terça-feira, 18 de maio de 2021

“Caranguejola”


Apreciemos o poema de Mário de Sá Carneiro, em termos de equiparação com o nosso comedimento existencial, que este “Editorial” bem retrata. Embora algures esteja escrito que passámos a Taprobana, o que é, naturalmente, consolador, mesmo em tempo de máscara.

EDITORIAL:      Ser o oásis turístico da Europa é um perigo

Não podemos negar na realidade actual que, com esta abertura escancarada de fronteiras, o nível de risco da pandemia no país aumentou.

MANUEL CARVALHO              PÚBLICO, 17 de Maio de 2021

No dia em que milhares de turistas britânicos aterravam no aeroporto de Faro, o director da Região de Turismo do Algarve deixava no ar uma constatação que tanto serve de regozijo, como assusta. “Toda a Europa está a falar na vantagem de Portugal”, dizia João Fernandes. Depois de longos meses de isolamento que levaram o sector do turismo ao limite e causaram danos irreparáveis na economia, verificar que a Europa olha para o controlo da pandemia como uma “vantagem” para as suas férias é animador. Depois de nove meses de estados de emergência e de situações de calamidade até que o esforço dos cidadãos foi capaz de vergar o número de infecções para uma dimensão invejável à escala europeia, o assalto de estrangeiros a praias, hotéis ou restaurantes é uma preocupação.

É caso para se recordar que não podemos ter o sol na eira e a chuva no nabal, como é caso para dizer que Portugal está a beneficiar do seu sucesso e pode tornar-se vítima dele. Ser o primeiro país da Europa do Sul com a pandemia controlada torna o país um oásis; estar nessa condição torna-o um refúgio.

Não se trata de ser pessimista ou de recusar a oportunidade de recuperar a um sector crucial da economia. Trata-se apenas de perguntar se o desconfinamento não está a ser rápido de mais. Se o Governo não está a confundir a calmaria, que existe, com o fim da tempestade, que não aconteceu; se depois da desobediência patrocinada pelo laxismo dos poderes públicos na festa do Sporting não haverá uma tendência geral para o facilitismo; se a abertura de portas a turistas da forma descontrolada (deixando de fora na Europa apenas dois países importantes, a Holanda e a Suécia) não será um daqueles casos em que a ânsia se sobrepõe à prudência e a necessidade económica à protecção dos cidadãos.

Ter a situação controlada exigiu um preço elevadíssimo. É esse preço que justifica a discussão sobre se abrir as fronteiras sem outras exigências senão um teste a turistas vindos de países ainda em sobressalto, onde as taxas de vacinação continuam baixas e nos quais a disseminação de variantes como a indiana gera ainda aflição foi ou não uma boa escolha. Estamos, obviamente, a insistir numa discussão especulativa por incapacidade de prever o que vai acontecer. Há bons argumentos para defender a escolha feita. O que não podemos negar na realidade actual é que, com esta abertura escancarada de fronteiras, o nível de risco da pandemia no país aumentou. Oxalá em Julho, no auge da temporada turística, haja razões para dizer que a “vantagem” de hoje foi bem aproveitada.

tp.ocilbup@ohlavrac.leunam

COMENTÁRIOS:

