De Alberto Gonçalves, páginas de atrevimento e ousadia, na inflação beatífica dos com dor de cotovelo… Só podemos sentir gratidão, pelo homem corajoso e sabedor e perspicaz….
O anti-semitismo está bem e não se recomenda /premium
Importa perceber que o anti-semitismo existe num pedaço razoável da
consciência colectiva, e que é velho, e medonho, e que enfrentá-lo depende bem
menos de palavras bonitas do que da força de Israel.
ALBERTO GONÇALVES Colunista
do Observador OBSERVADOR, 22
mai 2021
Que o
espírito desta canção
Se levante livre e puro
E que te sirva de escudo
Um escudo contra o inimigo
Leonard Cohen, em “Lover, Lover, Lover”, canção escrita em
1973 para os soldados israelitas na guerra do Yom Kippur
Não
ignoro que a recuperação do sionismo de Herzl, e o êxodo para a “terra
prometida”, constituiu a solução possível para tantos dos sobreviventes da
Solução Final. Não me esqueço que a hipótese dos “dois Estados” foi cinco vezes
proposta por Israel e cinco vezes rejeitada pelos árabes do território, que só
a partir de certa altura aceitaram a equívoca designação de “palestinianos” e
que nunca aceitaram a existência do equivocamente chamado “Estado judeu” nas
imediações. Não
desvalorizo a circunstância de jamais ter sido Israel a iniciar a violência com
os “palestinianos”, fosse a guerra “tradicional”, fosse a popular “intifada”,
fosse o lançamento de foguetório sobre cidades israelitas, que sobretudo desde
Gaza e desde há vinte anos é um desporto popular e literalmente rotineiro. Não
me é indiferente que, descontadas as diferenças em capacidade bélica e
tecnológica, uma das partes procure maximizar o número de vítimas civis e a
outra procure minimizá-las em ambos os lados do muro. Não me
é indiferente que uma das partes seja uma democracia, com as virtudes e os
defeitos das democracias, enquanto a outra parte é um enclave terrorista,
racista e genocida, com as virtudes e os defeitos dos enclaves terroristas,
racistas e genocidas. Não me é indiferente que Israel integre um mundo no qual
não me importo de habitar, e o Hamas e a Fatah representem uma considerável
fatia do que me é repulsivo.
A benefício da conversa, vou fazer de
conta que sim. Durante cinco minutos, fingirei acreditar na propaganda do
Hamas, que os noticiários ocidentais reproduzem sem grande contraditório e as
“redes sociais” amplificam com grande alarvidade. Durante cinco minutos,
tenciono descer ao nível mental dos maluquinhos que saem à rua com lencinho “fedayin”
e admitir ser verdade que Israel está focadíssimo em eliminar “palestinianos”
inocentes. E
depois? Nem assim uma pessoa
consegue responder à pergunta essencial, a saber: porque é que a opinião
pública e publicada dedica ao conflito israelo-árabe a atenção, e a fúria, que
não dedica às dezenas de conflitos sangrentos em curso na Terra?
Consulte-se
a Wikipedia, que nos devolve a guerra do Tigré, na Etiópia (4 mil mortos só em 2020), a crise no
Iémen (20 mil mortos em 2020), o conflito
do Alto Carabaque (8 mil
mortos em 2020), a insurgência no Magrebe (7 mil mortos), a rebelião do Boko Haram na Nigéria (8 mil mortos em 2020), a guerra
civil síria (8 mil
mortos em 2020), os confrontos no Mali (3 mil mortos em 2020), o Darfur (que acumula
300 mil mortos), a Papua Ocidental (um total de 400 ou 500 mil mortos),
a barbárie étnica no Sudão do Sul (2500 mil mortos em 2020), o genocídio
dos curdos pelos turcos (45 mil mortos até ver), a guerrilha no Uganda e
no Congo (900 mortos em 2020), etc. Ninguém liga um chavo. Valha-me
Deus: em Portugal mal são notícia os
massacres de infiéis perpetrados por islâmicos em Moçambique, proverbial país
irmão.
Aqui e lá fora, a opinião pública e
publicada assemelha-se imenso ao Conselho de Direitos Humanos das Nações, que,
ainda que os restantes 192 países resolvessem incentivar por lei a degolação de
velhinhas, continuaria apenas a aprovar condenações a Israel. E não, não é por amor aos
“palestinianos”, que em circunstâncias diferentes mereceriam do ocidental médio
a indiferença que lhe merecem os sudaneses, os nigerianos, os curdos ou os
moçambicanos. A opinião pública e publicada aprecia os “palestinianos” porque
os “palestinianos” odeiam Israel.
