Que a bonita imagem de Senhora de Fátima merece.
O silêncio de Fátima /premium
“Fátima?” perguntei-lhe uma tarde em
que conversávamos os dois, na Capela do Rato: “Foi a coisa mais importante que
aconteceu no século XX no mundo. “Nem ele nem eu sabemos se foi ou não. Que
importa?
MARIA JOÃO AVILLEZ
OBSERVADOR, 13 mai
2021, 18:3511
1Não
conheço silêncio como o de Fátima. E não conheço talvez porque não haja. Como
um véu espesso e quase misterioso o silêncio que cai sobre o Santuário
mergulhado em oração, não tem igual.
Também
não me lembro de atmosfera mais intimamente recolhida como a que envolve
aquelas vigílias nocturnas no recinto do Santuário. Cada um está com Nossa
Senhora, e quase se adivinha esse diálogo sussurrado, secreto, singular,
sofrido de cada peregrino com Maria, Mater Dei. Emoção, esperança,
desesperança, fadiga, dor, temor, fé, alegria, pedras do caminho que lá nos
leva. Sobre elas, imóveis e mudos, rezamos. Cânticos, velas acesas, por vezes
terços nas mãos e de novo o silêncio, enquanto devagar, uma imagem branca passa
na mancha escura da multidão. Há um nó na garganta e um arrepio na pele e não
se precisa que Nossa Senhora ali desça de novo sobre uma azinheira para
perceber que aquilo a que se assiste é um milagre. Fátima é em si um milagre.
Algo que se repete e renova, ano após ano, década após década, imutável e
absolutamente inexplicável: porquê ali? Mas o estar “lá”, faz de nós membros
activos da mensagem de Fátima através do que nos pede: oração e coração.
Compromisso. (Santidade?)
Vi
Fátima, viva, activa, perene, em longínquas paragens, nas Áfricas, no Brasil,
em Singapura, na Oceânia. E na remota
Indonésia, na minúscula Ilha das Flores, onde, numa Sexta-Feira Santa o povo, de vela acesa
na mão, quis associar Nossa Senhora à Paixão de seu filho e Nossa Senhora para
eles era a de Fátima. Celebraram-na, cantando o Avé pelas ruas quentes da ilha
numa sentida celebração que duraria horas infindas mas ninguém ali tinha
pressa. Em todos esses lugares foi como se estivesse na Cova da Iria, em todos
me dei conta do mistério e do milagre. Ser testemunha chamada a ser
participante, eis o que obriga a emoção a transformar-se em responsabilidade.
2Portador
da desconhecida incerteza em que vivemos há já tempo de mais, nesta última
quarta-feira e quinta-feira, o silêncio de Fátima era ainda mais simbólico. A dor que carregava quase se tacteava por dentro da
noite e não fora as velas dos poucos milhares de peregrinos – pequenos pontos
de luz por dentro da noite – alguém diria que ali se rezava um Requiem. Puro
engano: foi um halo de esperança que Tolentino de Mendonça ali trouxe, ou
melhor, um vento de esperança que nunca ali deixou de soprar por entre o frio
da noite e a chuva da manhã. Não é Fátima “uma alavanca da humanidade”
como ele nos assegurou? Não é “inesquecível a ternura de Maria, completando o
olhar do seu filho na cruz”, conforme nos lembrou? Então, deixe-se passar a
esperança. Pratique-se a esperança apesar da incerteza, da provação. Ou
melhor, por causa delas.
Cardeal,
poeta
e teólogo,
arquivista do Arquivo Apostólico do Vaticano e Bibliotecário da Biblioteca Apostólica Vaticana, na Cúria Romana,
José Tolentino de Mendonça, presidiu este ano às celebrações de Maio na Cova da
Iria.
Um
dia perguntei-lhe se se podia falar do poeta que ele é, do intelectual, do
homem de cultura, sem falar de Deus. Não, não podia. “A procura de Deus é a
dimensão mais forte da minha existência. Em última análise é dessa procura –
humilde, inacabada, sempre a ser refeita – que me alimento.”
Conheço-o
há muitos anos, trabalhei com ele, mas o que interessa é que cedo percebi que
tinha o condão de, de algum modo, me pôr em sentido. Como quando de imediato
nos apercebemos que estamos diante, ou ao pé, ou por dentro de coisas muito
sérias. Talvez por isso também sempre me pareceu que não eram precisas palavras
para falar de Tolentino. Bastam as suas. Pérolas raríssimas. E através desse
colar imenso, o modo como nos interpela a vontade e toca fundo o coração,
trazendo o sagrado para tão próximo de nós.
“Fátima?”
perguntei-lhe uma tarde em que conversávamos os dois, na Capela do Rato: “Foi a
coisa mais importante que aconteceu no século XX no mundo. “Nem ele nem eu sabemos
se foi ou não. Que importa? Quer-nos parecer, a um e a outro, que foi sim. Foi.
