Tal o Poirot, no remate das suas investigações detectivescas, justificando,
perante os intervenientes no processo investigado, o esplêndido funcionamento
das suas células cinzentas, ou, numa perspectiva mais historiográfica – que concorda,
aliás, com a designação de historiador que Pacheco Pereira justamente se atribui - o honradamente vivaço Fernão Lopes protestando a “clara certidom da verdade nas suas crónicas
historiográficas. Mas, evidentemente que as mazelas sociais do nosso mundo
anti-heróico mais facilmente nos levarão à preferência pela equiparação do
nosso Pacheco Pereira com o
esmerado detective belga, mais sociólogo, todavia, e menos psicólogo do que
este, que não é este o seu fito, nem o das suas hábeis deduções de ledor e estudioso.
Todavia, alguns comentadores apontam-lhe um certo retraimento na explicitação
dos factos. Julgo que esse aspecto provém de uma discrição natural de
estudioso, não propriamente polemista.
OPINIÃO
Por que razão há tanta indiferença face aos grandes
devedores?
Para onde foram as centenas e centenas
de milhões de euros, eles que não têm bens e que, os que têm, a banca acha que
é melhor “não serem executados”? A essa pergunta sei responder; para o seu
bolso e dos seus cúmplices. E, retiradas as despesas de “contexto”, ainda lá
estão.
PÚBLICO, 22 de
Maio de 2021
“Onde
está o teu tesouro, aí estará o teu coração também. Ninguém pode servir a dois
senhores, porque ou há-de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e
desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” Evangelho de S. Mateus
Em primeiro lugar, porque, não sendo
políticos, o populismo toca-lhes muito pouco.
Não são jogadores de futebol, nem cantores, nem
personagens do jet-set, nem nobreza ou realeza. Dito em bruto, é isso mesmo. E quando lhes toca é
por que o rastro das suas actividades empresariais vai ter ao poder político de
forma mais ou menos explícita.
Em segundo lugar, porque alguns deles têm
outras protecções, a
começar pelo mundo dos grandes clubes de futebol, como é o caso do presidente
do Benfica que continua lá. Podem referir que deles se dizem cobras e
lagartos, mas se formos a ver é a disputa futebolística e clubista que
explica essa má-língua, não os casos em si. São os partidários
dos candidatos que perderam, são os adeptos
do clube A contra o clube B que clamam vigorosamente contra o homem do
clube alheio e são muito silenciosos sobre os seus. É o colectivo das
claques prolongado pelas redes sociais, e é também porque o
mundo do futebol, cheio de ilegalidades, de contratos esquisitos com jogadores,
de offshores, de despesas sumptuárias, de corrupção e de violência, não suscita
no populismo muita condenação.
Em terceiro lugar, porque
os partidos, a imprensa, os comentadores com proximidade com o mundo dos
negócios “liberais” tendem a desvalorizar aquilo e aqueles sobre os quais fazem
um cordão sanitário, dizendo que “eles” não são o retrato do capitalismo
português, “eles” são a fruta podre de um cesto limpo e sadio. Tomá-los
pelo todo é fazer a propaganda do BE e do PCP contra os empresários “criadores
de riqueza”.
Sim, tomá-los pelo todo é injusto com
alguns dos grandes e muitos dos pequenos, mas a sua ganância, a sua falta de
escrúpulos com os dinheiros alheios, a sua promiscuidade com políticos
corruptos, o seu insulto a gozar com os que não foram lá buscar centenas de
milhões de euros, mas que os vão pagar, e, nalguns casos, os seus crimes, são a
regra. Eu, aliás, ainda estou para ver a Iniciativa Liberal falar destes homens
sem ser só sob o chapéu dos malefícios do Estado (que existem) e as confederações
empresariais, ou a alta finança, que, pelos vistos, sabiam de tudo, mas não
disseram nada.
