra: “Não
vejo maior mistério na política mundial que o manto de silêncio que caiu sobre
as declarações de José Sócrates.” Sem dúvida
uma mulher atenta à política mundial do seu tempo e na sua rua.
Sergio Coelho: Excelente.
José Martins: ESTA É A GRANDE ENCENAÇÃO TEATRAL do “PAÍS do FAZ de
CONTA” que tem um GOVERNO, QUE TEM DEMOCRACIA, QUE TEM LIBERDADE.
OS
ACTORES TÊM CADA VEZ MAIS EXPERIÊNCIA. OS PAPÉIS ESTÃO
CADA VEZ MAIS BEM APREENDIDOS. OS NARRADORES ESTÃO CADA VEZ MELHOR NA
ARTE DA CRIAÇÂO DE UMA REALIDADE ALTERNATIVA.
O grande problema de Portugal foi e
continua a ser o Estado herdado do Salazar e "retocado" no PREC pelo
Cunhal, de que a oligarquia “dona disto tudo” se serve, depois de ter capturado
a Comunicação Social e a generalidade dos partidos portugueses, desde o PCP e
BE até ao CDS e agora ao CHEGA.
E foi muito fácil a captura desses
partidos porquanto, também eles, foram criados e organizados à imagem de
Salazar/Cunhal, sem democracia interna, onde impera o centralismo, seja ele
mais fascistóide ou mais estalinóide.
Os deputados que hoje estão no
PARLAMENTO não representam os eleitores, mas sim a oligarquia partidária que
foi quem os “escolheu e escalonou” para as “listas de candidatos” em que
votamos. Isto mina e destrói a LIBERDADE e a DEMOCRACIA.
DO QUE PRECISAMOS NO IMEDIATO SÃO DE
QUATRO REFORMAS BÁSICAS:
- A REFORMA/MODERNIZAÇÃO da legislação
de enquadramento dos Partidos Políticos obrigando-os à prática de democracia
interna e a uma verdadeira abertura à sociedade civil impedindo que continuem a
ser BANDOS ORGANIZADOS de assalto ao poder e ao controlo do ESTADO;
- A REFORMA do SISTEMA ELEITORAL
permitindo que os cidadãos possam escolher os seus representantes no Parlamento
(lista de candidatos a deputados abertas), em vez de serem “obrigados” a votar
nos escolhidos pelo chefe das “tribos partidárias” (listas de candidatos a
deputados fechadas);
- A REFORMA do ESTADO envolvendo a
REGIONALIZAÇÂO com redefinição e redistribuição das funções e competências de
Estado aos níveis CENTRAL, REGIONAL e LOCAL e um sistema de impostos em
consonância com aqueles níveis de poder e respectivas funções e competências
exercidas.
- A REFORMA da LEGISLAÇÃO de
ENQUADRAMENTO da COMUNICAÇÃO SOCIAL, assegurando uma verdadeira liberdade,
independência e responsabilidade aos profissionais e aos órgãos de CS, com
verdadeira REGULAÇÃO do exercício da sua actividade e do cumprimento de
obrigações éticas e de Serviço Público.
São estes os ingredientes necessários
para que os cidadãos sintam que a ORGANIZAÇÃO de NOVOS PARTIDOS, a participação
democrática e o controlo das instituições valem a pena.
E quanto maior a participação e controlo
democrático das instituições pelos cidadãos e por uma CS verdadeiramente livre,
menores as hipóteses de incompetência e corrupção na gestão da coisa
pública.
joão reis > José Martins: Caro
José oportuno comentário com questões centrais cuja solução revela-se difícil
uma vez que todas as alterações na lei para as reformas por si referidas terão
de passar exatamente por aqueles que estão na base do seu comentário.
Lourenço de Almeida: Sim. Aquilo que o Sócrates diz para se
defender das acusações, deveria ser suficiente para nunca mais conseguir
candidatar-se sequer a uma junta de freguesia em nome de um partido decente.
Não é aquilo de que o acusam. Isso ele diz que é mentira. Trata-se daquilo que
ele diz como defesa e como forma de negar aquilo de que o acusam que é de
envergonhar o político mais paroquiano!
