segunda-feira, 31 de maio de 2021

Não há Hércules para tal feito


Tudo se vai processando sinuosamente, nas aparências da boa formação moral, que vai esfregando a sua simpatia misericordiosa na cara dos mais ávidos dessa – porque os mais tristes, na sua área de pobreza complexada ou rancorosa. Não, o Bloco veio para ficar, com a imagem de beleza e simpatia traduzida pelas três ou quatro mulheres desse bloco enfeitiçante, e as suas vozes de maviosidade, sucedâneas a uma voz trovejante – e espumante – do seu fundador e patrono constante, junto de uma nação cega, surda e muda a advertências como esta, de João Marques Almeida e alguns dos seus comentadores. “Tlim… papo” segundo a expressão onomatopaica de João de Deus, ou “Já está”, na mais prosaica de Joaquim Letria.

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O anti-capitalismo do Bloco/premium

Portugal não terá uma sociedade próspera enquanto as ideias do Bloco não forem derrotadas. É espantoso como em 2021, em Portugal, ainda temos que lutar contra os três velhos revolucionários russos.

JOÃO MARQUES DE ALMEIDA, Colunista do Observador

OBSERVADOR; 26 mai 2021

No Congresso do Bloco houve uma frase memorável. Um congressista, Américo Campos, afirmou o seguinte: “É curioso que três russos envolvidos numa revolução mal-sucedida, com mais de 100 anos, influenciam um partido de esquerda do século XXI.” Os três russos são, obviamente, Lenine, Trotsky e Estaline. Não sei se o camarada Américo percebeu devidamente o que estava a dizer. Se percebeu, não sei se já foi expulso ou silenciado pelo partido, como faziam os famosos três russos aos seus camaradas que se afastavam da linha oficial (e como fizeram uns aos outros, mais precisamente Estaline a Trotsky).

De propósito ou sem querer, o camarada Américo revelou o grande disfarce do Bloco. Um partido que continua a seguir uma ideologia que fracassou e espalhou violência, miséria e pobreza em todo o lado onde chegou ao poder. Mas usa uma linguagem moderna atraente para os jovens e até os liberais urbanos para disfarçar a sua verdadeira natureza. Um partido onde quem pensa são os discípulos dos três russos, neste caso Louça, Fazendas e Rosas, mas os rostos da falsa modernidade são a Catarina, as manas Mortágua e a Marisa. Ninguém tenha ilusões, o poder está com os velhos revolucionários, não está com as senhoras simpáticas. Além disso, as senhoras simpáticas pensam como os velhos revolucionários. Tudo o que sabem foi com eles que aprenderam.

Nas ideias de muitas das moções apresentadas no Congresso, há uma linha constante: o anti-capitalismo, e a luta contra a economia de mercado e a iniciativa privada. A política económica do Bloco tem um objectivo máximo: a nacionalização da economia. Os bancos, os CTT e a TAP seriam apenas o início. Depois nacionalizariam a EDP, a Galp, as várias indústrias, as seguradoras, a hotelaria, as empresas agrícolas e os meios de comunicação social. Quando Louçã sugere Mariana Mortágua para ministra das Finanças, o que quer dizer é que ela seria a CEO da economia portuguesa, e ele seria naturalmente o Chairman. Esqueçam o Chega. O Bloco é o partido mais anti-sistema que existe um Portugal. É um partido verdadeiramente revolucionário.

O Bloco usa os novos temas fracturantes e a luta climática de um modo instrumental, e hipócrita, como se viu com os casos dos lucros capitalistas de Robles e da acusação de violência doméstica contra Luís Monteiro. Recordem também os comentários homofóbicos de Fernando Rosas contra Adolfo Mesquita Nunes, ou as insinuações machistas de Louçã contra Aline de Beuvink. A instrumentalização destes temas visa aumentar a base de apoio do Bloco – e o número de votos – e combater o capitalismo. O Bloco, sobretudo a linha PSR (dominante no partido), continua fiel à Quarta Internacional, o movimento revolucionário e Trotskista global. Como partido disciplinado, o Bloco segue a linha estratégica da Quarta Internacional. Nos dois últimos Congressos mundiais, o rumo estratégico foi definido à volta de três ideias centrais: intensificar a luta contra o capitalismo, aproveitando as consequências da crise financeira, desenvolver o “eco socialismo” contra a “poluição capitalista”, e conquistar e integrar os novos movimentos sociais radicais, que militam a favor das questões de raça, de género e das minorias sexuais. Mas tudo isto é instrumental. O que conta é a revolução socialista.

A suposta modernidade do Bloco também beneficia da imagem envelhecida e ultrapassada do PCP, um contraste que beneficia os bloquistas entre os mais jovens e urbanos. Mas a evocação dos três russos mostra como o Bloco e o PCP estão muito mais próximos do que ambos gostariam. Os velhos Bolcheviques continuam a ser a inspiração ideológica. A luta continua a ser contra o capitalismo. A ambição continua a ser, depois de tantos fracassos, a revolução socialista. O resultado seria o que foi sempre: um país de pobres, dominados por uma elite totalitária.

