Do actual P.R, que se lhe nota na distribuição de afectos e outras mesuras distintivas, nas quais se filia a sua esquivança em “abrir o jogo” das suas decisões, criando suspense em jeito de vedeta ou, admito, talvez proveniente antes de real insegurança, que contraria a sua avidez de vitória. Do P.M., que se lhe nota no aspecto anafado, nos lábios protuberantes e luzidios, mastigando as palavras com prazer, sorriso falsamente amável, vincando uma autoridade indisfarçável. Avidez sempre, ao longo destes 46 anos de governações, exceptuando, talvez, Ramalho Eanes e, naturalmente, Passos Coelho, com a sua missão de restaurar uma nação há muito desviada dos ideais de um progresso sem tramóias nem cambalachos. Eis, há muito já, de julgamentos indefinidamente protelados, os casos da avidez na nossa própria Justiça, de que trata, superiormente, António Barreto. Sintoma, essa avidez, de um terceiro mundismo pelintra, nessa sofreguidão sem controlo, nessa ambição sem pudor, anquilosando e putrefazendo uma sociedade impotente porque inerte - ou inerte porque impotente.
OPINIÃO: O caso da Justiça
A pandemia não pode ser desculpa para
a injustiça. Nem para a falta de Justiça. Será que estamos mesmo condenados a
ter os mais ilustres corruptos e bandidos da Europa?
ANTÓNIO BARRETO
OBSERVADOR, 5 de
Dezembro de 2020
A
actuação do
competente, intolerante e autoritário ministro Eduardo Cabrita, assim como dos seus dirigentes, designadamente da directora do SEF, é
reveladora e inadmissível. Sem explicações, sem vigor nem rigor,
sem desculpas nem escrúpulos, consideram-se imunes e ao abrigo de qualquer
crítica. Os seus erros são virtude e as suas falhas inexistentes.
Sabemos
que os tempos não são bons e não correm de feição. Toda a realidade está
dominada pela pandemia. Toda a vida
social e económica está hipotecada pela doença e pelas tentativas de a
combater. Mal ou bem, as autoridades fazem o que podem e o que sabem. O
problema é que parecem poder pouco e saber menos. Felizmente que as soluções estão a ser encontradas
no quadro da União Europeia, o que permite que os países menos apetrechados,
como o nosso, tenham respaldo.
Obcecado
com a política, as sondagens e as futuras eleições, o Governo
entregou-se à infinita habilidade de António Costa e a uma poderosa máquina de
comunicação que de tudo faz propaganda. Até da doença
Não sabemos como as autoridades se
vão sair desta tragédia, nem sabemos como vão dirigir a
campanha de vacinas para a qual não há evidentemente treino, meios e
equipamentos. Por
enquanto, imagina-se que haja algumas competências institucionais, boas
vontades profissionais e dedicação individual, mas, como se sabe, nada disso
chega para resolver o essencial: vacinar uns milhões de pessoas em pouco
meses. Já se preparara o mercado negro de vacinas. Já há planos para as cunhas,
os favores, as falsas prioridades, a ruptura de stocks e os atrasos
injustificados. É neste terreno da organização que as causas se ganham ou
perdem. E que em Portugal tantas vezes se perdem, como com os incêndios, os
temporais e respectivas reparações.
Obcecado com a política, as sondagens
e as futuras eleições, o
Governo entregou-se à infinita habilidade de António Costa e a uma poderosa
máquina de comunicação que de tudo faz propaganda. Até da
doença. O principal plano do Governo parece resumir-se a uns pontos
claros. Não precisar da oposição. Governar sozinho. Obter os
dinheiros da União Europeia.
Aguentar as sequelas do desastre económico. É pouco.
Da
oposição, não vem mais nem melhor. Uma oposição de esquerda vendida e
calculista. Uma oposição de direita desorientada e oportunista. Oposições
unidas num desígnio maior: o de vigiar de perto a impotência do Governo e
espreitar os seus erros para aproveitar eleitoralmente. Nunca, na história
recente, se viu tamanha sarna à espera que o Governo falhe e que a população
sofra uma tragédia. Uns esperam que a pandemia destrua o Governo, outros
gostariam que a impotência das autoridades se pague com uma derrota. Conhecemos
a frase feita: quanto pior, melhor! É o santo e a senha das oposições
contemporâneas.
