Como sempre, ambíguo, PP, não se sabe se jogando a dois carrinhos
que é, afinal, o seu número de hoje, ou se continua a jogar no número primeiro,
ímpar do coração. Frases como a seguinte o provam, e outras mais do seu texto: “Aproximam-se tempos de mudança e o
número de cegos que não querem ver é cada vez maior”. Os cegos por
opção aumentam, PP assusta-se com a mudança que prevê.
Mas julgo que erra como meio de aviso
aos partidos da sua devoção real e primeira, como já se viu. Não há motivo para
sustos. Quanto ao resto, uma tal Justiça errática, julgo secundário, nas suas
preocupações, apesar dos avisos, ou, como diria o Solnado “Fora os ameaços”…
Coisa de somenos, contrariando tal presunção de honestidade, a atamancar duvidosamente
o seu perfil.
OPINIÃO
Onde é que
precisamos de liberais e não os temos
Falta muito a gente da liberdade, sem aspas, que reaja
a todo o caminho que se está a fazer debaixo dos nossos pés. E uma das razões
por que isso acontece é por medo.
PÚBLICO, 8 de Maio
de 2021
O
país está a ficar cheio de “liberais”, do “liberalismo” da moda. A palavra
“liberdade” está a ser capturada pela direita mais radical. Confortável nas sondagens, a esquerda do PS, como
o centro do PSD, perde todos os dias o debate ideológico. O BE está
demasiado mole e autocentrado e o PCP preso num gueto verbal, ambos
consideravelmente ineficazes face à crescente agressividade da direita. O único partido com dinamismo político e
eleitoral é o Chega. O centro, centro-esquerda e centro-direita está
errático e pouco afirmativo. As asneiras
acumulam-se em todas as áreas que são de não direita. Em modo tribal, a
agressividade dá frutos. A seu tempo, o conforto nas sondagens diminuirá. Aproximam-se
tempos de mudança e o número de cegos que não querem ver é cada vez maior.
Falta
muito a gente da liberdade, sem
aspas, que reaja a todo o caminho que se está a fazer debaixo dos nossos pés.
Faltam liberais sem aspas à esquerda e à direita, capazes de serem firmes em
defesa da liberdade, muito duros na sua firmeza, mas moderados na acção. E
uma das razões por que isso acontece é por medo. Ninguém quer ser alvo da avalanche de insultos, dos
processos de intenção, das ameaças que hoje pululam nas redes sociais e nas
caixas de comentários. Não sabem onde está tudo isto? Eu digo-lhes onde está.
A
fronda populista varre a prudência de pensar duas vezes e, pouco a pouco, a
fragilidade crescente dos partidos políticos fá-los soçobrar aos princípios
para responder à avalanche populista.
O efeito mais pernicioso de casos como o de
Sócrates-Ivo Rosa é criar, em nome da luta contra a
corrupção, uma deriva autoritária e liberticida. A Justiça é numa sociedade
democrática um pilar do Estado, é um dos poderes fundamentais na sua autonomia
e independência, como o poder legislativo e executivo. A doutrina da separação
dos poderes não retira o exercício dos diferentes poderes do âmbito do Estado,
nem impede por si só a sua perversão e contaminação – ou seja, a dependência do
poder político é uma possibilidade e um risco, mesmo sem se mudarem normas e
procedimentos. E tudo aquilo que permitimos agora na convicção de que não
haverá abusos pode amanhã ser usado de forma abusiva e persecutória.
Dou
muitas vezes como exemplo a intromissão na liberdade individual por meios
informáticos, feita em nome da eficácia, que nos parece inocente agora, mas
cria todos os instrumento para poder ser usada contra as liberdades. Digo
muitas vezes que uma nova PIDE que acedesse às bases de dados das Finanças, aos
pagamentos do Multibanco, aos trajectos da Via Verde, aos metadados dos
telemóveis podia saber tudo sobre qualquer cidadão. Se uma autoridade
legítima o precisa de fazer para perseguir uma actividade criminosa, e se o
fizer sob controlo judicial, muito bem. Tudo o resto, muito mal.
