sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Tout passe



Uma história triste que atravessámos de longe, de transformação de um país, ao que parece, rico, num país mergulhado hoje em violência e miséria. Os textos que seguem explicam. De tudo isso, que passará um dia, com muito sofrimento do povo venezuelano, é certo, ficará talvez, apenas, a frase de Juan Carlos a um Hugo Chávez então espumante de importância: “Por qué no te calas?”- episódio cómico de tempos caricatos ainda.
I - EDITORIAL
Venezuela, a amarga herança de um ditador ignóbil
O que está a acontecer na Venezuela é um crime hediondo perpetrado por um regime odioso, liderado por um dos mais ignóbeis líderes do mundo contemporâneo.
MANUEL CARVALHO
PÚBLICO, 30 de Janeiro de 2020
Cada dia que passa sem se falar no drama humano dos venezuelanos é um dia de cumplicidade com um dos mais abjectos regimes do nosso tempo. Já sabíamos das sistemáticas violações das regras democráticas e do estado de direito, já sabíamos do êxodo de milhões de venezuelanos para os países vizinhos e, sim, também já sabíamos que a maioria da população sobrevivia em condições de vida miseráveis. Mas, apesar de todo esse conhecimento, as revelações do Fundo Monetário Internacional que apontam para uma redução de 20% da população e uma quebra no rendimento nacional medido pelo PIB de 65% em apenas cinco anos vão muito para lá da ideia de ruína que poderíamos ter projectado. O que está a acontecer na Venezuela é um crime hediondo perpetrado por um regime odioso liderado por um dos mais ignóbeis líderes do mundo contemporâneo.
Perante um retrato assim tão avassalador, deixa de ser possível qualquer tipo de condescendência ou qualquer esforço de compreensão sobre Nicolás Maduro e os seus sequazes. O que aconteceu, melhor, o que está a acontecer na Venezuela só tem paralelo em regiões devastadas por desastres naturais ou em países arrasados por uma guerra. Mas a Venezuela, que desde 2013 viu a sua riqueza reduzir-se em dois terços, nem foi flagelada pelo clima nem perturbada pela guerra. A sua destruição e a condenação de todo um povo à miséria fizeram-se sob a égide de um tirano dissimulado sob as bandeiras de um socialismo anunciado como libertador e sob a égide de um líder, Simón Bolívar, venerado como um herói. Uma das mais colossais mentiras do nosso tempo.
Depois de décadas de corrupção, de desigualdade e violência social e económica, a Venezuela desfaz-se perante os nossos olhos pela determinação de um ditador e da sua clientela corrupta. Não é fácil derrubar um líder e um regime assim. Todas as pressões diplomáticas estão condenadas ao desdém. Todas as sanções acabarão por penalizar os que já hoje mais sofrem. Havendo petróleo na equação, haverá sempre uma Rússia, uma China ou um Donald Trump a quebrar consensos. Havendo palavras de ordem contra a América ou contra o capitalismo, haverá sempre políticos ou intelectuais patéticos a defender Nicolás Maduro e a apontar o dedo aos que supostamente o obrigaram a condenar o seu povo a uma intolerável miséria.
Entre os extremos da cegueira ideológica, sobram ainda assim todos os que, da esquerda ou da direita, não se resignam a um suposto fatalismo do drama venezuelano. Deixar de o recordar e denunciar a cada passo é fazer o jogo que mais interessa ao cruel ditador de Caracas. 
COMENTÁRIOS:
ana cristina: Os fãs da ditadura escrevem livremente e de barriga cheia. Assim é fácil.
Diabinho Malandro, 30.01.2020 O problema venezuelano é uma combinação de erradas decisões económicas típicas do socialismo, da corrupção que elas arrastam, da contradição entre um projecto socialista e a permanência de grande parte das empresas no sector privado, da dependência atávica do petróleo e do bloqueio económico-financeiro feito pelo sistema capitalista internacional, que contribui e muito para a miséria do povo.

