Uma história triste que atravessámos de
longe, de transformação de um país, ao que parece, rico, num país mergulhado
hoje em violência e miséria. Os textos que seguem explicam. De tudo isso, que
passará um dia, com muito sofrimento do povo venezuelano, é certo, ficará talvez,
apenas, a frase de Juan Carlos a um Hugo Chávez então espumante de importância: “Por
qué no te calas?”- episódio cómico de tempos caricatos ainda.
I - EDITORIAL
Venezuela, a amarga herança de
um ditador ignóbil
O que está a acontecer na Venezuela é um crime
hediondo perpetrado por um regime odioso, liderado por um dos mais ignóbeis
líderes do mundo contemporâneo.
MANUEL CARVALHO
PÚBLICO, 30 de Janeiro de 2020
Cada
dia que passa sem se falar no drama humano dos venezuelanos é um dia de
cumplicidade com um dos mais abjectos regimes do nosso tempo. Já
sabíamos das sistemáticas violações das regras democráticas e do estado de
direito, já sabíamos do êxodo de
milhões de venezuelanos para os países vizinhos e, sim, também
já sabíamos que a maioria da população sobrevivia em condições de vida
miseráveis. Mas, apesar de todo esse conhecimento, as revelações do Fundo Monetário Internacional que
apontam para uma redução de 20% da população e uma quebra no rendimento
nacional medido pelo PIB de 65% em apenas cinco anos vão muito para lá da ideia
de ruína que poderíamos ter projectado. O que está a acontecer na Venezuela é
um crime hediondo perpetrado por um regime odioso liderado por um dos mais
ignóbeis líderes do mundo contemporâneo.
Perante
um retrato assim tão avassalador, deixa de ser possível qualquer tipo de
condescendência ou qualquer esforço de compreensão sobre Nicolás Maduro e os
seus sequazes. O que aconteceu, melhor, o que está a acontecer na Venezuela só
tem paralelo em regiões devastadas por desastres naturais ou em países
arrasados por uma guerra. Mas a Venezuela, que desde 2013 viu a sua riqueza
reduzir-se em dois terços, nem foi flagelada pelo clima nem perturbada pela
guerra. A sua destruição e a condenação de todo um povo à miséria fizeram-se
sob a égide de um tirano dissimulado sob as bandeiras
de um socialismo anunciado como libertador e sob a égide de um líder, Simón Bolívar,
venerado como um herói. Uma das mais colossais mentiras do nosso tempo.
Depois
de décadas de corrupção, de desigualdade e violência social e económica, a Venezuela
desfaz-se perante os nossos olhos pela determinação de um ditador e da sua
clientela corrupta. Não é fácil derrubar um líder e um regime assim. Todas as
pressões diplomáticas estão condenadas ao desdém. Todas as
sanções acabarão por penalizar os que já hoje mais sofrem. Havendo
petróleo na equação, haverá sempre uma Rússia, uma China ou um Donald Trump a
quebrar consensos. Havendo palavras de ordem contra a América ou contra o
capitalismo, haverá sempre políticos ou intelectuais patéticos a defender
Nicolás Maduro e a apontar o dedo aos que supostamente o obrigaram a
condenar o seu povo a uma intolerável miséria.
Entre
os extremos da cegueira ideológica, sobram ainda assim todos os que, da
esquerda ou da direita, não se resignam a um suposto fatalismo do drama
venezuelano. Deixar de o recordar e denunciar a cada passo é fazer o jogo que
mais interessa ao cruel ditador de Caracas.
COMENTÁRIOS:
Diabinho Malandro, 30.01.2020 O problema
venezuelano é uma combinação de erradas decisões económicas típicas do
socialismo, da corrupção que elas arrastam, da contradição entre um projecto
socialista e a permanência de grande parte das empresas no sector privado, da
dependência atávica do petróleo e do bloqueio económico-financeiro feito pelo
sistema capitalista internacional, que contribui e muito para a miséria do
povo.
Venezuela
perdeu dois terços da riqueza e vai perder 20% da população
O
PIB do país diminuiu 35% em 2019 e as previsões do FMI apontam para uma redução
de mais 10% este ano. A migração para os países vizinhos deverá superar as seis
milhões de pessoas em 2020.
PÚBLICO, 29 de Janeiro de 2020
A
crise económica e política na Venezuela está a estrangular o crescimento do
país que desde 2013 já viu o seu produto interno bruto (PIB) descer 65%, de
acordo com os números do Fundo Monetário Internacional (FMI). Só em 2019, a
economia venezuelana encolheu 35%. Para termos um exemplo comparável, a crise
económica grega levou à redução de um quarto do PIB em seis anos (2008-2013).
