Ou “Le roi est mort, vive le roi”, ou “Um
por todos, todos por um”, ou “Depois da vacina o dilúvio”, ou José Régio, se
possível recitado por João Villaret, para uma vacina de esperança… Ainda que isso
nada signifique:
«era
então que sucedia
Que em
Portalegre, cidade
Do
Alto Alentejo, cercada
De
serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Aos
pés lá da casa velha
Cheia
dos maus e bons cheiros
Das
casa que têm história,
Cheia
da ténue, mas viva, obsidiante memória
De
antigas gentes e traças,
Cheia
de sol nas vidraças
E de
escuro nos recantos,
Cheia
de medo e sossego,
De
silêncios e de espantos,
- A
minha acácia crescia.
Vento suão! obrigado...
Pela
doce companhia
Que em
teu hálito empestado
Sem eu
sonhar, me chegara!
E a cada raminho novo
Que a
tenra acácia deitava,
Será
loucura!..., mas era
Uma
alegria
Na
longa e negra apatia
Daquela
miséria extrema
Em que
vivia,
E
vivera,
Como
se fizera um poema,
Ou se
um filho me nascera.»
Tempestade perfeita
Não fora a formidável capacidade
amortecedora do Presidente Marcelo e já estaríamos a navegar em águas furiosas.
Mas as ambições estão à solta. Reina a desconfiança. E os que já perceberam o
papel do Presidente querem agora ver-se livres dele. O que é perigoso.
PÚBLICO, 15 de Maio de 2021
Parecem reunidas as condições para uma grande tempestade. Perfeita
ou não, é o que falta saber. Por onde
passou, a pandemia deixou mortos e feridos. Isto é, por todo o lado. Na
sociedade e na economia. Nas instituições e nas empresas. Nas comunidades e nas
classes, sobretudo nas mais pobres. A
desigualdade social aumentou. A tensão racial, deliberadamente
exacerbada, está mais visível. Há gerações que vão sentir, por anos, as dores
desta crise. Se houver força, meios e honestidade, talvez seja
possível acudir aos vivos. Mas a sociedade está ferida, ninguém duvide. A ponto
de que já poucos acreditam no optimismo: desconfiam mesmo de que este é o
próprio do fala-barato.
Na vida política, previsivelmente, houve de tudo: cooperação,
solidariedade, rivalidades e oportunismo. Mas
o mais visível é muito negativo. O debate político está a ficar insuportável.
O teor das discussões parlamentares atinge inéditos níveis de baixeza. Quem tem
o poder (o PS e as esquerdas) tem cada vez mais receio de o perder, apesar de
não ter adversário à altura. Quem não tem o poder (o PSD e as direitas)
pressente que não vai ser desta que lá vai, que não tem pessoal nem argumentos. A extrema-direita não esconde uma espécie
de justicialismo histérico que a toda a gente faz mal. Certos grupos de esquerda, a começar pelo Bloco,
falam com o desespero de quem está a perder a revolução, a poucos metros da
Bastilha ou do Palácio de Inverno. Ministros, secretários de Estado e
autarcas perdem a compostura. Há responsáveis políticos que se exprimem como
carroceiros. Já há ameaças à liberdade de expressão.
Crescem as vontades de controlar a comunicação. O debate político está
envenenado. Não apenas porque faltam décadas de experiência
democrática e gerações de educação política, mas também porque tudo parece
frágil e incerto.
As alianças, as reais e as esperadas,
estão tremidas, entre parêntesis. Nada é seguro. Todos querem ver se escapam à necessidade de fazer
coligações. O PS e o PSD sonham com maiorias absolutas, mas delas estão longe. Gostavam de se ver
livres dos seus prováveis aliados, mas não podem dispensá-los. PCP, Bloco, CDS,
PAN, IL e Chega querem absolutamente tornar-se indispensáveis. Sabem que, se
falharem estas, não haverá tão cedo novas oportunidades.