A aprovação
do Orçamento foi um caso
aberrante. Berros e negociações inadmissíveis, chantagens e oportunismo por excesso, perda
de vista de tudo o que é essencial, com visível favor a tudo o que possa ser
resolvido com as habilidades do costume. Um Governo de um país em séria
crise que depende, para os seus orçamentos, de duas deputadas independentes
caprichosas e rebeldes, de abstenções tácticas e com reserva mental e de
dádivas de medidas que se prestam à demagogia barata… Não é boa receita. Não é
auspicioso. Nem bom sinal. O Governo que faz estas coisas, que assim se
porta, que perde de vista o que é essencial, não merece confiança nem nos dá
esperança.
Bastavam a dívida pública, a TAP, o
Aeroporto de Lisboa e o Novo Banco para exigir um Governo com autoridade,
maioria e estabilidade. Com a pandemia e as consequências desastrosas para a
economia e a sociedade, um Governo com autoridade é ainda mais necessário. Até
porque não se trata apenas de resolver os problemas visíveis e urgentes, a
começar pela saúde, pelas falências e pelo desemprego. Trata-se também de não
perder de vista que há um país adiado, atrasado, impune, que não sabe resistir
à intriga, ao roubo e à corrupção.
É
bem possível que, um dia, vacinada a população, consolidada a imunidade e
depois de feito o luto necessário multiplicado por milhares, regressemos aos
nossos problemas, à economia e à sociedade, com relevo para a justiça, que
não deveria ficar mais uma vez adiada ou, pior, suspensa até mais ver, sem dia
marcado.
Será
que temos de esperar com indiferença pela prescrição, pelo mistério e pela
decisão inconclusiva, relativamente aos casos do nosso subdesenvolvimento
político e moral?
As intenções legislativas, excelentes
mas pouco práticas, da ministra da Justiça, no
combate à corrupção, parece ficar em terra de ninguém. Algumas novas
directivas da Procuradoria-Geral da República levantam
as mais sérias dúvidas em quase toda a comunidade judicial. As negações de
justiça de que são vítimas tantas mulheres são arrepiantes. Valerá a pena
recordar os casos de Justiça? Isto é, a lista estonteante de casos não
resolvidos, de casos eternos, de casos à espera, de casos sempre adiados, de
casos de que não se vê fim nem solução?
Será que temos de esperar com
indiferença pela prescrição, pelo mistério e pela decisão inconclusiva,
relativamente aos casos do nosso subdesenvolvimento político e moral? Será que
estamos condenados a deixar passar os processos que mais prejudicaram o país e
que mais honra destruíram? Será que a
falta de maioria política, a ausência de uma clara legitimidade democrática e a
obsessão com a habilidade nos vão condenar a deixar passar os arguidos da Operação
Marquês, os responsáveis visados pela Operação Monte Branco, os trafulhas dos Vistos
Gold e os culpados citados pelas operações do BES, do GES, do Banif, do BPN, do
BPP, da PT e da EDP?
Será
que estamos mesmo condenados a ter os mais ilustres corruptos e bandidos da
Europa, em cujo elenco se incluem primeiro-ministro, ministros, secretários de
Estado, deputados, presidentes de câmara e vereadores, directores-gerais,
secretário-geral de ministério, presidente de Instituto, chefe de polícia,
magistrados de primeira instância e da Relação, alguns dos mais importantes banqueiros,
gestores e administradores de algumas das mais importantes empresas privadas e
públicas, oficiais das Forças Armadas e dirigentes de polícia militar?
A pandemia
não pode ser desculpa para a injustiça. Nem para a falta de Justiça.