Marco Silva: Foi possível pelas mesmas razões que agora tem
outra criatura similar no poder...recentemente eleito e com quase maioria
absoluta. As razões são a ignorância e
burrice do povo português, que continuará burro e ignorante pois a esquerda
garante que assim ficarão. Começam logo em encher as escolas com a ideologia de
esquerda: quanto mais burro e menos informado/a, mais facilmente é
controlado/a. Portugal tem a terceira maior
divida da Europa e a décima maior divida do mundo. Tem também dos salários mais
baixos e dos impostos mais altos (considerando os salários). Tem serviços
públicos absurdamente maus e é um dos países mais corruptos do mundo. Fruto de 30 anos com socialistas no poder e com 45 anos
de socialismo sem parar, seria de esperar outra coisa ? Um país que tem uma
constituição com centenas de artigos que servem para proteger o regime e
interesses instalados e até ostenta a palavra "socialismo" nela,
teria um destino diferente? Não nestas
condições. Os Sócrates e os Costas continuarão a existir, pois o problema é
cultural. A generalidade dos portugueses é tão corrupta e falcatrueira como os
políticos...pois os políticos são também eles/as portugueses/as.
O que fazem os portugueses ? Votam
exactamente nos mesmos que garantem que tudo isto, fica na mesma. Depois de
votarem nos mesmos, queixam-se constantemente sobre os políticos e o estado do
país...para quando chegar a altura de votar novamente...voltam a colocar a cruz
exactamente nos mesmos...
Existe outra expressão para descrever o
povo português dados estes factos ? Não...são mesmo dos mais burros e
ignorantes do planeta.
Maria Emília Ranhada Santos: Porque tudo em Portugal é
uma vergonha! Mas para que o não seja, proíbe-se que se use esse termo! A media
em Portugal está muito mais preocupada com o impeachment de Trump nos EUA, e os
63 milhões de eleitores que o elegeram, porque a esquerdas estão assustadas não
com a pessoa do Presidente, mas com medo de perder as libertinagens
conseguidas com Obama. Trump não é perfeito, todos sabemos disso, mas esse não
é o problema! O problema é ele ser contra o aborto, proteger e defender a vida
humana e a família, e a integridade territorial. Ah! E há ainda outro
importante pormenor, que ele corajosa e declaradamente defende nos seus
discursos, que é Deus. As esquerdas até fervilham, quando o ouvem pronunciar
tal nome! Quem está a mandar no mundo e em Portugal, evidentemente também, são
as esquerdas “empoderadas” e ultimamente estão a usar a palavra “racismo”
porque “a dispensa delas” já esgotou todas as hipóteses de argumentos para
ataque. Ganha as eleições quem a media quer e os portugueses só ouvem o que a
imprensa está autorizada a contar! Isto está se a preparar!!!...
Maria L Gingeira: De tais criaturas! Sim porque Sócrates não
governou sozinho durante os 6 anos em que montou toda essa estratégia de
angariação de fundos milionários cujo destino permanece por esclarecer. Porque
ninguém acredita que a cumplicidade dos seus pares durante esses anos em
operações que envolveram o Millennium BCP e a CGD não tenha tido um objectivo
maior do que a conta com a qual ele pretendia viver à grande e à francesa,
administrada por um testa de ferro. Sócrates dá-se hoje ao luxo de só dizer
disparates porque sabe que alguém o salvará. É essa a questão.
Adelino Lopes: Como foi possível? Inveja, só inveja. É este o
sentimento desta malta perante os acontecimentos. Malta que não aceita lucros
(apelidam exploração dos trabalhadores). A justiça não interessa. O que lhes
importa são uns cobres nos bolsos e igualdade de direitos. Portanto, estes
votantes sentem que ele é que as soube fazer. Não é equivalente ao que se passa
com o Lula?
Marie de Montparnasse: Foi possível sim e continuará a ser possível
desde que a informação seja cirurgicamente dirigida. O pensamento massificado é
uma estratégia política que não dá lugar ao pensamento individualizado. É do
comportamento das outras espécies que a política retira os ensinamentos, ou
seja, a sobrevivência através da quantidade e não da qualidade. Obrigada Helena Matos.
Ana Brito: O poder corrupto corrompe o povo. Mais de 1
milhão de portugueses foram corrompidos pela "generosidade"
socialista num processo quid pro quo, voto em troca de subsídio, querer o bem
de todos e o progresso do país tornou-se coisa de santinhos. Vergonha!
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