Um texto precioso, que mereceu
comentários de vária natureza, mas a maioria apoiou, pela sua clarividência.
Vivemos com medo, é certo, e o medo condiciona. Sabemos que aqueles dos
governantes que pretenderam seguir as vias normais, se saíram mal nas suas
opções. Mas as medidas, nas escolas, não deixam de ser ridículas e talvez
inúteis e de convite a uma inércia perigosa. Como bem salienta Helena Matos. Mas haverá sempre bons e muito bons no
mundo, trabalhemos nisso, confiemos. De resto, sempre vivemos um pouco em
neblina… ou “nevoeiro”, disse-o Pessoa.
Os meninos da bolha /premium
O recreio foi proibido em várias
escolas. Depois dos políticos que vivem numa bolha, temos os meninos da bolha.
Os políticos da bolha abominam a realidade. Os meninos da bolha temem o ar
livre.
HELENA MATOS
Colunista do Observador OBSERVADOR,
27 set 2020
Os alunos de
várias escolas portuguesas não podem ir ao recreio “por medo da covid-19”. A
opção é mantê-los dentro das salas de aula.
Dizem os responsáveis que é mais seguro. A sério que as crianças ne
adolescentes ficam mais seguros dentro da sala? Ou perguntemos ao contrário:
não será mais seguro o ar livre do recreio do que o ambiente confinado da sala?
Não
entro nem quero entrar na discussão sobre se para enfrentar o Covid-19 foi
ou é mais eficaz o confinamento generalizado ou se pelo contrário devemos
centrar as medidas nos grupos mais vulneráveis, como são os idosos
institucionalizados. Tenho contudo a certeza de que confinar crianças
dentro de uma sala de aula, impedindo-as de correr num recreio, é uma estupidez.
Mais e muito pior, estamos a criar uma geração de meninos
da bolha que, ao contrário do que aconteceu
com o verdadeiro menino da bolha, David Vetter, que nasceu com uma doença
imunológica rara, não nasceram doentes mas vão ficar cada vez mais frágeis
física e psicologicamente. Qual é o risco de contrair Covid-19
por se frequentar o recreio? Quem o avaliou?
Sim, já sei que para se chegar ao recreio os alunos têm de atravessar
corredores e que no recreio as crianças acabam a tocar umas nas outras mas no
que ao Covid-19 respeita são esses riscos superiores aos de ficar numa sala? E
sobretudo quais são os riscos de uma infância em que não se saltou, não se
empurrou, não se jogou… em que não se teve tempo nem espaço que não fossem
didacticamente assepticizados pelos adultos?
O
combate ao Covid-19 veio acentuar a paranóia securitária que há longos anos se apoderou das escolas
portuguesas e que levou a sanear dos pátios de muitas delas as árvores, a terra
e tudo aquilo que não está devidamente homologado. Mas há que dizer que a escola apenas reflecte a
tendência da sociedade: as crianças portuguesas do século XXI não podem
molhar-se porque se constipam; não podem limpar as mesas porque, coitadinhas,
isso não é da sua competência e, quem sabe, ficam com as falanges afectadas; não
podem andar a pé porque se cansam; não podem comer doces porque ficam agitados;
não podem beber leite porque são alérgicos; não podem ser chamados à atenção
porque ficam traumatizados; não podem comer pão porque são intolerantes; não
podem apanhar vento porque ficam com dores de ouvidos e agora não podem ir ao
recreio por causa do coronavírus!
Somos cada vez mais um país de filhos
únicos de pais a que outrora chamaríamos velhos. A complexificação da
maternidade e da infância fizeram de cada criança um caderno de encargos de
momentos que têm de ser perfeitos.
Como é óbvio, à medida que a sua vida
se torna mais protegida os meninos-bolha tornam-se menos capazes de enfrentar
as agressões do mundo, sejam essas agressões os vírus, a violência dos outros
ou os mais prosaicos problemas da vida. E
quanto mais artificial for essa vida maior a disponibilidade destas gerações
para aderirem a discursos patetas e patéticos sobre a natureza. O que aí se diz
e escreve sobre “salvar o planeta”, movimentos zero, ser amigo do ambiente,
emergências climáticas, mais slogan, menos manifestação, vão todos dar à crença
de que temos de expiar o pecado mortal de sermos humanos (dentro dos humanos há
ainda uns mais culpados que outros, como rapidamente os meninos-bolha repetem).
