Mas quando os
que parecem bons se intimidam a ponto de soltar “bacoradas” inesperadas, contra
aqueles que sempre poderão servir de exemplo, na honestidade como no respeito
pelos valores respeitáveis, perdemos definitivamente a esperança.
Não, não gostei
do texto de José Milhazes. Não pelo que disse de Putin que julgo ser retrato
fiel de um homem ambicioso de poder e com poucos escrúpulos. Mas pelo que subentendeu
de Salazar, equiparando o despotismo deste, que sempre pareceu ser um homem
justo e amante da sua pátria, ao de um vulgar ambicioso dos nossos tempos, onde
isso, de resto, é comum entre os do poder. Comparar Salazar a Lenine parece
pura maldade, ou arrogância tola, ou, até baixeza de quem deseja cair nas boas
graças desses todos sucessores dos que deitaram abaixo o regime desse “Estado
Novo”, mais equilibrado e menos glutão do que o “Novo Estado” em que hoje
vivemos, a expensas alheias. Já era tempo de se deixarem dessas designações
patéticas e de paralelismos anedóticos.
Putin: o senilismo dos déspotas /premium
A
corte de Putin prepara-se para a cimeira com o presidente norte-americano,
marcada para breve. E o senhor do Kremlin pretende apresentar-se como o chefe
de uma superpotência com interesses globais.
JOSÉ MILHAZES, Colunista do
Observador. Jornalista e investigador
OBSERVADOR, 22
mai 2021
À
medida que os déspotas prolongam os seus mandatos até que “Deus os chame”, os
seus discursos tornam-se cada vez mais delirantes, distantes da realidade, mas
incentivados por uma corte deles dependente. Foi assim com Lenine, com Salazar e é cada vez mais
assim com o presidente russo, Vladimir Putin.
No
dia 20 de Maio, numa reunião do comité organizativo “Vitória”, uma das muitas
instituições criadas para despertar o “patrioteirismo” no país, Putin
prometeu “partir os dentes a quem quiser tirar à dentada a Sibéria da Rússia”.
Os
analistas e comentadores políticos começaram à procura de que político
ocidental poderia ter pronunciado tal frase e concluíram que nenhum. O
Presidente Putin baseou-se numa notícia falsa, que já foi várias vezes
desmentida.
A
frase citada é atribuída a Madeleine Albright, a primeira mulher a
ocupar nos Estados Unidos o cargo de secretária de Estado (1997-2001), mas, na
realidade, não existe qualquer documento que confirme essa declaração. Além
disso, a política norte-americana, que trabalhou com o Presidente Bill
Clinton, já veio desmentir várias vezes tal afirmação.
Mas
qual a origem dessa “ameaça” à integridade territorial” da enorme Rússia?
Ela
poderá ter surgido no seio de páginas russófonas da internet alemã, mas foi
“oficializada” em 2005, numa entrevista concedida ao jornal Argumenty i
fakti por Nikita Mikhalkov, conhecido realizador de cinema e político
chauvinista e “patrioteiro”. “Ou a frase de Madeleine Albright, antiga
secretária de Estado dos EUA: “Haverá justiça se uma terra como a Sibéria for
propriedade de um só país?” – perguntou ele.
Este
pensamento voltou a ser citado numa delirante entrevista de Boris Ratnikov,
general do Serviço Federal da Guarda, órgão que responde pela segurança dos
mais altos dirigentes russos, publicada na Rossiyskay Gazeta, órgão oficial do
governo russo, a 22 de Dezembro de 2006.
O
título da entrevista “Tchekistas [agentes secretos russos] scanaram os pensamentos
de Madeleine Albright” fala por si. Mas vale a pena citar um parágrafo para
mostrar o quão avançada vai a espionagem russa, mesmo que comparada com
os filmes medíocres de Hollywood sobre o mesmo tema: “Encontrámos nos
pensamentos da senhora Albright um ódio patológico para com os eslavos. Ela
estava também indignada com o facto de a Rússia possuir as maiores reservas de
minérios no mundo. Segundo ela, no futuro, as reservas russas deveriam ser
geridas não por um país, mas por toda a humanidade, claro que sob o controlo
dos Estados Unidos.”
