sábado, 8 de maio de 2021

Vale a pena?


Voltar à “vaca fria”, ainda que com moderação - bailinho da Madeira, vira ou corridinho algarvio, rodopiando, ou apenas rodando, ou batendo pés ou mãos, na parolice das voltinhas e das muitas comezainas televisivas, para mais com os dinheiros dos empréstimos … ou mesmo dos impostos … Não, não vale a pena repisar. Ou rodopiar. Saboreemos as comidas televisivas com os olhos da nossa gulodice. E silenciemos, respeitando, democraticamente, as divergências de pontos de vista. Moderação… é o tanas!

Os moderados /premium

A verdade é que este ar do tempo, tão imoderado, me interpela. Convivo mal com o automático extermínio de qualquer sintoma de equilíbrio, qualquer veio de moderação ou vislumbre de partilha de ideias.

MARIA JOÃO AVILLEZ

OBSERVADOR, 05 mai 2021 

1 Escrevo no primeiro dia de maio, na luz silenciosa de um grande apartamento lisboeta. E de repente, o tempo saiu lesto e decidido do “hoje” onde estou e foi buscar uma muito, muito longínqua chamada telefónica feita por alguém há exactamente quarenta e sete anos. Deviam ser umas oito e tal da noite, quando o telefone tocou num segundo andar do Campo Grande: “Mário, esta tudo perdido…” pausa. Soares ficou interdito: seis dias após o 25 de Abril, aquele telefonema? Do outro lado da linha, Vítor Cunha Rego não se impacientava: “está sim, você hoje saiu do estádio de braço dado com o Cunhal e não podia…”.

A coreografia daquele aclamatório e tão festivo primeiro de Maio de 1974 que Soares, com Lisboa inteira na rua, celebrara “de braço dado” e “política dada” com Álvaro Cunhal, alertava, sem que ainda quase ninguém tivesse dado por isso, que iria haver mais do que um 25 de Abril. Mas Vítor Cunha Rego, excepcional observador da coisa política, ex-revolucionário, fatalista e recém-chegado ao país de um longo exílio pelas américas latinas, dera por isso. Tinha razão: ia começar a revolução. Carimbada aliás um ano depois pela interdição do acesso do “fascista” Soares ao Estádio Primeiro Maio”. Os comunistas não deixaram. Soares não era “daquele” 25 de Abril. Não tinha direito a passar a porta.

2 O 25 de Abril “único” e “de todos” durou apenas algumas horas. Não podia deixar de ser assim. Não por haver naturalmente mais que uma oposição, mas por África, a questão central que há muito consumia o interior do próprio regime e tornava as coisas ou impossíveis ou irresolúveis. Iria por isso – ou muito por isso – haver mais de um 25 de Abril, haver mais de um “lado” e África iria ocupar então o lugar que competia aos Impérios a caminho de deixarem de o ser: um confuso, violento, enganoso, vexatório dilaceramento. A passagem sem transição de um golpe de Estado para uma revolução comunista nunca permitiria outra coisa. Anulando a posição de moderados, civis ou militares, que de há muito tinham aprendido – e apreendido – o chão africano que tinham pisado, e de há muito reflectido sobre que futuro destino para ele. Nunca puderem dizê-lo ou partilhá-lo, a revolução não deixou: uma poderosa matriz inicial que muito influenciou e muitíssimo determinou o que se seguiu. Até hoje.

3 E no entanto… a aguda consciência da “impossibilidade” da manutenção do Império foi desde a década de sessenta e com a óbvia vontade da democracia um dos mais fortes pólos agregadores de uma larga massa de gente, levando-a intervir cívica e politicamente: foram vários os fóruns, várias as instâncias, eram vários os grupos. Vinham da sociedade civil, preferiam as reformas à revolução, a moderação à agitação extremista, queriam uma, digamos, solução negociada para África, oscilavam entre o centro direita e o centro esquerda e acreditavam na bondade da luta “por dentro” do regime. O maior emblema disto que (hélas, apressadamente) descrevo chamou-se Ala Liberal. Acabou mal mas deixou solo arado e semente fértil enquanto outras sementes da oposição moderada iam também frutificando. No início de 1974, sabia-se que se podia contar com “essa” oposição. Era uma realidade com utilidade política: mesmo que inorganicamente, existia. Os capitães de Abril também contaram. E também queriam o mesmo: liberdade, democracia, pluripartidarismo, um Estado de direito, reformas, tratar de África, “descolonizando-a”: no dia 25 de Abril de 1974 não ouvi a ninguém a palavra “independência” alusiva às várias Áfricas onde se falava português.

4 Em Junho, o I governo Provisório chefiado pelo advogado liberal Palma Carlos sofreu quatro baixas pesadas, entre elas a de Francisco Sá Carneiro e de um militar de boa folha de serviços, Firmino Miguel, conhecido pela sua atitude de equilíbrio e razoabilidade. O I Governo do 25 de Abril caiu sem glória, arrastando na queda qualquer ilusão de moderação política. Vasco Gonçalves, o homem que entrou em S. Bento para render Palma Carlos, era um militar revolucionário próximo do Partido Comunista. O país iria começar a atordoar-se na razão inversa da perda de qualquer sentido de equilíbrio, diálogo ou partilha de responsabilidades nas decisões, escolhas, estratégias, timings políticos, África: esse Império que o general Spínola, depois de o ter servido com brio e honra, tentava agora, sem jeito e com muita infelicidade, impedir que resvalasse até ao abismo onde o despenhariam. Sem tropas e sem oxigénio, mal aconselhado por uns e enganado pelos outros, exit Spínola.

Logo a seguir a agenda fez-se da sucessão de golpes forjados, golpes verdadeiros, pseudo-golpes, inventonas, armadilhas, fugas, manobras. Iniciara-se um processo revolucionário. Os ingredientes (os mesmos, desde que o mundo é mundo) eram conhecidos – saneamentos, perseguições, nacionalizações, ocupações de terras, confisco de empresas, prisões através de mandatos em branco, imprensa censurada (quem esqueceu a “saison-Saramago” no DN ou o violento assalto à Rádio Renascença?), radicalismo, extremismo, agitação. Apoiado num grupo de militares moderados chamado Grupo dos Nove e na sua acção legitimadora, Soares – who else? – ocupou-se pessoal e politicamente do desvio que dia a dia, hora a hora se agigantava no trajecto do 25 de Abril. Juntou-se-lhe o povo, os partidos democráticos, a Igreja, o país quase todo.

Foi duro, difícil, perigoso. Mas a democracia constava, mesmo que ainda incerta, ainda incompleta. E mesmo que só anos depois, graças a alguns socialistas moderados e alguns sociais-democratas igualmente moderados, tenha deixado de constitucionalmente ser vigiada para se exercer de pleno direito, à luz do dia.

Ah, e África foi transferida revolucionariamente: era – é – agora comunista. A mais substancial vitória do Partido Comunista Português dos últimos 47 anos, o mais emblemático fracasso dos outros (mesmo que eles não achem).

4 Porque relembro o que já se sabe? Porque me tem ocorrido reflectir sobre o incalculável valor da moderação em política; porque o ter estado a rever a matéria dos anos imediatamente anteriores a Abril de 74 me fez revisitar esse fresco de moderados de boa colheita que deram boa conta de si: lutando primeiro pela democracia e para que o Império tivesse um fim decente; depois, servindo com generosidade e empenho uma democracia frágil (no parlamento, logo em 1976, eram parte considerável das bancadas).

Também é verdade que este ar do tempo – tão imoderado – me interpela para esta cogitação (e não deixa de ser humano o permitirmo-nos, aqui e ali, a tentação da nostalgia pelo que podia ter sido e não foi…). E sabendo Deus que não costumo chorar sobre o leite derramado mesmo quando o presente – extremado, abusador, intolerante, insultivo, arrogante – me desconforta. Convivo mal com o automático extermínio de qualquer sintoma de equilíbrio, qualquer veio de moderação, qualquer vislumbre de partilha de ideias. Qualquer sinal enfim, de convivência civilizada entre partidos e instituições, protagonistas e decisores, de cada lado do tabuleiro do xadrez politico.

5 E finalmente (ou deveria ter começado por aqui?) porque o recente discurso do Presidente da República – sim, ainda esse discurso – só poderia ter sido o fruto de um moderado. Um político que viveu, conheceu e cresceu no “ontem” – e que em certo sentido é um produto desse ontem – para intervir no combate de um amanhã livre. E por isso, um moderado capaz de mostrar ao país que era possível olhar com equilíbrio para a sua direita e a sua esquerda, dando a ambas igual direito de voz e cidade; cuidando dos que mandam e dos que obedecem, dos que brilham paredes dentro e dos que permanecem à porta; dos nostálgicos pelo que Portugal já foi e dos que se exilaram para fugir com vergonha do Portugal que éramos. Dos felizes e dos infelizes. Dificilmente alguém – mesmo que só um bocadinho extremista, anti-imperialista, etc. – seria capaz de escrever este discurso assim: moderado, conhecedor das duas faces da moeda Portugal, e sem vergonha, acidez ou ressentimento por nenhuma delas.

Palavra de moderado e não será este certamente o menor dos louvores que alguém fará ao Presidente da República.

DEMOCRACIA  SOCIEDADE   25 DE ABRIL   PAÍS   MARCELO REBELO DE SOUSA   PRESIDENTE DA REPÚBLICA   POLÍTICA

COMENTÁRIOS:

