É sempre bom rever os conceitos.
O anti-capitalismo do Bloco /premium
Portugal não terá uma sociedade
próspera enquanto as ideias do Bloco não forem derrotadas. É espantoso como em
2021, em Portugal, ainda temos que lutar contra os três velhos revolucionários
russos.
JOÃO MARQUES DE
ALMEIDA, Colunista do Observador
OBSERVADOR, 26 mai
2021
No
Congresso do Bloco houve uma frase memorável. Um congressista,
Américo Campos, afirmou o
seguinte: “É curioso que três russos envolvidos numa revolução
mal sucedida, com mais de 100 anos, influenciam um partido de esquerda do
século XXI.” Os três russos são,
obviamente, Lenine, Trotsky e Estaline. Não
sei se o camarada Américo percebeu devidamente o que estava a dizer. Se
percebeu, não sei se já foi expulso ou silenciado pelo partido, como faziam os
famosos três russos aos seus camaradas que se afastavam da linha oficial (e
como fizeram uns aos outros, mais precisamente Estaline a Trotsky).
De propósito ou sem querer, o
camarada Américo revelou o grande disfarce do Bloco. Um partido que continua a seguir uma ideologia que fracassou e espalhou violência,
miséria e pobreza em todo o lado onde chegou ao poder. Mas usa uma linguagem moderna atraente para os
jovens e até os liberais urbanos para disfarçar a sua verdadeira natureza.
Um partido onde quem pensa são os discípulos dos três russos, neste caso Louçã, Fazendas e Rosas, mas os rostos
da falsa modernidade são a Catarina, as
manas Mortágua e a Marisa. Ninguém
tenha ilusões, o poder está com os velhos revolucionários, não está com as
senhoras simpáticas. Além disso, as senhoras simpáticas pensam como os velhos
revolucionários. Tudo o que sabem foi com eles que aprenderam.
Nas
ideias de muitas das moções apresentadas no Congresso, há uma
linha constante: o
anti-capitalismo, e a luta contra a economia de mercado e a iniciativa privada. A política económica do Bloco tem um
objectivo máximo: a nacionalização da economia. Os
bancos, os CTT e a TAP seriam apenas o início. Depois nacionalizariam a EDP, a
Galp, as várias indústrias, as seguradoras, a hotelaria, as empresas agrícolas
e os meios de comunicação social. Quando
Louçã sugere Mariana Mortágua para ministra das Finanças, o que quer dizer é
que ela seria a CEO da economia portuguesa, e ele seria naturalmente o
Chairman. Esqueçam o Chega. O Bloco é o partido mais anti-sistema que existe um
Portugal. É um partido verdadeiramente revolucionário.
O Bloco usa os novos temas fracturantes e a luta climática de um
modo instrumental, e hipócrita, como se viu com os casos dos lucros
capitalistas de Robles e da acusação de violência doméstica contra Luís
Monteiro. Recordem também os comentários homofóbicos de Fernando Rosas contra
Adolfo Mesquita Nunes, ou as insinuações machistas de Louçã contra Aline de
Beuvink. A instrumentalização destes temas visa aumentar a base de apoio do
Bloco – e o número de votos – e combater o capitalismo. O Bloco, sobretudo a
linha PSR (dominante no partido), continua fiel à Quarta Internacional, o
movimento revolucionário e Trotskista global. Como
partido disciplinado, o Bloco segue a linha estratégica da Quarta
Internacional. Nos dois
últimos Congressos mundiais, o rumo estratégico foi definido à volta de três ideias centrais: intensificar a luta contra o
capitalismo, aproveitando as consequências da crise financeira, desenvolver o
“eco socialismo” contra a “poluição capitalista”, e conquistar e integrar os
novos movimentos sociais radicais, que militam a favor das questões de raça, de
género e das minorias sexuais. Mas tudo isto é instrumental. O que conta é a
revolução socialista.
A
suposta modernidade do Bloco também beneficia da imagem envelhecida e
ultrapassada do PCP, um contraste que beneficia os bloquistas entre os mais
jovens e urbanos. Mas a evocação dos três russos mostra como o Bloco e o PCP
estão muito mais próximos do que ambos gostariam. Os velhos Bolcheviques
continuam a ser a inspiração ideológica. A luta continua a ser
contra o capitalismo. A ambição
continua a ser, depois de tantos fracassos, a revolução socialista. O resultado seria o que foi sempre: um
país de pobres, dominados por uma elite totalitária.
