Apaziguadora de receios sobre a continuidade
da União Europeia com a saída do Reino Unido, e a criação de projectos que
retomam programas económicos antigos, segundo visão optimista de Salles da Fonseca. Mais
assustadora a de Carlos Gaspar, trazendo à
baila o espectro de uma nova potência alemã em união económica com a USA, causadora
de estragos nessa União.
Que a “Bola
de Cristal” de Salles
da Fonseca seja mais certeira nos prognósticos, é o que se deseja,
se, entretanto, um qualquer “corona vírus”
irónico e sádico não trouxer achegas desfeiteadoras dos projectos humanos.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 29.01.20
BREXIT
AT LAST BUT NOT THE END OF US
Hoje, 29 de Janeiro de 2020, formalizou-se a saída do Reino Unido da
União Europeia.
E agora? - perguntam os ansiosos.
A minha resposta divide-se em duas
partes:
Liberto do processo do BREXIT,
vai Boris Johnson finalmente começar a governar e nós vamos finalmente poder
avaliá-lo como homem de Estado ou como…
Muito provavelmente, o Reino Unido vai regressar à EFTA (Associação
Europeia de Comércio Livre) cuja fundação ele próprio promoveu quando De Gaulle
lhe vetou a entrada na então CEE sendo que a EFTA e a CEE/UE há muito que têm
um acordo de comércio livre e, portanto, sob o ponto de vista comercial, tudo
continuará a fluir sem barreiras aduaneiras naquilo que se chama o EEE – Espaço
Económico Europeu.
Cá ficamos à espreita.
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS:
Helena Salazar
Antunes Morais gosta disto
Adriano
Miranda Lima 29.01.2020 : Estou
em inteira concordância.
Francisco
G. de Amorim 29.01.2020 : Tudo como dantes no quartel de Abrantes
II- ANÁLISE: Os usos da vertigem
Resignado, Peter Sloterdijk defende que “a mediocridade salvará
a Europa”. Pelo contrário, só o bom uso da vertigem pode salvar a Europa.
PÚBLICO, 30 de
Janeiro de 2020
Com efeito, o referendo sobre a saída
da Grã-Bretanha da União Europeia e a eleição do Presidente Donald Trump marcam
uma viragem radical na política europeia e ocidental que torna obrigatória uma
revisão das prioridades estratégicas de todos os Estados - pequenos ou grandes,
atlânticos ou continentais - da NATO e da União Europeia.
Desde
logo, a derrota de Hillary Clinton
comprometeu a mediação norte-americana entre Londres e Bruxelas, indispensável
para evitar a crise prolongada e os sucessivos bloqueios que dominaram as
conversações entre o Reino Unido e a União Europeia. Pelo contrário, Donald
Trump, o primeiro Presidente dos Estados
Unidos que considera a União Europeia como um adversário hostil, defendeu um
acordo alternativo entre Londres e Washington para dividir os aliados europeus
num momento crítico.
Por outro lado, Trump quis pôr em
causa a vinculação dos Estados Unidos à cláusula de defesa colectiva da NATO.
Nesse contexto, pela primeira vez, os aliados europeus deixaram de poder contar
incondicionalmente com a garantia estratégica norte-americana. Nesse quadro inédito de incerteza, que justifica a frase do Presidente
Emmanuel Macron sobre a “morte cerebral” da NATO, as potências
europeias têm de preparar um dissuasor alternativo que possa garantir a defesa
da Europa.
Por
último, a chanceler Angela Merkel,
para lá de constatar que os aliados europeus já não podem contar com os
Estados Unidos como no passado, escolheu o imobilismo como a melhor resposta à
mudança dos equilíbrios na União Europeia e na NATO. A Alemanha está refém dos
hábitos de dependência económica e militar dos Estados Unidos e não consegue ir
mais longe do que a defesa retórica do status quo: a sua
“Aliança para o Multilateralismo” é um sinal de impotência política.
O retraimento norte-americano, a
saída britânica e a paralisia alemã criam um impasse perigoso para todos os
Estados da NATO e da União Europeia, que reclama uma estratégia alternativa: a
França e o Reino Unido são indispensáveis para a definir.
A convergência
necessária entre França e o Reino Unido é ditada pelas novas circunstâncias.
Em primeiro lugar, sem o Reino Unido, a Alemanha pode impor a sua
hegemonia na Europa continental e subalternizar a França: em alternativa, Paris
precisa de fortalecer os seus laços com Londres no quadro da NATO para
contrabalançar Berlim na União Europeia. Em segundo lugar, se o Reino Unido não
quiser passar a ser um “junior partner” dos Estados Unidos, precisa de uma
segunda “relação especial” com a França para garantir a sua posição como uma
potência relevante na política europeia. Em terceiro lugar, a França e o Reino
Unido, as duas potências nucleares europeias, são as únicas que podem dar forma
a um dissuasor europeu com um mínimo de credibilidade e, perante a incerteza
sobre o futuro da política norte-americana, as suas capacidades estratégicas e
militares tornam-se decisivas na política europeia. Em quarto lugar, a
restauração da Entente Cordiale abre caminho a uma nova divisão do trabalho
entre a França e a Alemanha, assente no reconhecimento de que, na ausência da
garantia incondicional dos Estados Unidos, as responsabilidades de defesa são
tão importantes como as responsabilidades económicas para a União Europeia.
Portugal
antecipou essa mudança estratégica desde 2017, quando os responsáveis políticos
passaram a defender a formação de um “partido atlântico” na política europeia,
para responder à saída do Reino Unido - o mais velho aliado na mais antiga das
alianças - e conter os perigos da “continentalização” da União Europeia - uma forma
elegante de referir o peso
excessivo da Alemanha. Bem
entendido, para Portugal a dupla filiação na NATO e na União Europeia é
essencial e a possibilidade de ser obrigado a escolher entre a dimensão
atlântica e a dimensão europeia da sua política externa é um pesadelo.
O
novo “partido atlântico” só pode existir se a França e o Reino Unido o
quiserem formar, mas as duas grandes potências europeias precisam de aliados.
Os seus melhores aliados são os outros Estados históricos europeus, que têm
séculos de existência como Estados independentes e uma longa experiência da
diplomacia e da política internacional, necessárias para reordenar o espaço
atlântico, incluindo o Atlântico Sul, a África e a América Latina, e estruturar
as novas parcerias com as potências asiáticas que podem alargar a aliança das
democracias na defesa da ordem liberal.
Naturalmente, Portugal tem o
seu lugar nessa coligação dos Estados históricos, ao lado
da França e do Reino Unido, da Espanha, da Holanda ou da Suécia, unidos pela
prudência e pelo interesse comum em preservar a comunidade transatlântica,
enquadrar a potência central e consolidar a integração europeia e ocidental.
Pelo contrário, Portugal não tem um lugar digno da sua história na
periferia de um império federativo, numa União Europeia que quer ser uma
“Grande Suíça” neutral e equidistante dos Estados Unidos, da China e da Rússia.
Resignado,
Peter Sloterdijk defende que “a mediocridade salvará a Europa”. Pelo
contrário, só o bom uso da vertigem pode salvar a Europa.
Instituto
Português de Relações Internacionais (IPRI-UNL)
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