Mais uma crónica de João Miguel Tavares, bem
derrotista e com razão. Lembrou-me a fábula “Cabra, Carneiro e Cevado” de João de Deus que me ficou na memória. Não, não
somos o cevado que ia numa
berraria ao mercado, sabendo o que o destino lhe reservava. Somos mais parecidos
com a cabra e o carneiro, tranquilos, na ida ao mercado, desconhecedores do
seu destino fatal, no tacho. O cevado, lúcido, guinchava, chorando a sua “triste
sorte” e reclamando. E a conclusão “... Falava como um homem! Muita
gente Não
discorre com tanta discrição. Infelizmente Quando o
mal É fatal, A lamúria que vale! Que vale a prevenção! Antes ser insensato,
que prudente; Um insensato,
ao menos, menos sente: Não vê um palmo adiante do nariz; Vê o
presente! E
está contente!
É mais feliz!! ( João de Deus - Cabra Carneiro
e Cevado).
Sim,
somos a Cabra e o Carneiro, tranquilos, sem previsões nem futurismos.
OPINIÃO: Mais 20 anos de
estagnação para 2020
Nos dias que correm, há tanta esperança em Portugal como petróleo.
Aquilo que se avizinha são mais duas décadas de estagnação, porque o povo
português convenceu-se de que dói menos estar quieto do que arriscar a mudança.
JOÃO MIGUEL TAVARES PÚBLICO, 7 de Janeiro de 2020
O Presidente da República concluiu a sua mensagem de
Ano Novo com a frase: “Nós, portugueses, nunca, mas nunca,
desistimos de Portugal.” Se entendermos o verbo “desistir” no sentido de
deixar de gostar do país, de nos desinteressarmos do que por cá se passa,
renunciar à gastronomia alentejana ou virar as costas ao clube de futebol
favorito, então somos obrigados a concordar com Marcelo. De facto, nós nunca
desistimos de Portugal. Gostamos da nossa terrinha; o clima é bestial; o
cozido à portuguesa uma maravilha; e a bola, não sendo grande coisa, é o melhor
desbloqueador de conversas do país.
Mas se pela palavra “desistir” entendermos coisas como: fazer as malas e emigrar; não acreditar na energia
reformista de Portugal; desistir de promover uma cultura meritocrática; ou
perder definitivamente a fé na capacidade de o país algum dia conseguir sair da
cauda da Europa; então aí, receio bem, muita gente já desistiu de Portugal, e
há muito. E não, não me estou a referir apenas ao povo. Os primeiros que
começaram a desistir de Portugal — e esse é talvez o aspecto mais dramático
dessa desistência — são os políticos que elegemos. A doutrina que hoje domina a política portuguesa é o
presentismo, que consiste em abdicar de olhar para o futuro e viver numa mera
gestão do tempo presente, por mais improdutivo que isso seja. José
Sócrates foi o último primeiro-ministro a ambicionar alguma
coisa, mas a sua megalomania afundou o país. Passos arriscou um discurso novo, mas tinha uma margem de
manobra mínima, a dureza das suas palavras foi considerada um erro político, e
não deu para mais de quatro anos. António Costa optou
por outro caminho, e deu-se bem. O seu êxito representa o sucesso da política
de gestão habilidosa do dia-a-dia e da dispensa de qualquer estratégia que
procure recolocar Portugal em rota de convergência com a Europa.