O mais grave é que a influência das ideias do Bloco não necessita da
revolução. O ascendente sobre os novos movimentos sociais, sobre os grupos de
militantes radicais das mais variadas causas, o peso desproporcional – em
relação aos seus resultados eleitorais – na comunicação social, e a
radicalização das esquerdas do PS, permitem que o Bloco cause muitos danos à
economia portuguesa e às liberdades dos portugueses. Portugal não terá uma
sociedade próspera e os portugueses não viverão melhor enquanto as ideias do
Bloco não forem derrotadas. É espantoso como em 2021, em Portugal, ainda temos
que lutar contra os três velhos revolucionários russos.
BLOCO DE
ESQUERDA POLÍTICA COMUNISMO
COMENTÁRIOS:
f Teixeira: Uma denúncia
certeira. Tenho uma opinião diferente relativamente ao PCP mas. não há qualquer
dúvida que o bloco é o maior cancro de Portugal e, como cancro que é, ou se
trata (arrumando-o numa esquina de 1% ou 2%) ou ele nos mata. Para já, estamos
a caminho da segunda hipótese. Ainda assim, tenho fé em Portugal e acredito que
seremos capazes de os arrumar ao canto de onde nunca devíamos tê-los deixado
sair.
Miguel Queiroz: Só mesmo este
artista do JMA: "Portugal não terá uma sociedade próspera enquanto as
ideias do Bloco não forem derrotadas." Quer isto dizer que antes do BE
alguma vez ter tocado na xixa do poder em 2016, Portugal era um país próspero e
com uma economia fortíssima. Depois apareceu o BE e nunca mais fomos essa
superpotência económica. Por acaso a imprensa internacional elogiou a
Geringonça desde o seu início, mas é só por acaso... E eu só não meto aqui os
10 ou 15 links do costume porque senão apagam-me logo o comentário. É que o
Observador não gosta que se saiba que há outros jornais e melhores... Senão a
malta já não assina o Premium... ;)
Paulo Silva > Miguel Queiroz: Mas será que leu o artigo?!... Não percebeu que o que o
articulista quis dizer é que as ideias do Bloco são comuns às do socialismo
clássico ou original, (comum a PCP e boa parte do PS), as mesmas que nos têm
norteado nestas 4 décadas e meia?!...
José Sousa : A malta associada ao BE costumam
frequentar os mesmos sítios e veem de uma velha tradição do burguês rebelde,
sabichão e moderninho. Nas faculdades de letras e comunicação social são o
espécime mais abundante. Quase todos passaram pela fase da t shirt com o
focinho do che guevara, o famoso assassino sanguinário e produto comercial da
esquerda estalinista, e depois passaram para antifas, sem fazerem a mínima
ideia do que defendiam ou atacavam. Já adultos continuam formatados, semi
ignorantes e com a bússola moral avariada.
Pedro Pedreiro: "Esqueçam
o Chega. O Bloco é o partido mais anti-sistema que existe um Portugal". Acrescento:
o perigo, o real perigo para Portugal não é uma hipotética, talvez, se calhar,
imaginada, ameaça de um único deputado e de qualquer suposto atentado contra o
Estado de Direito. (Ameaça essa pelos vistos nada perpetrada na coligação dos
Açores. Mas isso não é notícia!) O real perigo está entre nós, tem influência
na governação, prepara-se para aumentar essa influência e ajudar a tornar
Portugal uma coutada comunista, extorsionista de impostos, assaltante de
empresas, que levará na melhor das hipóteses a uma debandada das gentes de
valor, que como é usual fogem para essas coisas horrorosas que são os países
capitalistas.
Paulo Silva: O Bloco é o
partido mais anti-sistema que existe um Portugal. É um partido verdadeiramente
revolucionário. Nestas duas frases o colunista
João Marques de Almeida disse [quase] tudo. Acrescentaria que é o partido mais
perigoso dentro do sistema. Só que em várias partes do texto as frases parecem
não aderir. Por isso acrescento mais no comentário seguinte.
