domingo, 5 de janeiro de 2020

Sobriedade astuta


Vasco Pulido Valente, mansamente, recordou factos antigos, cheirando a mofo, lições que ninguém hoje quer escutar já, na mistela política de uma nação acomodada, tentando sobreviver, o PR sendo um deles. E VPV, mansamente, desmascara, talvez rindo, talvez chorando...
OPINIÃO:   Diário
VASCO PULIDO VALENTE       PÚBLICO, 4 de Janeiro de 2020
As eleições para presidente do  provocaram algumas tentativas de análise entre os candidatos sobre o que era ou não era o partido. Todas erradas, porque por oposição ou imitação todas tomam por modelo o PSD de 1980 ou, pior ainda, a AD.
O PSD de 1980 tinha duas partes fundamentais. Uma delas vinha do marcelismo: os técnicos do planeamento e alguns intelectuais que a Igreja havia pacientemente educado. Isto deu ao partido os seus dirigentes e o seu chefe. Mas, no fundo, como dizia alegremente Carlos Macedo, o que fez a AD de 1980 foi a outra parte, o partido dos três Rs: a Reinstituição da PIDE, a Reconquista de Angola e a Ressurreição de Salazar. O povo português não estava muito entusiasmado com a revolução dos capitães. E o eleitorado que trouxe as vitórias de 1979 e de 1980 não se recomendava aos democratas. Mesmo dentro do partido havia uma campanha feroz contra o “adúltero” Sá Carneiro.
Agora, com a morte de Sá Carneiro, o bom tom obriga a esquecer estas origens. Escreve-se a história desse período como se não existisse Igreja Católica. Ora existia e tinha uma força a que nenhuma espécie de esquerda podia resistir. Assisti a muitas missas na primeira fila, sabendo o padre que eu era ateu, em que se tratava piedosamente de esclarecer os fiéis de que marxista equivalia a comunista. O slogan da campanha completava este cuidado com o caminho que seguiam os crentes: “partido socialista = partido marxista”.
Ainda hoje convinha comparar o mapa da prática activa do catolicismo com o mapa eleitoral do PSD. Seria talvez um bom método de evitar a torrente de asneiras que por aí se dizem.
31 de Dezembro
O Presidente da República foi no fim do ano à ilha do Corvo e aproveitou para discursar à pátria. E nesse discurso disse a António Costa que queria um executivo com estabilidade e, de preferência, orientado à esquerda. Tudo isto é muito compreensível.
Marcelo acabou o seu mandato com uma enorme popularidade que não se deve só aos beijinhos e às selfies. Deve-se principalmente ao sucesso do PS. O PS conseguiu fabricar a “geringonça”, isto é, uma maioria absoluta, fingindo que estava a recuperar da crise com uma política de esquerda. O espectro de Passos Coelho chegou para sustentar esta mentira durante quatro anos, o que evitou que o Presidente tivesse de intervir na vida política e, sobretudo, de coibir qualquer excesso da esquerda: o PS estava lá para isso e com a direita sabia ele como se arranjar. Pôde assim assistir tranquilamente em Belém à passagem do tempo e fazer o seu número cómico sem que ninguém lhe caísse em cima.
Mas hoje para manter esse suave arranjo precisa que o PS o ajude. Pior: precisa do concurso do Bloco de Esquerda. Só não percebeu que o PS nunca se aliará formalmente ao Bloco. António Costa tem de pensar na sua retaguarda e, como não há diferença entre Pedro Nuno Santos e Catarina Martins, ele tem de tomar cuidado com as misturas entre a esquerda do seu partido e a esquerda bloquista. Se ele não soubesse isto, Pedro Sánchez já lhe tinha explicado.     Colunista
COMENTÁRIOS
Armando Heleno, 04.01.2020: O dr VPV entra no novo ano muito comedido. Aquele seu rasgar habitual, não teve passagem de ano.
Espectro, 04.01.2020: Dr. Pulido, desta vez é que eu não percebi patavina! Importa-se de esmiuçar?! LOL
Jose, 04.01.2020:  O retrato da génese do PPD é PSD corresponde às informações que tinha e vindo esse retrato quem andou por lá ficam reforçadas as minhas fontes. Parte disso é também o PS. Muita igreja católica, muito anti-comunismo, muita vontade de fazer o tempo andar para trás. Com essa aliança PS, PSD, CDS se chegou ao estado em que estamos: sem soberania nacional, sem economia nacional, sem controlo sobre os recursos naturais e humanos. É a Direita no seu esplendor. Treta que farta pra inglês ver e submissão total ao novo ultimato. Pode acontecer que PS, PSD, CDS não cheguem para manter essa servidão, mas o BE é como eles anti-comunista e esse cimento ideológico comum permite contar com o novo arco da governação PS, PSD, CDS, BE e Marcelo a tocar o bombo.
FPS, 04.01.2020: Eh eh eh... dois dias teve a semana para VPV. Ainda bem que não escreveu mais, que estas duas bojardas vão, certinhas, acertar no alvo (parece-me, mas certeza, certeza, quem a terá?). Muito bem pensado e é por isto que vale a pena perder o nosso tempo a ler comentário político.



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