terça-feira, 25 de maio de 2021

Os pontos nos ii


Um texto correcto, de Paulo Rangel, que nem todos aceitam bem por ser deputado europeu a ganhar bem. Ainda por cima deputado dos de direita, ou coisa parecida …

OPINIÃO: Migrações, Ceuta e Odemira

Sánchez, em Espanha, e Costa, em Portugal, mostraram bem que a retórica que perfilham anda bem longe da sua prática política.

PAULO RANGEL             PÚBLICO, 25 de Maio de 2021

1.As migrações tornaram-se, na esfera pública europeia e ocidental, num dos mais fracturantes temas de debate. Os argumentos utilizados para defender as diferentes posições são frequentemente “populistas”, simplistas ou ilusórios. Em Portugal, o tema nunca atingiu, nem sequer de perto, a relevância política que assumiu noutras paragens. Esta diferença de importância é válida para quase todos os países da União. É válida para os países da Europa ocidental do Norte – da Áustria, Suíça e Alemanha aos nórdicos, passando pela Holanda, Bélgica e França –, que são os destinos finais preferidos. Pode, aliás, dizer-se o mesmo do Reino Unido, se nos lembrarmos que o tema decisivo no referendo do “Brexit” foi justamente a imigração. Mas essa diferença é também válida para países mais identificados com Portugal como a Itália, a Grécia ou até a Espanha, porque eles são justamente a grande porta de entrada dos migrantes, mesmo se estes não querem permanecer nos seus territórios e desejam rumar aos países ricos do Norte. Mais surpreendente, o tema é também prioritário nos países de Leste, como a Hungria ou a Polónia, apesar de eles não atraírem nem fixarem fluxos migratórios com significado. Trata-se aqui de uma orientação “ideológica”, de pura demagogia, que joga com a ideia de uma invasão estrangeira ou civilizacional e a sua ameaça à “identidade nacional e europeia”.

A verdade é que em Portugal, e até ao momento, a questão migratória nunca foi um tópico político com prioridade e visibilidade. Os inquietantes acontecimentos que tiveram lugar em Ceuta e a situação aviltante que foi “descoberta” em Odemira, pela sua proximidade da vida dos portugueses, podem, no entanto, ter o condão de despertar a nossa opinião pública para o tema. Não tanto no sentido de fazerem dele um assunto primordial de debate e de posicionamento político, mas no sentido de trazer à superfície a complexidade do tema e o risco da sua manipulação simplista e até maniqueísta.

2. A entrada em Ceuta de cerca de sete ou oito mil migrantes em pouco mais de 24 horas merece, a vários títulos e em várias dimensões, uma reflexão. Antes de todas as demais, a primazia do princípio humanista e do respeito pelos direitos humanos. Seja qual for a razão e a contingência deste fluxo, era sempre necessário salvaguardar a vida e a dignidade de todos os envolvidos. Se alguém está em perigo no mar, deve ser resgatado e salvo. Se as pessoas chegam sem comida e em estado de grande fragilidade sanitária, devem receber alimentos e ter acesso a cuidados ou exames médicos. Nada disto equivale a dizer que se aceita a entrada dos migrantes no território do país para que se deslocam. Tratar os migrantes, legais ou ilegais, com padrões de dignidade não implica nem deve implicar aceitar a sua pretensão de migração ou até de asilo.

3. Garantido um acolhimento humanista, importa depois ter uma atitude e posição realista. É claramente insustentável receber milhares de migrantes por dia numa qualquer cidade ou ponto do território e assegurar que eles aí poderão ficar. Foi por isso mesmo que o Governo espanhol – um governo de coligação entre socialistas e a esquerda radical do Podemos (homólogo do Bloco de Esquerda) – forçou o retorno imediato de todos ou quase todos os migrantes. E que o fez, note-se, de uma forma musculada, em alguns casos, mesmo violenta. Curiosamente, poucos criticaram a actuação do Governo espanhol e muitos centraram a sua crítica no governo de Marrocos. Se isto se passasse com o governo de Rajoy ou algum líder de centro ou centro-direita, a esquerda espanhola e a portuguesa teriam feito cair o Carmo e a Trindade.

4. Os comentários provindos da ala esquerda focam-se em algumas premissas que, em abstracto, são verdadeiras. Primeiro, por razões demográficas óbvias, as nossas sociedades precisam de migrantes, pelo que a UE deveria ter não só uma política de asilo, mas também de imigração legal. Segundo, fenómenos deste tipo combatem-se com uma efectiva ajuda ao desenvolvimento aos países mais pobres, capaz de fixar aí a parte de leão da mão-de-obra disponível. Terceiro, a UE deveria investir em centros de acolhimento, com padrões de decência e dignidade, dentro de fronteiras (ou mesmo fora, acrescento eu). Quarto, deve haver um combate sem tréguas às redes de tráfico humano. Tudo isto é verdade e pode ajudar.

