domingo, 12 de janeiro de 2020

Afinal, não se trata de terroristas?


Pelos pruridos de VPV, parece que só estes têm possibilidade de matar ou de organizar os seus extermínios, mesmo com fria visibilidade, através dos meios mediáticos sem pudor. Além do Júlio César que o cronista cita, nós próprios, lusos virtuosos, e devotos, nos podemos orgulhar dos nossos casos de estimação - o nosso D. João, Mestre de Avis, que despachou o conde Andeiro por razões pátrias, é de todos os tempos o orgulho desse arrojo, embora do nosso pequeno foro. A própria linda Inês foi igualmente um desses casos da morte crua, excluído o míssil, é claro, que não havia. E os Távoras, gente digna… E o caso de Miguel de Vasconcelos, atirado à rua, da janela, fora traidor… Quanto aos EUA, eles têm a sua pena de morte, estão bem artilhados contra essas susceptibilidades subtis. E não podemos esquecer o Hitler e outros, incluindo o  iraniano Soleimani...
CRÓNICA: Diário
Ficámos a saber que em boa doutrina democrática se pode encomendar a morte do inimigo. Basta ter um míssil ou dois.
VASCO PULIDO VALENTE    PÚBLICO, 11 de Janeiro de 2020, 5:50
Encontrei-o, aos 20 anos, n’O Tempo e o Modo e nunca mais deixámos de nos ver. São cinquenta anos. Durante grande parte desse tempo ele foi meu advogado e tirou-me de vários sarilhos, com autoridade mas com brandura. Se sobrevivi até agora devo-lhe em grande parte. Morreu hoje à tarde, com 76 anos, o meu amigo Júlio Castro Caldas, e eu soube pela televisão, que se limitou a passar um anúncio breve.
Júlio Castro Caldas, 19 de Novembro de 1943 – 4 de Janeiro de 2020.
Ministro da Defesa
Bastonário da Ordem dos Advogados
Esta é uma sóbria e solene descrição de uma vida. Mas para o Júlio terá sido o menos importante. Vi-o há pouco tempo: estava com uma barriga esplendorosa pelo que foi geralmente criticado. Tínhamos razão.
5 de Janeiro: O espectáculo do Presidente de uma república liberal gabando-se de ter mandado matar um general inimigo a milhares de quilómetros de distância é um pouco inquietante. Há muito tempo que o assassinato deixou de ser um método político corrente. Talvez que o último verdadeiramente importante fosse o de Júlio César.
Mas aparentemente não chocou por aí além a sensibilidade da elite americana. As objecções que se levantaram a este inaudito crime de Trump foram de oportunidade e de carácter constitucional. Não me lembro – e estive três dias à frente da televisão – de ouvir ninguém manifestar qualquer espécie de repugnância pelo acto em si. Ficámos assim a saber que em boa doutrina democrática se pode encomendar a morte do inimigo. Basta ter um míssil ou dois.
7 de Janeiro: Foi no ano distante de 2003, no princípio da Primavera eu fui almoçar ao Gambrinus – o doutor Mário Soares estava lá e deu-me os parabéns pelo meu artigo do dia. Como “parabéns” vindos daquela fonte eram raros, eu perguntei porquê. Era, obviamente, pelo artigo sobre a invasão do Iraque que eu condenava de raiz com o máximo de brutalidade. A coisa funcionava tanto melhor quanto era muito pequena. Soares deu-me logo dois argumentos mais decisivos. Primeiro, que o Iraque iria ficar envolvido em todas as querelas no Médio Oriente. Segundo, que os americanos e Israel dali em diante também se iriam inevitavelmente envolver atrás do que sucedesse no Iraque durante um bom par de anos.
De facto, pode-se dizer que a invasão do Iraque foi o maior erro político do Ocidente desde a II Guerra Mundial. Ligou dezenas de países e, sobretudo, ligou a Europa a uma política que não era a dela e, ainda por cima, cujas justificações eram falsas: não havia armas de destruição maciça no Iraque, nem atómicas nem outras. E, na prática, Saddam vivia nos seus palácios sob protecção americana.
10 de Janeiro: O Orçamento foi hoje aprovado pelos votos a favor do PS e a abstenção do PEV, do PAN, do Livre, do PC, do Bloco e de três deputados do PSD Madeira. Mas, no meio do seu alívio, o governo devia pensar no efeito destas baixas combinações. Aceitar o regime de Centeno talvez não faça mal ao PS, mas pouco a pouco irá desacreditando o Bloco e o PC. Não se diz uma coisa e se vota outra impunemente. Mais tarde talvez sejam precisos o Bloco e o PC na sua integralidade e não teremos mais que dois grupos de mentirosos coxeando atrás de António Costa.       Colunista
COMENTÁRIO: Ahfan Neca: Não sei se o VPV ficou escandalizado quando o Obama mandou matar o Bin Laden ou quando o Trump mandou matar o Bagdadi. Não me parece. Mas agora todo se atormenta com a morte do senhor Suleimani a quem chama de general. General de quê? O seu papel era promover guerras civis e grupos terroristas em países vizinhos. General de terror, só se for. Acontece que Trump não se podia dar ao luxo de ter mais um caso Benghazi que era o que se estava a cozinhar. Lamento, VPV.

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