As
batalhas e as intrigas pela sucessão estão abertas e são visíveis em todos os
principais partidos. É bem provável que, dentro de três anos, nenhum dos
actuais líderes se mantenha em exercício. O que nunca se faz sem sangue
Todos esperam pelas autárquicas (o
que nem sempre é uma boa medida) para ajustar contas internas nos partidos. Em todos, às abertas ou discretamente, prepara-se a
substituição ou a sucessão de líderes. Nenhum escapa, PS, PSD, CDS, Bloco e PCP. As batalhas e as intrigas pela sucessão estão
abertas e são visíveis em todos os principais partidos. É bem
provável que, dentro de três anos, nenhum dos actuais líderes se mantenha em
exercício. O que nunca se faz sem sangue: as lutas internas têm sempre causas e
consequências cá fora.
São notórias as dificuldades
em manter a ordem pública. Uma evidente
incapacidade revelou-se em Odemira, como se vê no futebol
e noutras manifestações. Parece que a ordem pública só se mantém e é garantida
quando está protegida por organizações civis ou quando uma entidade privada
decide mantê-la, como se tem visto. A tranquilidade e a segurança parecem
mais dependentes da Igreja católica, do PCP e da CGTP do que das autoridades.
Algumas
das mais importantes funções de Estado ou de soberania estão em crise aberta. A
Justiça, já se sabia. Agora, de modo inesperado, o governo abriu um profundo
e inútil diferendo com parte importante das Forças Armadas, que já sofriam há muito de insuficientes recursos
humanos e financeiros. A
declaração pública assinada por quase todos os mais importantes e prestigiados
chefes militares das últimas décadas, a começar pelo Presidente Ramalho Eanes,
ele próprio antigo CEMGFA e CEME, é de uma gravidade extrema, pelo que é
assustador o silêncio do Parlamento, do governo OPINIÃO
e dos partidos. Espera-se todavia que o Comandante Supremo das Forças
Armadas, o Presidente da República, se exprima com brevidade, até porque tem de
se definir perante os diplomas legais que lhe vão chegar às mãos.
Há dinheiro. Muito dinheiro. Para quem o apanhar. Para quem estiver no poder, no governo ou na
autarquia. Dos antigos fundos europeus, sobram milhões não utilizados. Dos novos,
que estão quase a chegar, esperam-se milhares de milhões. O seu gasto
não depende de privados, nem de empresas, depende exclusivamente das
autoridades, do governo e dos autarcas.
Haver dinheiro pode ser tão perigoso quanto a sua falta. Os apetites vão
agudizar os nervos e as energias.
Há falta de dinheiro. Muita.
As empresas que sobrevivem estão exaustas. Os trabalhadores e empregados dos
sectores privados estão inquietos e empobrecidos. Os possíveis investidores
nacionais não querem arriscar. Os grupos internacionais não estão por enquanto
interessados. As
famílias não têm para poupar, muitas delas aliás nem sequer para chegar ao fim
do mês. Se a vida económica recomeçar ainda em 2021, vão ser
necessários anos de esforço para recuperar, relançar o turismo, elaborar
projectos, atrair investimentos, criar emprego, poupar, refazer o sistema
educativo e reorganizar os serviços de saúde actualmente exaustos e
endividados. Vão ser precisos anos para recompor os sentimentos, a esperança e
até as famílias.
A
sociedade e a economia estão dependentes de recursos financeiros anormais e
excepcionais. Que não dependem do curso regular das actividades económicas. Dependem,
isso sim, das decisões políticas, da importância de cada um, do poder negocial,
da força das convicções, da capacidade de persuasão e do interesse clientelar.
Como é sabido, à vista das últimas décadas, Portugal não tem revelado aptidão e
experiência para tratar com honestidade a decisão política, económica e
financeira.
Não fora a formidável
capacidade amortecedora do Presidente Marcelo e já estaríamos seguramente a
navegar em águas furiosas e em tempestades impossíveis. Ao contrário de todos os seus antecessores, o
Presidente percebeu desde o início que tinha de ter uma aliança forte e durável
com o governo e a maioria parlamentar. O que muito tem ajudado no seu papel
moderador. Mas as ambições estão à solta. Os nervos em brasa. Reina a
desconfiança. E os que já perceberam o papel do Presidente querem agora ver-se
livres dele. O que é perigoso.