Em
2007, numa daquelas enfadonhas “conversas com o povo” através da
televisão, um físico perguntou a Putin o que pensava dessa “frase de
Albright” e ele respondeu que não a tinha ouvido, mas que, em geral, essas ideias
vagueiam nas cabeças de alguns políticos.
Contudo,
sete anos depois, Putin já afirmava com maior convicção, numa conferência de
imprensa: “Mas nós já quase ouvimos frequentemente de
personalidades oficiais que é injusto que a Sibéria, com as suas imensuráveis
riquezas, pertença à Rússia.”
Há
alguns dias, a convicção de Putin já era tanta, que prometeu “partir dentes”
a quem ousar dar uma dentada na Sibéria. Aliás, essa foi apenas uma das
partes mais desafiadoras e aguerridas de um discurso que é mais um sinal
alarmante para os vizinhos da Rússia e para todo o mundo. Ele afirmou, a
determinada altura: “A União Soviética não era mais do que a Rússia
histórica, apenas tinha outro nome… do ponto de vista geopolítico, era a Rússia
histórica.”
Depois
de afirmações deste tipo, não me perguntem porque é que os vizinhos da Rússia
duvidam das “intenções e propostas de paz” vindas do Kremlin e procuram refúgio
em instituições como a NATO. E isto diz respeito às 14 das 15 repúblicas que
faziam parte da URSS.
É curioso assinalar que continuam a
ser publicados e a circular na China mapas onde partes significativas da
Sibéria e do Extremo Oriente aparecem representadas como territórios chineses
perdidos, mas Putin não está preocupado com tais “insignificâncias”. Talvez
porque, como se considera no direito de desenhar linhas vermelhas onde desejar,
Pequim receie atravessar alguma delas.
Não
sei se a agressividade de Vladimir Putin está ligada aos laços estreitos que
mantém com personagens como o actor Steven Segal, ou ao facto de ele praticar
karaté, mas Gleb Pavlovskyi, antigo conselheiro do presidente russo,
considera que o problema reside no seguinte: “É preciso ter em conta o que
se passa dentro do crânio, que baratas combatem entre si na cabeça de Vladimir
Putin, que já não é jovem.”
Não
restam dúvidas de que Putin se assemelha cada vez mais a Lenine e Salazar nos
últimos anos de vida e não se pode excluir a possibilidade de vir a receber dos
seus conselheiros jornais e programas televisivos especialmente preparados para
agradar ao “grande líder”.
Pode
também existir outra explicação para declarações tão aguerridas no futuro
próximo. A corte de Putin prepara-se para a cimeira com o presidente
norte-americano, marcada para breve. O senhor do Kremlin pretende apresentar-se
como o chefe de uma superpotência com interesses globais, que só conversa com
os Estados Unidos e em pé de igualdade.
Resta
saber se a equipa de Joe Biden está disposta a ouvir estas e outras bravatas
dos dirigentes russos.
Pavlovskyi
receia que estamos simplesmente perante a destruição da própria política
externa russa. “Como compreendo, o ídolo do senhor Putin, Estaline, não falava
assim. Semelhantes declarações destroem a própria diplomacia, incluindo a de
Putin, que já é bastante fraca.” Mas o ditador põe a diplomacia atrás da
capacidade militar, que ele considera ser a garantia de que pode partir dentes
aos mais ousados.
A
política tresloucada do “czar russo” reflecte-se também no campo interno. A
seu mando, o parlamento “fabrica” leis que visam impedir que qualquer oposição
extra-parlamentar possa participar nas eleições legislativas de Outubro, os
opositores, sob os pretextos mais ridículos, são julgados e condenados a
pesadas penas de prisão, os órgãos de informação da oposição são rotulados de
“agentes estrangeiros”, etc.
São
sinais de que o Kremlin não está muito confiante no seu futuro e tenta prevenir
qualquer onda de protesto.