Em quarto lugar, porque os grandes devedores não caíram do céu ou
exclusivamente do regaço de rosas de Ricardo
Salgado, conluiado com José Sócrates, mas comprometem gente altamente “reputada” e
qualificada do mundo da banca, gestores “de topo” que circulam de administração
para administração, que fazem parte do círculo de confiança que manda neste
país e que fazem de conta que não tiveram nenhuma responsabilidade com o que se
passou.
Em quinto lugar, por que muita
da imprensa económica, e não só, reflecte este mesmo tipo de preocupações,
chamemos-lhe “de classe” para irritar com um vocabulário marxista, e tem
dependências muito pouco transparentes. Seria muito interessante, por
exemplo, conhecer como actuam as agências de comunicação, pagas a peso
de ouro pelas grandes empresas e empresários individuais, e como é que elas,
sem indicação de publicidade paga, controlam quem aparece e quem não aparece
nas páginas dos seus jornais e como aparecem.
Em sexto lugar, a
economia das indignações é dúplice em vários escalões. Atinge muito mais os que vêm de baixo do que a gente
fina, que é de facto “outra coisa”. E aqui entramos por um processo mais vasto
do que os protagonistas actuais visto que remete para as enormes diferenciações sociais em Portugal e o modo
como elas se incrustam inconscientemente no populismo. Os “que sobem na vida” quando caem
fazem-no com muito mais fragor, porque a inveja social é muito horizontal e
eles são da mesma extracção e mundo dos escrevinhadores das redes sociais. Os
de cima estão sempre mais protegidos. É um remake de uma tese que foi
propagandeada por esse pai do populismo nacional que foi o Independente, que execrava os novos-ricos das “meias brancas” e não
dizia uma linha sobre os grandes lobistas que estavam sossegadamente nos seus
tempos livres na Assembleia da República e que sabiam comer à mesa com os
talheres todos. E o Chega é muito selectivo nas suas indignações porque tem lá
gente desta, como se sabe.
Podia
continuar até ao infinito, “enésimo lugar” por cada milhão de euros e não
acabava. Claro que estes homens são os que hoje são atirados às feras, que
periodicamente precisam de ser alimentadas com os “maus” para não irem comer os
“bons”. Desde aparecerem como atrasados mentais, ou esquecidos profissionais,
até à arrogância
ingénua de Berardo e a arrogância
insuportável do homem da Ongoing, confortável no seu exílio
brasileiro, depois de ter comprado deputados que “não sabiam o que era a
Ongoing” e depois ficaram a saber muito bem, tivemos de tudo. Para onde foram
as centenas e centenas de milhões de euros, eles que não têm bens e que, os que
têm, a banca acha que é melhor “não serem executados”? A essa pergunta sei
responder; para o seu bolso e dos seus cúmplices. E, retiradas as despesas de
“contexto”, ainda lá estão.
Até
breve. Até que os especialistas da “resiliência” ou, se quiserem, de disparar
bazucas, não comecem a vir engrossar a lista dos grandes devedores e tudo se
repita.
Historiador
BANCA
NOVO BANCO CORRUPÇÃO JUSTIÇA BES RICARDO SALGADO LUÍS FILIPE VIEIRA
COMENTÁRIOS:
Fernando Dias.896153 EXPERIENTE: O problema está
nos disfuncionamento dos bancos, sobretudo nos "too big too fall", na
falta de controle sério sobre o seu funcionamento. Os "too big too
fall", devido ao risco sistémico e de forçarem ao salvamento pelos contribuintes
deveriam ser sujeitos a mecanismos de controle adicionais. Se não é o caso, não
culpem os empresários, a não ser q haja prova de ilícitos em cumplicidade, e.a.
com os bancos. O simples facto de 1 empresa ter falido, ter deixado uma grande
ardósia por pagar ao banco q a financiou e q não haja garantias suficientes
-imobiliárias ou outras- para executar não é razão para lançar o anátema sobre
o empresário em questão. Há imensas situações legítimas e honestas onde isso
acontece na vida real. Tampouco é razão se o empresário não garante
pessoalmente o passivo. Pedro de Souza EXPERIENTE: Não defendo a
Maçonaria, que até acho hoje uma coisa meio ridícula, mas essa Máfia dos
grandes credores dos Bancos é que é a verdadeira maçonaria, é essa que deveria
ser exposta. Por que razão a Justiça ou o Banco de Portugal não procedem à
desratização? Porque circulam nos mesmos meios, quando deixam o serviço público
têm quem os agasalhe.