Portugal está há 20 anos pouco mais do que estagnado em termos
absolutos e a empobrecer em termos relativos face aos outros países da União
Europeia, com os Estados de Leste a ultrapassarem-nos ano após ano. Só que a
doutrina presentista foi tão internalizada que quando se fala em “reformas
estruturais” já há até quem pergunte “o que é isso?”, como se andássemos a
caçar gambozinos — e como se a política não pudesse sequer ser outra coisa além
daquilo que é. Daí António
Costa vender a sua estratégia como
a única aceitável, pois à sua esquerda só há irresponsáveis, e à sua direita só
há sádicos. A presença da e as duras medidas do Governo PSD-CDS contribuíram para a vitória do presentismo e da
política da cristaleira, que consiste em acreditar piamente que aquilo que
há-de vir será sempre pior do que aquilo que já aí está — donde, tal como nos
adverte a nossa querida avozinha, o melhor é não mexer senão parte-se. Portugal
é hoje um país sem ambição, perdido na prateleira da Europa, onde se reverte e
se redistribui aquilo que se pode, e o desejo de um país diferente é colocado
no congelador das impossibilidades. A vitória do presentismo é a vitória do
conformismo; a vitória do medo e da falta de alternativa; e o “ciclo de
esperança” — que Marcelo referiu também na sua mensagem — torna-se mero
artifício retórico. Nos dias que correm, há tanta esperança em Portugal
como petróleo. Aquilo que se avizinha são mais duas décadas de estagnação,
porque o povo português convenceu-se de que dói menos estar quieto do que
arriscar a mudança. E os políticos acreditam piamente no povo português. Jornalista
TÓPICOS POLÍTICA PORTUGAL PARTIDOS POLÍTICOS CONJUNTURA PRESIDENTE DA REPÚBLICA PRIMEIRO-MINISTRO JOSÉ SÓCRATES
COMENTÁRIOS:
P Galvao: Quando é que o Público se
decide pelo jornalismo de qualidade?
Leclerc: Quando a SONAE deixar de suportar os
prejuizos. Ou seja, quando o Público deixar ser uma forma de amansar o Bloco de
Esquerda. Há protestos contra o Continente como há contra o Pingo Doce?
Ricardo Moura: E o João Miguem Tavares é o exemplo da
estagnação intelectual. É que se ele imaginasse o que se desenvolve nas
universidades portuguesas, talvez parasse de escrever tantos disparates. É que
Portugal não é só o que se vê no Facebook e no CMTV. É muito mais do que isso.
É muito mais interessante do que os jornais noticiam.
Dr. Severino: Uma pena que o que é
desenvolvido nas universidades portuguesas fique no segredo dos deuses e não
passe para a industria. Um cofre cheio de desenvolvimentos a apanhar pó não
serve de muito.
Ferrel: Dr. Severino (gosto dessa
do "Dr."), não temos muita informação sobre investigação e sua
utilização na indústria e serviços. Mas há. A rádio tem programas regulares.
Informe-se e não "mande bocas".
FzD: Está a falar do que se passa no ISQUETÈ.
Certo?
Vitor Amaral: 20 anos de estagnação!
Sinto-me feliz; só tenho mais 10, se entretanto não houver mais nenhum momento
de falta de discernimento e de desvario de aumento da percentagem da dívida.
Esperança! Penso, que está relacionada com as expectativas que colocamos nas coisas
e com a percentagem da dívida actual, só me resta lançar mão do mundo digital,
proporcionado pelo modelo socialista, e esquecer os problemas e ao mesmo tempo
fica-se aliado da realidade e consumo sem pensar para rejúbilo meu e de mais
alguém. Meritocracia! Difícil; coluna vertebral já tem uma certa idade e não é
muito dada a curvaturas. Reformas estruturais! Todos falam e ninguém
concretiza, assim fica difícil. Cá vou andando com a cabeça no meio das
orelhas.
jfaa07.873617: Uma nação que começa com o
filho a bater na mãe (Batalha de S.Mamede)....só pode ser singular,até na
pobreza em todas as suas cambiantes,designadamente daqueles que deviam ser
exemplares pelos altos cargos que ocupam,e nos deixam, ou permitem, que todos
paguemos o que foi desbaratado por poucos.
JonasAlmeida: "o povo português convenceu-se de
que dói menos estar quieto do que arriscar a mudança" - este é o grande
dilema, assim não passamos de lastro no barco da ocupação europeista. Por ora
impera o projecto do medo da mudança, e a perspectiva de mais 20 anos de
estagnação e austericidio. O euro é a versão moderna do centralismo genocida
que aflige a Europa uma vez em cada século. A diferença é que desta vez a
"europa" (o eixo do costume) será insignificante quando os
sobreviventes recuperarem a autodeterminação, pelas razões descritas por
António Barreto aqui há 3 semanas em "A morte da Europa". Estas são
as projecções macro-económicas do PWC para 2050 - Turquia, Rússia, Brasil,
Indonésia México todos economias maiores do que a Alemanha ... O resto da
eurozona nem um dá sinal no top10.