“É
muito difícil imaginar um país que possa continuar a cair a taxas anuais de
35%”, disse o director para o Hemisfério Ocidental do FMI, na apresentação do
quadro macroeconómico regional. “Os modelos tendem a apontar para uma
estabilização, mas não a uma recuperação”, acrescentou Alejandro Werner.
O
FMI explica que o encolhimento do PIB venezuelano se deveu “à descida da
produção de petróleo, à hiperinflação, ao colapso dos serviços públicos e à
queda a pique do poder aquisitivo”.
De
acordo com o Fundo, “estas tendências deverão continuar em 2020, embora a menor
ritmo”, isto é, sem perspectivas de uma recuperação nos próximos tempos. Para
2020, a previsão é que a economia ainda desça outros 10% e mais 5% em 2021.
“A grave crise humanitária provocou uma das
maiores crises migratórias da história e prevê-se que em 2020 a migração para os países vizinhos supere os seis milhões de pessoas, quer dizer,
20% por cento da população”, refere Werner nas suas Perspectivas para a América
Latina e as Caraíbas: Novos Desafios ao Crescimento, lançado esta quarta-feira.
Extremamente
dependente do petróleo, a economia venezuelana sofre a má gestão da companhia
petrolífera estatal (PDVSA), a falta de investimento num sector que precisa de
muita injecção de capital para manter a produção e as sanções impostas pelos EUA, principal comprador do crude da Venezuela (quatro em
cada dez barris).
“Todos
os anos pensamos que a queda da produção de petróleo será menor que a do ano em
curso”, disse Werner na apresentação. E a verdade é que este ano haverá “uma
certa estabilização, sim, mas a níveis muito baixos”. O que permitiu ao FMI
rever as suas previsões e a Venezuela não está a caminho “da maior
hiperinflação da história”, mas, ‘apenas’ para uma hiperinflação.
COMENTÁRIOS
Darktin, 30.01.2020: Vamos lá ver. O problema
da Venezuela é de incompetência gritante desde que Chávez chegou ao governo.
Chávez criou uma economia irreal baseada no barril quando este chegou a estar
nos 150 dólares. Ainda mais que os EUA eram o seu maior cliente porque os EUA
não conseguia suprir as suas necessidades. Hoje o barril está nos 59 dólares e
os EUA já não importam mais crude (ou não importam tanto como antigamente).
Chavez morreu e entrou um maquinista do metro que gosta de mastigar folhas de
coca e falar com passarinhos imaginários. Maquinista este que amordaçou
a Democracia quando se deu conta que não seria mais eleito e as suas contas
seriam auditadas provando o alastramento da corrupção do seu governo. Ora, o
que fez então Maduro? Como bom ditador, criou uma ditadura militar. E
qual o primeiro sintoma de uma ditadura militar? Eu sei porque vivi numa e sei
da impunidade e poder que os militares podem ganhar. Quando estiveres num país
onde os generais comandam as empresas e indústrias estatais e um soldado ganhar
mais por mês que um médico e muito mais que um professor, significa que estamos
perante una Ditadura Militar. E é triste porque os militares num governo de
Ditadura, têm a faca e o queijo na mão. Com o tempo, vão passar a chantagear
ainda mais Maduro. Ninguém se apercebeu, mas não foi Maduro a derrotar Guaidó.
Foram os generais. Foram estes que saíram às ruas para mostrar a sua força. Não foi Maduro.
Com o tempo, quase que arrisco a dizer que Maduro passará a ser um governante
fantoche. Se é que já não o é.
Albano, 30.01.2020: O socialismo não avança porque é sabotado
constantemente pelo imperialismo norte-americano e pelo Ocidente. Esta é a
opinião do PCP e seus acólitos e de tanto a repetirem, estou quase a acreditar!
Dr. Alforreca Passista nº5, 30.01.2020: A Escandinávia é mais socialista que a Venezuela. A
maioria das empresas na Venezuela está organizada no método capitalista...
Albano, 30.01.2020: Não me diga! A Escandinávia não é alinhada a Cuba e nem
ao socialismo marxista. O que destruiu a Venezuela foi o assistencialismo, os
subsídios generalizados, sem haver lastro financeiro para cobrir tanta
generosidade. Um erro sistemático do populismo de esquerda marxista. Isso para
não falar da corrupção generalizada.
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