Não
estou a falar de abstracções. Já houve jornais que pagavam informação a
pessoas do fisco com acesso aos dados para fazerem “investigações”. Já
houve magistrados que foram para além da lei para fazerem “pesca de arrasto”
para encontrarem culpados, mesmo que não houvesse qualquer indício de
actividade criminosa. Há legislação que implica a violação do segredo
profissional dos advogados face aos seus clientes com considerável indiferença
destes. O fisco viola a privacidade dos cidadãos obrigando as facturas a
terem não apenas o montante da transacção, mas discriminação, por exemplo, dos
títulos dos livros que se compra numa livraria. Há tentativas de
“acrescentar”, sempre em nome da eficácia, dados suplementares ao cartão de
cidadão. A aplicação Stay Away Covid apoiada pelo Governo
implicava a violação de dados pessoais e não é líquido
que os novos “passaportes” com dados sanitários também
não o façam.
A
inversão do ónus da prova, para que agora há um clamor populista, a que quem de
direito responde tibiamente, é um instrumento persecutório e de abuso nas mãos
do Estado. O
enriquecimento “ilícito”, se o é, deve ser provado pela Justiça, pelo Estado. Dê-se aos magistrados e às polícias todos os
instrumentos necessários para essa prova, mas não se crie uma situação em que
seja o próprio a ter de provar a sua inocência. O furor legítimo contra
a corrupção não deve dar às mãos do Estado instrumentos potenciais para todos
os abusos. Hoje parece que será contra o “ilícito” do enriquecimento, mas
amanhã pode ser para qualquer um, para vinganças políticas, para abater adversários.
Dado o instrumento, destruído o princípio, o abuso é só uma questão de tempo.
Aqui
é que precisamos de liberais e eles nos faltam. Muitos, aliás, dos “liberais”
dos dias de hoje são indiferentes a estas liberdades e, para atacarem aquilo a
que chamam a “corrupção do socialismo”, estão dispostos a dar ao Estado enormes
poderes. Eu, que
me dou bem com o honroso nome de liberal, na tradição de Garrett e de
Herculano, ou da minha terra, o Porto, não estou disposto a dar ao Estado o
direito de me obrigar a provar a minha inocência. É, se quiserem, uma posição
humanista sobre a natureza humana, deixando o pecado original para os crentes,
mas não para a democracia.
Historiador
TÓPICOS
DEMOCRACIA LIBERDADE PARTIDOS POLÍTICOS ESQUERDA DIREITA JUSTIÇA CORRUPÇÃO
COMENTÁRIOS:
Manuel Barbosa. EXPERIENTE:
O país mais socialista da Europa está a ficar cheio de
liberais ????? Ensandeceu????????? José Miguel Lima da Cunha e Costa INICIANTE:
Faltam ideias na política, cá e além. As
convicções rareiam. Saudemos quem não deve nem teme e tem a honestidade de
pensar e dizer o que pensa.
SE EXPERIENTE: Grande
Pacheco Pereira! DNG. MODERADOR: Pacheco Pereira em carne e osso. Por que razão ligou
Ivo Rosa a Sócrates? O juiz limitou-se a ser ele próprio. Não concorda,
aguente! A conversa fica adiada. José Cruz Magalhaes MODERADOR: Estou convencido de que JPP jamais terá necessidade de
provar a sua inocência, embora seja compreensível a sua preocupação, que é a de
muitos, decerto à esquerda e suponho que à direita, com o conteúdo de algumas
propostas que passam por inverter o ónux da prova, passando à presunção de
culpa, ou pecado original, junto com delações premiadas e, talvez condecoradas,
para gáudio de justiceiros e justicialistas e catarse das gentes dos convictos
das redes sociais. Entretanto, sem crime nem castigo, continuaremos a assistir
ao desfile dos obreiros do desfalque, das eternas dívidas e do bancário malparado,
sejam eles membros acreditados das elites, ou insolventes empresários a quem o
investimento, a iniciativa e a Nação, continuarão a dever.. Bartleby MODERADOR: Há muitos liberais honestos. Tenho a felicidade de
chamar amigo a alguns. Mas a palavra "liberdade", que ultimamente
anda na boca de tanta gente, frequentemente de pseudoliberais, é simplesmente
uma forma radical de egoísmo, de narcisismo, de umbiguismo. Rita Cunha Neves EXPERIENTE: Realmente, em matéria de liberdades individuais é
perigoso dar ao Estado enormes poderes. Mas já não o será se falarmos do Estado
