Vasco Pulido Valente, mansamente, recordou factos antigos, cheirando a mofo,
lições que ninguém hoje quer escutar já, na mistela política de uma nação
acomodada, tentando sobreviver, o PR sendo um deles. E VPV, mansamente, desmascara, talvez rindo, talvez
chorando...
OPINIÃO: Diário
VASCO PULIDO VALENTE PÚBLICO,
4 de Janeiro de 2020
As eleições para presidente do provocaram algumas tentativas de análise entre
os candidatos sobre o que era ou não era o partido. Todas erradas, porque por oposição
ou imitação todas tomam por modelo o PSD de 1980 ou, pior ainda, a AD.
O PSD de 1980 tinha duas partes fundamentais. Uma delas vinha do
marcelismo: os técnicos do planeamento e alguns intelectuais que a Igreja havia
pacientemente educado. Isto deu ao partido os seus dirigentes e o seu
chefe. Mas, no fundo, como dizia alegremente Carlos Macedo, o que fez a AD
de 1980 foi a outra parte, o partido dos três Rs: a Reinstituição da PIDE, a
Reconquista de Angola e a Ressurreição de Salazar. O povo português não
estava muito entusiasmado com a revolução dos capitães. E o eleitorado que
trouxe as vitórias de 1979 e de 1980 não se recomendava aos democratas. Mesmo
dentro do partido havia uma campanha feroz contra o “adúltero” Sá Carneiro.
Agora, com a morte de Sá Carneiro, o bom tom obriga a
esquecer estas origens. Escreve-se a história desse período como se não
existisse Igreja Católica. Ora existia e tinha uma força a que nenhuma espécie
de esquerda podia resistir. Assisti a muitas missas na primeira fila, sabendo o
padre que eu era ateu, em que se tratava piedosamente de esclarecer os fiéis de
que marxista equivalia a comunista. O slogan da campanha completava
este cuidado com o caminho que seguiam os crentes: “partido socialista =
partido marxista”.
Ainda hoje convinha comparar o mapa da prática activa do catolicismo
com o mapa eleitoral do PSD. Seria talvez um bom método de evitar a torrente de
asneiras que por aí se dizem.
31 de Dezembro
O Presidente da República foi no fim do ano à ilha do Corvo e aproveitou para discursar à pátria. E nesse discurso disse a António Costa que queria um
executivo com estabilidade e, de preferência, orientado à esquerda. Tudo
isto é muito compreensível.
Marcelo acabou o seu mandato com uma enorme popularidade que não se
deve só aos beijinhos e às selfies. Deve-se principalmente ao sucesso do PS. O
PS conseguiu fabricar a “geringonça”, isto
é, uma maioria absoluta, fingindo que estava a recuperar da crise com uma
política de esquerda. O espectro de Passos Coelho chegou para sustentar esta mentira durante quatro
anos, o que evitou que o Presidente tivesse de intervir na vida política e,
sobretudo, de coibir qualquer excesso da esquerda: o PS estava lá para isso e
com a direita sabia ele como se arranjar. Pôde
assim assistir tranquilamente em Belém à passagem do tempo e fazer o seu número
cómico sem que ninguém lhe caísse em cima.
Mas hoje para manter esse suave arranjo precisa que o PS o ajude. Pior:
precisa do concurso do Bloco de Esquerda. Só não percebeu que o PS nunca se
aliará formalmente ao Bloco. António Costa tem de pensar na sua retaguarda e,
como não há diferença entre Pedro Nuno Santos e Catarina Martins, ele tem de
tomar cuidado com as misturas entre a esquerda do seu partido e a esquerda
bloquista. Se ele não soubesse isto, Pedro Sánchez já lhe tinha explicado. Colunista
COMENTÁRIOS
Armando Heleno, 04.01.2020: O dr VPV entra no novo ano muito
comedido. Aquele seu rasgar habitual, não teve passagem de ano.
Espectro, 04.01.2020: Dr. Pulido, desta vez é que eu não
percebi patavina! Importa-se de esmiuçar?! LOL
Jose, 04.01.2020: O retrato da génese do PPD é PSD corresponde às
informações que tinha e vindo esse retrato quem andou por lá ficam reforçadas
as minhas fontes. Parte disso é também o PS. Muita igreja católica, muito
anti-comunismo, muita vontade de fazer o tempo andar para trás. Com essa
aliança PS, PSD, CDS se chegou ao estado em que estamos: sem soberania
nacional, sem economia nacional, sem controlo sobre os recursos naturais e humanos.
É a Direita no seu esplendor. Treta que farta pra inglês ver e submissão total
ao novo ultimato. Pode acontecer que PS, PSD, CDS não cheguem para manter essa
servidão, mas o BE é como eles anti-comunista e esse cimento ideológico comum
permite contar com o novo arco da governação PS, PSD, CDS, BE e Marcelo a tocar
o bombo.
FPS, 04.01.2020: Eh eh eh... dois dias teve a semana
para VPV. Ainda bem que não escreveu mais, que estas duas bojardas vão,
certinhas, acertar no alvo (parece-me, mas certeza, certeza, quem a terá?).
Muito bem pensado e é por isto que vale a pena perder o nosso tempo a ler
comentário político.
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