II -V
Venezuela perdeu dois terços da riqueza e vai perder 20% da população
O PIB do país diminuiu 35% em 2019 e as previsões do FMI apontam para uma redução de mais 10% este ano. A migração para os países vizinhos deverá superar as seis milhões de pessoas em 2020.
PÚBLICO, 29 de Janeiro de 2020
A crise económica e política na Venezuela está a estrangular o crescimento do país que desde 2013 já viu o seu produto interno bruto (PIB) descer 65%, de acordo com os números do Fundo Monetário Internacional (FMI). Só em 2019, a economia venezuelana encolheu 35%. Para termos um exemplo comparável, a crise económica grega levou à redução de um quarto do PIB em seis anos (2008-2013).
“É muito difícil imaginar um país que possa continuar a cair a taxas anuais de 35%”, disse o director para o Hemisfério Ocidental do FMI, na apresentação do quadro macroeconómico regional. “Os modelos tendem a apontar para uma estabilização, mas não a uma recuperação”, acrescentou Alejandro Werner.
O FMI explica que o encolhimento do PIB venezuelano se deveu “à descida da produção de petróleo, à hiperinflação, ao colapso dos serviços públicos e à queda a pique do poder aquisitivo”.
De acordo com o Fundo, “estas tendências deverão continuar em 2020, embora a menor ritmo”, isto é, sem perspectivas de uma recuperação nos próximos tempos. Para 2020, a previsão é que a economia ainda desça outros 10% e mais 5% em 2021.
 “A grave crise humanitária provocou uma das maiores crises migratórias da história e prevê-se que em 2020 migração para os países vizinhos supere os seis milhões de pessoas, quer dizer, 20% por cento da população”, refere Werner nas suas Perspectivas para a América Latina e as Caraíbas: Novos Desafios ao Crescimento, lançado esta quarta-feira.
Extremamente dependente do petróleo, a economia venezuelana sofre a má gestão da companhia petrolífera estatal (PDVSA), a falta de investimento num sector que precisa de muita injecção de capital para manter a produção e as sanções impostas pelos EUA, principal comprador do crude da Venezuela (quatro em cada dez barris).
“Todos os anos pensamos que a queda da produção de petróleo será menor que a do ano em curso”, disse Werner na apresentação. E a verdade é que este ano haverá “uma certa estabilização, sim, mas a níveis muito baixos”. O que permitiu ao FMI rever as suas previsões e a Venezuela não está a caminho “da maior hiperinflação da história”, mas, ‘apenas’ para uma hiperinflação. 
COMENTÁRIOS
Darktin, 30.01.2020: Vamos lá ver. O problema da Venezuela é de incompetência gritante desde que Chávez chegou ao governo. Chávez criou uma economia irreal baseada no barril quando este chegou a estar nos 150 dólares. Ainda mais que os EUA eram o seu maior cliente porque os EUA não conseguia suprir as suas necessidades. Hoje o barril está nos 59 dólares e os EUA já não importam mais crude (ou não importam tanto como antigamente). Chavez morreu e entrou um maquinista do metro que gosta de mastigar folhas de coca e falar com passarinhos imaginários. Maquinista este que amordaçou a Democracia quando se deu conta que não seria mais eleito e as suas contas seriam auditadas provando o alastramento da corrupção do seu governo. Ora, o que fez então Maduro? Como bom ditador, criou uma ditadura militar. E qual o primeiro sintoma de uma ditadura militar? Eu sei porque vivi numa e sei da impunidade e poder que os militares podem ganhar. Quando estiveres num país onde os generais comandam as empresas e indústrias estatais e um soldado ganhar mais por mês que um médico e muito mais que um professor, significa que estamos perante una Ditadura Militar. E é triste porque os militares num governo de Ditadura, têm a faca e o queijo na mão. Com o tempo, vão passar a chantagear ainda mais Maduro. Ninguém se apercebeu, mas não foi Maduro a derrotar Guaidó. Foram os generais. Foram estes que saíram às  ruas para mostrar a sua força. Não foi Maduro. Com o tempo, quase que arrisco a dizer que Maduro passará a ser um governante fantoche. Se é que já não o é.
Albano, 30.01.2020: O socialismo não avança porque é sabotado constantemente pelo imperialismo norte-americano e pelo Ocidente. Esta é a opinião do PCP e seus acólitos e de tanto a repetirem, estou quase a acreditar!
Dr. Alforreca Passista nº5, 30.01.2020: A Escandinávia é mais socialista que a Venezuela. A maioria das empresas na Venezuela está organizada no método capitalista...
Albano, 30.01.2020: Não me diga! A Escandinávia não é alinhada a Cuba e nem ao socialismo marxista. O que destruiu a Venezuela foi o assistencialismo, os subsídios generalizados, sem haver lastro financeiro para cobrir tanta generosidade. Um erro sistemático do populismo de esquerda marxista. Isso para não falar da corrupção generalizada.

Nenhum comentário: