Ao status. Afinal, já a Inquisição tinha
uma Mesa Censória, que impunha regras no reconto dos feitos, princípios que se
diz que também foram seguidos nos tempos de Salazar, embora não tão
peremptoriamente como hoje, mas não tenho a certeza. Havia uma política de
trabalho, isso sim, e mais respeito, pelas obrigações respectivas, com
trânsfugas, que mereceriam intervenção, segundo a exigência de quem impunha os
dogmas. Hoje vivemos envoltos em escândalos financeiros, mas não são esses que
contam nas novas regras de conservadorismo. Quem detém o poder, tudo fará para
o conservar, neste quartel de Abrantes, afinal como dantes, mau grado as
críticas ferrenhas a esse “dantes”. Por tal motivo, tudo o que hoje signifique
crítica, segundo o ideal democrático de liberdade, será registado, ao que
parece, como pura paródia. E como todos, no fundo, se entendem bem – na perspectiva
do mesmo tacho que todos anseiam, todos os diversos partidos aceitam as regras
da nova censura.
Já não se pode ser sério. Os sérios não
passam de parodiantes, convém reduzi-los. Apesar da democracia. Helena Matos e alguns comentadores o demonstram, eu
direi dramaticamente o discurso da D. Madalena do “Frei Luís de Sousa”, pouco tempo antes do “Ninguém” de D. João de Portugal, na sua figura de Romeiro: “Meu Deus, meu Deus! Que se não abre a terra
debaixo dos meus pés… Que não caem estas paredes, que me sepultem já aqui?”
(Frei Luís de Sousa, III, Cena XIV). Mas
é claro que acrescentarei “Lagarto! Lagarto!” Não, não vale a pena tanto
sacrifício, tanta parede ruindo, pois nada resolve, para obviar a esses motivos
da indignação de HM.
Os parodiantes de Portugal /premium
A paródia é um dos poucos exercícios
que escapa à censura aprovada pelos deputados. Assim e em conformidade esta
coluna deixa de ser de opinião e passa a paródia.
16
ai 2021
1.A paródia da desinformação. As notícias sobre a falência da Segurança Social
são desinformação? As revelações sobre a muito provável origem do vírus
do Covid num laboratório chinês ainda são desinformação ou desde que Biden
sucedeu a Trump deixaram de ser? O Avante a garantir a felicidade dos povos
na defunta URSS é desinformação?… Convém saber porque esta semana o PR
promulgou uma lei que os deputados votaram favoravelmente em Abril a que
pomposamente chamaram Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital. A coisa para não lhe chamar pior é sinistra:
no seu artigo 6º pretende assegurar-nos um “Direito à protecção contra a
desinformação” que põe nada mais nada menos que o Estado a proteger “a sociedade contra pessoas singulares ou colectivas,
de jure ou de facto, que produzam, reproduzam ou difundam narrativa considerada
desinformação”. E
o que se entende por desinformação? Tudo o que belisque o poder ou seja “toda
a narrativa (…) que seja susceptível de causar um prejuízo público,
nomeadamente ameaça aos processos políticos democráticos, aos processos de
elaboração de políticas públicas e a bens públicos.” Perante esta definição só resta perguntar: o que
não corre o risco de ser classificado como desinformação? Todas as censuras em
qualquer lugar do mundo apresentam-se assim: proteger a sociedade face à
mentira. O tempo apenas muda os nomes do que se entende por desinformação.
Note-se que nenhum deputado votou contra esta monstruosidade. Repito, nenhum deputado votou contra: a referida
carta foi aprovada com os votos do PS, PSD, BE, CDS, PAN, das deputadas não
inscritas Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues. Abstiveram-se o PCP,
PEV, Chega e a Iniciativa Liberal.
Escapam
a este controlo as sátiras ou paródias. Pelo
que como atrás ficou explicado, esta coluna de opinião passa muito
adequadamente a coluna de paródia num país cujo regime é ele mesmo uma paródia
da democracia que se propôs ser.
2.Os parodiantes a fazer pela vida. A informação chegou-nos naquele linguarejar em que
a mentira é inverdade: “O parlamento aprovou hoje em votação final global uma
lei-quadro de criação, modificação e extinção de freguesias, que prevê um
regime transitório para a correcção das agregações ocorridas em 2012/2013.” Assim falam os paladinos do combate à
desinformação: não se diz que podem vir a ser criadas centenas de novas
freguesias anuncia-se “que se prevê um regime transitório para a correcção
das agregações ocorridas em 2012/2013“.
Percebido? Pessoalmente
adoro este “correcção das agregações”! Os partidos precisam de colocar a sua
gente e para tal não hesitam em acrescentar camadas e camadas à máquina
estatal. As juntas de freguesias tornaram-se agências florescentes de
emprego, de contratação de serviços e, não menos importante, de estímulo ao
clientelismo. Para a paródia ser ainda mais paródia só falta acrescentar que o
PSD votou a favor desta lei. Ou seja o PSD votou contra a reforma que enquanto
esteve no governo levou a cabo em 2013. Obviamente
o Prémio Parodiante do Ano segue sem desinformação alguma para Rui Rio.
3 A paródia
da irresponsabilidade. Os
socialistas são de tal forma amigos da paródia que resolveram exercer o poder
sem assumir qualquer responsabilidade. Há lá coisa mais aborrecida que
uma pessoa com a mania da responsabilidade? A festa do título do
Sporting é o último exemplo dessa forma peculiar de paródia: a Câmara de
Lisboa não autorizou mas talvez tenha autorizado e à cautela
acusa a PSP; o secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo, tinha
conhecimento de que havia algumas autoridades a tratar do assunto mas não
ele que não tem nada a ver com isso; o ministro da Administração Interna
pede uma investigação à actuação da PSP e a PSP desmente o MAI. Que isto
é uma paródia não duvido: de cada vez que olho para o ministro Eduardo Cabrita
tenho um irreprimível ataque de riso!
4 A paródia dos comissários. Esta semana a Comissão da Carteira de Jornalista
(CCPJ) informou António Abreu que o seu pedido de carteira profissional de
jornalista foi indeferido. O caso arrasta-se há dois anos. António Abreu
desenvolveu o site Notícias Viriato mas
a CCPJ recusa passar-lhe a carteira profissional alegando que maioria das
publicações do Notícias Viriato “representam
o oposto daquilo que o jornalismo defende”. O oposto de que jornalismo?
Jornalistas
que trabalham em jornais ou televisões de clubes desportivos têm carteira
profissional mas o redactor do Notícias Viriato não pode ter porque, segundo a CCPJ, as notícias
desse site “representam o oposto daquilo que o jornalismo defende” e também
porque o ISCTE “identifica o Notícias Viriato como um projecto de propaganda e
desinformação, perfilhando uma visão ideológica que o afasta de poder ser um
órgão de comunicação social tal como é entendido pela maioria dos profissionais
jornalistas, académicos e público em geral”. Isto não é uma paródia, é uma
verdadeira pândega! Sinistra, mas pândega!
O
que está a acontecer a António Abreu perante a indiferença total da classe não
é novo: em 1974, no meio de proclamações eufóricas sobre o fim da censura
sucediam-se as multas e as suspensões de jornais e revistas mais ou menos
marginais como eram o Bandarra, a Resistência, o Clarim, Templário, A Voz de Fátima ou o João
Semana cujos artigos são logo no Verão de 74 classificados como
“propaganda estéril e negativa” pela Comissão Ad Hoc aos Orgãos de Imprensa.
Também a publicações de extrema-esquerda como o Luta Popular começam a ser
acusados de “ir contra o MFA”. Depois
foi a vez da Gaiola Aberta ser suspensa por perturbação da ordem
pública… Claro que ninguém se solidarizava com estas publicações. Até que um
dia se acordou o jornal República ocupado. Usando a linguagem daqueles que
então o ocuparam ou a de agora da CCPJ (a vida é uma paródia de coincidências!)
o jornal República era um projecto de propaganda ( no caso do PS) sem notícias
dignas desse nome. Mas nada disso legitimava a sua ocupação!
Mais
cedo ou mais tarde alguém de esquerda ver-se-á apanhado nas garras destas
comissões, entidades, observatórios… e então, sim, teremos caso. É o que se
chama uma paródia com vários capítulos.
PS. Polícias cercados por
grupos armados (Fréjus), ataques a comissariados (Essonne),
um agente morto a tiro (Avignon) e outro ferido com gravidade numa emboscada (Loire):
é este o balanço da violência urbana nos últimos dias em França. Como o francês
continua a ser uma língua praticamente desconhecida neste planeta e a França um
país mais desconhecido ainda sobre estas factos continua a cair um espesso
silêncio.
LIBERDADE DE IMPRENSA LIBERDADES SOCIEDADE POLÍTICA
COMENTÁRIOS:
Andrade QB: Costumo ler com agrado os artigos e Helena de matos, mas, este em
particular, obrigou-me a uma segunda leitura. Talvez porque, tendo na
juventude, por revolta contra o regime repressivo Marcelista, ter ajudado a que
novos ditadores se viessem a instalar, dê especial atenção aos mecanismos a
que os ditadores recorrem para esmagarem qualquer hipótese de sombra. Conheci-os
por dentro. Não me surpreende, assim, a passagem da censura a Lei. O
terreno começou a ser preparado por pontas de lança de que eu lembro dois, Daniel
Oliveira e Pacheco Pereira. Não tendo sido únicos foram dos primeiros a berrar
contra o que eles chamam de esgoto dos comentários, tendo como alvo os
comentários que em espaços como este surgem relativamente ao que eles dizem e
escrevem. Acontece que com a política dos jornais que ainda permitem esses
comentários, em que existe um crivo relativamente a comentários mais
disparatados ou insultuosos, quem pode afirmar que na sua generalidade têm
maior ou menor suporte na verdade do que o que Daniel Oliveira ou Pacheco
Pereira escrevem? Ninguém, trata-se de um exercício da liberdade que seria
suposto ser um valor inegociável do regime que Daniel Oliveira e Pacheco
Pereira dizem defender. Só que não, não é isso, os ditadores não gostam da
democracia, nem da liberdade de opinião e de expressão, usam essa liberdade
para impor a ditadura que defendem. Algumas vezes ganham, outra perdem, mas
mesmo quando ganham, que não durmam descansados porque existem sempre outros
ditadores à espreita.
Manuel Ferreira21: Voltou a censura do Estado Novo, vergonha! O que estão a fazer ao
jornalista do "Viriato" é criminoso e terrorista. Sobre isto não fala
o Marcelo, que perora por tudo e um par de botas. Joaquim Almeida: Sobre as condições de exercício
de um direito constitucional fundamental da democracia temos, na Ass. da Rep.,
uma catrefa de idiotas - uns não têm opinião e abstêm-se ; outros, mais
abestalhados ideologicamente, votam pela censura e, quase ipsis verbis, nos
termos de uma lei de 1933 (sim do EstadoNovo). Lindo espectáculo! O Marcelo que
tantos elegeram, o inteligente não deu por nada. VICTORIA ARRENEGA: A propósito dos direitos
humanos na era digital: ainda estão guardadas as caixas de papelão com as golas
antifogo? Podiam servir como mordaça desde que, bem entendido, ninguém se
lembre de acender um fósforo num raio de cem metros. Zé da Esquina: Estamos percorrendo um bom
caminho... E o que me espanta é ver o maior partido da oposição anestesiado.
Não dá mesmo para entender! Depois admiram-se de ver o que está a acontecer em
França, com Marine Le Pen prestes a chegar ao poder. António Sennfelt Redigida na mais insidiosa
novilíngua - tão insidiosa que nem um único deputado se atreveu a votar contra!
- a "Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital" representa
a institucionalização da censura através da imposição do pensamento dito
politicamente correcto como única forma de expressão legalmente permitida! Manuel Magalhães: Este país “governado” por esta
gente começa a provocar náuseas a quem se respeite, mas o pior é que a “nossa”
gente que os põe lá nem sequer consegue perceber o que se passa e pelos vistos
os próprios partidos... até ao dia em que acordem! Graciete Madeira: Mais um excelente artigo de H.