COMENTÁRIOS:
Nuno Pê: O senhor colonista odeia tanto Putin e a Rússia que nem tem vergonha de
bajular o Biden que chama assassino ao Putin mas depois apoia Israel e a sua
mortandade e aperta a mão à Arábia que esquarteja jornalistas.
PortugueseMan: Meu caro,: Confesso que fico atónito, com estas perspectivas e voltas para explicar
algo que nada tem a haver com o que refere. Mas você não vê o que se está a
passar? o que se está a passar AGORA? Eu volto a relembrá-lo, a Rússia está a
mudar de postura e muita coisa vai mudar. Resta saber até onde os EUA vão
querer ir para testar a posição deles. Estas "advertências" da
Rússia, são avisos sobre a posição russa sobre o Árctico e sobre a parte
territorial. Vamos começar por algumas sequências cronológicas embora exista
muito mais para falar: - (8 de Março) Chegada de
bombardeiros B-1 ao Árctico
- (17 de Março) Biden chama P.utin de assassino. - (26
de Março) 3 submarinos russos nucleares emergiram alinhados no Árctico, algo
inédito. Abril: A Rússia submete nas Nações Unidas um pedido para que seja
reconhecido que uma boa parte do Árctico seja território russo. – Maio: Encontro
no Árctico CNN é convidada a visitar uma grande base russa no Árctico, onde podem
aterrar aviões de carga de grande porte e de onde são efectuados testes com
mísseis. Esta base está perto da Noruega, perto de onde estão os B1 americanos
estacionados. Uma equipa da BBC
também esteve lá e faz um artigo é bastante detalhado. Há vários factores a considerar no
Ártico: - A Rússia criou uma nova rota marítima entre a Ásia e a Europa. Ao
contrário do Canal do Suez e Panamá, esta rota é completamente controlada pela
Rússia. - A Rússia é que decide quem
passa por esta rota. O que está a subir a tensão com os EUA, mas estes nada
podem fazer. - A Rússia para
proteger esta rota, já tem e continua a abrir novas bases tal como a referida
acima. - A Rússia está a querer expandir o seu território no Árctico. Se
conseguir, o território russo vai ficar encostado ao Pólo Norte. Está a haver mudanças enormes
em curso. E quando o Nord Stream 2 estiver concluído (Biden recuou nas
sanções que afectassem a Alemanha, o que mostra o dilema dos americanos), e
assegurado a energia à Alemanha e uma ligação entre a Ásia e a Europa sem
controlo americano, estou convicto que os russos vão ter uma política externa
extremamente agressiva para com os EUA. Isto vai acontecer AGORA, os russos
vão começar a empurrar os EUA em várias frentes e só espero que se consiga
acomodar um mundo multipolar sem uma desgraça para todos nós. A Rússia
avisou quando os EUA queriam lançar um ataque na Síria, tendo estes lançado
dezenas de mísseis apenas para uma única base. A Rússia avisou quando os EUA
queriam enviar navios para o Mar Negro em suporte da Ucrânia, tendo os
americanos enviado um navio da guarda costeira (!!) para não dizerem que
acabaram por recuar. A Rússia está a avisar que não vai tolerar interferências no Árctico. E os
EUA não têm como os fazer recuar. Você, meu caro, está completamente alienado da
realidade. Você não percebe as mudanças que estão a ocorrer. AGORA. José MilhazesAUTOR > PortugueseMan:
ESqueceu-se de lembrar a sonda
russa que aterrou em Marte!
Paulo Guerra: Tantas hipóteses e nem perto. Nem sei quem é que estará a delirar mais. Mas
talvez me inclinasse mais para um jornalista monotemático com uma obsessão
compulsiva pela Rússia e Putin. E digo eu, que também me fartei de rir com a
expressão de Putin. Mas fiquei com a ideia que estava tudo relacionado com o
degelo do Árctico, que os russos estudam como ninguém há muitos anos e a
corrida mundial às maiores reservas mundiais de vários recursos. Como o
petróleo, o gaz natural e sobretudo os minerais raros. Mercado tão importante
hoje, que os chineses controlam globalmente. Mas também não é propriamente a
minha área. Muito menos as exibições de poderio militar que acontecem em várias
partes do globo mas que os olhos do Milhazes completamente imparciais vêem
sempre só na Rússia. Fernando
Fernandes: Excelente, como
sempre.
