sábado, 18 de janeiro de 2020

Panorama


Um tanto fofoqueiro, este da crónica de VPV, mas “assi nos vai”. É pena que assim seja. Para disfarçar, retomando o nosso calcanhar de Aquiles de estimação, leiamos também a crónica de Salles da Fonseca sobre as questões económicas e os comentários dos seus ilustres amigos, preocupados, naturalmente, como todos nós.
CRÓNICA
Diário
As duas facções do PSD odeiam-se de morte e lutam até à morte. O trágico é que nenhuma delas tem razão. E que as duas são encarnadas por personagens particularmente desagradáveis e, pior do que isso, banais.
VASCO PLIDO VALENTE.
PÚBLICO, 18 de Janeiro de 2020
Eleições no PSD: os votos legais virão de uma lista de 30 mil pessoas; e segundo a interpretação que Rio faz do militante bem-comportado. É triste ver ao que chegou um grande partido nacional, que outrora governou o país. A veia autoritária e salazarista do dr. Cavaco matou a militância. Quando ele saiu, o PSD de Sá Carneiro já era um cadáver.
12 de Janeiro: Quando, no seu discurso, António Costa chegou ao delicado assunto dos rendimentos da classe média-alta, sentiu-se um arrepio de frio pela espinha da audiência. É muito bem feito. Andaram anos e anos a maçar o pessoal que queriam o dinheiro dos outros. Agora, nem o dos outros nem o deles. A promoção é livre, mesmo para lá do Presidente e dos juízes do Supremo. Vai ser um vê-se-te-avias.
Mas o Estado não tem dinheiro para essa tropa fandanga. De qualquer maneira, ninguém parece muito impressionado. Os portugueses só se impressionam com os factos consumados. Lá para Fevereiro, teremos greves do funcionalismo para uma vida. Não lhes servirá de nada, suponho eu.
13 de Janeiro: Marcelo disse em Moçambique que Portugal precisava de estar mais na moda do que está. Se ele insistir, não sei exactamente que espectáculos vai o Governo inventar para o satisfazer, mas parece que vamos ter uma nova época de louvaminhas ao antigo império colonial. Já estamos suficientemente longe de Salazar para nos podermos permitir estas brincadeiras. Vai haver exposições, colóquios, muitas viagens e muita “projecção nacional”. E o presidente Marcelo vai ter muito com que se entreter. É só isso que ele quer e esta é a única maneira como consegue pensar.
14 de Janeiro: As duas facções do PSD odeiam-se de morte e lutam até à morte. O trágico é que nenhuma delas tem razão. E que as duas são encarnadas por personagens particularmente desagradáveis e, pior do que isso, banais.
16 de Janeiro: Deus Nosso Senhor nos livre do partido Livre. De resto, a situação é engraçada: a direcção política do partido não confia na deputada Joacine, a deputada Joacine não confia no partido. Só Rui Tavares podia ter inventado uma intriga destas.
17 de Janeiro: A quem possa interessar: a monarquia inglesa começou por ser uma acumulação de coroas que durante séculos incluía as coroas da Irlanda e da França, mas assentava na união da Inglaterra e da Escócia. Sendo esta a sua natureza, o rei não podia fazer senão casamentos dinásticos e obrigar a sua família a fazê-los também, nos pequenos reinos da Alemanha contemporânea ou na casa real da Dinamarca. Quando o Reino Unido foi decretado, as regras não mudaram: o Reino Unido precisava de um chefe de Estado e só podia ser um – o rei de Inglaterra. E mais: o príncipe Harry é utilíssimo à propaganda da casa Windsor no Commonwealth. A rainha não faz favor nenhum em o deixar ir para o Canadá, ainda por cima com Meghan atrás.
Colunista