Jose Luis Malaquias INFLUENTE: As verdades que
JPP aqui vai repetindo têm o condão de me deixar deprimido e sem fé no futuro
deste país e deste mundo. Antonio Pacheco INICIANTE: Os bancos
fornecem crédito de biliões sem garantias. O dinheiro desaparece, o dinheiro
era do povo e o estado mete lá mais dinheiro do povo. Biliões de euros que
podiam ser investidos em causas sociais ou em investimento…. O estado vai
distribuindo côdeas de pão em subsídios ou em empregos públicos e o povo
aplaude. Por sinal um desses devedores é o rei do circo, e o povo aplaude. Temos
um povo que se contenta com pouco, o pão. Temos uma elite que gosta de dar espectáculo
circense. É tudo mais do que suficiente, pão e circo! FPS MODERADOR: "Não servirás a dois senhores.
Servirás a Deus ou a Dinheiro" esta tradução, a propósito da citação
inicial de Pacheco Pereira, parece-me mais clara. Vi-a, há uns anos,
fundamentada, numa obra de Anselmo Borges (Quem foi, quem é Jesus Cristo).
O Dinheiro, nome próprio e com estatuto divino, pois nos garante a vida e o
poder... Li esta crónica de Pacheco Pereira e não descortinei uma palavra,
uma única palavra que fosse, sobre a justiça. Não consigo perceber esta
sistemática ausência de JPP sobre a complacência, a impotência(?) e a
inoperância da justiça em casos desta grandeza e dimensão... Vou esperar que
algum dia se desate, porque penso que alguma coisa de importante saberá... joaquim
pocinho EXPERIENTE: O senhor Pereira não gosta de sombras.. AARR
EXPERIENTE: Pode explicar melhor o seu raciocinio? joaquim pocinho EXPERIENTE: O Senhor Jose
Pereira , sempre o senhor Pereira.. bentoguerra69.1045698
INICIANTE Indiferença
,ou conivência? Hugo Miguel Campos Rodrigues dos Santos INICIANTE:
Bravo!
Mario Coimbra INFLUENTE: Uma revista
semanal onde escreve vinha este semana com uma lavagem ao Rei dos Frangos.
Muito comovente. Eu acho que toca no ponto fulcral. A banca e os negócios da
banca têm muito pouco escrutínio. Ninguém no seu perfeito juízo faz negócios
para ir á falência mas parece que foi isso que os nossos bancos fizeram. Eu
continuo a achar que o Banco devia ter caído. Era um sinal crítico que se
mandava a todos os outros. JPR_Kapa INFLUENTE: JPP caracteriza
bem este tipo de "ingenuidade", mesmo aqui no texto ao lado. Com que
então, para si, isto é um problema de Portugal. Em mais nenhum lado os bancos e
as suas elites, funcion(ar)am assim, a crise de 2007/8 é uma invenção, etc..... Jose MODERADOR: O Capitalismo
funciona assim, mesmo que os capitalistas se mostrem escandalizados com o
funcionamento do sistema em que são a classe dominante, é hipocrisia e cinismo.
As sociedades comerciais cumprem o Código comercial, os bancos cumprem as leis
aplicáveis e observam as decisões das reguladoras. As sociedades comerciais
compram, transformam, vendem, facturam. É no acto de facturar que recolhem a
riqueza e alguns impostos e taxas. Depois distribuem para os accionista, os
administradores, o Estado, a Segurança Social, os fornecedores e finalmente
para os trabalhadores. Quem parte e reparte fica com a melhor parte ou não tem
arte. Essas instituições têm ainda o direito à insolvência cuja massa falida
administrada pelo administrador de insolvência paga, do que restar, aos
credores. Ponto! M Cabral EXPERIENTE: Pois é.
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