Muitas firmas costumavam fechar no final
do ano para se fazer o balanço dos resultados pecuniários obtidos ao longo
dele, maneira criteriosa de avaliar lucros e perdas no seu trabalho anual. Hoje
em dia, as firmas que singram criteriosamente, farão o mesmo, mas não sei se
existem muitas, dadas as manhas que se instalaram nas sociedades, de muitos
escapes fraudulentos ou saídas pela porta do cavalo, sem desprimor para este,
que está isento de culpa, nobre que é, embora por vezes reserve os seus
rancores para quem o maltrata, como sucedeu com a mula do papa Bonifácio, de
Avignon, que esperou sete anos para mandar o coice vingativo a um tal Tristet
Védène, criado do papa, falso como Judas, que diante do papa elogiava a mula e
longe daquele, lhe fazia patifarias que o deixavam possesso, segundo conta
Daudet.
Um professor, como dono da sua “firma”,
prepara lições e exige resultados das lições que explica, fazendo balanços nas
aulas e nos testes, para poder decidir com honestidade, da avaliação dos seus
alunos. Por isso a interrogação de Margarida
Amador, posta no título da sua crónica – «Onde
fica a equidade?», na questão da avaliação, torna-se incompreensível –
embora não se estranhe, vivendo nós na era das saídas pela porta dos fundos, ou
do cavalo, conforme os gostos. Não, já nada se estranha, neste mundo português batoteiro,
de uniformização e ambiguidades, com prejuízo para os que realmente cumprem,
alunos como professores. O Estado borrifa-se para tudo isso, habituado, ele
próprio, ao incumprimento, à porta dos fundos, ou, puramente, à parlapatice patética.
OPINIÃO: Avaliação: No momento de dar notas, onde fica
a equidade?
E, nesta altura, lá voltam alguns
professores, incomodados com quantificações e qualificações na avaliação, a
pensar para que servem tantos momentos formais de avaliação?
MARGARIDA MARRUCHO
MOTA AMADOR, DIRECTORA DO EXTERNATO O BEIRAL
PÚBLICO, 22 de Janeiro de 2020
E
eis que andamos todos baralhados e confusos com aquilo que sempre foi o trunfo
mais odiado de qualquer professor: a avaliação. Sempre foi um
indicador para o aluno da evolução da sua aprendizagem e, para o professor, caminho que deve traçar após cada momento de
avaliação. Mas com a diversidade de modos de avaliar, qual o
método mais eficaz e com melhor retorno para cada um dos intervenientes?
Acabámos
de sair das avaliações sumativas do final do 1.º período, para quem ainda
funciona por trimestres, e lá tivemos que fazer o cocktail de
ponderações, onde a maior diversidade de instrumentos deve possibilitar que
todos os alunos consigam ter sucesso e garantir a aquisição de competências e
construção de conhecimento.
A
avaliação por competências é uma tarefa difícil, dirão uns, talvez a maioria
dos professores que neste momento tenta implementar qualquer que seja o modelo
de avaliação neste novo paradigma de flexibilidade curricular, com o recurso a
metodologia de trabalho de projecto, domínios de autonomia curricular, onde se
reconhece a presença dos mesmos saberes em diversas áreas.
Fica
sempre a sensação de nivelamento, na maioria das vezes por defeito, no feedback que
damos relativamente às aquisições que os alunos vão fazendo. E, nesta altura,
lá voltam alguns professores, incomodados com quantificações e qualificações na
avaliação, a pensar para que servem tantos momentos formais de avaliação?
Quantos momentos de avaliação formal
podem ser dispensáveis ao longo de um ciclo ou de vários ciclos? Porque
continuamos a considerar que são imprescindíveis?
A
evolução das aprendizagens não se faz porque termina o trimestre e os
professores têm de dar notas. A maior parte da aquisição e construção do
conhecimento acontece em momentos de avaliação informais, todos os dias, em
diversos contextos de aprendizagem, que não têm de ser forçosamente dentro de
quatro paredes. E, nesses momentos, aluno e professor sabem que subiram um
degrau e que já se estão a lançar a outro patamar.
Algumas
vezes, e não são poucas, quando chegam os momentos formais de avaliação, por
canais de comunicação que não são amigáveis para todos no grupo de alunos, fica
tudo estragado: os estudantes perdem o entusiasmo, nivela-se por baixo e os
professores ficam com a batata quente da promoção do sucesso nas mãos.
Quantos professores não ouviram dizer que sabem que os seus alunos sabem mais
do que mostram ou que revelam estar aquém dos conhecimentos que vão mostrando
nas aulas, que oralmente e de modo informal conseguem responder, mas que depois
‘espalham-se’ no teste?
O
esforço para incluir instrumentos de avaliação informal na avaliação sumativa
formal está aí, e é aí que a equidade terá a sua maior prova, mais do que a
inclusão, a equidade é a grande medida do sucesso para todos. E estamos
todos a fazer um esforço por nos apropriarmos desta mudança e nos
comprometermos com a equidade. Mas ainda continuamos a esbarrar com a
avaliação sumativa formal com o mesmo instrumento, no mesmo dia e à mesma hora
para todos, em alguns estabelecimentos de ensino básico, mas sobretudo no
ensino secundário. Como podemos querer um percurso de mudança que promova a
equidade, se ainda temos estas quedas?
COMENTÁRIO
Artemisa Coimbra: «Mas ainda continuamos a esbarrar com a avaliação
sumativa formal com o mesmo instrumento, no mesmo dia e à mesma hora para
todos, em alguns estabelecimentos de ensino básico, mas sobretudo no ensino
secundário. Como podemos querer um percurso de mudança que promova a equidade,
se ainda temos estas quedas?» Conheço um agrupamento onde isto se impõe! E aqui
d'el rei se alguém questionar esta uniformidade !!
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