Um tanto fofoqueiro, este da crónica de VPV, mas “assi nos vai”. É pena que assim
seja. Para disfarçar, retomando o nosso calcanhar de Aquiles de estimação, leiamos
também a crónica de Salles da
Fonseca sobre as questões económicas e os comentários dos seus ilustres amigos, preocupados, naturalmente, como todos
nós.
CRÓNICA
Diário
As duas facções do PSD odeiam-se de morte
e lutam até à morte. O trágico é que nenhuma delas tem razão. E que as duas são
encarnadas por personagens particularmente desagradáveis e, pior do que isso,
banais.
VASCO
PLIDO VALENTE.
PÚBLICO,
18 de Janeiro de 2020
Eleições
no PSD: os votos legais virão de uma lista de 30 mil pessoas; e segundo a interpretação que Rio faz do militante
bem-comportado. É triste ver ao que chegou um grande partido nacional, que
outrora governou o país. A veia autoritária e salazarista do dr. Cavaco matou a
militância. Quando ele saiu, o PSD de Sá Carneiro já era um cadáver.
12 de Janeiro: Quando, no seu discurso, António Costa chegou ao
delicado assunto dos rendimentos da classe média-alta, sentiu-se um arrepio de
frio pela espinha da audiência. É muito bem feito. Andaram anos e anos a maçar
o pessoal que queriam o dinheiro dos outros. Agora, nem o dos outros nem o
deles. A promoção é livre, mesmo para lá do Presidente e dos juízes do Supremo.
Vai ser um vê-se-te-avias.
Mas
o Estado não tem dinheiro para essa tropa fandanga. De qualquer maneira,
ninguém parece muito impressionado. Os portugueses só se impressionam com os
factos consumados. Lá para Fevereiro, teremos greves do funcionalismo para uma
vida. Não lhes servirá de nada, suponho eu.
13 de Janeiro: Marcelo disse em Moçambique que Portugal precisava de
estar mais na moda do que está. Se ele insistir, não sei exactamente que
espectáculos vai o Governo inventar para o satisfazer, mas parece que vamos
ter uma nova época de louvaminhas ao
antigo império colonial.
Já estamos suficientemente longe de Salazar para nos podermos permitir estas
brincadeiras. Vai haver exposições, colóquios, muitas viagens e muita
“projecção nacional”. E o presidente Marcelo vai ter muito com que se entreter.
É só isso que ele quer e esta é a única maneira como consegue pensar.
14 de Janeiro: As duas facções do PSD odeiam-se de morte e lutam até
à morte. O trágico é que nenhuma delas tem razão. E que as duas são encarnadas
por personagens particularmente desagradáveis e, pior do que isso, banais.
16 de Janeiro: Deus Nosso Senhor nos livre do partido Livre. De
resto, a situação é engraçada: a direcção política do partido não confia na
deputada Joacine, a deputada Joacine não confia no partido. Só Rui Tavares
podia ter inventado uma intriga destas.
17 de Janeiro: A quem possa interessar: a monarquia inglesa começou
por ser uma acumulação de coroas que durante séculos incluía as coroas da
Irlanda e da França, mas assentava na união da Inglaterra e da Escócia. Sendo
esta a sua natureza, o rei não podia fazer senão casamentos dinásticos e
obrigar a sua família a fazê-los também, nos pequenos reinos da Alemanha
contemporânea ou na casa real da Dinamarca. Quando o Reino Unido foi decretado, as regras não
mudaram: o Reino Unido precisava de um chefe de Estado e só podia ser um – o
rei de Inglaterra. E mais: o
príncipe Harry é utilíssimo à propaganda da casa Windsor no Commonwealth. A
rainha não faz favor nenhum em o deixar ir para o Canadá, ainda por cima com Meghan atrás.
Colunista
II – HÁ NUVENS NO
HORIZONTE
HENRIQUE SALLES
DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 18.01.20
DIZ O INE QUE:
Em
Dezembro de 2019, o Índice de Preços na Produção Industrial (IPPI), registou
uma variação homóloga de -1,6%, mais 0,3 p.p. face ao registado no mês anterior
(-1,9%).