Mas é ilusória a ideia de que, ainda assim, a União não precise de fazer uma vigilância rigorosa e vigorosa das suas fronteiras terrestres ou marítimas e de que se deve prescindir de uma política activa de repatriamento e retorno dos migrantes ilegais. Como é utópica a ideia de que não são necessários acordos com os Estados vizinhos, como se fez com a Turquia ou Marrocos. E é demagógica, para não dizer hipócrita, a sugestão “subliminar” de que podemos e até devemos aceitar todos os migrantes que chegam. Basta ver que nenhum dos defensores destas ideias aparentemente generosas veio advogar que todos os migrantes que alcançaram Ceuta ficassem em solo espanhol e daí transitassem por toda a UE. Porque será?

5. Este duplo padrão é também válido para Odemira. Se a situação absolutamente degradante dos imigrantes asiáticos tivesse sido detectada num governo de centro-direita, o clamor político e mediático da esquerda seria ensurdecedor. Apesar de o Governo socialista português ter um conhecimento efectivo da situação, nada fez para a resolver ou erradicar. E aqui estava fundamentalmente em causa o dito princípio humanista: a exploração, a indignidade da habitação, as suspeitas de cativeiro são manifestas. Sánchez, em Espanha, e Costa, em Portugal, mostraram bem que a retórica que perfilham anda bem longe da sua prática política.

É por isso que, numa matéria tão complexa, se deve recusar o moralismo fácil hoje tão frequente. Uma coisa é o acolhimento humanista de quem quer que chegue no momento da chegada; outra, bem diversa, é a aceitação acrítica e irrealista de todo e qualquer fluxo ou pretensão migratória.

SIM e NÃO

NÃO. Lukashenko. O desvio de um avião civil para rapto de um cidadão é uma violação inaudita do direito internacional e dos direitos cívicos. Este tipo de agressão atinge um patamar tal que não pode ter qualquer complacência.

NÃO. TAP e ministro das Infraestruturas. A recente decisão do Tribunal de Justiça da UE, que considera ilegal a ajuda à TAP, mostra a irresponsabilidade das decisões tomadas e o encargo que elas terão sobre os contribuintes.

Eurodeputado (PSD)

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COMENTÁRIOS

teresa cravalho INICIANTE: Deixe lá estar deputado Rangel que o seu arrazoado é que não é nada populista, demagogo e irresponsável. Do que é que os burocratas de Bruxelas, montados nos seus ordenados e reformas vergonhosas, sem qualquer legitimidade democrática, necessitam mais para enteNderem o mais básico dos básicos? À parte dos extremistas de esquerda e os dos seus aliados cleptocratas, que os querem instrumentalizar como carne para canhão e escravos, os povos europeus há muito ultrapassaram todos os limites de tolerância e não querem nem mais um imigrante e nem mais um centímetro de destruição das suas culturas e nações. Por causa da loucura das portas abertas, já mutilaram a UE do R. Unido, a França está por um fio e outros se seguirão, mas os senhores, nas repulsivas redomas de vidro e aço ainda não entenderam!          Cesar Neves EXPERIENTE: Tentar ilegalizar a emigração (?), é o mesmo que querer ilegalizar o respirar. Não faz sentido: são ambos necessidades básica da vida. O respirar é a necessidade básica da vida física: a emigração, que não é mais que a procura de maior prosperidade para os nossos filhos, é a necessidade básica da vida da alma. Ambas, nunca podem ser consideradas ilegais. As leis que o pretendem é que são leis ilegais. Infelizmente parece que muitos não o querem entender. Convém lembrar que emigração é a essência, e a génese, do livre empreendedorismo. Por isso, não consigo entender de todo, como os partidos que dizem defender a livre iniciativa sejam os mais furiosos contra a emigração. É que não entendo de todo.              Rui Henrique Pena INICIANTE: Para começar, o senhor precisa de saber distinguir imigração de emigração. Segundo, a imigração está tão ligada ao empreendedorismo como à degolação de pessoas.imigração boa e imigração má. Que o digam os franceses que estão satisfeitos com os portugueses mas cheios até à ponta dos cabelos dos "arabes"! EXPERIENTE: Você não entende, então porque não lê mais? "a procura de maior prosperidade para os nossos filhos, é a necessidade básica da vida da alma."- pois, os ladrões, corruptos, também devem pensar como você. Viaje pela Europa, pelas principais capitais, como Madrid, Paris, Roma e depois venha falar de imigração... Adolfo-Dias EXPERIENTE: Muito bem! Rangel tem-se esmerado nestas últimas crónicas

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