PRO: O que interessa se são maiores ou não? Vive se lá bem por
acaso? E o nível de desigualdade? A felicidade continua a estar na UE! E a UE e
o Euro é para continuar! E como você sabe que aquilo que você escreve é mentira e
falso já nem se dá ao trabalho de me responder não é? Ahahah descobre se mais
depressa um mentiroso que um coxo não é? E quais são os sobreviventes que vão
recuperar a autodeterminação? Que eu saiba todos os cidadãos da UE êem a sua
autodeterminação não é?
AndradeQB: O curioso é o povo português estar
reduzido a ter a opinião que a generalidade dos que têm acesso aos microfones
lhes diz para terem. Neste momento, por exemplo, quem se atreve a dizer que não
se tem que contratar mais médicos? No entanto, há mais médicos por habitante do
que em países onde os serviços médicos dão resposta aos doentes. Alguém se
atreve a questionar os mecanismos do sistema que alguém me explicou,
magistralmente, basear-se no principio de que "Uma pessoa sã é uma pessoa
mal diagnosticada". Pois eu, se tiver que dar a cara, também não.
123 456.882731: Talvez o facto de haver imensa gente que
ainda não tem médico de família ou o facto de haver enormes listas de espera
para intervenções urgentes explique a opinião das pessoas de que falas. De
resto haver mais de x médicos por habitante não significa que o SNS não tenha
falta de pessoal.
AndradeQB: Caro 123.., absolutamente de acordo. O
meu argumento é exatamente esse. As causas dos problemas são normalmente várias
e complexas, o que pode incluir falta de pessoal não médico, como pode exigir a
simplificação de processos através da eliminação de passos desnecessários e
repetições inúteis. Só que o discurso do governo aplaudido pela generalidade
dos dependentes dos seus favores, nunca é esse. Acaba sempre em arranjar
pretexto para ir ao bolso dos contribuintes enquanto faz um discurso para ter o
apoio dos que pensam que não pagam impostos.
PRO: Portugal tem uma das maiores taxas de médico de família
por habitante. Quem disse que muita gente não tem médico de família?
123 456.882731: PRO. Eu não tenho médico de família. No
meu centro de saúde já não há vagas para se obter médico de família. E eu vivo
na região de Lisboa. Daí presumo que se não há médico para mim também não há
para muitos outros.
fc54: Faltou acrescentar que somos desgovernados
por um p. min. sem vergonha ao aliar-se à extrema esquerda que apenas parasita
esta pindérica "democracia" e se serve dela apenas para a desgastar
na esperança de um dia a poder destruir completamente... ... e temos na corte
um presidente que mais parece um palhaço de um circo de 3ª categoria...! E
assim vamos, cantando e rindo...
Leclerc: O Costa não pratica o presentismo mas,
como mostrava o cartaz da Iniciativa Liberal, explora o contribuinte “com
primos e a demais família no governo” e eu acrescento, autarquias, institutos
públicos, empresas públicas, observatórios, fundações, estruturas de missão e
demais invenções de políticos para criar tachos para a família. Isto é que faz
o país estagnar, tantos parasitas a apoderarem-se dos recursos que poderiam
fazer o país crescer. E depois temos a Ana Gomes com uma visão espantosa ao
longe, mas completamente cega ao perto, detecta tudo em Angola o que não
consegue vislumbrar nada no país. E porquê? Porque também faz parte do grupo
que saqueia o país, a filha Joana Gomes Cardoso é presidente da EGEAC, empresa
da CML.
JonasAlmeida: JMT pode gabar-se de saber dar pedradas
no charco. O susto que deixa aqui nos comentadores que sugerem a sua
"emigração" é inequívoco. Suponho que também querem excluir o
economista Ricardo Cabral depois da recente análise aqui em "Os 20 anos do
euro: o problema das lentes a preto e zero" assim como o director do
Público depois do editorial há num par de semanas "O País continua à
venda". Estes deportadores encapuçados preferem culpar os seus
conterrâneos vítimas da merda que eles próprios promovem há "20 ano de
estagnação".
