Já lá vai o tempo dessas distinções que opunham
políticas e políticos, ideologicamente falando. Tudo isso já se foi, vivemos hoje
num palco de marionetas manipuladas pelos respectivos chefes atidos a uma
nomenclatura diferenciadora pré-estabelecida, sim, mas na realidade todos
lutando pelos seus interesses de aproveitamento próprio, debruçados sobre uma
gamela que todos quereriam lamber. Assim se deu conta de um país a saque, que é
o que somos, desde a revolução salvadora, mesmo com as ideologias diferenciadoras.
Isto agora é outra loiça, não de porcelana mas de barro, mas a gamela
mantém-se, nas ambições, mesmo assim, degradada.
OPINIÃO
Rui Rio é o melhor líder para o PSD –
saiba porquê
Neste momento, o timing político e a
reconfiguração do espectro partidário português após as últimas eleições jogam
a favor de Rio.
JOÃO MIGUEL TAVARES
PÚBLICO, 14 de Janeiro de 2020
Rui Rio é o futuro da direita em
Portugal? Não é. Rui Rio é actualmente o melhor
candidato a líder do PSD? É. Porque é que
a resposta à primeira pergunta não coincide com a resposta à segunda? Porque a
política é como a comédia – o segredo está no timing. E, neste momento,
o timing político e a reconfiguração do espectro partidário português
após as últimas eleições jogam a favor de Rio. Luís
Montenegro e Miguel
Pinto Luz estão convencidos de que são jovens e que têm o tempo
inteiro à sua frente. Na verdade, eles chegaram tarde demais. Os eleitores que
o PSD poderá
vir a conquistar num futuro próximo muito mais depressa votarão em Rui Rio do
que neles.
A
razão é simples: o PSD, enquanto catch-all party da direita, já era. Com a eleição de André Ventura e do deputado da
Iniciativa Liberal, as épocas de maioria absoluta de um só partido acabaram por
uma década. Acabaram à direita, e acabaram, com grande probabilidade, à
esquerda. O espectro partidário fragmentou-se, há novos protagonistas na
Assembleia da República, e basta ver a capacidade que têm para captar a atenção
mediática para perceber o seu potencial de crescimento. São outros tempos, é
outro o eleitorado, e a competição pelo voto será cada vez maior, sobretudo nos
extremos do espectro político, que o PSD já deixou de ter capacidade para
alcançar, a não ser em coligação. Por isso, neste momento, Rui Rio tem razão. É
ao centro que estão os votos do PSD.
Mais:
é também ao centro que estão os possíveis entendimentos para um futuro governo
liderado por sociais-democratas, e, nesse sentido, a insistência de Rio em não
queimar as pontes com António Costa não é uma estratégia estúpida. A
probabilidade de toda a direita ter mais de 50% dos votos em 2023 é pouco mais
do que nula. Se o governo PS chegar muito desgastado a essas eleições, e o PSD
conseguir ser o partido mais votado, a única hipótese de Rui Rio poder
efectivamente governar, e não ser atropelado por uma nova “geringonça”, é se as
relações entre PS, Bloco e PCP já se tiverem deteriorado de forma
irrecuperável. É nisso que Rio aposta, na zanga das comadres rosas e vermelhas,
e em termos de táctica, após a fragmentação de 2019, ela não é tonta.
Dir-me-ão:
mas se assim é, por que insisto eu em afirmar peremptoriamente que Rio não é o
futuro da direita? Porque aquilo que acabei de descrever não é futuro para
ninguém, nem para a direita, nem para Portugal. Seria apenas mais uma mudança
de gestão no palacete de São Bento. A visão de Rio para o país não salva coisa
alguma e as suas ambições são modestíssimas – mas, pelo menos, são realistas.
Ele tem uma vaga ideia de como chegar ao poder, e tem uma notoriedade no país
que fica a milhas da de Montenegro ou Pinto Luz.
Quanto
a estes dois, Luís Montenegro fez um trabalho meritório no terreno, sem dúvida,
e conseguiu impor uma segunda volta a Rio em cima do gongo; mas não se chega
a perceber o que pretende fazer de diferente, a não ser zangar-se mais vezes
com António Costa. Miguel Pinto Luz quis muito parecer disruptivo e
moderno, mas acabou a remontar um vídeo absurdo na recta final da campanha,
recusou clarificar a relação contratual com a sua agência de comunicação, que é
a mesma da Câmara de Cascais (onde trabalha), e anunciou 12% de votos quando
teve 9%. Ambos recusaram responder às perguntas dos jornalistas no final da
noite. Para quem quer passar por novo, tudo isto cheira demasiado a velho. E
velho por velho, mais vale Rui Rio.
