É este, das crónicas de Alberto Gonçalves, de uma
prosa galharda e perfeita, a lembrar o tal Jardim de extrema beleza, onde as
ninfas guardavam os pomos de ouro de Hera, jardim que Camões, por requinte de
adulação pátria, situa em Cabo Verde. Um prazer de leitura, de uma reflexão
escorreita, de graça e hombridade sem mácula.
O meu problema com André Ventura não é
o vosso /premium
Sempre que vejo ou ouço André Ventura
penso num sujeito decente e confiável, alternativa aos desavergonhados bandos
que mandam nisto tudo. Mas não se chama André Ventura: chama-se Pedro Passos Coelho.
ALBERTO GONÇALVES
OBSERVADOR, 18 jan
2020
Cristina Ferreira, popular apresentadora de variedades e plausível
sucessora do popular prof. Marcelo, afirmou que nunca convidará André Ventura
para o seu programa. O programa em questão é um daqueles produtos
melancólicos que enchem as manhãs televisivas e o coração das domésticas. No
caso, também é o destino obrigatório de políticos particularmente demagogos,
que passam por lá a demonstrar, como se fosse necessário, as pessoas
desagradáveis que são. Da única vez que vi, o dr. Costa levou
a família chegada e cozinhou uma mixórdia qualquer. Foi repugnante, o prato e o
resto.
André Ventura devia sentir-se satisfeito, quase orgulhoso, por nem
sequer ser considerado para desempenhar tais figuras. Não se sentiu nem uma
coisa nem outra: no Twitter, desabafou que “A Cristina e a SIC têm toda a
legitimidade para convidarem quem quiserem para os programas. Só acho que, numa
dita democracia, convidar os líderes de todos os partidos no Parlamento (menos
um), dá aquela imagem de sistema medroso e enviesado que todos já sabíamos que
existia”. André Ventura aborreceu-se por não ser chamado a conviver com o
lixo, atitude curiosa que traduz na perfeição a ambiguidade dele, dos
seguidores dele e dos inimigos dele.
Pelo
que diz e faz e pelo que dizem que ele diz e faz, quase tudo no chefe do
Chega é paradoxal. André Ventura
queixa-se do desprezo do “sistema” que afirma combater. Para não ficar atrás, o
“sistema” responde-lhe com acusações ridículas e, aqui e ali, literalmente de
pernas para o ar. Há dois ou três meses, um pequeno grupo de “personalidades”
publicou uma carta aberta a pedir que o Benfica se demarcasse de André Ventura,
na medida em que este “usa o Benfica para criar uma persona política”.
Ninguém, no lado oposto da trincheira, publicou uma carta equivalente a pedir
que André Ventura se demarcasse do Benfica, na medida em que é ridículo um
adulto discutir bola, na medida em que o mundo da bola é o poço de
rectidão que se sabe e na medida em que os dirigentes desse e de diversos
clubes da bola chafurdam em zonas sombrias da sociedade e da legalidade.
O
problema, até porque é um problema inventado e provavelmente uma mentira, não
é o Chega ser, cito a tal carta, “um partido de extrema-direita abertamente
anti-sistema e xenófobo”. O problema é o Chega colocar a corrupção no topo das
maleitas a combater e o respectivo líder andar a louvar suspeitos, e suspeitos
eternamente impunes, de beneficiarem de fraudes e subornarem juízes. Para
cúmulo, André Ventura, o Irreverente, presta-se ao papel num canal tipicamente
dócil para com o poder e cujo director reclama a intervenção do Estado nos
“media”, que pelos vistos ainda não rastejam o bastante. Os defeitos do Chega
não são os que lhe apontam. As virtudes do Chega nem sempre parecem convictas.
A maior e mais indiscutível virtude
do Chega é a capacidade de horrorizar criaturas horrorosas. Se, em pleno
parlamento, André Ventura inspira o tratamento discriminatório do dr. Ferro
Rodrigues, é garantido que André Ventura está a fazer alguma coisa bem feita. E
quem diz o dr. Ferro Rodrigues diz incontáveis indivíduos que alertam aos
gritinhos para o advento dos “fascistas”, quando durante décadas estafaram o
insulto, aplicado a todos os que não concordam com eles e, de algum modo, os
ameaçam. No embaraçoso caldo cultural que temos, repleto de leninistas com
direito à respeitabilidade pública, “fascista” deixou de ser uma ofensa para se
tornar um símbolo de distinção. Se
uma personagem do calibre do dr. Louçã chega a conselheiro de Estado, o melhor
conselho que qualquer cidadão digno deve seguir é o de salvaguardar as
distâncias a um Estado assim. Infelizmente, suspeito que a dignidade de André
Ventura resulta menos do seu afastamento voluntário face à choldra do que do
afastamento que a choldra lhe impõe.
Eu
juro que gostava de gostar do Chega, que exibe meia dúzia de ideias razoáveis
e, no nosso pobre contexto, raras. Com esforço, talvez conseguisse ignorar o
apreço do partido pela bazófia nacionalista. E a subtil aversão ao capitalismo
e à globalização, disfarçada sob as teses maluquinhas do “globalismo”. E o
fervor punitivo, próprio dos juízes de taberna. E a veneração da autoridade
fardada, própria, lá está, de comentadores da CMTV. E a exaltação vazia da “família”,
que é matéria privada e francamente não diz respeito a terceiros.