O
agrupamento de Energia, apresentou uma variação homóloga de -2,6%, mais 2,2
p.p. face à variação verificada no mês de Novembro de 2019 (-4,8%). Os
agrupamentos de Bens de Consumo e Bens Intermédios apresentaram variações
homólogas de 0,3% e -3,3%, respectivamente, o que compara com as variações de
0,9% e -3,3%, registadas no mês anterior. O agrupamento de Bens de Investimento
registou uma variação homóloga de 0,1% (0,3% no mês anterior).
O
índice relativo à secção das indústrias transformadoras registou variações de
-0,4% em termos homólogos (-1,1% no mês anterior) e de -0,1% em termos mensais
(-0,8% em Dezembro de 2018).
Para
o conjunto do ano 2019, a variação média do índice fixou-se em -0,2% (2,7% no
ano de 2018), tendo os índices para o mercado interno e externo registado
variações de -0,7% e 0,6% respectivamente (2,4% e 3,0% no ano anterior, pela
mesma ordem).
E DIGO EU QUE:
Não
gosto de que este tipo de índices apresente valores negativos pois que,
persistindo, significam que a recessão se aproxima.
E
se a recessão se aproxima numa circunstância global de juros negativos, o que
resta às Autoridades Monetárias para combaterem o ciclo negativo?
Eventualmente, nada. Teremos então que passar para outro tipo de medidas. Por
exemplo, desenterrando Keynes. E a pergunta é: - Será que na Europa ainda
há espaço para mais obras públicas relevantes? E os défices públicos?
Em resumo, não gosto do cenário e não vejo que o debate esteja
lançado no sentido de cada Partido (nacional e europeu) se estar a preocupar muito
com o tema. Quando a crise se instalar, vai então ser uma cascata de
atabalhoamentos.
Janeiro de 2020
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS
Jorge
Cerejeira 18.01.2020: Mantemos a cabeça enterrada na areia como diz e muito
bem num outro artigo neste mesmo blog. Uma questão que me aflige é perceber que
os líderes de hoje não pensam no futuro a não ser se convier mediaticamente às
suas imagens. Se assim for, vamos com toda a certeza ter crises mais violentas
e mais regularmente. Abraço, Jorge
Adriano Miranda Lima 18.01.2020: Não sei ao certo, mas penso que os índices analisados
se referem ao caso nacional. Mas, sendo-o, pergunto se a tendência aqui
expressa não afecta a UE como um todo, salvaguardando embora diferenças
pontuais num ou noutro sector específico. Isto porque na EU não se pode
considerar que haja compartimentos propriamente estanques no comportamento dos
fenómenos da macro economia, mas sim condutas supostamente desviantes em certas
políticas económicas nacionais que, por razão disso, são chamadas à pedra os
prevaricadores. Quanto à conclusão do Dr. Salles, só posso dizer que
tudo indica que a economia é uma ciência que cada vez mais parece escapar ao
cálculo e às previsões da matemática. Então,
penso que não será descabido diagnosticá-la como algo mais dependente dos
humores e dos vícios do comportamento humano do que das regras absolutas da
ciência. É que as
décadas sucedem-se, as experiências acumulam-se e os instrumentos de análise se
tornam cada vez mais aprimorados e sofisticados, e no entanto parece que não
saímos dos mesmos patamares de imprevisibilidade, dúvida, incerteza e
bloqueamento em que nos tolhemos em 1929 e nas crises que desde então vêm
persistindo, como se fadados a não sair de um ciclo que escapa à nossa vontade
e ao nosso controlo. Perdoar-me-á o Dr. Salles que eu, não sendo economista,
meta aqui reflexões que podem ser tão espúrias quanto impregnadas de
ignorância. Mas estes espaços são assim mesmo, permitem a expressão livre de
todas as opiniões, desde que dentro das regras.
Henrique Salles da
Fonseca 18.01.2020 15:59: Tem o Senhor Coronel toda a razão, os parâmetros
enunciados são nacionais e não europeus. Mas a imprensa é pródiga em referir as
dificuldades por que passam os nossos principais clientes e, daí, a minha
extrapolação conclusiva com o cenário externo. Os Estados membro podem seguir
as políticas internas que quiserem desde que se mantenham dentro dos parâmetros
definidos (os de Maastricht, p. ex.) e que não contrariem as políticas comuns. Subscrevo
as dúvidas do Senhor Coronel quanto à econometria e acho mesmo que nós, os
economistas, já nos deveríamos dar por muito felizes se acertássemos na
interpretação do passado quanto mais nas questões relativas à previsão do que
se seguirá…
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