A
afinidade ideológica entre PCP e BE é mais do que natural, apesar das quezílias
e dos estados de alma entre um e outro. São farinha do mesmo saco e só quem não
conhece a História se surpreende. Quantas vezes Marx não se indispôs com os
seus correligionários em virulentas diatribes? E os desacordos entre uma Rosa
Luxemburgo e um Lenine?... E as diferenças dentro da troika russa?... Lenine
nunca confiou em Trotsky e no fim da vida arrependeu-se de ter confiado em
Estaline. Este último enviou uma mensagem a Trosky na ponta de um picador de
gelo na nunca, pela mão do seu agente, o sr. Ramón Mercader. Tão amigos que
eles eram, (deviam ser), não é filhos?... O sectarismo tem sido uma
virtude dos revolucionários e não é por acaso que se diz que a Revolução come
os próprios filhos, (de tão sôfrega). O camarada delegado congressista não
criticou os três russos por serem revolucionários, mas por terem falhado a
Revolução! Compreendem?… Se não há Lenine y sus muchachos, há o novo velho
Marx, Gramsci, Lukács e a Escola de Frankfurt, os Foulcauts e Derridas ou o sr.
Alinsky… Para além da tradição social-radical que já vem de trás de Rousseau ao
Marquês de Sade.
Muitos
ainda não entenderam o que é a nova extrema-esquerda dita radical, mais
conhecida pelas suas manifestações do politicamente correcto, aka marxismo
cultural. O BE é a sua secção portuguesa, e descreve-se como uma associação
de indivíduos e organizações comunistas em processo de reciclagem e
convergência tácticas. Nas instituições educativas e nos media, (ISCTE,
FCSH/NOVA, CES, SIC, etc), estão os seus tentáculos ‘armados’ que preparam o
trabalho de lavagem cerebral, primeiro das elites e depois das massas. A
fórmula vem de fora e já vem sendo testada há muito. Os bloquistas não estão a
inventar nada. Se JMA diz que o BE não necessita da Revolução, é porque não
entendeu que o paradigma revolucionário mudou, ou porque fala a linguagem dos
leigos. Os revolucionários socialistas clássicos entendiam a revolução política
como preparação do terreno para a construção do Homem Novo. Hoje
vai-se construindo o Homem Novo e no final a Revolução estará acabada… É
assim. As pessoas estão a ser moldadas por um novo código de conduta moral e
nem se apercebem disso. Não é preciso mudar o sistema de supetão. Vai mudando...
Hoje em dia, pesem as doutrinas do ódio de classe continuarem de pedra e cal,
veladas nas retóricas da justiça social e do direito-humanismo, coisas como
a homofobia ou o racismo são empolados e elevados à categoria de pecado mortal.
E têm de ser. Ninguém recruta activistas para uma causa anunciando que as
coisas estão a melhorar. É preciso acicatar ódios para as barricadas… Os
partidos revolucionários usam os temas fracturantes para agitar e moldar a
consciência das gentes. É assim que contam assomar ao poder. Talvez na fase
final se revelem em todo o seu esplendor aos olhos dos idiotas, mas aí será
tarde demais.
Clarisse Seca: Boa análise. É
incrível como esses revolucionários anti-sistema ainda têm votos, e se disfarçam
à vontade pelas TVs. Alguém em Portugal ainda quer voltar aos tempos da União
Soviética? As meninas do bloco, sob a capa do modernismo, utilizam o aspecto
cultural Gramsciano para doutrinar as pessoas. Os Portugueses que se cultivem
mais para não serem engolidos por essa gente dominada pelo "Frei
Louçã". É preciso pensamento crítico´, e a direita pode ajudar os
Portugueses a pensar, explicando as suas alternativas e as consequências do
desastre socio-comunista para Portugal, desde o 25 de abril..
João Francisco Boavida
: Mais
uma vez muito bem dito JMA! ... o nosso atraso é muito bem representado na sua
crónica, por esta desproporcionada difusão de propaganda disfarçada de fofinha,
hipócrita e na realidade totalitária. Atrevo-me a dizer que esta passa através
de uma maioria dos meios de comunicação social, quase todos decadentes e pouco
independentes, salvo raras excepções. E, como diz, este século XXI está a
passar pela Lusitânia, mas a consciência política colectiva continua como se
estivéssemos no anterior... também não tenho dúvidas, com esta esquerda seremos
tudo menos inovadores, restando-nos este fado de dependência e mãozinha
estendida aos restantes contribuintes europeus!
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