Sociólogo
TÓPICOS
OPINIÃO FORÇAS ARMADAS PRESIDENTE DA REPÚBLICA GOVERNO PARTIDOS POLÍTICOS MILITARES DEFESA
COMENTÁRIOS:
Paulo Batista EXPERIENTE: Calma ! O mundo não
vai acabar... Portugal, esse país pobre, pequeno e mal administrado irá
sobreviver como já aconteceu no passado. Com dificuldade, com pobreza, com
ajuda da UE ... embora a Armada espanhola esteja a tomar conta disto tal é o
seu peso na economia e no sector financeiro. E com a basuca ainda irá ser maior
com grandes empresas espanholas a ganharem muitas obras e a sub-contrarem
empresas portuguesas. Enquanto houver dinheiro haverá governação, quando
não houver virá uma troika para dizer como se faz .... Isto também levanta uma
questão: Quem em Portugal vota PS ou PSD ? Parece-me que os eleitores destes
partidos serão os políticos e todas as suas famílias que estão dependentes dos
job for the boys (isto a nível nacional, regional, municipal e junta de
freguesia). Fowler Fowler EXPERIENTE: Maio. Atmosfera
carregada. Adivinha-se tempestade. Uma descarga eléctrica pode ser fatal como o
destino. Tal como em 1917, eis que surgem videntes com as suas narrativas
fundadas no perigo vermelho e noutros que tais. Do alto do seu pedestal,
acreditam que a retórica permite intermediar e influir junto do poder de Santa
Maria de Belém e de outros poderes divinos. Que me lembre, nunca vi tanto
vidente a vender os seus serviços. Resta saber se o “encoberto” está incluído
no preço. cs265.1073132 INICIANTE: retrato perfeito do
momento, não é bonito, mas aí está o que é, onde chegámos, o que somos ou
deixamos ser, colectivamente. Veja-se e queira-se diferente, melhor! sem ir por
neo-fascismos que podem aliviar sentimentos de revolta, mas não levam a parte
alguma que seja boa, antes pelo contrário. Não trocar ilusões por outras piores
ainda Jose MODERADOR: Aqui-del-rei! É o
dilúvio! Zé Goes EXPERIENTE: Com muita pena mas há
que reconhecer muita razão a A Barreto. Quem não achar que está feito aqui um retrato
fiel de Portugal de hoje não está a entender nada do que por cá se está a
passar. JORGE COSTA EXPERIENTE: Excelente artigo,
lúcido e objectivo. Seria bom que quem nos (des)governa pagasse a crise que
está aí.... mas vivemos num País que infelizmente virou à esquerda com toques
de realeza. Resta o Vice-Almirante com o seu desempenho excepcional na tarefa
de vacinar tudo e todos neste rectângulo. Não teremos dinheiro para nada mas
viveremos felizes enquanto o Povo não abrir os olhos. Somos roubados todos os
dias... mas ainda existem alguns felizes. Até quando? Artur João Lourenço Vaz INICIANTE: Este não sai do Muro
das Lamentações e parece o Coro de uma tragédia grega!... GMA EXPERIENTE: "Tempestade
perfeita" ou profecias de Nostradamus (ou do Bandarra)? FzD INFLUENTE: Isto é análise política (e sociológica),
rigorosa e fundamentada, não se trata de mero jornalismo ou opinião. Jonas Almeida EXPERIENTE: Concordo, uma análise
certeira. A sociedade está há duas décadas a ser esganada pelo neoliberalismo
"sem alternativa" com a conivência e proveito de partidices
saprofitas. A vítima ou morrerá asfixiada ou se revoltará. Que rebente a
tempestade. H2O INICIANTE: O escriba deve dedicar-se à causa
pública e não se limitar a articular artigos de opinião ! FzD INFLUENTE: Só água... cisteina EXPERIENTE: Exaustivo e
exemplar na análise, aproxima-se uma "tempestade (mais) que
perfeita", se, além dos problemas internos que aqui enunciou tivermos em
conta o que se passa a nível internacional, sobretudo ao nível financeiro: os
bitcoins em profunda desvalorização (os esquemas Ponzi sempre dão nisto), os