O mais grave é que a influência das ideias do Bloco não necessita da revolução. O ascendente sobre os novos movimentos sociais, sobre os grupos de militantes radicais das mais variadas causas, o peso desproporcional – em relação aos seus resultados eleitorais – na comunicação social, e a radicalização das esquerdas do PS, permitem que o Bloco cause muitos danos à economia portuguesa e às liberdades dos portugueses. Portugal não terá uma sociedade próspera e os portugueses não viverão melhor enquanto as ideias do Bloco não forem derrotadas. É espantoso como em 2021, em Portugal, ainda temos que lutar contra os três velhos revolucionários russos.

BLOCO DE ESQUERDA  POLÍTICA  COMUNISMO

COMENTÁRIOS

Zeka Diabo: Ainda são novos, ainda a conta bancaria não engordou, quando engordar fazem o mesmo que o Durão Barroso, o Vital Moreira, o José Magalhães, o Pina Moura e muitos outros.            Anarquista Coroado > Zeka Diabo: Para alguns foi a engorda da conta, mas para outros foi a tomada de consciência do absurdo do socialismo.          Jal Morgado: Excelente artigo!          A. Carnide: E agora, para ajudar à festa ainda temos o Rui Rio a afirmar que o PSD não é um partido de direita. Soube ontem que estou há 40 anos a votar à esq! Estamos feitos          Phi Moralia  > A. Carnide: Que admissão de ignorância! Se anda esse tempo todo a pensar que votava a direita está completamente perdido. O psd só e de direita quando comparado com o Bloco ou o PCP , a social democracia não é direita, nunca foi. E realmente ao centro, conjugando preocupações sociais e uma economia de mercado. A Suécia e a Dinamarca são exemplos disso. Existe muita ignorância. Você é um exemplo, mas este fórum está cheio disso. Mas claro o que interessa é que vota na direita, mesmo sem fazer a pálida ideia do que diz. Parabéns.         Anarquista Coroado: Muito bem, Paulo Silva: parece que não sou só eu a lembrar a importância de Derrida (o Desconstrucionismo, do Ocidente e da Razão) e Foucault (que faz equivaler a ciência ao poder, dizendo que a verdade não existe pois se trata de uma estratégia do Ocidente para o seu universo concentracionário, isto antes, imaginem, de se ter convertido ao neoliberalismo!). São eles os autores originais das políticas de género, e o último até subscreveu uma petição em França, junto com Sartre, Simone de Beauvoir e outros, para legalizar o sexo com menores.            Andrade QB: Não é fácil combater as ideias do bloco enquanto, como dizia ontem Júdice, a generalidade das redacções editoriais forem maioritariamente bloquistas. Veja-se a absoluta desproporção dos lugares atribuídos a bloquistas nos painéis regulares de comentadores e a sua percentagem de votantes. Se até o Presidente promoveu para seu conselheiro um farrapo revolucionário e António Costa o meteu no Banco de Portugal, como é que um distraído cidadão a fazer zapping na televisão vai perceber que aquilo é pó bafiento?         f Teixeira: Uma denúncia certeira. Tenho uma opinião diferente relativamente ao PCP mas não há qualquer dúvida que o bloco é o maior cancro de Portugal e, como cancro que é, ou se trata (arrumando-o numa esquina de 1% ou 2%) ou ele nos mata. Para já, estamos a caminho da segunda hipótese. Ainda assim, tenho fé em Portugal e acredito que seremos capazes de os arrumar ao canto de onde nunca devíamos tê-los deixado sair.           …..Paulo Silva > Miguel Queiroz: ……..Mas vamos ao que interessa. Durante o PREC o Socialismo era a palavra de ordem, o ar que se respirava, a fruta da época. Quem não a comesse não ia lado nenhum. Existem registos gravados em vídeo do líder do CDS, o Prof. Freitas do Amaral, a agradecer o contributo dos partidos socialistas e a dizer que o seu partido também queria atingir a “sociedade sem classes”… (isto é, o Socialismo ou Comunismo; como bem disse a ex-terrorista Isabel do Carmo). Contado ninguém acredita. Sim, sim, a extrema-esquerda só obteve 36 deputados, mas a “direita” era isto... O PREC tinha um objectivo claro que consistia na instauração de uma “democracia popular”, (um eufemismo para ditadura comunista), neste jardim à beira mar. Uma construção para a qual já se caminhava a passos largos à entrada do Verão Quente de 75. Os modelos desse projecto podiam ir da Cuba castrista à Albânia henverhoxhista passando, por ex., pela Bulgária soviética. Felizmente foi finalmente travado a 25 de Novembro de 75 - por ordens de Moscovo - quando todos já se preparavam para o embate final. Mas os andaimes da construção ficaram… Aí é que está o detalhe, (e o diabo está nos detalhes). Nomeadamente através da CRP de 2 de Abril de 1976. Coisas como a “sociedade sem classes” ou o “planeamento democrático da economia”, (eufemismo para economia planificada), figuravam no seu articulado. Só nos começámos a livrar dessa canga a partir da 2ª revisão constitucional em 1989, às portas da queda do Muro, mas ao mesmo tempo que Cavaco era “o pai do monstro”. Hoje temos a dívida e a carga fiscal que temos, sempre a abrir caminho para o socialismo... A única governação do PSD verdadeiramente à direita foi a de Passos Coelho, que ainda tentou mudar o estado de coisas, mas como era odiado pelos extremistas e por todos os compagnons foi corrido com uma jogada baixa. Para terminar, não coloque dúvidas acerca do meu respeito pela Democracia. Quem não aceita a existência de partidos em que não vota é quem os quer ilegalizar. E isto não é uma indagação, é uma afirmação.