Jornalista
COMENTÁRIOS
Leclerc: Considero errado o raciocínio de que os
novos partidos vão crescer à custa do eleitorado dos partidos nexistentes. Acho
o que o discurso dos mesmos dirige-se para os abstencionistas e para quem votou
nulo ou em branco (mais de 50% nas últimas legislativas). Se reduzirem a
abstenção terão a vantagem de diluir a percentagem de votantes dos outros
partidos. Não será estranho que o PS, cujo eleitorado depende dos favores
concedidos, tenha elegido a Iniciativa Liberal como o alvo a combater, é só ver
a trollaria afecta ao PS que infesta as caixas de comentários dos blogs afectos
à IL. O Costa pode não ser habilidoso na governação do país, mas habilidade não
lhe falta para atingir o poder e fazer tudo ao seu alcance para nele se
perpetuar.
ana cristina: adeus, política de causas. bem-vinda,
política de cálculos. eu, nesse jogo não entro. "melhor lider" não é
aquele que toma posições que lhe dão jeito, a ele, para se agarrar ao poder. é
o que assume posições justas e adequadas para o bem comum, mesmo se lhe
estragam alianças que daqui a uns anitos o poderão levar ao poder. "se lhe
estragam as alianças"
AndradeQB: Uma afirmação seguida de um "saiba
porquê" costuma ser depois descrita com uma base opelo menos, de
conhecimento empírico aceite. Nunca me lembro de ter visto, nem me parece que a
seguir a um "saiba porquê" venha uma opinião pessoal, independentemente
da fundamentação dessa opinião.
Sima Qian: Eu acho que se Rui Rio não for eleito, o
PSD encolherá muito. A vitória de Montenegro será festejada por todos os que
não são PSD.
Leitor Registado: uma
crónica que faz realçar o sentimento/fase/ em que este país se encontra:
deprimente! Regressámos a
uma paz podre que relembra o 2º mandato do Cavaco ou o marasmo de Guterres.
Comentadora XYZ: Em todos os
países pobres, sem excepção, o eleitorado gosta de um estado paternalista (seja
á direita, à esquerda ou ao centro, é irrelevante), e é esse o ciclo vicioso...
estados paternalistas geram eleitorados pobres e vice-versa... quebrar este
ciclo, isso sim, vale 1 milhão de euros... Portugal é um país pobre.
mário borges: Eu por mim o Rio
pode ficar no PSD até finalmente ele descer abaixo dos 20%. Aí sim acho que ele
até merecerá uma condecoração.
cisteina: Uma análise perfeita do que é a política
hoje e como vai ser daqui a mais uns anos, a menos que se repita 2011, todos
sabemos que é assim e até António Costa, atolado em problemas e com a "manta"
cada vez mais curta, já percebeu que precisa de sair da camisa de forças em que
se meteu, isto mudou muito em 10 anos. E Rui Rio, sempre igual a si mesmo e a
querer proteger o país (está na sua genética) também sabe que o tempo é curto,
um dia destes tem de dar lugar a outro e, para um político como ele, o seu
maior orgulho é preparar-lhes o caminho, como aconteceu no Porto, limpar a
casa, sanear a incompetência, enfim, boas contas. Se não for eleito, o PSD
entra em liquidação, como o CDS.
Leclerc: JMT estou a ler a Conspiração
Oligárquica do Rui Ramos, que no prefácio lhe agradece a ajuda a seleccionar os
textos publicados. Fico admirado que
quem tenha lido o livro possa conceber a participação de PS num governo (aliás
bastaria de ver os restos socráticos que ainda se arrastam pelo PS e governo
para não aconselhar um governo do PS). No caso do Rui Rio existe algo que não
compreendo. Quando era presidente da CMP e a Red Bull Air Race decorria na
cidade, o Costa da CML consegue desviar a competição para Lisboa com promessas
várias (entre as quais redução do IVA que não poderia fazer, nada de novo no
caso do Costa da palavra honrada), acabando pela competição deixar de se
realizar quer no porto quer em Lisboa. Depois disto como é que o Rio pode ter
confiança no Costa?
Paulo G: Ora aí está uma matéria
em que, não sendo eu admirador nem de Rio nem de Costa, só tenho que lhes
agradecer: mandar embora as corridas de aviões.
bento guerra: É claro, RR garante Costa
,até à eleição presidencial de 2026
OldVic1: Num país onde a maioria do eleitorado
gosta de um Estado paternalista, a social-democracia parece ser o "centro"
à volta do qual oscilam as soluções capazes de gerar maiorias eleitorais.
Enquanto esse eleitorado não tiver a visão alargada necessária para olhar à sua
volta e perceber que há soluções políticas mais eficazes nos nossos parceiros
europeus, estaremos condenados à nossa mediocridade tranquila secular.
SC RIBEIRO: ...".gosta dum Estado
Paternalista." Essa a resposta do milhão de euros!!!! E é difícil dar a
volta a isso ainda nas duas próximas gerações...pelo menos.
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