mercados a reagirem, já se volta a falar na inflação, há dinheiro a mais por
aí espalhado, a menos nas pessoas que dele precisam, desemprego porque muitos
não querem trabalhar, com empresas sem mão-de-obra qualificada (muitos
debandaram, vieram outros, nada percebem, para serem explorados em Odemira, é o
mundo às avessas, muitos milhões em cuecas, alguns milhões gordos e anafados. E
nas tempestades (mais) que perfeitas Portugal nunca se safa, já vimos este
cenário. Toca a reunir! José Cruz Magalhaes MODERADOR: A única maioria
absoluta foi a que Marcelo conquistou, nas últimas eleições presidenciais. Qualquer
outra é impossível, quando já tinha sido pouco provável, enquanto o regime se
albergou sob a telha dos partidos de maior implantação.Com a pulverização do
sistema partidário, resultante das sucessivas diatribes autofágicas, de
dirigentes, concelhias e distritais dos maiores partidos e uma acentuada miopia
que deixou de permitir sentir os anseios e aspirações dos representados ,em
favor das estratégias e projectos hedonistas dos eleitos e dos aplausos dos
bafejados e parceiros de circunstância do crédito bancário infinito e da
liquidez transbordante de Planos e Fundos Europeus. fmart8 INICIANTE: Bolas, homem! Se
o sol não lhe entra dentro de casa acenda a luz! Se pretende ser o
pessimista de serviço, não me parece que algum dia alcance a elegância do Vasco
Pulido Valente. Isto sempre esteve mal, sempre esteve condenado, e sempre foi
andando. O único risco novo é a polarização de opiniões e de posições, que nos
pode levar aos piores resultados imagináveis.
graça dias EXPERIENTE: @fmart8 - Quem
não consegue avaliar a essência do bom jornalismo, uma vez mais evidenciado com
elevação neste artigo de AB, só pode ser alguém que vive na escuridão! fmart8 INICIANTE: Ó Graça, por
favor pesquise um pouco acerca das diferenças entre jornalismo e opinião
(pista: são duas coisas diametralmente opostas). Mario Coimbra INFLUENTE: Fmart8, se está
contente continue a votar no governo.Filipe Paes de Vasconcellos INICIANTE A Venezuela da
Europa! ( sem recursos) Costa sempre foi populista! Costa sempre teve tiques de
ditador! Quem vê Costa a discursar, e se lhe vestirem uma camiseta à Chaves ou
Maduro, é tal e qual um deles. Quando temos um País governado já lá vão 6 anos
pela esquerda e extrema dela, sem qualquer oposição, e com um PR que foi
durante 5 anos porta voz do governo socialista apoiado pela extrema esquerda,
tínhamos de chegar onde chagámos. Mas apesar de tudo tenho muita esperança que
ainda se consiga salvar este nosso querido Paise o seu sofrido Povo.Mas para
que isso aconteça tem de se encontrar alguém que tenha um grande par de T..., e
com vontade de romper com este regime caduco... fmart8 INICIANTE: Vá sonhando. Os
maluquinhos bem querem mas não vão tomar conta do manicómio. Já demos para o
vosso peditório e pagámos caro. Armindo Castelo Bento EXPERIENTE: Assim como não é
posta em causa por nenhum episódio de contestação pública a confiança
inabalável que António Costa nele deposita e que continua a ser central na
gestão da pandemia, como se viu na recente cerca sanitária de Odemira. Tudo isto
tem uma razão: António Costa considera Eduardo Cabrita um dos principais
pilares do Governo e uma figura central e indispensável na sua vida política. E
eu não vou esquecer quem fanou reformas e pensões passos coelho graça dias EXPERIENTE: @Armindo Castelo
Branco - Mas que comentário obtuso e bolorento, evocando o nome de Passos
Coelho, que assumiu o poder com o país confrontado como mais uma "Bancarrota"
do PS, e o que isso implicou.
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