Alberto Gonçalves: Bem            Portugal, que Futuro: De acordo.            Alberto Gonçalves: muito Sergio Coelho: fraquinho.         Graciete Madeira: Excelente artigo.          José Manuel Ferraz: Enfim, uma Senhora! E como este país poderia ser diferente se governado por moderados, sem as derivas radicais da extrema esquerda dominante e da extrema direita em ascensão ...            José Mendes Bota: Raras são as vezes em que encontro motivo de discordância com as análises de Maria João Avillez. O texto de hoje expressa uma vez mais a qualidade da articulista. Uma memória viva e lúcida do nosso percurso colectivo no pós-25 de Abril.         Miguel Queiroz: Só do título já gosto. Mas fico-me por aí porque se fosse pagar premium por todos os jornais que leio, andava a trabalhar para pagar jornais digitais. Concordo com o que diz o meu predecessor sobre Rui Rio.            Daniel Rodrigues: Pena que não tenha aproveitado para referir a procura de moderação que tem pautado a acção de Rui Rio e de como os extremistas se apoderaram do Partido Socialista. Esperemos que nas urnas o Povo se una contra a asfixia mediática em que vivemos, sempre a oscilar entre os amanhãs que cantam de BE, PCP e PS radical, e as trevas ficcionadas do presente de Chega, IL e PSD maçónico.           Francisco Tavares de Almeida: O miserável que me antecede e assina Paulo Guerra escreveu três parágrafos. No primeiro: Que sempre constou do programa de quem devolveu a liberdade aos portugueses e fez verdadeiramente a Revolução. Reparem que tem a habilidade de não identificar quem "fez verdadeiramente". Mas sendo a verdade simples que foi o MFA, em nenhum local do seu programa se impõe ou mesmo preconiza a independência das colónias. O programa está on-line em (com o link não consegui publicar mas aparece num pesquisa por "programa do MFA) e a política ultramarina está no ponto 8. No segundo injuria e difama mentirosamente a ala liberal opondo-a a Palma Carlos e esquecendo que este se demitiu quando percebeu que o verdadeiro poder estava nas mãos de um soviete (conselho de oficiais não eleitos) e, ainda que Palma Carlos era uma figura grada da Maçonaria. No terceiro mente sobre Spínola que, no governo da Guiné, demonstrou preocupação com a representação das populações com a realização dos dois Congressos do Povo e com medidas de ingresso na função pública que foram muito criticadas e até desautorizadas na AR. E insulta-o duplamente na referência a Costa Gomes, o "Judas" ou o "Rolha" que no dia 25 de Abril marcou uma pequena cirurgia no HM para ter um alibi se as coisas corressem mal; que sempre foi um agente dos interesses americanos quer na Abrilada com o gen. Botelho Moniz quer no pós-25 de Abril na descolonização quer no 25 de Novembro em que, proclamada a independência de Angola em 11/11, logo 14 dias depois se afastou o esquerdismo militar.  Paulo Guerra > Francisco Tavares de Almeida: A questão colonial no programa do MFA Descolonizar, Democratizar e Desenvolver. A versão original do Programa do MFA mencionava claramente o reconhecimento do direito dos povos à autodeterminação. No entanto, por exigência de Spínola na noite do golpe de Estado, a versão divulgada acabaria por ser bem diferente. Spínola que já tinha tentado de tudo durante a preparação do golpe para impor alterações ao programa do MFA. No que foi sempre obrigado a recuar. Inclusive da sua intenção de safar Silva Pais e a própria Pide já depois da Revolução. Spínola que mais à frente até um golpe de estado de direita vai tentar no 11 de Março. Com o financiamento e apoio político da Espanha franquista. E a versão que leu nessa noite do Programa do MFA ao povo português foi mesmo só uma versão do verdadeiro Programa do MFA. Em que a primeira tarefa política da JSN ainda era garantir a sobrevivência da Nação como Pátria soberana no seu todo pluricontinental. Simplesmente ridículo como ele. E no dia seguinte o próprio MFA vê-se obrigado a divulgar o seu verdadeiro Programa, ainda com algum compromisso, o tal da net mas onde já afirma muito claramente que a "política ultramarina do Governo Provisório começava por reconhecer que a solução das guerras no ultramar é política e não militar". E logo em Julho temos a lei que concede os direitos das colónias à Independência. E Spínola vai para casa logo a seguir. E como insistiu em se manter burro não tardará muito a ter que fugir mesmo do país. O moderado Melo Antunes guardou aliás o caderno de apontamentos que usou em todas as reuniões em que participou para a elaboração do Programa do MFA -  depositado na Torre do Tombo. Neste documento definem-se os chamados três Ds: democratizar, descolonizar e desenvolver. Para Spínola, o objectivo passava por uma solução federalista, criando uma comunidade de estados lusófonos sob a égide de Portugal. Para a Comissão Coordenadora do MFA era uma solução inviável, pelo que se impunha o imediato reconhecimento, por parte do Estado português, do direito à autodeterminação e independência dos povos colonizados. Os meses seguintes provariam que seria esta a posição vencedora. Como o Movimento dos Capitães que foi quem fez o 25 de Abril também já defendia a independência muito antes da Revolução. Há muito tempo que compreendiam que quando em 1956 surgem os movimentos de libertação PAIGC e MPLA o que devia ter acontecido era Salazar ter pensado que o curso da história era a independência das colónias, mas ele não quis abrir os olhos e impôs a guerra colonial. Que é só mais uma das razões que faz de Salazar um dos grandes derrotados da história do Século XX. Como todos os que tentaram prolongar o colonialismo em África.  