Querem
um símbolo do nosso tempo? A bolha. Temos
uma geração de políticos que da sua bolha se preserva do que impõe aos outros: exaltam o SNS mas apenas recorrem aos hospitais
privados; defendem a escola pública mas os seus filhos e netos não a
frequentam; adoram os transportes públicos mas nunca os utilizam (tal como
acontece com a bicicleta só os utilizam nos dias da propaganda); dizem que
gostavam de viver no Bairro Amarelo onde apenas reparam na paisagem ao longe
porque as suas dioptrias ideológicas não lhes permitem ver os prédios
degradados, as rendas por pagar, o tráfico de droga, a lei do mais forte…
À bolha da política junta-se
agora a bolha da vida com estas gerações de meninos cujo modelo de educação é a
bolha. A bolha dos políticos ainda temos a esperança
de a rebentar numas eleições. Quanto à geração dos meninos da
bolha, a tal que nasceu intolerante a tudo e agora já nem pode ir ao recreio,
tenho uma certeza: ou esta geração perde o medo do mundo ou o mundo tem fortes
razões para vir a ter medo dela.
PS1.
Não se aguenta mais a peça “Orçamento: agarrem-me senão eu
aprovo-o” levada à
cena por Catarina Martins desde que a partir de 2015 assumiu o papel de muleta
do PS. Nunca tive o
gosto ou o desgosto de ver Catarina Martins na sua vida pretérita de palhaça-actriz
mas é francamente cansativa esta peça que, devidamente
patrocinada por todos nós, mantém nos palcos de Portugal vai para cinco anos.
PS2.
Diz o jornal Sol que está periclitante a reeleição do engenheiro Guterres
para o cargo de secretário-geral da ONU e que, caso tal não
aconteça, a pátria, ou mais propriamente a Fundação Gulbenkian, o esperam.
Desculpem, mas não pode ser pois ninguém está preparado para viver no país em
que Marcelo está em Belém e Guterres na avenida de Berna. Não há povo que
resista a tanto comentário! Com a particular agravante de que Guterres, ao contrário de Marcelo, é monocórdico nas
suas fixações: há umas
décadas tudo o que dizia desembocava na paixão pela educação. Depois entrou-lhe
o frenesi dos refugiados: fosse qual fosse o assunto em discussão ele havia de
chegar ao tema dos refugiados. Seguiu-se-lhe a fixação nas alterações
climáticas. Pobreza, riqueza, guerras, paz… tudo, mas tudo sem excepção, ia dar
ao clima e respectivas alterações. Agora o engenheiro Guterres anda ocupado com
o género. A quem o quer ouvir (ou
não quer mas a tal é obrigado) garante o engenheiro Guterres que o Covid veio expor
as desigualdades de género… Dentro de algum tempo outra temática se seguirá com
igual empenho e desacerto nas preocupações do nosso antigo primeiro-ministro. Em resumo, o engenheiro Guterres é um caso
particular de síndroma de Tourette: não diz um único palavrão mas também não
diz nada que se aproveite.
SOCIEDADE EDUCAÇÃO CORONAVÍRUS SAÚDE PÚBLICA SAÚDE
COMENTÁRIOS:
A. A. R. Alves: Entramos numa vertigem que só
parará com violência. Zé
DO TELHADO: " De pequenino é que se torce o pepino"? O
tempo não volta para trás, por isso, "o que la vai, la vai". Isabel
Mª S. Marques 100% de acordo! pedro
dragone: Eu também estava (e continuo a estar) convencido que o
risco de contágio é maior dentro da sala de aula que no recreio. Mas dando de
barato que é no recreio, é por um ano (no máximo) de privação de recreio que as
crianças irão ser afectadas?! Não me parece, Helena Matos, não me parece.
Afinal eles, os putos, têm é de apanhar "choques" para aprenderem a
dureza da vida e não andarem sempre metidos em "bolhas de
nornalidade" não é HM ??? Ou nisto já não é ??!! LOL Mas compreendo: a
coisa dá jeito à dramatização "que se impõe"! Olha eles e elas, por
aí abaixo, em delírio ha ha há Dá-lhe palha Helena Matos, dá-lhes palha que o
pessoal adora LOL M M
> pedro dragone:
Concordo consigo.