OldVic1 MODERADOR: Faz bem em alertar, até porque o historial português em termos de planeamento não é famoso. Aprender com os erros não está no nosso ADN. Veja-se o que se tem passado com a dívida pública... Feio, torto e ignorante INICIANTE: O melhor é ficarmos todos na cama. Para sempre.            Miguel INICIANTE: Tudo é um perigo para quem é cobarde. Para esses, o melhor é ficarem em casa (para sempre, por favor), e deixarem os outros viver. Mas o pior, o pior, é gente que se faz passar por jornalista mas nem consegue agarrar-se aos factos para espalhar a sua mensagem de pieguice covideira. Será que ainda ninguém reparou que Maio de 2021 não é Maio de 2020, e que as vacinas são altamente eficazes contra o Covid e as suas infindáveis variantes? Será que ainda ninguém reparou que o vírus está a sumir-se da Europa, apesar dos desconfinamentos em série? É para ficarmos reféns disto até quando? 2024? 2054? 2100? Digam-nos, sff! E um pedido de desculpas por todas as previsões falhadas, não ia já? Neste momento, a credibilidade dos covideiros é zero. Repito: zero.     C A.886536 INICIANTE: "O assalto de estrangeiros a praias, hotéis ou restaurantes é uma preocupação". Será que um director de um jornal não percebe a xenofobia que incentiva com estas palavras? A xenofobia não existe apenas para com refugiados. Não é preciso mais nada para percebermos quão longe estamos já de uma democracia. Mas não é uma vontade anti-democrática que nos afasta do respeito pelas pessoas que nos rodeiam, é antes a ignorância, a vários níveis, mas sobretudo uma cegueira que nos impede de observar as acções que praticamos e que só nos envergonharão.            wuzzu EXPERIENTE: O M Carvalho, apesar de já ter levado uma dose, continua a ser mais um a alinhar com a política do medo. Ó homem, sê corajoso e olha para os dados. As mortes são irrisórias quando todos os que tiverem mais de 65 anos estiverem vacinados. E entretanto vacina-se o resto. Bem sei que já não és novo, mas preocupa-te mais com os cancros e as doenças neurodegenerativas, essas sim matam mais e todos os dias. Por outro lado, já vai sendo tempo do público olhar para os dados e verificar que o que se passou em portugal (e no resto do mundo) com o aumento galopante do número de mortes em poucas semanas, chama-se impreparação dos serviços de saúde, principalmente a nível da sua organização. Foi tão simples como terem encaminhado tudo para Santa Maria e alarmismo para o qual o PúBlico contribuiu. ricardo111 INFLUENTE: Entre o ser algo selectivo com os países aos quais damos acesso, a exigência de um teste PCR e os níveis de vacinação cá, provavelmente safamo-nos sem outra vaga mas isso depende muito de qual a certeza que temos que os certificados de teste PCR que os turistas estão a mostrar são todos (ou pelo menos na sua maioria esmagadora) genuínos - é que não havendo standard internacional regulado e vigiado e não receando os prevaricadores serem apanhados ou sofrerem consequências, há de haver muitos tentados a poupar os cento e tal euros ou libras por pessoa do custo do teste PCR e simplesmente imprimir em casa uns papelecos com ar de algo que veio de um laboratório.            "Público jornal" X5- ASSINANTE UTILIZADOR DO FÓRUM. AKA MANTA ROTA. AKA CONDE DO CRUZEIRO AKA JOJORATAZANA INICIANTE: Oh Manuel, devíamos proibir o turismo em Portugal, para evitar a reanimação da economia? Nuno_P EXPERIENTE: Parabéns. São as palavras mais lúcidas que li hoje sobre este tema. Por mais que precisemos do dinheiro do turismo, será que compensa o risco? E depois das imagens dos turistas a chegar a Portugal, como é que vão explicar aos portugueses que afinal não vão poder frequentar as praias no Verão? pac1052552 INICIANTE: Claro que compensa o risco, sem dinheiro não se vive neste sistema capitalista corrupto de castas!            Opinativo EXPERIENTE: Vamos lá falar do que interessa: Não é possível erradicar o coronavírus. O objectivo sempre foi evitar mortes e entupir o SNS. A vacinação do maior grupo de risco já foi praticamente concluída o que fez reduzir o número de mortes para números sem significado. Quase 2/3 dos internamentos antes do início da vacinação eram referentes a pessoas maiores de 70anos, 1/3 entre 40 e 69 anos e 4% menores de 40 anos. O risco de colapso do SNS é praticamente inexistente. Não é ainda altura para voltarmos ao estado pré-pandemia mas qual seria o propósito de estarmos fechados a 7 chaves? E sabendo que os turistas chegam com um teste negativo PCR. E sabendo que os turistas vêm apenas de países com baixos índices de transmissão. E sabendo que muita gente está a sofrer sem trabalho. Não se pode pensar só no umbigo. Nuno_P EXPERIENTE: "O risco de colapso do SNS é praticamente inexistente." Consegue garantir isso? No Reino Unido, quase 70% da população tem pelo menos uma dose de vacina e teme-se isso mesmo. Dependendo do grau de transmissibilidade já há quem avise que o número de internamentos pode ultrapassar o pico da segunda onda.            Armindo Castelo Bento EXPERIENTE: Para Sally Buzbee, a estratégia no Post não será, na verdade, muito diferente da que tinha na agência: “O desafio do jornalismo é igual em todo o lado e é o de tentar ir ao encontro das audiências, onde quer que elas estejam, e tentar produzir uma informação o mais acessível, rigorosa e transparente que for possível”.               Rogu EXPERIENTE: Mais uma Nova vaga de Turistificação para arrasar de novo o País.... esta vai doer mais que todas as outras....            