intervir na justa distribuição da riqueza que o País cria; e também na garantis
dos direitos dos cidadãos a terem a liberdade na igualdade de oportunidades. O
que só será possível se o Estado garantir serviços públicos universais e de
qualidade. Daniel A. Seabra INICIANTE: É por textos como este que a primeira leitura de todos
os sábados é o texto de Pacheco Pereira. Antonio Pacheco INICIANTE: Há duas categorias de novas direitas em Portugal: uma
com eleitorado de parcas habilitações que destila ódio nas redes sociais e
outra (dizem que representa menos de 10% da população que
verdadeiramente paga impostos lapidando parte significativa do seu rendimento)
que se sente fiscalmente oprimida. A liberdade aqui é somente no sentido de
romper com estatização da economia. JPP tem razão ao afirmar que nenhuma destas
direitas defende a liberdade na sua plenitude. Aliás, a primeira direita é
antiliberal e uma ameaça à liberdade. Feio, torto e ignorante INICIANTE: Tanta volta para chegar ao que realmente lhe
interessava e não tem nada que ver com o resto... MMRdMEXPERIENTE: Gosto sempre o
ler e o ouvir. Mas parece-me que meter tecnologias de informação ao barulho com
o tema dos liberais em Portugal dá uma salgalhada mais ou menos. Portugal vive
no mesmo mundo que o resto da Europa ou Ocidente, e portanto a nossa conjuntura
política não é especialmente mais afoita aos dilemas da protecção de dados ou
respeito pela privacidade e direitos do que nos demais países. Misturar ambos
os temas é contraprodutivo.
Duarte Cabral EXPERIENTE: Cabe ao estado
provar que o individuo enriqueceu de forma ilícita. Actualmente não se consegue
seguir o rasto do dinheiro que foi ganho de forma legal, imagine-se de forma
ilícita. Quem ganhou o dinheiro/riqueza de forma honesta não tem que se sentir
minimamente melindrado se tiver que provar a origem dessa riqueza. Mario Coimbra INFLUENTE: Pois...a
quadratura do círculo é difícil. Eu concordo, cabe ao estado provar o errado.
Mas para isso tem que querer. O problema dos homens bons é que os maus
lentamente vão ganhando. Não é só o caso do Sócrates, são tantos atrás disso
também. Se o Estado quisesse dar meios e arranjar soluções já o poderia ter
feito. Mas o Estado é feito de pessoas que por vezes pensam como você. E não se
mexem porque acham que o status quo é o correcto e o problema tem que ser
resolvido a montante. A montante está provado que não se consegue. O nosso
estado a nossa justiça não consegue provar corrupção a montante. O que fazer
para mudar a jusante é não perder liberdades. A quadratura. Até agora ninguém
quis resolver. Por isso o populismo sobe também. FPS MODERADOR: É mesmo como diz:
só a jusante, que a montante népia, salvo se houver ingenuidade ou palermice às
carradas. Muito respeitosas as palavras de Pacheco Pereira e mais de não sei
quantos juristas, magistrados, polícias e por aí fora... mas na corrupção só se
pode sair disto com o visado a provar a sua inocência (se - lagarto, lagarto! -
me acusassem de corrupto por enquanto servidor do estado me ter aproveitado e
sacado $ em proveito próprio, qual era a dúvida de disponibilizar todas as
informações, património, contas bancárias, despesas, proventos etc etc, para
provar a minha inocência. Qual o problema? Por favor, não venham é com delações
premiadas que se viu no que isso deu no Brasil de Moro e no passado de tanta
gente... Adolfo-Dias EXPERIENTE: O problema é a
presunção de inocência, que é um pilar fundamental de qualquer Estado de
Direito. É irónico que muitos invocam a presunção de inocência para não se
pronunciarem sobre situações ou factos públicos ou, pior, para acharem que
outros não têm direito de se pronunciar (domínio onde a presunção de inocência
não é aplicável), mas já não se importam de sacrificar a presunção de inocência
se for para combater a corrupção (onde ela é definitivamente aplicável)! Mario Coimbra INFLUENTE: Adolfo-dias, tem
razão. A equação é muito difícil. E para mim, enquanto não houver solução, os
maus ganham porque não são condenados e vão minando a liberdade. Até ao dia que