Mas não sou capaz. Apesar de me divertir com o pavor que André Ventura
suscita na ortodoxia vigente, a verdade é que diversas incoerências sugerem a
possibilidade de o homem afrontar a ortodoxia apenas por exclusão de partes. E o homem ter escolhido a parte que lhe
permite sonhar com uma carreira. Dada a inata estupidez da ortodoxia, que teima
em poupar André Ventura ao convívio com um regime em decomposição, é provável
que a carreira seja longa. Dado o actual consenso da ortodoxia, que deixa a
André Ventura o monopólio do ocasional bom senso, é provável que a carreira
seja próspera.
Não
sei se, um dia, André Ventura será o líder da resistência ao totalitarismo de
esquerda que nos assombra. Sei que, sempre que vejo ou ouço
André Ventura, penso num sujeito decente e confiável, a aparentemente única
alternativa aos desavergonhados bandos que mandam nisto tudo. Só que o sujeito
não se chama André Ventura: chama-se Pedro Passos Coelho.
COMENTÁRIOS
Alexandre Barreira: .........pois........tá bem "abelha".........trataram o PPC
"abaixo-de-cão"....e agora como não conseguem a aproximação à
"lata-de-chouriços"....porque a vida não está fácil...........berram
aos "quatro-ventos" pelo seu regresso....porque estão a ver que estes
"tótós"........nem "prás-sopas" conseguem chegar.......!!!!
Ruki Krull: : CHEGA--lhe ABERTO,...NAS PACOVICES MIXORDEIRAS DESSA PILOSA MEDÍOCRE SALOIA
SICuteira.
Não vale a pena escamotear RUI RIO é transparente,
pode vir a não governar mas garantidamente se vir que não está a fazer o que é
preciso nem lhe derem espaço (este POVÉU IDIOTA) para essa oportunidade é o
primeiro a ir em direcção à porta de saída e à sua vida, e mais! Não venera nem
se curva perante aquela coisa frenética que paira sobre Belém, a que não
se sabe muito bem o "a fazer o quê?" PASSOS tá-se cag...para quem
está ou deixa de estar na DESGOVERNICE do RECTÂNGULO, uma coisa é certa se for
chamado para tratar duma 5ª Bancarrota que possa vir mais cedo que o esperado
ele volta e muita gente PATETA que lhe vai lamber as solas. Vai ser bonito
assistir para ver o homem CHEGAr e dar uma valente chapada de Luva Branca nas
CENTENAS, CHMAUUÇAS e CATA-VENTANIAS. Zacarias Bidon:
Ventura mostrou mais uma vez que é um frouxo quando disse não defender a
expressão "importar lixo" utilizada por Sousa Lara. Ora, é precisamente de lixo que se trata: lixo
étnico e civilizacional que polui o país e a Civilização e que urge limpar.
Zacarias Bidon: O Tweet do Ace Ventura reforça a minha opinião sobre ele: é um frouxo. Até que ponto, é o que vamos saber quando a
Errada Seita fizer o seu primeiro ataque em Portugal, o que há-de acontecer
mais cedo ou mais tarde. Ainda vamos vê-lo
a fazer a distinção entre islâmico e islamista, e a dizer que temos que não
podemos confundir terroristas com muçulmanos pacíficos, etc, etc...
Ampa: " Só que o sujeito
não se chama André Ventura: chama-se Pedro Passos Coelho." Completamente de acordo.
Antonio Castanheira:: Excelente, mas vou ser votante do Chega até o Passos Coelho voltar
ANOTAÇÃO: (Lusíadas, V, 7 e 8)
«Passadas
tendo já as Canárias ilhas,
Que tiveram por nome Fortunadas,
Entrámos, navegando, polas filhas
Do velho Hespério, Hespéridas chamadas;
Terras por onde novas maravilhas
Andaram vendo já nossas armadas.
Ali tomámos porto com bom vento,
Por tomarmos da terra mantimento.
Que tiveram por nome Fortunadas,
Entrámos, navegando, polas filhas
Do velho Hespério, Hespéridas chamadas;
Terras por onde novas maravilhas
Andaram vendo já nossas armadas.
Ali tomámos porto com bom vento,
Por tomarmos da terra mantimento.
Àquela ilha
apartámos que tomou
O nome do guerreiro Santiago,
Santo que os Espanhóis tanto ajudou
A fazerem nos Mouros bravo estrago.
Daqui, tanto que Bóreas nos ventou,
Tornámos a cortar o imenso lago
Do salgado Oceano, e assi deixámos
A terra onde o refresco doce achámos.
O nome do guerreiro Santiago,
Santo que os Espanhóis tanto ajudou
A fazerem nos Mouros bravo estrago.
Daqui, tanto que Bóreas nos ventou,
Tornámos a cortar o imenso lago
Do salgado Oceano, e assi deixámos
A terra onde o refresco doce achámos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário