quinta-feira, 6 de maio de 2021

“Austera, apagada e vil tristeza”


Afinal, de todo o sempre, como o sentiu o injustiçado Camões. O retrato foi feito há muito, já nos tempos mediévicos houve quem o apontasse. Não, não mudámos, se bem que hoje se faz à sombra da partidarite. João Marques Almeida esclarece melhor, precisando os dados duma corrupção profundamente incrustada, a começar na educação e a continuar no compadrio. Sem contar com as nossas misérias justiceiras... Dá pena.

O PS ocupa, o Bloco radicaliza, o PCP “educa”, mas os portugueses resistem /premium

Para quem está nas direitas, o nosso país passa por um momento bem complicado. O PS ocupa o Estado, o BE radicaliza a sociedade e o PCP “educa” – ou melhor deseduca – os nossos jovens nos liceus.

JOÃO MARQUES DE ALMEIDA   Colunista do Observador

 OBSERVADOR, 05 mai 2021

As notícias e reportagens dos últimos dias sobre a quantidade de jotas socialistas contratados para trabalhar no Estado foram impressionantes. O PS ocupa o Estado, incluindo as autarquias onde está no poder, com pais e filhos, tios e sobrinhos, primos e primas, maridos e mulheres, namorados e namoradas. A filiação no PS é mais eficaz para arranjar um emprego do que um curso superior numa boa universidade. Eu ainda sou daqueles que acredita que o estudo e as boas notas são a melhor forma de começar uma carreira profissional de sucesso. Aprendi isso com os meus pais e avós – e ensinei isso aos meus filhos. Infelizmente, o PS demonstra como estou errado.

Eis a vida de um socialista de sucesso. Entra na Juventude Socialista e aprende logo que a reunião certa é mais importante do que uma boa nota num exame. Trabalhar para os padrinhos políticos leva-o mais longe do que estudar e ler livros. Os que fazem o que deve ser feito chegam antes dos 30 anos a gabinetes de ministros e de secretários de Estado. Os mais eficazes são promovidos para lugares de chefia no Estado. Espera-os uma missão fundamental. Quando – e se – o PS regressar à oposição, compete-lhes boicotar os governos de direita. Gradualmente, o Estado português substitui os funcionários públicos competentes por militantes socialistas. Sobretudo no que interessa para exercer o poder e controlar os cidadãos: a segurança social e a máquina fiscal. Quem controla os impostos, as contribuições sociais e os impostos, tem um enorme poder sobre os portugueses.

Simultaneamente, o Bloco de Esquerda trabalha com zelo e método para radicalizar a sociedade. O Bloco lidera os ataques à noção tradicional de família, à história e à identidade nacionais, com a promoção de agendas sociais radicais e até de conflitos raciais. Apesar de alguma oposição de socialistas, mais conservadores em privado do que publicamente nas matérias de costumes, o PS aceita a agenda radical social do BE, em troca de favores na economia e no combate à corrupção. O Bloco está agora empenhado em legislar contra o enriquecimento ilícito, mas por que razão nunca impôs essa condição para aprovar os orçamentos durante os quatro anos da geringonça? Será que nessa altura o enriquecimento ilícito não era importante?

A conquista do Estado pelo PS, apesar dos fracassos monumentais de governos socialistas desde o início do século, de mãos dadas com a radicalização bloquista, é facilitada pelo nível miserável da educação pública no nosso país. Os meus três filhos estudaram no ensino público, vi os programas e contaram-me o que ouviam nas aulas de história e de estudos sociais. O ensino público está a transformar-se na promoção de uma agenda ideológica marxista, que ataca o passado de Portugal, que em alguns casos defende a antiga União Soviética e critica os Estados Unidos, que diaboliza o capitalismo, elogiando o período revolucionário de 1975. As teses Marxistas do nosso ensino oficial devem-se em grande medida à influência dos sindicatos comunistas na política de educação. As forças sindicais de um partido com 300 mil votos são nefastas para a educação de milhões de jovens portugueses.

Esta “educação” continua depois em muitas universidades, sobretudo nas Ciências Sociais. Veja-se o resultado. A maioria dos nossos debates públicos são de uma pobreza extrema e de uma ignorância assustadora. A falta de educação de grande parte da nossa classe política (sim, também incluo o Chega), manifesta-se todos os dias nas nossas televisões. Alguns dos nossos políticos e intelectuais costumam queixar-se das redes sociais. Tenho muitas vezes a impressão que todo o Portugal se transformou numa enorme rede social.

No meio de tudo isto, há muitos portugueses que resistem. Com tudo a correr bem entre 2015 e 2019 (o mundo pré-pandemia, lembram-se?), o PS não conseguiu sequer que 2 milhões de eleitores votassem em António Costa (votaram, mais precisamente, 1 milhão e 900 mil). Foi o governo que recebeu o menor número de votos desde 1987. O Bloco teve cerca de meio milhão de votos e o PCP um pouco mais de 300 mil. Ou seja, estes três partidos querem construir um poder absoluto sobre a sociedade portuguesa com os votos de cerca de 27% da população. Nas sondagens desde então, o PS está sempre abaixo da maioria absoluta, o BE não chega aos 10% e o PCP tem mais ou menos 5%.

O número de abstencionistas deve situar-se entre 3 e 4 milhões, mais do dobro dos que votaram no PS, no Bloco e no PCP. Parece-me óbvio que aqueles que não votaram no PS ou nas esquerdas, em 2019, dificilmente o vão fazer no futuro. Bem sei que os nossos especialistas em sondagens nos dizem que é muito difícil convencer os abstencionistas a votar. Mas devemos recusar essa condenação da nossa democracia. Um país onde mais de metade dos eleitores não vota tem uma democracia doente.

É à oposição que compete tentar curar a doença da nossa democracia. O que estão a fazer os partidos das direitas, os velhos e os novos, para entender os abstencionistas? Por que não votam? Quando deixaram de votar? Desistiram da democracia ou estão apenas insatisfeitos com a política? O que querem, o que pensam, o que defendem? Como é que se pode trazê-los de volta à política? Se os partidos de direita não estão a tentar compreender os abstencionistas, não estão a fazer nada. Está na altura de começarem a trabalhar a sério. Só se pode derrotar as esquerdas com os que deixaram de votar. É difícil? É seguramente. Mais uma razão para começarem a trabalhar a sério e rapidamente.