PS. E um bocadinho mais de educação também não lhe fazia mal nenhum. Devia tentar dar-se mais ao respeito.   Francisco Tavares de Almeida > Paulo Guerra : 1 "Desde logo com a absoluta falsidade que em 74 a nunca ouviu falar da independência das colónias?! Que sempre constou do programa de quem devolveu a liberdade aos portugueses e fez verdadeiramente a Revolução." Como evidente descolonização não é sinónimo de independência. Independência das colónias não consta nem no programa nem no que alega ser o primitivo programa pois "direito à autodeterminação" não é o mesmo que "independência incondicional".    Francisco Tavares de Almeida > Paulo Guerra: E mais uma vez falha com essa conversa do ”primitivo programa” e de Spínola o alterar na véspera. O “primitivo programa” terá um valor historiográfico mas não fez história. Não foi aprovado nem apresentado ao povo português.  Além de que a questão do Ultramar foi discutida e ficou alinhavada na reunião de Cascais em 5 de Março de 1974. Esse programa foi apresentado a Spínola por oficiais da sua confiança (possivelmente Manuel Monge, Casanova Ferreira, Almeida Bruno, António Ramos ou Dias de Lima) que foram todos presos a seguir ao 16 de Março pelo que quaisquer alterações ocorreram entre 5 e 16 de Março, nunca em 24 de Abril (a não ser que tenha sido apresentada à última da hora uma versão "cozinhada" entre 16 de Março e 24 de Abril que, obviamente, Spínola não aceitaria. (e como é claro Costa Gomes já estava a pôr-se a recato e deixar Spínola e os capitães correrem os riscos).         Francisco Tavares de Almeida > Paulo Guerra: Melo Antunes foi tudo menos moderado. Admirador de Gramsci foi ele a endossar o pós-marxismo em Portugal. Pode ter os apontamento na Torre do Tombo que isso só prova o que ele queria, nada prova do que foi aprovado. Como ministro dos Estrangeiros foi quem autorizou os voos cubanos com destino a Angola a fazerem escala nos Açores (enquanto Rosa Coutinho lhes preparava os aquartelamentos) pois sem os cubanos, nunca o MPLA governaria Angola. E foi ele Melo Antunes que veio à televisão no dia 26 de Novembro avisar que o PCP era imprescindível à democracia e que não seriam toleradas retaliações. Provavelmente foi quem negociou previamente com o PCP o 25 de Novembro nos 14 dias anteriores e após independência de Angola (depois da independência de Angola, os interesses da URSS e dos EUA estavam alinhados em "normalizar" Portugal). Não vou continuar a refutar por não merecer a pena mas, quando leio o que tem o desplante de escrever é cada cavadela, cada minhoca. Apenas, porque não se apercebeu (é o chamado apercebimento selectivo) de comentários ao discurso de Marcelo, veja no Observador de 27 de Abril o artigo de José Meireles Graça, de que respigo: "O que não está [no discurso] é a quartelada que o 25 de Abril foi, a sua captura por quem tinha a estratégia, e os conhecimentos, que aos capitães faltavam, o falhanço do escopo desenvolvimentista, o futuro penhorado pela dívida, a alienação do módico de independência que uma pequena nação pode ter e a captura do aparelho de Estado por uma casta que comprou, com dinheiro alheio, votantes cativos."              Paulo Guerra > Francisco Tavares de Almeida: Em Portugal só não percebeu quem não quis logo na noite de 25 de Abril duas coisas. Que a verdadeira causa da Revolução foi a Guerra. Como aliás não podia deixar de ser. E não vale a pena estar agora a descer para outros patamares de mal-estar nas FA. E Independentemente de democratizar e desenvolver também ter estado sempre na cabeça de quem devolveu a liberdade aos portugueses. Eu sempre soube o que cada parte pretendia. Inclusive os partidos mais à frente. Que Portugal ia finalmente deixar de ser um estado pária em matéria de colonização, i.é, voltávamos a entrar nos carris da história contemporânea. Como mais à frente exigimos o mesmo à Indonésia na questão de Timor. Logo na noite do 25 de Abril. E quando digo só não percebeu quem não quis falo como é óbvio dos muito poucos portugueses devidamente politizados à época. Como é o caso da autora da coluna de opinião. E apesar de ter por hábito respeitar toda as opiniões políticas confesso que tenho muita dificuldade em continuar a acreditar que hoje alguém ainda continue a pensar que Portugal poderia ter feito algo de muito diferente. Francisco Tavares de Almeida > Paulo Guerra: "... Portugal poderia ter feito algo de muito diferente" Simplificando, Salazar na sua inflexibilidade, dizia: ou isto ou o caos. Estava errado. Sempre existiram alternativas e o quadro que ele vendia - Portugal uno e pluricontinental - não era verdadeiro. Basta observar as diferentes moedas (Federações e Confederações têm moeda única, quanto mais Estados unos) e o facto de ser muito mais fácil emigrar para o Canadá ou Venezuela do que para Angola ou Moçambique. Repito, Salazar estava errado. Depois veio o 25 de Abril e os que dele se apoderaram, fizeram o caos: 5 guerras civis, 2 milhões de deslocados, 1 milhão de mortos, atraso económico de 2 a 3 décadas. Ou seja, deram razão a Salazar, que a não tinha. É isso que também é imperdoável.            