3“A
mensagem de Fátima é fortíssima”, disse-me um dia o Patriarca de Lisboa, D.
Manuel Clemente, numa
(magnifica) entrevista que me concedeu e era quase só dedicada ao tema: “a
mensagem lança-nos um repto de uma actualidade flagrante e que está no
Evangelho”.
Surpreendi-me
e não devia, com a descoberta de uma espiritualidade mariana, com a sua
fortíssima convicção face ao fenómeno fatiminano, a desarmante, inteira simplicidade
com que sempre o perfilhou, a franqueza com ,que diante de um gravador, me
confessou que “gosta muito de ir a Fátima”: “Nem preciso de estar a pensar em
nada, nem de dizer nada. Basta-me o estar, só estar ali.”
Nunca
mais esqueci tão fortíssimo testemunho. Razão, fé, teologia, história, numa
reflexão que reconduzia a mensagem de Fátima à centralidade do Evangelho.
“Em
toda a tradição bíblica, a preferência – podemos dizer assim – de Deus, é para
se manifestar no que é pequeno, no que é simples, no que é pobre, no que é
desprovido. Mais pequeno que aquelas crianças à volta de um poço ou de uma
azinheira, há cem anos, na Serra d’Aire, não podia haver.»
Foi
há cento e quatro anos. E foi ontem, dia 13 de Maio de 2021. Um
jornada em que vimos também no altar de Fátima, o Patriarca de Lisboa e o Bispo
de Leiria Fátima, D. António Marto, ao lado do Cardeal Tolentino. Homens de
muita fé e permanente testemunho sobre os quais o espirito decidiu soprar em
abundância, nunca se fazendo rogado.
4O
Papa Francisco sabia bem o que fazia quando há dois anos e tal escolheu pescar
um ainda jovem sacerdote chamado José nas águas dos nossos mares.
E
Nossa Senhora, quando há cento e quatro anos escolheu uma árvore do solo
português para se dirigir ao mundo em guerra através de três mensageiros
improvabilíssimos, também sabia o que fazia. Não é de facto fácil “lidar” com
uma e outra coisa e mesmo que os planos sejam distintos entre si, ambas
confundem e nos confundem. Mas deve ser aí mesmo que reside a invencível força
delas.
PS:Mais uma vez a Igreja se mostrou sábia. Ontem toda a
equipa do Reitor do Santuário esteve a altura de desafio espinhoso: sem aparato
nem ruído, antes com uma sobriedade discreta e uma imensa experiência, encenou
com rigor e primor, as cerimonias que vimos. Eis o que também se agradece e
reconhece.
FÁTIMA PAÍS SANTUÁRIO DE
FÁTIMA
COMENTÁRIOS:
josé maria: O embuste de Fátima não passa disso mesmo: um enorme e grotesco embuste.
Achar que aquela narrativa eticamente deplorável, aquela religiosidade
mesquinha, tem algo de espiritual é escarnecer de qualquer dimensão espiritual
que a vida possa ter. Quando vejo um homem, com a craveira intelectual de
Tolentino de Mendonça, caucionar aquele embuste, é o cúmulo da irracionalidade,
assumido por um homem superiormente inteligente. Manuel Magalhães: Bonito e sentido (também por
nós) testemunho daquilo que é Fátima e a sua transcendência... obrigado Maria
João! Cisca
Impllit: Nossa Mãe do Céu!
Paulo Guerra: Depois da teoria do futebol do
Zé Manel, Fátima. Só falta o fado. Observador Censura é crime > Paulo Guerra: Desta vez concordo contigo...ó socrates Anastácio Rocha > Paulo Guerra: Coitado … estás no passado e ultrapassado, muda o
disco Vaitu
Éstu > Paulo Guerra: Ouves falar de Fátima e reages como o chifrudo perante
a Cruz. Vá de retro! advoga
diabo: Todas as
manifestações de grandes multidões, sejam elas de absoluto silêncio ou barulho
infernal, são esmagadoras. Alguém acredita que MJA vê no fenómeno
"Fátima" só o lado positivo que representa a força que alguns ali
encontram para enfrentar a vida, e não o aproveitamento da absoluta alienação
que constitui desde sempre, que tanto contribuiu, e em parte contribui, para
uma certa indigência mental? Anastácio Rochaa > advoga diabo: Fale de si e respeite os outros
… diabo preconceituoso
Manuel Magalhães > advoga diabo: Infelizmente gente vazia ainda há muita... Anastácio Rocha: Muito obrigado. Escreve beleza porque tem alma para o
silêncio e coração para o escutar … e precisamos de pessoas que nos saibam
escrever com sentimento e nobreza. Muito obrigado Maria Nunes: Obrigada MJA. Lindíssimo
testemunho de fé.
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