POLÍTICA   PS   PCP   BLOCO DE  ESQUERDA

COMENTÁRIOS

Filipe Costa: Eu tive professores marxistas, alguns na primária, outros no secundária e ficou por aí, fugi para a programação, aqui não me apanham.          Portugal, que Futuro JMA,: 1.- Há muitos anos que a abstenção em Portugal tende para cerca de metade dos votantes inscritos. 2.- Nas legislativas de 2011 votaram 58,07% dos inscritos. Utilizando o seu raciocínio, com o qual não concordo, o PSD ganhou as eleições sozinho com 38,65%*58,07%=22,44%. Mais tarde, num acordo pós-eleitoral, tal como fez a geringonça, juntou-se ao CDS que acrescentou: 11,70%*58,07%=6,79%. Total: (22,44%+6,79%)=29,23%. Conclusão: tivemos um governo de maioria absoluta com "os votos de 29,23% da população".  Foi este o seu raciocínio....          Maria Narciso: Quanto mais a Luta Aquece -  Mais Força tem o PS. E agora que a Luta está Quente  - O PS vá em Frente.         Anibal Augusto Milhais: Para quem está nas direitas, o nosso país passa por um momento bem complicado. O PS ocupa o Estado, o BE radicaliza a sociedade e o PCP “educa” – ou melhor deseduca – os nossos jovens nos liceus. Ao que chega o desespero!         Sergio Coelho: Certo. Um povão inapto, inculto, sem civismo, ignorante e anestesiado e estupidificado por futebolada 24h dia, merece estes inaptos, nepotistas, carreiristas, machistas, poleiristas e DDT e bancarroteiros.        ZLV: Acredito que se houvesse hipótese de reduzir significativamente a abstenção e o poder do PS, os resultados eleitorais começariam a ser falseados.          Alexandre Areias: É mais que certo que uma maioria de eleitores, que jamais votariam nesta esquerda terceiro-mundista que nos governa, desistiu de exercer o seu direito ao voto, em grande medida porque como principal alternativa têm um PSD e um CDS que não querem ser oposição. Também é certo que, no dia que este eleitorado for mobilizado e que a abstenção desça para níveis mais razoáveis, na ordem dos 20-30%, o PS e os seus camaradas de viagem marxistas são varridos do governo           Paula Quintão: Excelente artigo. Cada tiro (leia-se parágrafo) cada melro!!           Vitor Fonseca: Podemos escolher entre:  comunismo ou LIBERDADE. Está nas nossas mãos ensinar e fazer ver aos abstencionistas de que os comunistas são quase "obrigados" a votar, como tal, são estes abstencionistas que determinam e decidem que esta gente continua a governar.          TIM DO Ó: ZMar: O PS até já ocupa casas particulares! A Venezuela está próxima.         antonyo antonyo: Sempre achei incompreensível como era possível que a extrema esquerda com menos de 20% de votos tivesse a relevância que tem . Claro que a boa imprensa, o culturalmente correcto, a total iliteracia política dum povo que se deleita com novelas e concursos da tv, e duma juventude que vive para as redes sociais e sobretudo que não lê nem adquiriu hábitos de leitura, não poderia ter outro resultad . O que me incomoda é que daqui a uns anos quando o país estiver ainda a bater mais no fundo, já não será possível voltar a pôr a pasta dentro da bisnaga. Que tristeza de país e de políticos!          Clarisse Seca: Um assunto muito pertinente do Sr. Marques de Almeida. É preciso que muitos Portugueses que não votam o leiam e reflictam. Os Portugueses precisam de pensamento crítico, senão não conseguiremos sair deste atoleiro social comunista a querer dominar tudo.       CarlosMSantos >  Clarisse Seca: Os Portuguese que não votam, não lêem. É esse o grande problema.           Dragão 2019:  "O PS ocupa, mas os portugueses resistem" Que remédio!!!            Manuel Magalhães: Bom artigo, só faltou referir as enormes culpas nesta situação de uma comunicação social sem dignidade em relação à sua profissão e completamente vendida ao governo e ao status quo...          Antonio Monge: A Suzana Garcia se ganhar Amadora, como espero que ganhe, pode vir a provocar uma reviravolta no PSD. Com este PSd não vamos a lado nenhum. Veja-se Madrid. Ayuso não teve problemas em ir contra o Sanchismo e aplicar um confinamento mais suave e selectivo em Madrid (metade da polpulação portuguesa, só para referência). Deu trabalho, e apostou na responsabilidade individual, mas também soube dar o exemplo. Resultado: não deprimiu a economia, não deprimiu as pessoas, e os madrilenos viram mérito nessas e noutras medidas e deram-lhe quase maioria absoluta. Também não teve complexos em aliar-se ao Vox e ao Cs. E quando diziam que isso a levava à desgraça eleitoral, afinal mais que duplicou os seus deputados. Hoje é uma séria candidata a líder do PP espanhol! Por aqui o PSd recusa-se a propor alternativas ao confinamento autoritário em nome de um suposto interesse nacional. Assina estados de indigência, de cruz, um após outro, em nome de um inverosímil interesse nacional. Fala do Chega como se este representasse algum imaginário perigo quando o único e real perigo que nos tem levado para o abismo, está perfeitamente identificado e coligado, é amigo da e rima com onça. Espero que o PSD vá urgentemente à farmácia comprar pastilhas para acordar! advoga diabo: É verdade que os portugueses resistem, mas ao recrudescimento da extrema-Direita que se limita a aproveitar a "ausência" da Direita, como, aliás, o confirmam eleições e sondagens.         