César Neves: E para nada ficar para o gato digo-lhe. O Putin disse de facto uma idiotice. E o "senhor comentador"
por acaso pensou porque é que o Putin, manhoso e esperto que nem um alho,
(classificação sua), disse a idiotice? Pensou um bocadinho? Não pensou de certeza: porque
se tivesse pensado, concluiria que o Putin disse a idiotice que disse, para os
idiotas avençados e não só, andarem a falar apenas na idiotice, e deixarem pró
boneco as atrocidades que por lá anda a fazer. Percebeu? Consegui chegar lá? José MilhazesAUTOR > César Neves: Duvido que tenha lido o texto com atenção. César Neves > José Milhazes: Caro Senhor: Obrigado pela sua resposta,
sinal de convicção e empenho na defesa das suas ideias. Acredite: não é a norma: por
isso sentidos parabéns. Tomei nota, louvo, e terei em consideração em
conversas futuras. Sobre o seu texto, e sobre a sua resposta, dou um exemplo. Logo no início do seu mandato, o
Trump, que já tinha expresso as barbaridades do seu currículo, veio à Europa.
E estranhamente passou incólume
entre os pingos da chuva na comunicação social, apesar de já ter proferido,
entre outras, a frase de não se ensaiar nada de espetar uma bomba atómica numa
cidade europeia. Pois estranhamente ninguém o incomodou com esses assuntos. E porquê? Porque todos, mas todos, se
concentraram no pequeno pormenor, de ele à saida do avião, ter fingido agarrar
na mão da mulher, e ela ter por sua vez fingido afastá-lo. Resultado: enquanto cá esteve
só se falou nessa idiotice. Infelizmente é esta a comunicação social que temos.
Ora Putin sabe
isso muito bem: que faz então: idiotices para só se falar nas idiotices, e não
se falar do resto. E foi o que quis dizer. Disse-o com excesso de linguagem, que agora lamento,
fruto de ter tirado ilações indevidas, em resultado do cansaço e irritação, por
ver na generalidade dos comentadores, muita parra, e pouca uva: e na pouca uva:
muita torcida e a martelo. Lamento ainda, só ter percebido de todo, o âmbito do
que disse, depois da sua resposta. Ainda bem que a fez. E lamento muito mais, tê-lo
colocado na panela que referi, onde de facto o senhor não está de todo.
Não volta a
acontecer. Bem haja com consideração. Pontifex Maximus: A verdade é que Putin se
inscreve na linha de praticamente todos os governantes da Velha Rússia desde
Ivan. Mesmo os que mereceram o cognome de “Grande”, como Pedro e Catarina,
foram sempre déspotas e governaram com pulso de ferro. Aliás, se quisermos ser
justos, mais vale uma Rússia totalitária mas confiável, que democrata e
imprevisível. O pior no caso é que Putin tem sido déspota, pois claro, e também
previsível, mas a sua previsibilidade é apenas nunca sabermos o que fará a
seguir! A Crimeia voltou ao regaço da mãe Rússia, de onde de resto nunca
deveria ter saído, é bom reconhecer, mas a Ucrânia está por um fio e aos Bálticos
só lhes resta os EUA e a OTAN, pois a Europa de nada lhes servirá no momento em
que os tanques avançarem. Isto para não falar da Bielorrússia, hoje claramente
um estado vassalo da Rússia... Mas Putin é mesmo o senhor do Kremlin e da Rússia,
superpotência mundial e com interesses globais... Mario Guimaraes: Vivemos tempos estranhos onde
os ditadores são eleitos e onde o conceito de um voto um homem está adulterado
(entrevista de um líder chinês). O futuro de Putin será o de Estaline: adorado
enquanto vivo e odiado quando morrer.
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