A razão desta obsessão com Israel é
Israel. Israel padece de um vício lamentável: está cheiinho de judeus, que
evidentemente são há dois milénios responsáveis por cerca de 98,6% dos males da
humanidade, contas por baixo. Para
cúmulo, os judeus israelitas são a pior estirpe possível, aquela que possui
meios para se defender de assassinos e não embarca ordeiramente para a fogueira
ou as câmaras de gás. É um mito infame achar-se que o típico simpatizante da
causa “palestiniana” não gosta de judeus.
Nada disso. O anti-semita contemporâneo limita-se a detestar os
judeus que não acatam com gentileza o destino que os seus inimigos lhes querem
impor, em geral bastante negro. Além
de cometer a desfaçatez de ser uma democracia cercada por tiranias e um símbolo
de progresso rodeado de medievalismo, o problema de Israel é justamente o de
servir os respectivos propósitos: um lugar onde os judeus vivam como cidadãos e
não sob o regime do medo, como alvo latente ou explícito dos humores de
próceres e populares. Graças a Israel, os judeus abandonaram o estatuto de
vítimas fáceis que os oprimiu ao longo de séculos. Em 1948, a fundação de uma
nação fundou também o judeu soberano, coisa praticamente inédita e certamente
inaceitável.
Não tenciono discutir se o
anti-semitismo que protesta a “agressão” a Gaza é herdeiro da crucificação, de
Marx ou dos “Protocolos dos Sábios do Sião”. Os delírios de tarados não
justificam o trabalho. Para o que importa, importa perceber que o anti-semitismo
existe num pedaço razoável da famosa consciência colectiva, e que é velho, e
medonho, e que enfrentá-lo depende bem menos de palavras bonitas do que da
força de Israel. Que Israel tenha muita, e por muito tempo.
CONFLITO
ISRAELO-PALESTINIANO MUNDO JUDAÍSMO RELIGIÃO SOCIEDADE DISCRIMINAÇÃO
COMENTÁRIOS:
Alvaro Pereira: Muito
boa a comparação com guerras em 2020.
Obrigado Carlos
Quartel: Não se consegue arrumar a questão com uma
crónica. Há que começar por dizer que é fácil não gostar de judeus. Povo com deus privativo, deus esse que é também um
senhor da guerra, que lhes destina um determinado território, que os instrui na
arte da guerra (um inimigo vivo é como um dardo espetado na ilharga), que lhes
fornece armas de última geração (a famosa trombeta de Josué) não pode esperar
simpatia e solidariedade de quem eles consideram gentios (ou goys), gente de
segunda que nunca poderão chegar a judeus. A isso podemos juntar o ódio dos
cristãos, por lhes atribuírem a morte do seu deus, ódio capitalizado por reis e
papas para os expropriarem ou para não lhes pagar as dívidas. Por fim a inveja típica que o êxito
provoca. Os judeus estão atrás de cada diamante,
de cada barra de ouro, de cada gota de petróleo, até de cada vacina covid. A
banca e a usura só agravam esse sentimento. E
tudo isto é só o primeiro passo de uma longo procissão ..... Luís Marques: Excelente artigo.
Adriano Marques: Excelente artigo. Seguramente
hoje irá ser um dia bastante movimentado nesta Caixa de Comentários. Além do troll da casa de pasto e da fábrica de
conservas vamos com certeza assistir às patéticas intervenções da "brigada
do reumático" dos fachos de esquerda, acompanhada pelos cola-cartazes do
Bloco de Esterco juntamente com os devotos defensores do terrorismo islâmico,
certamente educados na madraça do ISCTE ou na mesquita de Campolide. Miguel
Sanches: Só não vê quem não quer. Ou antes, não vêem
porque como dizem os ayatollahs, seus mentores, Israel tem que ser empurrado
para o mar. É só isto. JB Dias: Não tenho a certeza se o "poema" do jose
maria foi traduzido por criatura da tonalidade, tribo e "sei lá bem mais o
quê" adequadas ... assim sendo não me é possível sequer juntar as letras
quanto mais abalançar-me a sentir a "coisa". Temos pena! É ainda
incrível como o anti-semitismo está tão vivo após milénios de suposto Progresso
e Civilização ... quase tão incrível como um suposto anarquista - para mais
inconformado - apelidar alguém de inculto e desinformado terrorista! Continua a
haver gente que não se enxerga e para quem a culpa de tudo reside
exclusivamente no Outro. Alguns chamam-lhe dissonância outros coisa distinta
... Anarquista
Inconformado: Este sionista
terrorista, quer-se disfarçar de semita. Mas
só engana os incultos desinformados como ele. josé maria: Caiu realmente a Árvore? / Nunca! / Nem com os nossos rios vermelhos correndo para
sempre, / Nem enquanto o
vinho dos nossos membros despedaçados / Saciar
nossas raízes sequiosas / Raízes árabes
vivas / Penetrando
profundamente na terra. / Quando a
Árvore se erguer, os ramos / Vão
florir verdes e viçosos ao sol / O
riso da Árvore desfolhará / Debaixo do sol
/ E os pássaros voltarão
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