Os 15 (ou 10 ou o que seja) anos que um garoto passou agarrado ao smart phone,
ao tablet ou à play station não são um problema. Não ter recreio agora é o fim
do mundo. A sério? Liberal Assinante do Local
> pedro dragone:
Não há volta a
dar ao texto, Napoleão é que sabia:
«O tolo tem uma
grande vantagem sobre o homem de espírito: ele está sempre contente consigo
próprio.» M M > Liberal Assinante do Local: Os argumentos que utilizou para demonstrar que o pedro
estava errado demonstram a sua inteligência, sem dúvida, Liberal. Liberal
Assinante do LocalM M: Dar trela a um tolo é já um passo para nos juntarmos a
ele. O mesmo digo em relação a si, que está a "bascular" para se
juntar a ele. Tinha melhor opinião dos seus comentários por aqui, mas a vida
por vezes desilude-nos... Carolina Matos: Alerta muito
lúcido e pertinente. "Os meninos da bolha" já estavam a ser
afincadamente preparados na era pré-covid. Esta nova distopia só veio
providenciar a capa perfeita para aprofundar o processo produtivo. Trata-se,
somente, de produzir o pasto acéfalo ideal para assegurar a sedimentação do presente
totalitarismo progressista e, simultaneamente, neutralizar qualquer espécie de
resistência, por exemplo, ao roubo da história, identidade e cultura dos
"meninos da bolha", que, em todas as ocasiões, se querem
exclusivamente cooperantes com a cleptocracia corporativa globalista e os
neo-revolucionários totalitários, que têm, entre mais, por fundamental
roubar-lhes o seu próprio ser e nação e entregá-los a bárbaras hordas
invasoras, perspectivadas como eleitores-escravos-consumidores. Anarquista Inconformado > Carolina
Matos: A sério? Que
grande filme, vai ganhar um Oscar de certeza. Será da água que andam a beber? Anarquista
Inconformado: Mas que grande
bolha. Hilariante e
ao mesmo tempo preocupante, o ocaso. Liberal Assinante do Local
> Anarquista Inconformado: O teu dá mostras disso... Maria AugustaAnarquista Inconformado: Grande "bolha" e prestes a rebentar e o que
tu camarada tens em cima dos ombros. Aguenta! M M: Já
viram o vídeo em que um pai ameaça matar professores e funcionários porque há
um caso positivo na escola do filho? O pai esclarece que os vai matar a todos e
que lhes vai dar porrada e, enfim, tudo isto porque há um caso positivo na
escola. Não porque o filho apanhou Covid na escola mas porque há um caso positivo.
Os professores, na mesma turma, têm miúdos com pais que acham tudo e o seu
contrário mas a verdade é que quem decide as medidas a tomar é o Ministério da
Educação, não as escolas. Maria
Emília Santos Santos > M M: Isso
deveria acontecer se o Ministério da Educação o fosse de verdade, mas não é!
Um ministério de educação que quer impor prostituição
nas escolas, é tudo menos de educação! Pobres dos pais que não entenderem esta tragédia
enorme! M M > Maria Emília Santos Santos: Prostituição nas escolas? Anda com muitas fantasias nos
seus sonhos, Emília... Maria
Pinto: A Covid serve de desculpa para tudo,
ajustes directos de milhões e milhões , gente aterrorizada que deixou de
pensar, alunos que não têm ensino normal, gente que morre de tudo, sem
conseguir uma consulta, sem tratamento, sem exames, serviços publicos que não
tratam de nada, expropriações
arbitrárias , enfim....tudo ao jeito desta comunada que nos governa para
transformar Portugal numa Venezuela!!! Maria Narciso: Alguns comentários vão claramente para a vertente
política, fazendo crer que as crianças na escola pública são obrigadas a
ficarem fechadas e que no ensino privado isso não acontece, esquecendo por
completo que antes da Covid 19 existir, esses pais colocam por livre e
espontânea vontade os seus filhos em colégios internos, muitos deles militares,
onde as crianças ficam sujeitas a uma severa disciplina. Liberal Assinante do Local > Maria Narciso: Muitos
deles militares? Oh Maria Maria, que bicho lhe mordeu? Acorde! Maria Narciso > Liberal Assinante do Local: Não se pode escamotear a verdade . Romeu Francisco: Quando os meninos da bolha chegarem à adolescência,
serão meninos revolucionários. Como os tempos são de retrocessos de esquerda,
parece-me que os putos serão vanguardistas de direita :) Maria
Narciso : Analisando na vertente política ,
nomeadamente no aproveitamento político da situação : - As escolhas têm de ser feitas e por muito que se faça,
nunca irá agradar a todos, mas é preciso perceber que não foi uma situação
criada, nem imposta pelo Governo, que as decisões nunca são tomadas de ânimo
leve e são sempre pensadas de forma global , estamos perante uma situação
complexa e completamente adversa à nossa forma de interagir. Todos temos que
ter consciência disso, adaptarmo-nos da melhor maneira à situação , porque isto
só lá vai com bom senso e a cooperação de todos . Liberal Assinante do Local > Maria Narciso: Considera
"bom senso" impedir as crianças de ter recreio ao ar livre por causa
de uma eventual constipação para elas inofensiva e até imperceptível? Lúcio Cornélio: Como sempre, mais um esplêndido
artigo de Helena Matos. Este talvez ainda mais esplêndido do que o habitual
porque vai ao fundo e destaca um fenómeno social que tem vindo a transformar
todas as crianças, as novas gerações, em mutantes ultra-protegidos, sem
imunidades a nada e catequisados na "nova normalidade" de passarem a
ser peixes de aquário com ração a horas certas e a achar que isso é normal.