Sociólogo
TÓPICOS
GOVERNO OPINIÃO JUSTIÇA CORRUPÇÃO PARTIDOS POLÍTICOS COVID-19 PANDEMIA
COMENTÁRIOS:
Jose INFLUENTE: O crime do SEF vai ter consequências na
Justiça! O mais importante é que se faça uma auditoria para serem identificadas
as origens dos comportamentos hediondos e mudar a cultura da instituição com as
acções corretivas que garantem a erradicação de comportamentos criminosos. A
muito positiva gestão da pandemia vai ser premiada com o aparecimento das
vacinas que vão ser eficientemente aplicadas e apressar o regresso à
normalidade. Os 27 Estados da UE decidiram contrair uma dívida conjunta de 750
mil milhões de euros, através de um fundo, para socorrer o Capital e o Trabalho
vitimas da pandemia nesses 27 Estados. Em Portugal há um acordo Costa/Rio para
gastar o dinheiro através das controladas CCDR'S. O OE é de emergência no
socorro da economia e saúde. A corrupção, na Justiça está acusada. 06.12.2020 Carlos Costa
MODERADOR: Excelente!!!!! Fowler Fowler INICIANTE: Este discurso,
entre o Chega! e a IL, revela bem a pressa e o desespero com que a direita
portuguesa tem em colocar a Justiça ao seu serviço, depor os socialistas e
tomar o poder, inserido numa campanha em curso na qual o autor tem tido um
papel relevante, embora disfarçado de “”independente”, como convém ao próprio e
à sua gente. 05.12.2020 ernestocarneiro.883138
INICIANTE: Se António
Barreto estivesse ao meu lado, ter-lhe-ia dado um apertado abraço. A coragem de
denunciar é algo muito importante para acordar. Não grita, não corre, dá o nome
que a menina merece. Estará a sociedade portuguesa em coma? Ontem, em Viena,
foi condenada um ex-ministro das finanças, a 8 anos de cadeia. O processo durou
13 anos. A rede estava bem urdida com ligações bancárias internacionais. Durou
a encontrar as provas. Com ele foram condenados mais 4, com 3 a 7 anos. Demorou
mas teve uma conclusão. Vão apelar. Estão porém feridos com uma sentença que
não será fácil contestar. Porcaria há em muitos lados, a diferença é que
nalguns se limpa, noutros alastra... Fowler Fowler
INICIANTE Ernesto, O
processo durou 13 anos, na Áustria? Ah, nós, por cá, temos pressa e queremos
fazer a coisa por menos! Muito menos! cisteina
EXPERIENTE : "A actuação do competente, intolerante e autoritário ministro Eduardo
Cabrita, assim como dos seus dirigentes, designadamente da directora do SEF, é
reveladora e inadmissível" - só pode ser uma ironia ou sarcasmo, caro António
Barreto. Comentei agora o caso noutra escrito, leio agora este que me reforça,
é o Neocorporativismo instalado que este Governo promoveu como nenhum outro,
enchendo a AP de gente que não sabe nada de nada, só ocupa os lugares, o PM,
mal rodeado, não vai ficar bem na fotografia; e este PS que nada tem a ver com
o que foi o de Mário Soares, de jovens turcos impantes de orgulho e tolice,
também vai reduzir-se ao descrédito. Claro, é o que se passa nos outros
partido, um pouco por toda a Europa e pelo Mundo, desculpa esfarrapada, onde
mora o orgulho português? Manuel Pessoa
EXPERIENTE: Para
diagnóstico não está mau: contudo, parece faltar originalidade e fundamentação
objectiva. Como programa de acção, é um rotundo desastre: não lhe atribuo
pontuação acima de Mau. Mario Coimbra
EXPERIENTE: Obrigado. Todos nós agradecemos a sua pontuação. Macuti
EXPERIENTE Falta alguém
na lista que começa com um primeiro-ministro? Não vale a pena negar a
realidade. Manuel Pessoa
EXPERIENTE: Macuti. Quis
dizer que as acusações, o diagnóstico, não estão mal; eventualmente ainda não
fica tudo dito. Contudo, o caso é demasiado sério para não haver qualquer
proposta de acção. Ou seja, não vislumbro proposta de melhoria. Isabel F.
INICIANTE: Mas será que
estamos condenados ao mais miserável miserabilismo? Nunca há nada nem ninguém
que se salve do decadentismo cínico? O país não acaba por o cronista estar
velho e desiludido. Um pouco de generosidade intelectual, por favor. Manuel Pessoa
EXPERIENTE: Ou será que
acordou, como se diz por cá, com os pés de fora? Mario Coimbra
EXPERIENTE: Confundir
miserabilismo com realidade acontece a todos. Até a si. Mas pode ser também que
esteja contente com o Portugal e em particular com a nossa justiça em Dezembro
de 2020. Nesse caso, óptimo para si. Isabel F.
INICIANTE: Isso a que
chama realidade corresponde à sua perspectiva. O que está em causa é
precisamente a pertinência dessa perspectiva. Admito que possa ser defensável,
mas não é a única, e não é aquela que melhor serve o país. Devemos distinguir a
crítica racional da crítica ressabiada. O bom diagnóstico dos problemas é
essencial para uma resposta adequada. Por bom
caminho e segue INICIANTE: "Será que estamos mesmo condenados a ter os mais ilustres corruptos e
bandidos da Europa, em cujo elenco se incluem primeiro-ministro, ministros,
secretários de Estado, deputados, presidentes de câmara e vereadores,
directores-gerais, secretário-geral de ministério, presidente de Instituto,
chefe de polícia, magistrados de primeira instância e da Relação, alguns dos
mais importantes banqueiros, gestores e administradores de algumas das mais
importantes empresas privadas e públicas, oficiais das Forças Armadas e
dirigentes de polícia militar". Há alguém que não saiba responder à
pergunta do António Barreto, que é também a minha? manuel.m2
INICIANTE: Não, se
votarem no Chega. 05.12.2020 21:25
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