Matos. Lúcia
Henriques: Mais um artigo
excelente. Irrita saber que nenhum deputado votou contra. E o presidente que
promulgou a lei, que parece que vai contra 2 artigos da Constituição? E a
comunicação social já reagiu? Foi o N. Viriato quem levantou a lebre, daí não
ser um jornalista como os outros. Américo Silva: A França é um verdadeiro
laboratório social. Mas não gritem por responsabilidades alheias de
socialistas, gauchistas, de gauchismo, não de gaúcho, feministas, frentistas,
laicistas, ou pró imigrantes ilegais. A responsabilidade tem sido de todos,
desde os que perdem a cabeça em sentido literal, aos que resgatam e adubam os
invasores do norte de áfrica e médio oriente. Tal como o controle de informação
é permitido por todos, e um verdadeiro desiderato do capitalismo. Veja-se a
confusão informativa em torno das vacinas Covid. O jornalismo está
absolutamente contaminado. A CNN é um canal de propaganda. Em frança um
fotógrafo jornalista residente ilegal foi premiado pela fotografia de um
polícia a arder. A opinião pública concentrou-se nos méritos da fotografia, e
não quis saber do polícia que sofreu queimaduras do terceiro grau na face, no
pescoço, e nas mãos, por ter sido atingido com um cocktail Molotov em Paris. A
CGT qualificou o polícia de frango grelhado. Será que o povo merece mais?
Entretanto, na confusão social,
este ano, a mesma CGT foi atacada no primeiro de Maio sofrendo 21 feridos,
quatro graves, por grupos black blocs, que os apelidavam de fascistas. Estamos
em plena desconstrução social no ocidente, e talvez no mundo. Carlos Chaves: Caríssima Helena, obrigado por
mais este ”abre olhos” uma vez que de paródia fala. Do princípio ao fim do seu
artigo mostra que nada aprendemos com os sombrios tempos passados. Permita-me
destacar os deploráveis casos de nenhum partido/deputados representados no
parlamento, terem votado contra a dita e inaceitável “carta”, e a revogação da
lei “das freguesias” com o apoio do PSD de Rui Rio, o mesmo PSD de Passos
Coelho que criou e implementou essa mesma (acertada) lei! Como é possível tudo
isto se estar a passar sem um verdadeiro “levantamento” nacional de indignação
e rejeição deste voltar ao passado. Andrade QB: Para quem lamentava não saber o
que era o "Sistema", talvez que estes casos o ajudem a perceber.
Há sempre uma altura em que os
regimes iníquos começam a ter necessidade de se manter à custa da manipulação e
há sempre uma fase posterior em que da manipulação passam à repressão, às
polícias políticas e aos presos políticos. É o caminho a que se está a assistir em Portugal por
parte do lobby Costa, Rio, Catarina e o mainstream jornalístico. Putin, com os seus
assassinatos e prisão de quem discorda dele, vai uns passos adiante, mas este
lobby nacional está a ganhar terreno rapidamente. Marcelo Teixeira: "Estado a proteger “a
sociedade contra pessoas singulares ou colectivas" Ou seja, o Estado, por meio dos
seus agentes, não produz desinformação... Basta ser primeiro-ministro, ministro, secretário de
estado ou um boy qualquer, para ser parodiante. Tristeza Pakivai: Talvez bastasse que não fosse
permitido a titulares (e a candidatos a titulares) de cargos políticos,
públicos e de governação usarem redes sociais e caixas de comentários para comunicarem,
nem a título individual, nem enquanto representantes dos mesmos. Se depois há
população que gosta de se banhar no esgoto da desinformação e do baixo nível,
isso é lá com a população.
Adriano Marques > Tristeza Pakivai: O que vale é que só tu estás
bem informado... Ainda bem! Assim já nos podes guiar a nós todos que andámos aqui perdidos
nas caixas de comentários! Pedro Belo: Vivemos numa sociedade cada vez
mais estúpida e stressada, que tem como resultado o Estado assumir o papel de
"big brother", seja no controlo da informação seja na dependência de
subsídios e pensões. Alegremente vamos caminhando para o abismo... é continuar
a votar PS ou, melhor ainda, não votar de todo Carlos Quartel: Não é de estranhar, seria mesmo
algo previsível, mais tarde ou mais cedo. Numa sociedade pouco exigente, pouco
informada, onde a liberdade individual não é sentida como uma necessidade
essencial. o abuso não tardaria a aparecer. Por ironia, há que reconhecer que o PS, quando fora do
poder, foi um razoável zelador das liberdades, contra Cunhal , primeiro e
contra alguns abusos da era PSD, depois. Quando se apanhou no poder a tentação
de controle instalou-se e , com a geringonça, agravou-se. Com o inconveniente
de , agora, não termos uma oposição forte, que faça esse papel.
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