Não. Não é normal. Liberal
Assinante do Local > Lúcio Cornélio: Mas não culpe as crianças e o
jovens, kamarada Sparta, até por que aquilo que lhes está a ser feito desde
Março é para lhes impor os interesses dos adultos (de alguns), e os supostos
interesses dos idosos. Abelardo
Moro > Liberal Assinante do Local: Tem toda a razão. As crianças e jovens não têm nenhuma
culpa neste cartório. Nem podemos exigir que se revoltem, quando os pais e os
professores, inexplicavelmente timoratos, estimulam e agravam este clima de terror... Lúcio Cornélio > Liberal Assinante do Local: Não culpo não, Kamarada. Os
miúdos e os jovens, incluindo a jovem Greta provavelmente, são fruto do
ambiente em que vivem e dos hábitos e ensinamentos que os adultos lhes inculcam
e que, por sua vez, irão inculcar mais tarde aos seus filhos. Por isso eu acho
esta espécie de "revolução cultural" em curso - e que já dura há uns
bons anos - tão perniciosa.
Carlos Almeida: Sou um fanático admirador seu cara HM. Os seus textos espelham tudo aquilo
que o povo enganado sente. Obrigado pelos momentos de leitura prazeirosa que me
proporciona. Viva a liberdade! Joaquim Moreira: Depois da "geração
rasca", temos "os meninos da bolha", que são os filhos de pais
que agora andam à rasca! Não sei se a Helena Matos, vai conseguir ou não, que
os "meninos da bolha" fiquem como marca desta geração. Mas de uma
coisa tenho a certeza, são produto de uma geração que é uma tristeza. Não por
culpa própria, mas por terem vivido numa época em que a protecção, apareceu
como resultado da confusão, que se gerou na cabeça da minha geração. Que tendo
feito, participado ou fugido da Guerra Colonial, fez, participou ou acabou por
aceitar a Revolução do 25 de Abril em Portugal. Como se pode imaginar, desta
confusão alguma coisa devia resultar. O que se passa com a gestão da pandemia,
de que Helena Matos nem quer falar, também só esta confusão podia gerar. Quando
pais e professores, preferiam em casa continuar, quando obrigados a ir para a
escola, só podiam dentro das salas ficar. Não vá o vírus andar lá fora a
passear! Mas convém também dizer, que o que na escola pública está a acontecer,
não acontece na escola privada, como é fácil de saber! Liberal
Assinante do Local > Joaquim Moreira: A escola pública não é bitola para ninguém, pode é ser
o mau exemplo. Joaquim
Moreira > Liberal Assinante do Local: Infelizmente, não só é "bitola", como é um
"exemplo" do que é a escola! Sobretudo para o respectivo ministro, e
para quem apoia este "governo", que tem um
"primeiro-ministro" sinistro!
J SNisia Silva: Há muitos
“miúdos“ bons que hoje têm menos de trinta anos que fazem coisas muito boas,
são educados, trabalham, e são críticos, filhos de homens normais. Hoje este
“miúdos” já homens têm também responsabilidades, e que também viveram em
recreios de terra, andaram à chuva, mexeram na lama...E sim há muita anormalidade
também, mas nem tudo é mau.
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