PRO: A diferença Jonas é que ninguém excepto
você culpa a UE pela estagnação de Portugal! Existem n países na UE que não
estão estagnados. Uma grande parte da migração Portuguesa vai para Espanha,
Bélgica, Luxemburgo, Alemanha etc. Será que o Jonas pode começar a analisar a
situação de forma séria e realista em vez de enveredar por mentiras e populismo
barato? O que acha?
cisteina: JMT, ainda há alguns políticos (poucos)
que não desistem de Portugal e dão o seu melhor para que isto mude. Mas tem
toda a razão, quem por cá anda, avalia e observa o que se passa, quem compara a
mediania da administração pública com o que se passa na administração privada
(falo do equilíbrio, mediania, muito mais que o sofrível ou mediocridade, o
ministro Santos Silva tem razão, há ainda muita empresa e empresário de vão de
escada, sem qualquer habilitação) fica pasmado, é uma diferença abissal, por isso
aqui estamos a pisar uvas no lagar que nunca chegam a vinho, tamanha a
dormência, falta de brio e incompetência que nos impede, mesmo aos melhores, de
sairmos do buraco onde nos meteram ou caímos.
FzD: Tem razão em tudo o que escreveu, JMT, até na comida
alentejana - não há nada como um pernil de porco do montado assado ou uma
sopinha de cação. E o nosso problema actual é mesmo a esquerda que se tornou
reaccionária. A democrática, por causa da corrupção, a extrema esquerda porque
quer imitar os países de leste mas como eram antes da queda do muro.
JonasAlmeida: Que a Troika foi o momento
de rendição perante o saque do futuro de todos em troca de umas luvas para os
políticos, têm completamente razão. E sim, é de facto por isso que muitos
emigram - para proteger os filhos da escravatura por regras e coimas do que só
pode ser classificado como colonialismo intra-europeu. Mas sobre nas
ultrapassagens a leste valia a pena notar que o seu argumento é igualmente
válido - é uma ultrapassagem por gente que recusou o euro e frequentemente
recusa as "regras" (Rep Checa, Polónia, Hungria ...).
PRO: oh Jonas Americano porque é que você ignora
a Eslovénia ou os Bálticos? Estão no Euro e a ultrapassar Portugal! Que raio de
argumentação sem fundamento é essa? Que escravatura das regras? A maior parte
movimenta se para outros países da UE e do Euro!
PRO: Já agora oh Jonas os seus exemplos estão errados! Nem a
Polónia nem a Hungria estão à frente de Portugal em PIB per capita. Até agora
só fomos ultrapassados por países do Euro excepto a República Checa. Portanto
porque é que continua a desvirtuar a realidade?
António Pais Vieira: De facto, Antonio Costa é o mais
reaccionario de todos os primeiros-ministros desde António Guterres. Nao existe
qualquer esperanca de progresso, reforma ou mudanca enquanto este governar o
pais. PS: Não posso falar por todos os emigrantes, mas se querem que voltemos,
talvez fosse melhor tentarem reduzir a corrupção em vez de perderem tempo e
dinheiro com tontices como o programa "VEM" e outros que tais.
JORGE COSTA: Excelente artigo de JMT. Actualmente
contamos com o habilidoso como PM. No entanto o tempo vai provar o mal que fez
ao País pela inércia, inépcia e inaptidão para o desempenho do cargo. Vergonha.
Macuti:Contrariamente ao que diz Marcelo, muitos
portugueses já “desistiram” e emigraram! Como é que explica que Portugal seja o
único país no mundo com mais eleitores do que população votante. No interior do
país há concelhos com mais de 50% de eleitores do que população. Em Montalegre
esta diferença ultrapassa os 76%! Esta triste constatação foi título de
primeira página no El País.
Maria João: Sinceramente sempre achei
os portugueses muito pouco empenhados com o seu próprio país. Ficam mais
motivados quando se trata de ficarem bem vistos lá fora. Mas espero que os
excessos do PS sejam catalisadores duma vontade de mudança. O aparecimento de
novos partidos é um bom sinal.
OldVic1: Lembro-me que, quando após a queda do muro de Berlim
os países da Europa de Leste começaram a aderir à UE, disse aos meus amigos que
eles iam ultrapassar-nos em pouco tempo. Quando me perguntavam porquê,
respondia que esses países tinham uma cultura muito mais progressista do que a
nossa e estavam inseridos num ambiente mais competitivo do que um Portugal
refugiado no seu cantinho confortável e entregue aos seus maus hábitos
seculares. Tristemente, constato que tinha razão.
PRO: São países com partidos liberais fortes. Logo aí já
explica muita coisa.
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