II – HÁ NUVENS NO HORIZONTE
 HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 18.01.20
DIZ O INE QUE:
Em Dezembro de 2019, o Índice de Preços na Produção Industrial (IPPI), registou uma variação homóloga de -1,6%, mais 0,3 p.p. face ao registado no mês anterior (-1,9%).
O agrupamento de Energia, apresentou uma variação homóloga de -2,6%, mais 2,2 p.p. face à variação verificada no mês de Novembro de 2019 (-4,8%). Os agrupamentos de Bens de Consumo e Bens Intermédios apresentaram variações homólogas de 0,3% e -3,3%, respectivamente, o que compara com as variações de 0,9% e -3,3%, registadas no mês anterior. O agrupamento de Bens de Investimento registou uma variação homóloga de 0,1% (0,3% no mês anterior).
O índice relativo à secção das indústrias transformadoras registou variações de -0,4% em termos homólogos (-1,1% no mês anterior) e de -0,1% em termos mensais (-0,8% em Dezembro de 2018).
Para o conjunto do ano 2019, a variação média do índice fixou-se em -0,2% (2,7% no ano de 2018), tendo os índices para o mercado interno e externo registado variações de -0,7% e 0,6% respectivamente (2,4% e 3,0% no ano anterior, pela mesma ordem).

E DIGO EU QUE:
Não gosto de que este tipo de índices apresente valores negativos pois que, persistindo, significam que a recessão se aproxima.
E se a recessão se aproxima numa circunstância global de juros negativos, o que resta às Autoridades Monetárias para combaterem o ciclo negativo? Eventualmente, nada. Teremos então que passar para outro tipo de medidas. Por exemplo, desenterrando Keynes.  E a pergunta é: - Será que na Europa ainda há espaço para mais obras públicas relevantes? E os défices públicos?
Em resumo, não gosto do cenário e não vejo que o debate esteja lançado no sentido de cada Partido (nacional e europeu) se estar a preocupar muito com o tema. Quando a crise se instalar, vai então ser uma cascata de atabalhoamentos.
Janeiro de 2020
Henrique Salles da Fonseca
 COMENTÁRIOS
 Jorge Cerejeira  18.01.2020: Mantemos a cabeça enterrada na areia como diz e muito bem num outro artigo neste mesmo blog. Uma questão que me aflige é perceber que os líderes de hoje não pensam no futuro a não ser se convier mediaticamente às suas imagens. Se assim for, vamos com toda a certeza ter crises mais violentas e mais regularmente. Abraço, Jorge
 Adriano Miranda Lima  18.01.2020: Não sei ao certo, mas penso que os índices analisados se referem ao caso nacional. Mas, sendo-o, pergunto se a tendência aqui expressa não afecta a UE como um todo, salvaguardando embora diferenças pontuais num ou noutro sector específico. Isto porque na EU não se pode considerar que haja compartimentos propriamente estanques no comportamento dos fenómenos da macro economia, mas sim condutas supostamente desviantes em certas políticas económicas nacionais que, por razão disso, são chamadas à pedra os prevaricadores. Quanto à conclusão do Dr. Salles, só posso dizer que tudo indica que a economia é uma ciência que cada vez mais parece escapar ao cálculo e às previsões da matemática. Então, penso que não será descabido diagnosticá-la como algo mais dependente dos humores e dos vícios do comportamento humano do que das regras absolutas da ciência. É que as décadas sucedem-se, as experiências acumulam-se e os instrumentos de análise se tornam cada vez mais aprimorados e sofisticados, e no entanto parece que não saímos dos mesmos patamares de imprevisibilidade, dúvida, incerteza e bloqueamento em que nos tolhemos em 1929 e nas crises que desde então vêm persistindo, como se fadados a não sair de um ciclo que escapa à nossa vontade e ao nosso controlo. Perdoar-me-á o Dr. Salles que eu, não sendo economista, meta aqui reflexões que podem ser tão espúrias quanto impregnadas de ignorância. Mas estes espaços são assim mesmo, permitem a expressão livre de todas as opiniões, desde que dentro das regras.

 Henrique Salles da Fonseca  18.01.2020  15:59: Tem o Senhor Coronel toda a razão, os parâmetros enunciados são nacionais e não europeus. Mas a imprensa é pródiga em referir as dificuldades por que passam os nossos principais clientes e, daí, a minha extrapolação conclusiva com o cenário externo. Os Estados membro podem seguir as políticas internas que quiserem desde que se mantenham dentro dos parâmetros definidos (os de Maastricht, p. ex.) e que não contrariem as políticas comuns. Subscrevo as dúvidas do Senhor Coronel quanto à econometria e acho mesmo que nós, os economistas, já nos deveríamos dar por muito felizes se acertássemos na interpretação do passado quanto mais nas questões relativas à previsão do que se seguirá…

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