perdemos mais um direito fundamental. O da presunção da inocência. E o caminho
está aí aberto para isso. Porque estamos todos fartos dos que não são
condenados. A verdade é que mesmo hoje com o que PP diz sobre os meios
tecnológicos todos nós já temos uma pegada tecnológica que pode mostrar
comportamentos, ideias, rotinas, etc etc. É só quererem e descobrem tudo sobre
si e mim. A nossa inocência é um livro aberto na internet. Enfim...estou muito
pessimista com o futuro que vou deixar aos meus filhos orion INFLUENTE: A quadratura do
círculo é o que é. E é o que é pela existência do número irracional pi =
3,1416... com uma dízima infinita. Deu cabo da Escola de Pitágoras e também
está a dar cabo da cabeça do cronista, que visivelmente começa a não ter fôlego
para estas andanças. Homem, meta férias, não exagere na peugada que quer deixar
nesta vida, Duarte Cabral EXPERIENTE @Adolfo Dias, eu não me
importo de sacrificar a minha presunção de inocência - no caso especifico de
enriquecimento injustificado. Estou convicto que grande, a
"esmagadora", maioria dos cidadãos, se fossem chamados a se
pronunciar sobre isto, respondiam da mesma forma. IZANAGI01 EXPERIENTE: Não há melhor
presunção da inocência do que demonstrar que está inocente. Quem não deve não
teme. Há um assalto e próximo da vítima só há 3 pessoas. Você é uma delas. É um
dos suspeitos. Vai ter que demonstrar que não foi o assaltante. Lá se foi um
dos "direitos fundamentais" o ónus da prova. Adolfo-Dias EXPERIENTE: Duarte Cabral,
pois mas não é assim que funciona o Direito... Duarte Cabral EXPERIENTE@
Adolfo-Dias: As
leis podem-se mudar. Penso que um comentador tinha razão quando disse:"Tal
qual está hoje desenhado na CRP, o princípio da presunção da inocência só serve
duas coisas: assegurar a inocência dos culpados, contra tudo e contra todos; e
garantir o sustento a uma certa advocacia, para quem os princípios ( excepto o
da presunção da inocência) nada valem". pintosa INICIANTE: Muito bem, mas e
que propõe então para lutar eficazmente contra a corrupção? Ou isso acudir?! É só fascistas ... o meu humilde
conselho é que nunca se deite sem antes espreitar bem debaixo da cama e que
esconda a liberdade bem escondida aí na Marmeleira, talvez ao lado dos escritos
laudatórios do Cunhal, do PC e dos seus maoistas. Fun.eduardoferreira.883473 INFLUENTE
: Não
por acaso Salazar tudo fez para manter o povo ignorante e analfabeto, só que
nessa altura (única coisa de que tenho saudades), esses ignorantes tinham
consciência de sê-lo e diziam sabiamente “não falo sobre isso porque não
percebo” e não escreviam em caixas de comentários ou redes sociais, primeiro
porque elas não existiam e segundo porque não lhes fora dada a oportunidade de
saber ler e escrever. Despejavam as suas “fúrias” nos jogos de futebol (daí o
futeboleiro), anestesiavam as mágoas a ouvir fado e esfolavam os joelhos
caminho do joelhódromo de Fátima muitos pedindo por dias em que tivessem o
suficiente para almoçar e jantar. Bem diferentes os ignorantes de hoje,
calçados, de barriga cheia e a vociferar as barbaridades do ignorante sem
vergonha, por desconhecerem sê-lo. JPR_Kapa INFLUENTE: Na mouche, Fun.
Subscrevo e enfatizo que o apelo a sentimentos primários e a alguma
irracionalidade, acompanhada da preguiça intelectual que esvazia o conhecimento
e a reflexão sobre os avanços civilizacionais do iluminismo, dá azo à
proliferação do regresso ao pensamento medieval e à incapacidade de perceber os
desafios de uma democracia e da defesa dos seus princípios e valores. Um
desgosto e uma frustração que alimenta o ceticismo sobre o futuro da
humanidade. Bem prega o Papa Francisco, mas até ele já é um
"terrorista" de esquerda, para uma amálgama de trogloditas. JLourenço INICIANTE: Excelente e muito
pertinente crónica de Pacheco Pereira.
Pedro Fernandes INICIANTE: Dou-lhe os meus parabéns
senhor Pacheco Pereira! Está de volta o grande Pacheco Pereira dos anos 90! O Grande Pacheco Pereira
que vibra com uma Catalunya Livre! Viva o Pacheco Pereira! É por textos como
este que ele é o maior !
Nenhum comentário:
Postar um comentário