AA...Para a mentira ser segura ... tem que ter qualquer coisa de verdade INICIANTE: Se correr bem o governo cantará vitória e a estratégia foi toda deles. Se correr mal, têm sempre o tio Marcelo para assumir as culpas. Ele até gosta de se pôr a jeito.             João Cunha INICIANTE: Igual ou parecido com o sucedido em 2020. Abrimos cedo demais. Tínhamos agora 1 mês para consolidar e vacinar antes de abrir para o verão, mas fomos como as moscas ao Mel. Quanto a festa do scp, com mensagens "perdidas" na cml, e conversa de gaiatos, e ninguém foi responsabilizado. Opinativo EXPERIENTE: Vamos lá falar do que interessa: Não é possível erradicar o coronavírus. O objectivo sempre foi evitar mortes e entupir o SNS. A vacinação do maior grupo de risco já foi praticamente concluída o que fez reduzir o número de mortes para números sem significado. Quase 2/3 dos internamentos antes do início da vacinação eram referentes a pessoas maiores de 70anos, 1/3 entre 40 e 69 anos e 4% menores de 40 anos. O risco de colapso do SNS é praticamente inexistente. Não é ainda altura para voltarmos ao estado pré-pandemia mas qual seria o propósito de estarmos fechados a 7 chaves? E sabendo que os turistas chegam com um teste negativo PCR. E sabendo que os turistas vêm apenas de países com baixos índices de transmissão. E sabendo que muita gente está a sofrer sem trabalho. Não se pode pensar só no umbigo. Nuno_P EXPERIENTE: "O risco de colapso do SNS é praticamente inexistente." Consegue garantir isso? No Reino Unido, quase 70% da população tem pelo menos uma dose de vacina e teme-se isso mesmo. Dependendo do grau de transmissibilidade já há quem avise que o número de internamentos pode ultrapassar o pico da segunda onda.         Armindo Castelo Bento EXPERIENTE: Para Sally Buzbee, a estratégia no Post não será, na verdade, muito diferente da que tinha na agência: “O desafio do jornalismo é igual em todo o lado e é o de tentar ir ao encontro das audiências, onde quer que elas estejam, e tentar produzir uma informação o mais acessível, rigorosa e transparente que for possível”.         Rogu EXPERIENTE: Mais uma Nova vaga de Turistificação para arrasar de novo o País.... esta vai doer mais que todas as outras....         AA...Para a mentira ser segura ... tem que ter qualquer coisa de verdade INICIANTE: Se correr bem o governo cantará vitória e a estratégia foi toda deles. Se correr mal, têm sempre o tio Marcelo para assumir as culpas. Ele até gosta de se pôr a jeito.    João Cunha INICIANTE: Igual ou parecido com o sucedido em 2020. Abrimos cedo demais. Tínhamos agora 1 mês para consolidar e vacinar antes de abrir para o verão, mas fomos como as moscas ao Mel. Quanto a festa do scp, com mensagens "perdidas" na cml, e conversa de gaiatos, e ninguém foi responsabilizado.          Animação e descanso INICIANTE: Qual risco!? Fonix não tiram as palas! Quando ficarem desempregados talvez o façam. Zé Goes EXPERIENTE: Também temo que estejamos a jogar seguindo a táctica do José Estebes: "tudo ao molho". Não sofreremos certamente um desastre como o do Natal passado mas é difícil que não venhamos a dar passos atrás. Luis Rocha EXPERIENTE: É frustrante ver que não se aprendeu com o ano passado. A estratégia portuguesa continua a ser a fé em Deus. Até Boris Johnson, com um país muito mais vacinado, está mais preocupado com a variante indiana. Não é futurologia, é só ver como essas variantes estão a crescer no Reino Unido. É óbvio que vão afectar Portugal com esta entrada de turistas, e muito possivelmente depois estragar o turismo em Julho. A não ser que se chegue a um nível de vacinação bem mais elevado (tipo EUA), estas variantes vão se sentir.

 

“Caranguejola”

—Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada…
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!

 

Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado…
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira —
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.

 

Não, não estou para mais — não quero mesmo brinquedos.
Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar…
Que querem fazer de mim com este enleios e medos?
Não fui feito pra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar…

 

Noite sempre plo meu quarto. As cortinas corridas,
E eu aninhado a dormir, bem quentinho — que amor…
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor —
Plo menos era o sossego completo… História! Era a melhor das vidas…

 

Se me doem os pés e não sei andar direito,

Pra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord?
– Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde
Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito…

 

De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo —
E não penses no resto. É já bastante, com franqueza…

 

Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará.
Pra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. Co’a breca! Levem-me prà enfermaria! —
Isto é, pra um quarto particular que o meu Pai pagará.

Apreciemos

Justo. Um quarto de hospital — higiénico, todo branco, moderno e tranquilo;
Em Paris, é preferível — por causa da legenda…
Daqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda —
E depois estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo…

 

Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora, no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras:
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.

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