Luis Mira Coroa: Acertas em cheio! Parabéns!           João Alves: Mas essa é a estratégia dos marxistas post-modernistas que ocupam o aparelho de estado com o beneplácito das direitas serôdias.          António Sennfelt: Nas eleições de ontem na região autonómica de Madrid, Isabel Dias Ayuzo, candidata do PP (na Oposição), alcançou mais votos que toda a Esquerda junta! E conseguiu que mais de 80% dos eleitores fossem às urnas,  comprovando assim que, mau grado todos os seus tentáculos, o polvo socialista pode ser derrotado! Desde que, obviamente, haja uma Oposição corajosa e inteligente...         Rita Salgado: Tenho esperança que apareça uma Ayuso em Portugal. A nossa esquerda moralmente superior está a esticar a corda a limite. Vai partir! É uma questão de tempo e de que apareça alguém decente e corajoso, sem medo de ser politicamente incorrecto. E, já agora, que não diga "os portugueses e as portuguesas"!           Antonio Monge > Rita Salgado: Muito bom o seu comentário, em toda a linha! VICTORIA ARRENEGA: Excelente. Chamou-me particularmente a atenção aquela parte do artigo em que se afirma que os jovens Socialistas que o PS descarrega às pazadas  em lugares de administração estratégicos, servirão no futuro para boicotar um governo não PS. Não basta ganhar eleições. Parece que a verdadeira luta vem de seguida contra forças de bloqueio. A análise que faz do papel das forças políticas  que quer no governo, quer pelo apoio que a ele dão, condicionam a nossa vida, é uma análise perfeita. Diz muito de forma concisa. Antes pelo contrário > VICTORIA ARRENEGA: Isso é o que aconteceu desde 1976, Soares começou a meter boys & girls em todo o lado e desde então nunca mais parou. É por isso que eles controlam a máquina do Estado.         Antes pelo contrário:  Esqueceu-se do óbvio: É que a culpa disso tudo, é a incapacidade de quem "está nas direitas"!!! Porque em política não basta "estar", é preciso dizer e fazer alguma coisa!!! A incompetência de Rui Rio e da sua côrte de barões e de lacaios está a destruir não apenas o PSD mas igualmente a afundar o país, moral e politicamente. Tem hoje aqui como exemplo o brilhante texto de Suzana Garcia, infinitamente mais capaz do que as nódoas que estão à frente do PSD. E o Moedas, ainda não deu uma para a caixa, e visivelmente nem percebe nada nem tem capacidade para vencer em Lisboa - quanto mais para liderar o Município!!!             VICTORIA ARRENEGA > Antes pelo contrário: Vi a entrevista De Moedas a  Miguel Sousa Tavares.  Fiquei com a ideia de um homem habituado à Europa mas pouco familiar com a política autárquica lisboeta. Uma entrevista muito centrada na agenda cultural. Acho que  a mensagem não vai passar. Serão os lisboetas que passarão ao lado. Mas pode ser que eu esteja enganada.         Martelo de Belem >  ....Antes pelo contrário: Infelizmente devo concordar com tudo o que diz. Talvez melhor que seja Costa a gerir o que ai vem, mas por outro lado o espectro de uma Ditadura comunista é aterrador, sabendo que a UE tudo permite e aceita         Mirza Cassamo: Excelente artigo.            Alberto Sérgio Sousa: A indigência intelectual e falta de calibre de alguns ministros, que se arrastam pelo poder desde sempre, é confrangedora... É uma oligarquia que não é capaz de ter um destino maior para um País, que se afunda nos rankings europeus... Gente fraca. Preocupada com a espuma dos dias e com a sua subsistência. E que sabe não ter qualidade se não estiver abrigada pelo guarda-chuva do Estado.           Carlos Quartel: A foto dos boys and girls da JS foi oportuna, para recordar aos mais distraídos como isto funciona. Os mais atentos, há muito que sabem isto e sabem mesmo que , em sociedades pouco politizadas, pouco exigentes e com oposições fracas é isto que acontece sempre. O PS de hoje é a UN de ontem, é o trampolim para o mundo novo da cunha, do empenho, do compadrio, da incompetência, tudo resultando numa corrupção larvar , de vários graus, mas que tudo invade. O mais triste é que, com outro partido qualquer, tudo leva a crer que o resultado seria o mesmo. Quem pôde passou à frente e vacinou-se, quem pode mete cunha no hospital, na repartição, aldraba na compra de casa, para enganar o fisco, falsifica cartas de condução e inspecções de veículos, inventa facturas e empresas para sacar IVA, burla e rouba velhotes, etc etc É uma sociedade doente, o PS  não é a causa, e bem mais um um efeito, um sintoma .....

 

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