Paulo Guerra > Francisco Tavares de Almeida:  O Portugal democrático é que causou as guerras civis? Assim de repente lembro-me de algumas potências mundiais com muitos mais interesses. Mas ok.          Paulo Guerra: Que me tenha apercebido coube à tia do Campo Grande a primeira referência ao discurso de Marcelo no 25 de Abril aqui no Obs. Mais de uma semana depois. Claro que ainda assim sempre com o mesmo revisionismo histórico que tão bem caracteriza a tia do Campo Grande. Desde logo com a absoluta falsidade que em 74 a tia nunca ouviu falar da independência das colónias?! Que sempre constou do programa de quem devolveu a liberdade aos portugueses e fez verdadeiramente a Revolução. Passando pela tentativa de colar Palma Carlos que passou as últimas décadas da Ditadura a bater-se pela libertação de todo os presos políticos, como ele aliás, com a ala liberal fascista que nunca moveu uma palha no mesmo sentido. Muito pelo contrário. Uma ala que nunca passou de uma tentativa do próprio regime para tentar amenizar mais a sua imagem contra todos os direitos humanos. E basta aliás lembrar o relato de vários presos políticos em Caxias sobre a visita dessa famosa ala. Cuja pergunta mais insistente aos presos era: Mas porque é que vocês querem sair da prisão e voltar à liberdade? Passando por Spínola claro. Que basicamente só queria mudar as moscas. Como ficou logo claro nos confrontos na sede da Pide no dia 25 de Abril. Um grande oportunista sem qualquer préstimo para um país democrático que até o famoso livro Portugal e o futuro lançou à boleia do movimento dos capitães que já existia há muito tempo. E que curiosamente só chega a Presidente porque Marcelo Caetano exige que seja ele o oficial mais graduado no Largo do Carmo. O Marcelo nunca foi parvo. Quando foi Costa Gomes que sempre apoiou os capitães desde o início. Em suma, vários acontecimentos depois encarregaram-se de desmascarar muito bem Spínola. Mas enfim… Esperar o quê das memórias da tia do Campo Grande nesta fase da sua vida?        Manuel Magalhães: Maria João, Maria João, muita moderação, na actualidade, só tem favorecido a infeliz situação actual...           Manuel Ferreira21: Excelente artigo.        Maria Nunes: Excelente MJA.             Francisco Tavares de Almeida: Crónica de uma excelente jornalista mas sobretudo de uma Senhora. E, como Senhora que é, diz muito mas não diz tudo. Excelente o discurso de Marcelo em tudo o que diz. Mas, e o que não diz? É certo que a crónica refere a entrega do império ao comunismo soviético mas, mesmo afastando extremismos violentos a moderação não convive com a ausência de um mínimo de justiça. E Cunhal, um agente dos interesses soviéticos a que entregou africanos e timorenses, morreu conselheiro de Estado e, ainda hoje, é apresentado como referência moral. Já não há império, mas ainda há Portugal; ainda há portugueses que têm uma cultura e uma história que os une. Essa cultura e essa história estão hoje debaixo de fogo e, tal como o PCP foi o instrumento soviético na entrega do império, hoje o BE é o principal instrumento de ataque à cultura e à história de Portugal. E tal como Cunhal foi do conselho de Estado, hoje é Louçã que lá está. Senhora, não posso ser mas se Marcelo é um paradigma de moderado, então eu prefiro não ser moderado.         J. Gabriel: Quando se viveu o passado, tem de se ser firmes no presente, para q não volte ao passado.                 VICTORIA ARRENEGA: Uma bela crónica sem dúvida. Fazendo a cronologia dos primeiros tempos pós 25 de Abril, há alguns aspectos dignos de nota, até porque passados 47 anos, muitos portugueses  não viveram esses tempos. Logo no início se percebeu que aquele clima de euforia quando  Cunhal foi recebido por Soares e Maria Barroso em Santa Apolónia, não iria durar muito. Todos sabemos o que durante anos o PCP disse sobre o PS. Chegou a considerar o PS o seu grande inimigo. Em 2015 faz-se tábua rasa e eis uma parceria PS/PCP cheia de sucesso. Os meses pós 25 de Abril e em 75 o tão falado Verão Quente, são dominados pelos acontecimentos que a Maria João Avillez refere mas também por uma falta de informação, contra-informação, manipulação..... que para nós agora habituados a redes sociais e informação na hora, é de difícil imaginação. A 25 de novembro de 1975, vivendo eu em Almada, com o operariado da Lisnave a ser considerado uma espécie de nova aristocracia, só se viam as mais diversas manifestações pelas ruas: grupos para cima e grupos para baixo. Mas se perguntasse aos manifestantes porque estavam ali, não responderiam grande coisa. Talvez por isso, não havia agressões. Limitavam-se a marchar com palavras de ordem tantas vezes repetidas que tinham perdido o significado. Vasco Gonçalves foi sempre um PR fraco. Ficou o refrão: «Força, força camarada Vasco. nós seremos a muralha de aço!». Era completamente manipulado pelo PCP de Álvaro Cunhal. A sua crónica tem no meu caso pessoal outro mérito. recordou-me a importância de Mário Soares , entre outros, nestes primeiros combates pela democracia. Muitas vezes , ao longo dos anos, critiquei pormenores e esqueci o quadro geral.

 

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