José Sousa > Pedro Pedreiro: A malta associada ao BE costumam frequentar os mesmos sítios e vêm de uma velha tradição do burguês rebelde, sabichão e moderninho. Nas faculdades de letras e comunicação social são o espécime mais abundante. Quase todos passaram pela fase da t shirt com o focinho do che guevara, o famoso assassino sanguinário e produto comercial da esquerda estalinista, e depois passaram para antifas, sem fazerem a mínima ideia do que defendiam ou atacavam. Já adultos continuam formatados, semi ignorantes e com a bússola moral avariada. Acrescento: o perigo, o real perigo para Portugal não é uma hipotética, talvez, se calhar, imaginada, ameaça de um único deputado e de qualquer suposto atentado contra o Estado de Direito. (Ameaça essa pelos vistos nada perpetrada na coligação dos Açores. Mas isso não é notícia!) O real perigo está entre nós, tem influência na governação, prepara-se para aumentar essa influência e ajudar a tornar Portugal uma coutada comunista, extorsionista de impostos, assaltante de empresas, que levará na melhor das hipóteses a uma debandada das gentes de valor, que como é usual fogem para essas coisas horrorosas que são os países capitalistas.

 Paulo Silva: O Bloco é o partido mais anti-sistema que existe um Portugal. É um partido verdadeiramente revolucionário. Nestas duas frases o colunista João Marques de Almeida disse [quase] tudo. Acrescentaria que é o partido mais perigoso dentro do sistema. Só que em várias partes do texto as frases parecem não aderir. Por isso acrescento mais no comentário seguinte. A afinidade ideológica entre PCP e BE é mais do que natural, apesar das quezílias e dos estados de alma entre um e outro. São farinha do mesmo saco e só quem não conhece a História se surpreende. Quantas vezes Marx não se indispôs com os seus correligionários em virulentas diatribes? E os desacordos entre uma Rosa Luxemburgo e um Lenine?... E as diferenças dentro da troika russa?... Lenine nunca confiou em Trotsky e no fim da vida arrependeu-se de ter confiado em Estaline. Este último enviou uma mensagem a Trosky na ponta de um picador de gelo na nuca, pela mão do seu agente, o sr. Ramón Mercader. Tão amigos que eles eram, (deviam ser), não é filhos?... O sectarismo tem sido uma virtude dos revolucionários e não é por acaso que se diz que a Revolução come os próprios filhos, (de tão sôfrega). O camarada delegado congressista não criticou os três russos por serem revolucionários, mas por terem falhado a Revolução! Compreendem?… Se não há Lenine y sus muchachos, há o novo velho Marx, Gramsci, Lukács e a Escola de Frankfurt, os Foulcauts e Derridas ou o sr. Alinsky… Para além da tradição social-radical que já vem de trás de Rousseau ao Marquês de Sade.

Muitos ainda não entenderam o que é a nova extrema-esquerda dita radical, mais conhecida pelas suas manifestações do politicamente correcto, aka marxismo cultural. O BE é a sua secção portuguesa, e descreve-se como uma associação de indivíduos e organizações comunistas em processo de reciclagem e convergência tácticas. Nas instituições educativas e nos media, (ISCTE, FCSH/NOVA, CES, SIC, etc), estão os seus tentáculos ‘armados’ que preparam o trabalho de lavagem cerebral, primeiro das elites e depois das massas. A fórmula vem de fora e já vem sendo testada há muito. Os bloquistas não estão a inventar nada. Se JMA diz que o BE não necessita da Revolução, é porque não entendeu que o paradigma revolucionário mudou, ou porque fala a linguagem dos leigos. Os revolucionários socialistas clássicos entendiam a revolução política como preparação do terreno para a construção do Homem Novo. Hoje vai-se construindo o Homem Novo e no final a Revolução estará acabada… É assim. As pessoas estão a ser moldadas por um novo código de conduta moral e nem se apercebem disso. Não é preciso mudar o sistema de supetão. Vai mudando... Hoje em dia, pesem as doutrinas do ódio de classe continuarem de pedra e cal, veladas nas retóricas da justiça social e do direito-humanismo, coisas como a homofobia ou o racismo são empolados e elevados à categoria de pecado mortal. E têm de ser. Ninguém recruta activistas para uma causa anunciando que as coisas estão a melhorar. É preciso acicatar ódios para as barricadas… Os partidos revolucionários usam os temas fracturantes para agitar e moldar a consciência das gentes. É assim que contam assomar ao poder. Talvez na fase final se revelem em todo o seu esplendor aos olhos dos idiotas, mas aí será tarde demais.

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